Aluísio Azevedo,O Cortiço |
Aluísio Azevedo, Die Mietskaserne
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João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um
vendeiro que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna
nos refolhos do bairro do Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara
nessa dúzia de anos, que, ao retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em
pagamento de ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava dentro,
como ainda um conto e quinhentos em dinheiro.
Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda
com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava
resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em
cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A
comida arranjava-lha, mediante quatrocentos réis por dia, uma quitandeira sua
vizinha, a Bertoleza, crioula trintona, escrava de um velho cego residente em
Juiz de Fora e amigada com um português que tinha uma carroça de mão e fazia
fretes na cidade.
Bertoleza também trabalhava forte; a sua quitanda era a mais bem
afreguesada do bairro. De manhã vendia angu, e à noite peixe frito e iscas de
fígado; pagava de jornal a seu dono vinte mil-réis por mês, e, apesar disso, tinha
de parte quase que o necessário para a alforria. Um dia, porém, o seu homem,
depois de correr meia légua, puxando uma carga superior às suas forças, caiu
morto na rua, ao lado da carroça, estrompado como uma besta.
João Romão mostrou grande interesse por esta desgraça, fez-se até
participante direto dos sofrimentos da vizinha, e com tamanho empenho a
lamentou, que a boa mulher o escolheu para confidente das suas desventuras.
Abriu-se com ele, contou-lhe a sua vida de amofinações e dificuldades. “Seu
senhor comia-lhe a pele do corpo! Não era brinquedo para uma pobre mulher ter
de escarrar pr’ali, todos os meses, vinte mil-réis em dinheiro!” E segredou-lhe
então o que tinha juntado para a sua liberdade e acabou pedindo ao vendeiro que
lhe guardasse as economias, porque já de certa vez fora roubada por gatunos que
lhe entraram na quitanda pelos fundos.
Daí em diante, João Romão tornou-se o caixa, o procurador e o conselheiro
da crioula. No fim de pouco tempo era ele quem tomava conta de tudo que ela
produzia e era também quem punha e dispunha dos seus pecúlios, e quem se
encarregava de remeter ao senhor os vinte mil-réis mensais. Abriu-lhe logo uma
conta corrente, e a quitandeira, quando precisava de dinheiro para qualquer
coisa, dava um pulo até à venda e recebia-o das mãos do vendeiro, de “Seu
João”, como ela dizia. Seu João debitava metodicamente essas pequenas
quantias num caderninho, em cuja capa de papel pardo lia-se, mal escrito e em
letras cortadas de jornal: “Ativo e passivo de Bertoleza”.
E por tal forma foi o taverneiro ganhando confiança no espírito da mulher,
que esta afinal nada mais resolvia só por si, e aceitava dele, cegamente, todo e
qualquer arbítrio. Por último, se alguém precisava tratar com ela qualquer
negócio, nem mais se dava ao trabalho de procurá-la, ia logo direito a João
Romão.
Quando deram fé estavam amigados.
Ele propôs-lhe morarem juntos e ela concordou de braços abertos, feliz em
meter-se de novo com um português, porque, como toda a cafuza, Bertoleza não
queria sujeitar-se a negros e procurava instintivamente o homem numa raça
superior à sua.
João Romão comprou então, com as economias da amiga, alguns palmos de
terreno ao lado esquerdo da venda, e levantou uma casinha de duas portas,
dividida ao meio paralelamente à rua, sendo a parte da frente destinada à
quitanda e a do fundo para um dormitório que se arranjou com os cacarecos de
Bertoleza. Havia, além da cama, uma cômoda de jacarandá muito velha com
maçanetas de metal amarelo já mareadas, um oratório cheio de santos e forrado
de papel de cor, um baú grande de couro cru tacheado, dois banquinhos de pau
feitos de uma só peça e um formidável cabide de pregar na parede, com a sua
competente coberta de retalhos de chita.
O vendeiro nunca tivera tanta mobília.
— Agora, disse ele à crioula, as coisas vão correr melhor para você. Você
vai ficar forra; eu entro com o que falta.
Nesse dia ele saiu muito à rua, e uma semana depois apareceu com uma
folha de papel toda escrita, que leu em voz alta à companheira.
— Você agora não tem mais senhor! declarou em seguida à leitura, que ela
ouviu entre lágrimas agradecidas. Agora está livre. Doravante o que você fizer é
só seu e mais de seus filhos, se os tiver. Acabou-se o cativeiro de pagar os vinte
mil-réis à peste do cego!
— Coitado! A gente se queixa é da sorte! Ele, como meu senhor, exigia o
jornal, exigia o que era seu!
— Seu ou não seu, acabou-se! E vida nova!
Contra todo o costume, abriu-se nesse dia uma garrafa de vinho do Porto, e
os dois beberam-na em honra ao grande acontecimento. Entretanto, a tal carta de
liberdade era obra do próprio João Romão, e nem mesmo o selo, que ele
entendeu de pespegar-lhe em cima, para dar à burla maior formalidade,
representava despesa porque o esperto aproveitara uma estampilha já servida. O
senhor de Bertoleza não teve sequer conhecimento do fato; o que lhe constou,
sim, foi que a sua escrava lhe havia fugido para a Bahia depois da morte do
amigo.
— O cego que venha buscá-la aqui, se for capaz... desafiou o vendeiro de si
para si. Ele que caia nessa e verá se tem ou não pra pêras!
Não obstante, só ficou tranqüilo de todo daí a três meses, quando lhe
constou a morte do velho. A escrava passara naturalmente em herança a
qualquer dos filhos do morto; mas, por estes, nada havia que recear: dois
pândegos de marca maior que, empolgada a legitima, cuidariam de tudo, menos
de atirar-se na pista de uma crioula a quem não viam de muitos anos àquela
parte. “Ora! bastava já, e não era pouco, o que lhe tinham sugado durante tanto
tempo!”
Bertoleza representava agora ao lado de João Romão o papel tríplice de
caixeiro, de criada e de amante. Mourejava a valer, mas de cara alegre; às quatro
da madrugada estava já na faina de todos os dias, aviando o café para os
fregueses e depois preparando o almoço para os trabalhadores de uma pedreira
que havia para além de um grande capinzal aos fundos da venda. Varria a casa,
cozinhava, vendia ao balcão na taverna, quando o amigo andava ocupado lá por
fora; fazia a sua quitanda durante o dia no intervalo de outros serviços, e à noite
passava-se para a porta da venda, e, defronte de um fogareiro de barro, fritava
fígado e frigia sardinhas, que Romão ia pela manhã, em mangas de camisa, de
tamancos e sem meias, comprar à praia do Peixe. E o demônio da mulher ainda
encontrava tempo para lavar e consertar, além da sua, a roupa do seu homem,
que esta, valha a verdade, não era tanta e nunca passava em todo o mês de
alguns pares de calças de zuarte e outras tantas camisas de riscado.
João Romão não saia nunca a passeio, nem ia à missa aos domingos; tudo
que rendia a sua venda e mais a quitanda seguia direitinho para a caixa
econômica e daí então para o banco. Tanto assim que, um ano depois da
aquisição da crioula, indo em hasta pública algumas braças de terra situadas ao
fundo da taverna, arrematou-as logo e tratou, sem perda de tempo, de construir
três casinhas de porta e janela.
Que milagres de esperteza e de economia não realizou ele nessa construção!
Servia de pedreiro, amassava e carregava barro, quebrava pedra; pedra, que o
velhaco, fora de horas, junto com a amiga, furtavam à pedreira do fundo, da
mesma forma que subtraiam o material das casas em obra que havia por ali
perto.
Estes furtos eram feitos com todas as cautelas e sempre coroados do melhor
sucesso, graças à circunstância de que nesse tempo a polícia não se mostrava
muito por aquelas alturas. João Romão observava durante o dia quais as obras
em que ficava material para o dia seguinte, e à noite lá estava ele rente, mais a
Bertoleza, a removerem tábuas, tijolos, telhas, sacos de cal, para o meio da rua,
com tamanha habilidade que se não ouvia vislumbre de rumor. Depois, um
tomava uma carga e partia para casa, enquanto o outro ficava de alcatéia ao lado
do resto, pronto a dar sinal, em caso de perigo; e, quando o que tinha ido
voltava, seguia então o companheiro, carregado por sua vez.
Nada lhes escapava, nem mesmo as escadas dos pedreiros, os cavalos de
pau, o banco ou a ferramenta dos marceneiros.
E o fato é que aquelas três casinhas, tão engenhosamente construídas, foram
o ponto de partida do grande cortiço de São Romão.
Hoje quatro braças de terra, amanhã seis, depois mais outras, ia o vendeiro
conquistando todo o terreno que se estendia pelos fundos da sua bodega; e, à
proporção que o conquistava, reproduziam-se os quartos e o número de
moradores.
Sempre em mangas de camisa, sem domingo nem dia santo, não perdendo
nunca a ocasião de assenhorear-se do alheio, deixando de pagar todas as vezes
que podia e nunca deixando de receber, enganando os fregueses, roubando nos
pesos e nas medidas, comprando por dez réis de mel coado o que os escravos
furtavam da casa dos seus senhores, apertando cada vez mais as próprias
despesas, empilhando privações sobre privações, trabalhando e mais a amiga
como uma junta de bois, João Romão veio afinal a comprar uma boa parte da
bela pedreira, que ele, todos os dias, ao cair da tarde, assentado um instante à
porta da venda, contemplava de longe com um resignado olhar de cobiça.
Pôs lá seis homens a quebrarem pedra e outros seis a fazerem lajedos e
paralelepípedos, e então principiou a ganhar em grosso, tão em grosso que,
dentro de ano e meio, arrematava já todo o espaço compreendido entre as suas
casinhas e a pedreira, isto é, umas oitenta braças de fundo sobre vinte de frente
em plano enxuto e magnífico para construir.
Justamente por essa ocasião vendeu-se também um sobrado que ficava à
direita da venda, separado desta apenas por aquelas vinte braças; de sorte que
todo o flanco esquerdo do prédio, coisa de uns vinte e tantos metros, despejava
para o terreno do vendeiro as suas nove janelas de peitoril. Comprou-o um tal
Miranda, negociante português, estabelecido na Rua do Hospício com uma loja
de fazendas por atacado. Corrida uma limpeza geral no casarão, mudar-se-ia ele
para lá com a família, pois que a mulher, Dona Estela, senhora pretensiosa e
com fumaças de nobreza, já não podia suportar a residência no centro da cidade,
como também sua menina, a Zulmirinha, crescia muito pálida e precisava de
largueza para enrijar e tomar corpo.
Isto foi o que disse o Miranda aos colegas, porém a verdadeira causa da
mudança estava na necessidade, que ele reconhecia urgente, de afastar Dona
Estela do alcance dos seus caixeiros. Dona Estela era uma mulherzinha levada
da breca: achava-se casada havia treze anos e durante esse tempo dera ao marido
toda sorte de desgostos. Ainda antes de terminar o segundo ano de matrimônio,
o Miranda pilhou-a em flagrante delito de adultério; ficou furioso e o seu
primeiro impulso foi de mandá-la para o diabo junto com o cúmplice; mas a sua
casa comercial garantia-se com o dote que ela trouxera, uns oitenta contos em
prédios e ações da divida publica, de que se utilizava o desgraçado tanto quanto
lhe permitia o regime dotal. Além de que, um rompimento brusco seria obra
para escândalo, e, segundo a sua opinião, qualquer escândalo doméstico ficava
muito mal a um negociante de certa ordem. Prezava, acima de tudo, a sua
posição social e tremia só com a idéia de ver-se novamente pobre, sem recursos
e sem coragem para recomeçar a vida, depois de se haver habituado a umas
tantas regalias e afeito à hombridade de português rico que já não tem pátria na
Europa.
Acovardado defronte destes raciocínios, contentou-se com uma simples
separação de leitos, e os dois passaram a dormir em quartos separados. Não
comiam juntos, e mal trocavam entre si uma ou outra palavra constrangida,
quando qualquer inesperado acaso os reunia a contragosto.
Odiavam-se. Cada qual sentia pelo outro um profundo desprezo, que pouco
a pouco se foi transformando em repugnância completa. O nascimento de
Zulmira veio agravar ainda mais a situação; a pobre criança, em vez de servir de
elo aos dois infelizes, foi antes um novo isolador que se estabeleceu entre eles.
Estela amava-a menos do que lhe pedia o instinto materno por supô-la filha do
marido, e este a detestava porque tinha convicção de não ser seu pai.
Uma bela noite, porém, o Miranda, que era homem de sangue esperto e
orçava então pelos seus trinta e cinco anos, sentiu-se em insuportável estado de
lubricidade. Era tarde já e não havia em casa alguma criada que lhe pudesse
valer. Lembrou-se da mulher, mas repeliu logo esta idéia com escrupulosa
repugnância. Continuava a odiá-la. Entretanto este mesmo fato de obrigação em
que ele se colocou de não servir-se dela, a responsabilidade de desprezá-la,
como que ainda mais lhe assanhava o desejo da carne, fazendo da esposa infiel
um fruto proibido. Afinal, coisa singular, posto que moralmente nada diminuísse
a sua repugnância pela perjura, foi ter ao quarto dela.
A mulher dormia a sono solto. Miranda entrou pé ante pé e aproximou-se da
cama. “Devia voltar!... pensou. Não lhe ficava bem aquilo!...” Mas o sangue
latejava-lhe, reclamando-a. Ainda hesitou um instante, imóvel, a contemplá-la
no seu desejo.
Estela, como se o olhar do marido lhe apalpasse o corpo, torceu-se sobre o
quadril da esquerda, repuxando com as coxas o lençol para a frente e
patenteando uma nesga de nudez estofada e branca. O Miranda não pôde resistir,
atirou-se contra ela, que, num pequeno sobressalto, mais de surpresa que de
revolta, desviou-se, tornando logo e enfrentando com o marido. E deixou-se
empolgar pelos rins, de olhos fechados, fingindo que continuava a dormir, sem a
menor consciência de tudo aquilo.
Ah! ela contava como certo que o esposo, desde que não teve coragem de
separar-se de casa, havia, mais cedo ou mais tarde, de procurá-la de novo.
Conhecia-lhe o temperamento, forte para desejar e fraco para resistir ao desejo.
Consumado o delito, o honrado negociante sentiu-se tolhido de vergonha e
arrependimento. Não teve animo de dar palavra, e retirou-se tristonho e murcho
para o seu quarto de desquitado.
Oh! como lhe doía agora o que acabava de praticar na cegueira da sua
sensualidade.
— Que cabeçada!... dizia ele agitado. Que formidável cabeçada!...
No dia seguinte, os dois viram-se e evitaram-se em silêncio, como se nada
de extraordinário houvera entre eles acontecido na véspera. Dir-se-ia até que,
depois daquela ocorrência, o Miranda sentia crescer o seu ódio contra a esposa.
E, à noite desse mesmo dia, quando se achou sozinho na sua cama estreita, jurou
mil vezes aos seus brios nunca mais, nunca mais, praticar semelhante loucura.
Mas, daí a um mês, o pobre homem, acometido de um novo acesso de
luxúria, voltou ao quarto da mulher.
Estela recebeu-o desta vez como da primeira, fingindo que não acordava; na
ocasião, porém, em que ele se apoderava dela febrilmente, a leviana, sem se
poder conter, soltou-lhe em cheio contra o rosto uma gargalhada que a custo
sopeava. O pobre-diabo desnorteou, deveras escandalizado, soerguendo-se,
brusco, num estremunhamento de sonâmbulo acordado com violência.
A mulher percebeu a situação e não lhe deu tempo para fugir; passou-lhe
rápido as pernas por cima e, grudando-se-lhe ao corpo, cegou-o com uma
metralhada de beijos.
Não se falaram.
Miranda nunca a tivera, nem nunca a vira, assim tão violenta no prazer.
Estranhou-a. Afigurou-se-lhe estar nos braços de uma amante apaixonada:
descobriu nela o capitoso encanto com que nos embebedam as cortesãs
amestradas na ciência do gozo venéreo. Descobriu-lhe no cheiro da pele e no
cheiro dos cabelos perfumes que nunca lhe sentira; notou-lhe outro hálito, outro
som nos gemidos e nos suspiros. E gozou-a, gozou-a loucamente, com delírio,
com verdadeira satisfação de animal no cio.
E ela também, ela também gozou, estimulada por aquela circunstância
picante do ressentimento que os desunia; gozou a desonestidade daquele ato que
a ambos acanalhava aos olhos um do outro; estorceu-se toda, rangendo os
dentes, grunhindo, debaixo daquele seu inimigo odiado, achando-o também
agora, como homem, melhor que nunca, sufocando-o nos seus braços nus,
metendo-lhe pela boca a língua úmida e em brasa. Depois, um arranco de corpo
inteiro, com um soluço gutural e estrangulado, arquejante e convulsa,
estatelou-se num abandono de pernas e braços abertos, a cabeça para o lado, os
olhos moribundos e chorosos, toda ela agonizante, como se a tivessem
crucificado na cama.
A partir dessa noite, da qual só pela manhã o Miranda se retirou do quarto
da mulher, estabeleceu-se entre eles o hábito de uma felicidade sexual, tão
completa como ainda não a tinham desfrutado, posto que no intimo de cada um
persistisse contra o outro a mesma repugnância moral em nada enfraquecida.
Durante dez anos viveram muito bem casados; agora, porém, tanto tempo
depois da primeira infidelidade conjugal, e agora que o negociante já não era
acometido tão freqüentemente por aquelas crises que o arrojavam fora de horas
ao dormitório de Dona Estela; agora, eis que a leviana parecia disposta a
reincidir na culpa, dando corda aos caixeiros do marido, na ocasião em que estes
subiam para almoçar ou jantar.
Foi por isso que o Miranda comprou o prédio vizinho a João Romão.
A casa era boa; seu único defeito estava na escassez do quintal; mas para
isso havia remédio: com muito pouco compravam-se umas dez braças daquele
terreno do fundo que ia até à pedreira, e mais uns dez ou quinze palmos do lado
em que ficava a venda.
Miranda foi logo entender-se com o Romão e propôs-lhe negócio. O
taverneiro recusou formalmente.
Miranda insistiu.
— O senhor perde seu tempo e seu latim! retrucou o amigo de Bertoleza.
Nem só não cedo uma polegada do meu terreno, como ainda lhe compro, se mo
quiser vender, aquele pedaço que lhe fica ao fundo da casa!
— O quintal?
— É exato.
— Pois você quer que eu fique sem chácara, sem jardim, sem nada?
— Para mim era de vantagem...
— Ora, deixe-se disso, homem, e diga lá quanto quer pelo que lhe propus.
— Já disse o que tinha a dizer.
— Ceda-me então ao menos as dez braças do fundo.
— Nem meio palmo!
— Isso é maldade de sua parte, sabe? Eu, se faço tamanho empenho, é pela
minha pequena, que precisa, coitada, de um pouco de espaço para alargar-se.
— E eu não cedo, porque preciso do meu terreno!
— Ora qual! Que diabo pode lá você fazer ali? Uma porcaria de um pedaço
de terreno quase grudado ao morro e aos fundos de minha casa! quando você,
aliás, dispõe de tanto espaço ainda!
— Hei de lhe mostrar se tenho ou não o que fazer ali!
— É que você é teimoso! Olhe, se me cedesse as dez braças do fundo, a sua
parte ficaria cortada em linha reta até à pedreira, e escusava eu de ficar com uma
aba de terreno alheio a meter-se pelo meu. Quer saber? não amuro o quintal sem
você decidir-se!
— Então ficará com o quintal para sempre sem muro, porque o que tinha a
dizer já disse!
— Mas, homem de Deus, que diabo! pense um pouco! Você ali não pode
construir nada! Ou pensará que lhe deixarei abrir janelas sobre o meu quintal!...
— Não preciso abrir janelas sobre o quintal de ninguém!
— Nem tampouco lhe deixarei levantar parede, tapando-me as janelas da
esquerda!
— Não preciso levantar parede desse lado...
— Então que diabo vai você fazer de todo este terreno?...
— Ah! isso agora é cá comigo!... O que for soará!
— Pois creia que se arrepende de não me ceder o terreno!...
— Se me arrepender, paciência! Só lhe digo é que muito mal se sairá quem
quiser meter-se cá com a minha vida!
— Passe bem!
— Adeus!
Travou-se então uma lata renhida e surda entre o português negociante de
fazendas por atacado e o português negociante de secos e molhados. Aquele não
se resolvia a fazer o muro do quintal, sem ter alcançado o pedaço de terreno que
o separava do morro; e o outro, por seu lado, não perdia a esperança de
apanhar-lhe ainda, pelo menos, duas ou três braças aos fundos da casa; parte esta
que, conforme os seus cálculos, valeria ouro, uma vez realizado o grande projeto
que ultimamente o trazia preocupado — a criação de uma estalagem em ponto
enorme, uma estalagem monstro, sem exemplo, destinada a matar toda aquela
miuçalha de cortiços que alastravam por Botafogo.
Era este o seu ideal. Havia muito que João Romão vivia exclusivamente
para essa idéia; sonhava com ela todas as noites; comparecia a todos os leilões
de materiais de construção; arrematava madeiramentos já servidos; comprava
telha em segunda mão; fazia pechinchas de cal e tijolos; o que era tudo
depositado no seu extenso chão vazio, cujo aspecto tomava em breve o caráter
estranho de uma enorme barricada, tal era a variedade dos objetos que ali se
apinhavam acumulados: tábuas e sarrafos, troncos de árvore, mastros de navio,
caibros, restos de carroças, chaminés de barro e de ferro, fogões desmantelados,
pilhas e pilhas de tijolos de todos os feitios, barricas de cimento, montes de areia
e terra vermelha, aglomerações de telhas velhas, escadas partidas, depósitos de
cal, o diabo enfim; ao que ele, que sabia perfeitamente como essas coisas se
furtavam, resguardava, soltando à noite um formidável cão de fila.
Este cão era pretexto de eternas resingas com a gente do Miranda, a cujo
quintal ninguém de casa podia descer, depois das dez horas da noite, sem correr
o risco de ser assaltado pela fera.
— É fazer o muro! dizia o João Romão, sacudindo os ombros.
— Não faço! replicava o outro. Se ele é questão de capricho eu também
tenho capricho!
Em compensação, não caia no quintal do Miranda galinha ou frango,
fugidos do cercado do vendeiro, que não levasse imediato sumiço. João Romão
protestava contra o roubo em termos violentos, jurando vinganças terríveis,
falando em dar tiros.
— Pois é fazer um muro no galinheiro! repontava o marido de Estela.
Daí a alguns meses, João Romão, depois de tentar um derradeiro esforço
para conseguir algumas braças do quintal do vizinho, resolveu principiar as
obras da estalagem.
— Deixa estar, conversava ele na cama com a Bertoleza; deixa estar que
ainda lhe hei de entrar pelos fundos da casa, se é que não lhe entre pela frente!
Mais cedo ou mais tarde como-lhe, não duas braças, mas seis, oito, todo o
quintal e até o próprio sobrado talvez!
E dizia isto com uma convicção de quem tudo pode e tudo espera da sua
perseverança, do seu esforço inquebrantável e da fecundidade prodigiosa do seu
dinheiro, dinheiro que só lhe saia das unhas para voltar multiplicado.
Desde que a febre de possuir se apoderou dele totalmente, todos os seus
atos, todos, fosse o mais simples, visavam um interesse pecuniário. Só tinha uma
preocupação: aumentar os bens. Das suas hortas recolhia para si e para a
companheira os piores legumes, aqueles que, por maus, ninguém compraria; as
suas galinhas produziam muito e ele não comia um ovo, do que no entanto
gostava imenso; vendia-os todos e contentava-se com os restos da comida dos
trabalhadores. Aquilo já não era ambição, era uma moléstia nervosa, uma
loucura, um desespero de acumular; de reduzir tudo a moeda. E seu tipo baixote,
socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira
para a venda, da venda às hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, de
tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de
cobiça, apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não podia
apoderar-se logo com as unhas.
Entretanto, a rua lá fora povoava-se de um modo admirável. Construía-se
mal, porém muito; surgiam chalés e casinhas da noite para o dia; subiam os
aluguéis; as propriedades dobravam de valor. Montara-se uma fábrica de massas
italianas e outra de velas, e os trabalhadores passavam de manhã e às
Ave-Marias, e a maior parte deles ia comer à casa de pasto que João Romão
arranjara aos fundos da sua varanda. Abriram-se novas tavernas; nenhuma,
porém, conseguia ser tão afreguesada como a dele. Nunca o seu negocio fora tão
bem, nunca o finório vendera tanto; vendia mais agora, muito mais, que nos
anos anteriores. Teve até de admitir caixeiros. As mercadorias não lhe paravam
nas prateleiras; o balcão estava cada vez mais lustroso, mais gasto. E o dinheiro
a pingar, vintém por vintém, dentro da gaveta, e a escorrer da gaveta para a
barra, aos cinqüenta e aos cem mil-réis, e da burra para o banco, aos contos e
aos contos.
Afinal, já lhe não bastava sortir o seu estabelecimento nos armazéns
fornecedores; começou a receber alguns gêneros diretamente da Europa: o
vinho, por exemplo, que ele dantes comprava aos quintos nas casas de atacado,
vinha-lhe agora de Portugal às pipas, e de cada uma fazia três com água e
cachaça; e despachava faturas de barris de manteiga, de caixas de conserva,
caixões de fósforos, azeite, queijos, louça e muitas outras mercadorias.
Criou armazéns para depósito, aboliu a quitanda e transferiu o dormitório,
aproveitando o espaço para ampliar a venda, que dobrou de tamanho e ganhou
mais duas portas.
Já não era uma simples taverna, era um bazar em que se encontrava de tudo,
objetos de armarinho, ferragens, porcelanas, utensílios de escritório, roupa de
riscado para os trabalhadores, fazenda para roupa de mulher, chapéus de palha
próprios para o serviço ao sol, perfumarias baratas, pentes de chifre, lenços com
versos de amor, e anéis e brincos de metal ordinário.
E toda a gentalha daquelas redondezas ia cair lá, ou então ali ao lado, na
casa de pasto, onde os operários das fábricas e os trabalhadores da pedreira se
reuniam depois do serviço, e ficavam bebendo e conversando até as dez horas da
noite, entre o espesso fumo dos cachimbos, do peixe frito em azeite e dos
lampiões de querosene.
Era João Romão quem lhes fornecia tudo, tudo, até dinheiro adiantado,
quando algum precisava. Por ali não se encontrava jornaleiro, cujo ordenado
não fosse inteirinho parar às mãos do velhaco. E sobre este cobre, quase sempre
emprestado aos tostões, cobrava juros de oito por cento ao mês, um pouco mais
do que levava aos que garantiam a divida com penhores de ouro ou prata.
Não obstante, as casinhas do cortiço, à proporção que se atamancavam,
enchiam-se logo, sem mesmo dar tempo a que as tintas secassem. Havia grande
avidez em alugá-las; aquele era o melhor ponto do bairro para a gente do
trabalho. Os empregados da pedreira preferiam todos morar lá, porque ficavam a
dois passos da obrigação.
O Miranda rebentava de raiva.
— Um cortiço! exclamava ele, possesso. Um cortiço! Maldito seja aquele
vendeiro de todos os diabos! Fazer-me um cortiço debaixo das janelas!...
Estragou-me a casa, o malvado!
E vomitava pragas, jurando que havia de vingar-se, e protestando aos berros
contra o pó que lhe invadia em ondas as salas, e contra o infernal baralho dos
pedreiros e carpinteiros que levavam a martelar de sol a sol.
O que aliás não impediu que as casinhas continuassem a surgir, uma após
outra, e fossem logo se enchendo, a estenderem-se unidas por ali a fora, desde a
venda até quase ao morro, e depois dobrassem para o lado do Miranda e
avançassem sobre o quintal deste, que parecia ameaçado por aquela serpente de
pedra e cal.
O Miranda mandou logo levantar o muro.
Nada! aquele demônio era capaz de invadir-lhe a casa até a sala de visitas!
E os quartos do cortiço pararam enfim de encontro ao muro do negociante,
formando com a continuação da casa deste um grande quadrilongo, espécie de
pátio de quartel, onde podia formar um batalhão.
Noventa e cinco casinhas comportou a imensa estalagem.
Prontas, João Romão mandou levantar na frente, nas vinte braças que
separavam a venda do sobrado do Miranda, um grosso muro de dez palmos de
altura, coroado de cacos de vidro e fundos de garrafa, e com um grande portão
no centro, onde se dependurou uma lanterna de vidraças vermelhas, por cima de
uma tabuleta amarela, em que se lia o seguinte, escrito a tinta encarnada e sem
ortografia:
“Estalagem de São Romão. Alugam-se casinhas e tinas para lavadeiras”.
As casinhas eram alugadas por mês e as tinas por dia; tudo pago adiantado.
O preço de cada tina, metendo a água, quinhentos réis; sabão à parte. As
moradoras do cortiço tinham preferência e não pagavam nada para lavar.
Graças à abundância da água que lá havia, como em nenhuma outra parte, e
graças ao muito espaço de que se dispunha no cortiço para estender a roupa, a
concorrência às tinas não se fez esperar; acudiram lavadeiras de todos os pontos
da cidade, entre elas algumas vindas de bem longe. E, mal vagava uma das
casinhas, ou um quarto, um canto onde coubesse um colchão, surgia uma nuvem
de pretendentes a disputá-los.
E aquilo se foi constituindo numa grande lavanderia, agitada e barulhenta,
com as suas cercas de varas, as suas hortaliças verdejantes e os seus jardinzinhos
de três e quatro palmos, que apareciam como manchas alegres por entre a
negrura das limosas tinas transbordantes e o revérbero das claras barracas de
algodão cru, armadas sobre os lustrosos bancos de lavar. E os gotejantes jiraus,
cobertos de roupa molhada, cintilavam ao sol, que nem lagos de metal branco.
E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa,
começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma
geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e
multiplicar-se como larvas no esterco. |
João Romão war vom 13 bis zum 25 sten Lebensjahr Angestellter eines Schankwirts der zwischen den vier Wänden einer schmutzigen und dunklen Kneipe in einem Winkel des Bezirks Botafogo zu Reichtum gekommen war. Von dem bisschen, was er verdiente, sparte er so viel in diesen 12 Jahren, dass sein Arbeitgeber, als dieser sich auf's Land zurückzog, ihm zum Ausgleich des ausstehenden Lohnes nicht nur die Kneipe mit allem, was sich darin befand überließ, sondern noch 1500 Escudos in bar.
Als Besitzer und auf eigene Rechnung arbeitend widmete er sich der harten Arbeit mit noch größerem Eifer, besessen von dem Wahn reicher zu werden, bereit alle Entbehrungen hinzunehmen. Er schlief auf der Theke seiner Kneipe auf einer Matte, als Kopfkissen einen Leinensack gefüllt mit Stroh. Das Essen lieferte ihm für 400 Réis am Tag, seine Nachbarin die Marktfrau Bertoleza, eine Kreolin von etwa dreißig Jahren, Sklavin eines alten Blinden, der in Juiz de Fora wohnte, aber befreundet mit einem Portugiesen der einen Handkarren hatte mit dem er Waren transportierte.
Auch Bertoleza arbeitet hart. Ihr Marktstannd war der am meist frequentierteste des ganzen Viertels. Morgens verkaufte sie Maisbrei und abends fritierten Fisch und geschmorte Leber. Anstatt für ihren Herrn zu arbeiten zahlte sie ihrem Besitzer 1000 réis monatlich hatte aber trotzdem fast so viel beiseite gelegt, um sich freizukaufen. Eines Tages jedoch fiel ihr Mann, nachdem er eine halbe Meile gelaufen war, eine Fracht schiebend, die seine Kräfte überstieg, neben seinem Karren tot auf der Straße um wie ein ausgequetschtes Lasttier.
João Romão zeigte sich tief betroffen von diesem Schicksalsschlag, teilte das Leiden der Nachbarin so direkt und bedauerte sie in einem Maße, dass die gute Frau ihn zum Vertrauten ihrer Missgeschicke erwählte. Sie öffnete sich ihm, erzählte ihm von den Widrigkeiten und schwierigen Umständen ihres Lebens. "Ihr Herr hat ihnen die Haut vom Körper gegessen! Das ist kein Spaß für eine arme Frau jeden Monat 20 Tausend Réis in bar dahin zu werfen!" Dann offenbarte sie ihm, wie viel sie schon für ihren Freikauf zusammen hatte und bat den Schankwirt diese Ersparnisse aufzubewahren, weil sie schon einmal von Schurken, die über den Hintereingang in ihren Stand eingedrungen waren, bestohlen worden war.
Von da an wurde João Romão Kasse, Bevollmächtigter und Berater der Kreolin. Schon nach kurzer Zeit war er es, der die Bücher führte über alles was sie produzierte, der ihr Vermögen zusammenhielt und darüber verfügte und der es auf sich nahm monatlich die 20 000 Réais an ihren Herrn zu schicken. Später eröffnete er ein Konto für sie und immer dann, wenn die Marktfrau Geld für irgendetwas brauchte, ging sie kurz hinüber in die Kneipe und empfing es dort aus den Händen des Schankwirts, "ihres João" wie sie ihn nannte. Ihr João notierte diese kleinen Beträge ordentlich in einem kleinen Heft auf dessen Umschlag aus dunklem Papier mit aus einer Zeitung herausgeschnittenen Buchstaben fehlerhaft geschrieben stand: "Aktif und Passiv von Bertolzea".
Und so kam es, dass der Schankwirt immere mehr das Vertrauen der Frau gewann bis sie schließlich alleine gar nichts mehr entschied und seinem Urteil blind vetraute. Am Ende gingen alle, die etwas von ihr wollten, direkt zu João Romão und man machte sich nicht mal mehr die Mühe, sich an sie zu wenden.
Mit dem Vertrauen wuchs auch die Freundschaft.
Er schlug ihr vor, zusammen zu ziehen und sie stimmte mit offenen Armen zu, glücklich wieder mit einem Portugiesen liiert zu sein, weil sie instinktiv, wie das bei Kreolen oft der Fall ist, nach einem Mann Ausschau hielt, der einer höheren Rasse als der ihren angehörte.
João Romão
kaufte also mit den Ersparnissen seiner Freundin einige Ellen Land links seiner Schänke und errichtete hierauf parallel zur Straße ein Häuschen mit zwei Türen, das in der Mitte aufgeteilt wurde. Der vordere Teil war für den kleinen Laden bestimmt und der hintere war das Schlafzimmer, das mit den Habseligkeiten Bertolezas ausgetattet wurde. Außer dem Bett gab es noch eine sehr alte Komode aus Palisander mit schon abgenutzen Griffen aus gelbem Metall, einen Hausaltar voll mit Heiligen und bedeckt mit farbigem Papier, eine große Truhe überspannt mit unbearbeitem Leder und mit Nieten fixiert, zwei Schemel aus Holz gefertigt aus einem Stück und einen herrlichen Kleiderständer an der Wand bedeckt mit einem passenden Überzug.
Noch nie besaß der Schankwirt soviele Möbel.
"Es wird dir jetzt besser gehen", sagte er zu der Kreolin, "du brauchst dich um nichts mehr zu kümmern. Ich besorge was fehlt."
An jenem Tag war er sehr beschäftigt und nach einer Woche erschien er mit einem voll beschriebenen Schriftstück, das er seiner Gefährtin laut vorlas.
"Du hast jetzt keinen Besitzer mehr!", verkündete er, nachdem er es vorgelesen hatte, was sie mit Tränen der Dankbarkeit vernahm. Sie war jetzt frei. Was du von nun an tust ist nur für dich und deine Kinder, solltest du welche haben. Die Mühsal an diese Pest von einem Blinden 20 000 Réis zu zahlen ist vorbei!"
"Der Ärmste! Die Leute beschweren sich über das Schicksal! Er wer mein Herr, verlangte den Tageslohn, verlangte was ihm zustand!"
"Stand ihm zu oder stand ihm nicht zu, es ist vorbei! Ein neues Leben beginnt!"
Ganz gegen alle Gewohnheit wurde an diesem Tag eine Flasche Portwein auf und die zwei tranken sie zu Ehren des großen Ereignisses. Der besagte Freiheitsbrief war jedoch ein Werk von João Romão, und nicht einmal die Gerichtsmarke, die er gewissenhaft drauf klebte um dem Streich einen formelleren Anstrich zu geben, hatte Kosten verursacht, denn der Experte bediente sich eine bereits benutzten Marke. Der Herr von Bertoleza wußte nicht einmal was von dem Vorgang. Für ihn stand jedoch fest, dass seine Sklavin nach dem Tod ihres Freundes nach Bahia geflüchtet war.
"Möge er doch hierher kommen und sie suchen, wenn er dazu in der Lage ist...forderte der Schankwirt im Stillen. Er ist reingefallen und wird sehen, ob er da wieder rauskommt!"
Nichtsdestotrotz beruhigte er sich erst vollständig nach drei Monaten, als er vom Tod des Alten erfuhr. Die Sklavin wäre normalerweise an irgendeinen der zwei Söhne des Toten übergegangen, aber von jenen war nichts zu befürchten: Zwei unvergleichliche Lebemänner, begeistert von dem was sie taten, die sich um alles kümmerten, nur nicht darum, sich auf die Suche nach einer Kreolin zu machen, die sie schon seit vielen Jahren dort nicht mehr gesehen hatten. "Das war auch Zeit! Es reicht! Und es ist auch nicht wenig, was sie in der ganzen Zeit abgesaugt hatten."
Bertoleza hatte jetzt an der Seite von João Romão die dreifache Rolle der Verkäuferin, Angestellten und Geliebten. Sie ackerte sich wirklich ab, aber mit einem Lächeln im Gesicht. Um vier morgens begann sie schon mit ihrer täglichen Arbeit. Bereitete den Kaffee für die Kunden vor, danach das Mittagessen für die Arbeiter eines Steinbruchs, der sich jenseits eines großen Feldes hinter ihrem Laden befand. Sie kehrte das Haus, bediente an der Theke, wenn der Freund außerhalb beschäftigt war. Wenn sie nicht mit was anderem beschäftigt war, kümmerte sie sich um ihren Laden. Nachts war Publikum vor der Tür der Kneipe und vor einem Holzgrill aus Lehm, briet sie Leber und fritierte Sardinien, die Romão des morgens in Hemdsärmeln, mit Holzschuhen und ohne Socken am Fischstrand kaufte. Und das Teufelweib fand noch Zeit um nicht nur ihre eigene Wäsche zu waschen und zu reparieren, sondern auch die ihres Mannes, wovon, um bei der Wahrheit zu bleiben, er nicht allzu viel hatte und die in einem Monatt selten mehr als ein paar blaue Baumwollhosen und ein paar Hemden betrug.
João Romão ging nie aus dem Haus, ging auch nicht sonntags in die Kirche. Alles was seine Kneipe und der Laden abwarf, wanderte direkt in die Sparbüchse und von dort auf die Bank. So viel war das, dass er ein Jahr nach der Verbindung mit der Kreolin, als einige Doppelmeter Land hinter seiner Kneipe versteigert wurden, sofort zugriff und anfing drei Häuschen mit Tür und Fenster darauf zu bauen.
Wunder an Fachwissen und Sparsamkeit vollbrachte er bei diesem Bau!
Er war Maurer, er knetete und transportierte den Lehm, brach die Steine, die der Gauner zur Abendstunde zusammen mit seiner Freundin, wie auch das andere Baumaterial, das sie den in der Nähe befindlichen Baustellen entwendeten, im Steinbruch hinter dem Haus klauten.
Dieser Diebstahl wurde mit aller Vorsicht durchgeführt und war immer, bedingt durch die Tatsache, dass in jener Zeit die Polizei sich in dieser Gegend nicht allzu oft blicken ließ, vollständig von Erfolg gekrönt. Während des Tages kundschaftete João Romão die Baustellen aus, wo Material für den nächsten Tag war und nachts schlich er sich, zusammen mit Bertoleza an, um Bretter, Ziegelsteine, Dachziegel, Kalksäcke auf die Straße zu schaffen und zwar so geschickt, dass niemand auch nur das leiseste Geräusch vernahm. Danach nahm einer von ihnen eine Ladung, um sie nach Hause zu schleppen, während der andere bei dem Rest Schmiere stand, bereit bei Gefahr ein Zeichen zu geben. Wenn der, der gegangen war, zurückkam, folgte, nun seinerseits beladen, der Kumpane.
Nichts entging ihnen, nicht einmal die Leitern der Maurer, die Holzgestelle, die Bänke und die Werkzeige der Schreiner.
Es ist eine Tatsache, dass diese drei Häuschen, die mit so viel Erfingungsgeist erbaut worden waren, die Basis bildeten für das große Wohnhaus São Romão.
Heute vier Doppelmeter, morgen sechs, danach immer mehr, eroberte der Schankwirt die ganze Fläche die sich hinter seiner Kneipe befand und in dem Maße, wie er sie eroberte, wuchs die die Anzahl der Zimmer und der Bewohner.
Immer in Hemdsärmeln, ohne Sonntag und ohne Feiertag, vergaß er nie sich fremden Eigentums zu bemächtigen, vergaß zu bezahlen, auch wenn er konnte, vergaß aber nie etwas in Empfang zu nehmen, betrog die Kunden indem er die Gewichte und Maße manipulierte, indem er für ein Nichts Dinge ankaufte, die Sklaven ihren Herren geklaut hattten, inder er seine eigenen Ausgaben immer weiter verringerte und immer mehr Entbehrungen auf sich nahm, indem er und seine Freundin wie ein Ochsengespann arbeitete, gelang es João Romão schließlich einen großen Teil des Steinbruchs zu kaufen, den er jeden Tag in der Abenddämmerung mit einem gierigen Blick, wenn er einen Augenblick vor der Tür seines Hauses saß, resigniert betrachtete.
Von da an brachen sechs Männer den Stein und nochmal sechs machten Quader und Pflastersteine. Von da an kam das Geschäft richtig in Schwung, gewann derartig an Schwung, dass er innerhalb von anderthalb Jahren den ganze Platz zwischen seinen Häuschen und dem Steinbruch ersteigern konnte, was einer Fläche von 80 Doppelmetern Länge und 20 Breite entsprach und ein hervorragender Bauplatz war.
Gerade zu jenem Zeitpunkt stand ein mehrgeschossiges Haus zur rechten der Kneipe zum Verkauf, das von dieser nur durch jene 20 Doppelmeter getrennt war, so dass die neun Fenster der linken Flanke des Gebäudes , etwas mehr als zwanzig Meter, dem Grundstück des Schankwirts zugewendet war. Gekauft hatte es ein gewisser Miranda, ein portugiesischer Geschäftsmann, der in der Rua do Hospício einen Großhandel betrieb. Nach einer Grundsanierung des Gebäudes gedachte er mit seiner Familie dahin zu ziehen, denn die Frau, Dona Estela, war prätensiös mit adeligem Dünkel, konnte also nicht ertragen im Zentrum der Stadt zu leben und weiter brauchte ihre Tochter Zulmirinha, die sehr blass war, Platz um kräftiger zu werden.
Das war es, was Miranda den Kollegen erzählte, der wahre Grund des Umzugs war aber, für ihn ein sehr entscheidender, den Kontakt von Dona Estela mit den Verkäufern zu unterbinden. Dona Estela launisches Weib. Sie war 13 Jahre verheiratet und in dieser ganzen Zeit hatte sie ihrem Gatten eine Menge Ärger beschert. Schon nach zwei Jahren Ehe erwischte sie Miranda in flagranti beim Ehebruch. Er tobte und seine erste Regung war, sie mitsamt ihrem Komplizen zum Teufel zu jagen. Sein Geschäft beruhte jedoch auf der Mitgift, die seine Frau mitgebracht hatte, etwa 80 000 Escudos in Gebäuden, Aktien und Staatsanleihen, von denen der Unglückliche nach Maßgabe der Regelungen im Ehevertrag gebrauch machte. Davon abgesehen hätte ein abrupter Abbruch zu einem Skandal geführt und seiner Meinung nach war jede Art von häuslichem Skandal sehr schlecht für einen Geschäftsmann dieser Art. Er schätzte seine soziale Stellung über alles und zitterte bei dem Gedanken, wieder arm zu sein, nachdem er sich an all die Vergünstigungen gewöhnt hatte und als ehrenhafter Portugiese galt, dessen Heimat nun nicht mehr Portugual war.
Von diesen Überlegungen eingeschüchtert, begnügte er sich mit getrennten Betten und die zwei schliefen in getrennten Zimmern. Sie aßen nicht mehr zusammen und wenn sie sich durch unerwartete Umstände und gegen ihren Willen trafen, wechselten sie kaum ein Wort.
Sie hassten sich. Jeder empfand für den anderen eine heftige Abneigung, die nach und nach zu einem tiefen Ekel wurde. Die Geburt von Zulmira verschlimmerte die Situation noch. Anstatt als Bindeglied zwischen den Zwei zu dienen, war sie ein weiterer Faktor, der sie trennte. Estela liebte sie weniger, als der mütterliche Instinkt verlangte, weil sie annahm, dass sie das Kind des Gatten war und dieser hasste sie, weil er glaubte nicht der Vater zu sein.
Eines Nachts jedoch hatte Miranda, ein ansonsten kühler Mann von fünfunddreißig Jahren, einen Anfall von Sinnlichkeit. Es war schon spät und im ganzen Haus war keine Angestellte mehr, die ihm zur Verfügung stand. Er erinnerte sich an seine Frau, wies die Idee jedoch mit ausgesuchtem Ekel von sich. Er hasste sie immer noch. Die Verpflichtung allerdings, die er fühlte sich ihrer nicht zu bedienen, der selbst auferlegte Zwang sie zu hassen, steigerte seine Sinnlichkeit noch und machte aus der untreuen Gattin eine verbotene Frucht. Schließlich ging er, was eigenartig war, weil dadurch die Ablehnung ihrer Untreure nicht vermindert wurde, direkt in ihr Zimmer.
Die Frau schlief tief. Miranda schlich ins Zimmer und näherte sich dem Bett. "Ich sollte umkehren!", dachte er, "das ist nicht gut." Doch sein Blut pochte, verlangte nach ihr. Er zögerte noch einen Moment, unbeweglich, betrachtete sie gierig.
Estela, drehte sich, also ob der Blick des Gatten sie berühren würde, auf die linke Hüfte, zog mit den Lenden das Leinen nach vorne und ließ ein Stück wattierte und weiße Nacktheit durchschimmern. Miranda konnte nicht widerstehen und zog sie, die ein wenig überrumpelt war, mehr aus Verwunderung als aus Ablehnung, an sich. Sie ließ sich an den Lenden packen, mit geschlossenen Augen und täuschte vor zu schlafen und nicht zu wissen, was vor sich ging.
Ah! Sie rechnete damit, dass der Gatte, da er nicht den Mut gehabt hatte sich von ihr zu trennen, sie früher oder später wieder aufsuchen musste. Sie kannte sein Temperament. Stark im Begehren und schwach wenn es galt der Begierde zu widerstehen.
Nach dem Sündenfall fühlte sich der ehrenwerte Geschäftsmann wie gelähmt vor Scham und voller Reue. Er brachte kein Wort hervor und zog sich tieftraurig und schlaff in sein Junggesellenzimmer zurück.
Oh! Wie schmerzte ihn nun was er gerade eben blind vor Sinnlichkeit getan hatte.
"Was für eine Dummheit!", dachte er erschüttert, "was für eine bombastische Dummheit."
Am nächsten Tag begegneten sie sich und mieden sich, in Schweigen gehüllt, ganz so als ob am Vorabend nichts besonderes zwischen ihnen vorgefallen wäre. Man könnte auch sagen, dass nach diesem Vorfall Miranda noch einen größeren Hass gegen seine Frau verspürte.
Und in der Nacht die auf diesen Tag folgte, schwor er bei seiner Ehre nie wieder, nie wieder, eine solche Verrücktheit zu begehen als er sich in sein enges Bett legte.
Nach einem Monat jedoch, als er wieder von seiner Sinnlichkeit übermannt wurde, ging er wieder in das Zimmer seiner Frau.
Estela empfing ihn wie das erste Mal, täuschte vor, nicht zu erwachen. Als er sich jedoch ihrer in seinem Fieber bemächtigte, konnte das frivole Weib einen Lachanfall nicht unterdrücken und lachte ihm ins Gesicht. Der arme Teufel war völlig verwirrt, wirklich aufgebracht, richtete sich brüsk auf, aus dem Schlaf aufgeschreckt wie ein Schlafwandler, der gewaltsam geweckt wird.
Die Frau erfasste die Situation und ließ ihm keine Zeit zu flüchten. Sie schlang die Beine um ihn, schmiegte sich an seinen Körper und blendete ihn mit einer Salve Küsse.
Sie sprachen nicht miteinander.
Noch nie hatte Miranda sie so heftig leidenschaftlich besessen und es wird sich auch nicht wiederholen. Er vermisste sie. Er stellte sie sich voller Leidenschaft in den Armen eines Liebhabers vor. Er entdeckte an ihr den berauschenden Zauber mit dem die in der Kunst der sinnlichen Lust bewanderten Kourtisanen uns berauschen. Er entdeckte im Geruch ihrer Haut und im Geruch ihrer Haare Parfüms, die er noch nie an ihr wahrgenommen hatte. Er entdeckte an ihr einen anderen Geruch, einen anderen Ton in ihrem Stöhnen und Schluchzen. Er genoss sie, genoss sie ganz und gar, wie im Delirium, mit wahrer Befriedigung, wie ein Tier in der Brunst.
Auch sie, erregt von dem pikanten Umstand, dass der wechselseitigen Ablehnung, die sie trennte. Sie genoss die Entehrung des Aktes, der sie beide in den Augen des anderen entwürdigte. Sie wand sich, knirrschte mit den Zähnen, grunzte unter ihrem verhassten Feind, fand ihn besser, als Mann, als jemals, erstickte ihn mit ihren nackten Armen, steckte ihm erregt die Zunge in den Mund.
Dann ein Aufbäumen des ganzen Körpers, mit einem gutturalen und einem Schluchzen, also ob sie stranguliert würde, keuchend und zitternd, hingebungsvoll ausgestreckt mit geöffneten Beinen und Armen, den Kopf zur Seite gedreht, die Augen wund und voller Tränen, verwundet als ob man sie im Bett gekreuzigt hätte.
Von dieser Nacht an, in der sich Miranda erst morgens in sein Zimmer zurückzog, stellte sich zwischen den beiden eine bislang unbekannte sexuelle Erfüllung ein, in der die moralische Geringschätzung, die der eine dem anderen entgegenbrachte fortbestand und nicht geringer wurde.
Zehn Jahre lang waren sie so glücklich verheiratet. Jetzt, so lange nach dem ersten ehelichen Seitensprung, jetzt, wo der Geschäftsmann seltener von jenen Krisen übermannt wurde, die ihn zur nächtlichen Stunde in das Schlafzimmer von Dona Estela trieben,wurde das Luder wieder schuldig und flirtete mit den Verkäufern des Mannes, wenn sie zum Essen hochkamen.
Deshalb kaufte Miranda das Gebäude neben João Romão.
Das Haus war schön. Sein einziger Schönheitsfehler war die Tatsache, dass der Garten klein war, aber dafür gab es eine Lösung. Für wenig Geld konnte man so 10 Doppelmeter des Landes hinten kaufen, das bis zum Steinbruch reichte und oder 15 Ellen auf der Seite wo die Kneipe stand.
Miranda ging zu Romão um sich mit ihm zu einigen und schlug ihm das Geschäft vor. Der Schankwirt lehnte ab.
Miranda beharrte.
"Sie verlieren ihre Zeit in sinnlosen Diskussionen!", erwiderte der Freund von Bertoleza, "ich gebe ihnen nicht nur nicht eine Daumenbreite meines Landes, sondern würde ihnen ihres abkaufen, wenn sie es mir verkaufen wollen, das Stück hinter ihrem Haus!"
"Der Garten?"
"Genau."
"Sie wollen, dass ich ohne Garten Hinterhof bleibe, ohne Garten, ohne alles?"
"Für mich wäre es vorteilhaft..."
"Lassen Sie das jetzt und sagen Sie mir, wie viel Sie für das, was ich ihnen vorgeschlagen habe haben wollen."
"Dazu habe ich schon alles gesagt, was ich sagen musste."
"Dann lassen Sie mir wenigstens die 10 Doppelmeter hinten."
"Nicht eine halbe Daumenbreite."
"Das ist nichts anderes als Boshaftigkeit von Ihnen, wissen Sie? Ich mache das alles nur auf mich wegen meiner Kleinen, die ein wenig Raum braucht um sich zu strecken."
"Ich gebe nichts ab, ich brauche mein Land!"
"Für was! Was zum Teufel können Sie da machen? Ein Mist von Land eingequetscht zwsichen dem Hügel und dem hinteren Teil meines Hauses! Und außerdem haben Sie noch so viel Platz!"
"Ich werde Ihnen noch zeigen, was ich dort machen oder nicht machen werde!"
"Was sind sie doch stur! Schauen Sie, wenn Sie mir die zehn Doppelmeter hinten geben, hätten Sie auf ihrem Grundstück eine gerade Linie bis zum Steinbruch und ich müsste keine Grenzmauer auf meinem errichten. Damit Sie es wissen. Ich werde um den Garten keine Mauer ziehen, wenn Sie sich nicht entscheiden. "
"Dann bleibt der Garten für immer ohne Mauer, weil ich bereits gesagt habe, was ich zu sagen hatte."
"Guter Mann, denken Sie doch mal nach! Sie können dort nichts bauen oder glauben Sie, dass ich über meinem Garten Fenster erlauben werde!"
"Ich brauche keine Fenster über dem Garten von irgendjemandem!"
"Ich werde Ihnen auch nicht erlauben Wände hochzuziehen, die mir die Fenster links versperren!"
"Ich brauche auf dieser Seite keine Fenster..."
"Was zum Teufel wollen Sie dann mit dem ganzen Land machen?"
"Ah! Das ist jetzt meine Angelegenheit! Was sein wird, wird sein!"
"Ich glaube Sie werden noch bereuen, das mir das Land nicht gegeben haben!"
"Ob ich es bereue, wird man sehen! Ich sage Ihnen nur, dass es dem schlecht geht, der sich in mein Leben einmischen will!"
"Schönen Tag noch!"
"Auf Wiedersehen."
Daraufhin entbrannte ein heftiger Streit zwischen Tauben. Auf der einen Seite der portugiesische Großhändler und auf der anderen Seite der portugiesische Gemischtwarenhändler. Der eine konnte sich nicht entschließen die Gartenmauer zu errichten, solange er nicht das Stück land hatte, dass ihm vom Hügel trennte und der andere erhoffte sich noch das zwei oder drei Doppelmeter des Hofes hinter dem Haus zu bekommen. Nach seinem Kalkül wäre dieses Stück Gold wert, wenn er erstmal das große Projekt, das ihn beschäftigte, verwirklicht hätte: Ein Mietshaus gewaltigen Ausmaßes, eines mit monströsen Dimensionen, ohne Beispiel, eines das alle diese erbärmlichen Mietshäuser, die in Botafogo wucherten, verdrängen würde.
Das war sein Bestreben. Seit langem schon lebte João Romão nur für diese Idee. Von ihr träumte er des nachts. Er nahm an allen öffentlichen Auktionen von Baumaterial teil, ersteigerte schon benutztes Bauholz, kaufte gebrauchte Ziegel, kaufte Kalk und Ziegel zu Schäppchenpreisen. All das lagerte er auf seinem geräumigen, freien Boden, der binnen kurzem durch die dort aufgehäuften Materialien aller Art, Bretter, Leimhölzer, Baumstämme, Schiffsmasten, Balken, Reste von Karren, Kamine aus Lehm und Eisen, zerlegte Herde, Stapel von Ziegeln aller Art, Körbe von Zement, Berge von Sand und roter Erde, Haufen alter Dachziegel, zerbrochene Leitern, Kalk Lager und weiß der Teufel was noch alles, das merkwürdige Aussehen einer enormen Barrikade annahm. Er, der sehr genau wusste wie man diese Dinge stehlen konnte, gab acht und ließ des nachts einen schönen Molosser Hund von der Leine.
Dieser Hund war Anlass ewiger Streitereien zwischen Miranda und den Leuten, dessen Garten nach zehn Uhr Abends niemand mehr betreten konnte ohne zu riskieren, von der wilden Bestie angegriffen zu werden.
"Man muss eine Mauer bauen!", sagte João Romão und zog die Schultern hoch.
"Das mach ich nicht!", antwortete der andere,"wenn es um Launen geht, dann habe ich eben auch welche."
Im Gegenzug verirrte sich keine Henne und kein Hahn in den Garten von Miranda, ohne dass er sofort verschwand. João Romão protestierte heftig gegen den Diebstahl, schwor schreckliche Rache, sprach davon Schüsse abzugeben.
"Dann mach doch einen Zaun um deinen Hühnerstall!", antwortete der Gatte von Estela.
Als noch einige Monate verstrichen waren und nach einem letzten Versuch einige Doppelmenter des Gartens des Nachbarn zu bekommen, beschloss er mit dem Bau des Hotels zu beginnen.
"Soll er da bleiben", sagter er im Bett zu Bertoleza, "soll er da bleiben, jetzt werde ich ihm von der Hinterseite sein Hauses kommen, wenn ich nicht von vorne reinkomme! Früher oder später werde icih ihm nicht zwei Doppelmeter abnehmen, sondern sechs, acht, den ganzen Garten oder vielleicht das ganze Haus!"
Das sagte er mit der Überzeugung desjenigen, der alles kann und fest in die Kraft seiner Hartknäckigkeit vertraute, in seine niemals ermüdende Kraft und in die wundersame Fruchtbarkeit seines Geldes, Geld, das nur dann seine Fingernägel verließ, wenn es multipliziert zurückkam.
Seit das Fieber nach Besitz in vollkommen beherrschte, zielten alle seine Handlungen, absolut alle, auch die aller einfachsten, auf die Vermehrung seines Vermögens. Für sich und seine Freundin pflückte er in seinen Gärten nur die schlechtesten Früchte, die, die so schlecht waren, dass sie niemand mehr gekauft hätte. Seine Hühner produzierten viel, er aß aber kein einziges Ei, obwohl er sie so mochte. Er verkaufte sie alle und begnügte sich mit den Essensresten der Arbeiter. Das war kein Ehrgeiz mehr, das war ein nervöser Wahn, eine Verrücktheit, eine Sucht nach Aufhäufung von Vermögen, danach alles in Geld zu verwandeln. Sein gedrungener Körper, stämmiger Körper, mit Haaren wie eine Bürste, unrasiert, lief umher zwischen dem Steinbruch zur Kneipe, von der Kneipe zum Garten, vom Garten zur Wiese, immer in Hemdsärmeln, immer in Holzpantoffeln, ohne Strümpfe, nach allen Seiten Ausschau haltend, mit einem Ausdruck ständiger Gier, sich mit den Augen all dessen bemächtigend, was er mit den Fingernägeln nicht erreichen konnte.
In der Zwischenzeit wuchs die Bevölkerung der Straße beträchtlich. Man baute viel, wenn auch schlecht. Von einem Tag auf den anderen entstanden Barracken und Häuschen und die Mieten stiegen, die Grundstückspreise verdoppelten sich. Eine Makkaronifabrik und eine Kerzenfabrik siedelten sich an. Morgens und auf dem Weg zur Kirche zogen die Arbeiteir vorbei und die meisten von ihnen aßen in der Kneipe, die João Romão auf seiner Veranda eingerichtet hatte. Neue Kneipen machten auf, aber keine war so gut besucht, wie seine. Noch nie war sein Geschäft so gut gelaufen, nie hatte der Gewitzte so viel verkauft. Er verkaufte jetzt mehr, viel mehr als früher, musste sogar Verkäufer einstellen. Die Waren verweilten nicht in den Schränken. Die Theke glänzte mit zunehmender Abnutzung. In Kupfermünzen zu 20 Réis tropfte das Geld in die Schublade, von der Schublade zu Stangen von je fünfzig Stück zu 100 Réis, von da in den Koffer und vom Koffer zur Bank, auf die Konten.
Schließlich reichte die Lager der Lieferanten nicht mehr aus, um sein Etablissement zu versorgen. Einige Waren bezog er nun direkt aus Europa. Den Wein zum Beispiel, den er früher in Fässer mit einem Hektoliter im Großhandel kaufte, kam jetzt aus Portugal in 400 Liter Fässern und aus jedem machte er mit Wasser und Zuckerrohrschnaps das Dreifache. Er bezahlte Rechnungen für Butterfässer, für Konservenbüchsen, für Streichhölzer, Öl, Käse, Geschirr und viele andere Waren.
Er legte Kammern an zum lagern nder Ware, schaffte den Laden ab, verlegte das Schlafzimmer und nutzte den Platz um die Kneipe zu vergrößern, deren Größe sich dadurch verdoppelte und zwei Türen zusätzlich bekam.
Es war nun schon keine einfache Kneipe mehr, glich mehr einem Bazar, wo man alles finden konnte, alles was zum nähen brauchte, Werkeuge, Porzellan, Schreibutensilien, Arbeitskleidung für Arbeiter, Stoffe für Frauenkleider,Strohhüte gegen die Sonne, billige Parfüms, Käme aus Horn, Taschentücher mit Liebesgedichten, Ringe und Ohrringe aus Blech.
Und das ganze Volk der Umgebung kamen dahin oder gingen in die Kantine, wo sich die Fabrikarbeiter und die Arbeiter des Steinbruchs nach der Arbeit trafen, tranken dort und redeten bis 10 Uhr abends, zwischen dem dicken Rauch der Pfeifen, dem in Öl fritierten Fisch und den Petroleumlampen.
João Romão versorgte sie mit allem einchließlich mit Kredit, wenn dies nötig war. Es gab keinen Tagelöhner, dessen Gehalt nicht vollständig in den Händen des Halunken landete. Und für diese Kupfermünzen im Wert von 100 Réais nahm er 8 Prozent Zinsen im Monat, ein bisschen mehr als er von denen nahm, die Gold oder Silber als Pfand gaben.
Trotzdem füllten sich die Mietshäuser in dem Maße, wie sie hochgezogen wurden noch bevor die Farbe trocken war. Man riss sich darum einziehen zu können. Das war die beste Stelle im ganzen Viertel für die Arbeiter. Die Arbeiter des Steinbruchs wollten alle da wohnen, weil es nur zwei Schritte von ihrem Arbeitsplatz entfernt war.
Miranda platzte vor Wut.
"Ein Mietshaus!", brüllte er außer sich, "ein Mietshaus! Verflucht sei dieser Kneipenbetreiber von allen Teufeln! Ein Mietshaus direkt unter den Fenstern zu errichten! Die Kanaille hat mein Haus zerstört!"
Er fluchte, schwor Rache protestierte schreiend gegen den Staub, der in Wellen in die Räume eindrang und gegen den infernalischen Krach der Maurer und Schreiner die von Sonnenaufgang bis Sonnenuntergang hämmerten.
Was allerdings die Häuschen nicht daran hinderte, weiter zu wachsen, eines nach dem anderen um dann gefüllt zu werden, sich von der Kneipe bis zum Hügel und dann in Richtung Miranda auszudehnen bis zu dessen Garten, der bedroht schien von jener Schlange auch Stein und Kalk.
Schließlich baute Miranda eine Mauer.
Nichts da! Dieser Teufel war fähig bis in sein Wohnzimmer einzudringen.
So endeten die Zimmer der Mietskaserne vor der Mauer des Geschäftsmannes und formten mit der Verlängerung dessen Hauses ein großes Rechteck, so eine Art Kasernenhof, wo man ein Bataillon formen konnte.
Das riesige Gebäude bestand aus 95 Häuschen.
Einmal fertig, ließ João Romão an der Vorderseite, entlang der zwanzig Doppelmeter die Kneipe vom Haus Mirandas trennten eine große Mauer von 2,20 Meter Höhe errichten, gekrönt mit Glasscherben und Flaschenböden und einem großen Poral in der Mitte, mit einer großen Laterne aus rotem Fensterglas über einem gelben Schild auf dem, mit mangelhafter Orthographie in tiefroter Schrift geschrieben stand:
Hotel de São Romão. Häuschen zu vermieten und Zuber für Wäscherinnen.
Die Häuschen wurden monatlich vermietet und die Zuber pro Tag. Alles zahlbar im voraus. Der Preis für den Zuber betrug, mit Wasser, 500 Réis, die Seife ging extra. Die Mieter hatten Vorrang und zahlten für die Wäsche nichts.
Dank des dort reichlich, mehr also irgendwo sonst, vorhandenen Wassers und dank des großen Platzangebotes zum Trocknen der Wäsche über das Mietshaus verfügte, ließ die Nachfrage nach den Zubern nicht lange auf sich warten. Aus allen Punkten der Staat kamen die Wäscherinnen und einige von sehr weit her und sobald eines der Häuschen leer stand, oder ein Zimmer, ein Plätzchen für eine Matraze, gab es eine ganze Wolke an Leuten, die sich darum stritten.
Auf diesem morastigen und dampfenden Stück Land, in dieser heißen und lehmigen Feuchtigkeit begann eine Welt zu wimmeln, zu kreuchen zu wachsen, eine lebendige Sache, ein Generation die spontan emporstpross aus diesem Sumpf und sich vermehrte wie Larven im Mist. |
II
Durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças,
socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela
exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe
crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais
grossas do que serpentes, minavam por toda a parte, ameaçando rebentar o chão
em torno dela, rachando o solo e abalando tudo.
Posto que lá na Rua do Hospício os seus negócios não corressem mal,
custava-lhe a sofrer a escandalosa fortuna do vendeiro “aquele tipo! um
miserável, um sujo, que não pusera nunca um paletó, e que vivia de cama e mesa
com uma negra!”
À noite e aos domingos ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele,
recolhendo-se fatigado do serviço, deixava-se ficar estendido numa preguiçosa,
junto à mesa da sala de jantar, e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que
vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar
à janela sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava
com o seu fartum de bestas no coito.
E depois, fechado no quarto de dormir, indiferente e habituado às torpezas
carnais da mulher, isento já dos primitivos sobressaltos que lhe faziam, a ele,
ferver o sangue e perder a tramontana, era ainda a prosperidade do vizinho o que
lhe obsedava o espírito, enegrecendo-lhe a alma com um feio ressentimento de
despeito.
Tinha inveja do outro, daquele outro português que fizera fortuna, sem
precisar roer nenhum chifre; daquele outro que, para ser mais rico três vezes do
que ele, não teve de casar com a filha do patrão ou com a bastarda de algum
fazendeiro freguês da casa!
Mas então, ele Miranda, que se supunha a última expressão da ladinagem e
da esperteza; ele, que, logo depois do seu casamento, respondendo para Portugal
a um ex-colega que o felicitava, dissera que o Brasil era uma cavalgadura
carregada de dinheiro, cujas rédeas um homem fino empolgava facilmente; ele,
que se tinha na conta de invencível matreiro, não passava afinal de um pedaço
de asno comparado com o seu vizinho! Pensara fazer-se senhor do Brasil e
fizera-se escravo de uma brasileira mal-educada e sem escrúpulos de virtude!
Imaginara-se talhado para grandes conquistas, e não passava de uma vitima
ridícula e sofredora!... Sim! no fim de contas qual fora a sua África?...
Enriquecera um pouco, é verdade, mas como? a que preço? hipotecando-se a um
diabo, que lhe trouxera oitenta contos de réis, mas incalculáveis milhões de
desgostos e vergonhas! Arranjara a vida, sim, mas teve de aturar eternamente
uma mulher que ele odiava! E do que afinal lhe aproveitar tudo isso? Qual era
afinal a sua grande existência? Do inferno da casa para o purgatório do trabalho
e vice-versa! Invejável sorte, não havia dúvida!
Na dolorosa incerteza de que Zulmira fosse sua filha, o desgraçado nem
sequer gozava o prazer de ser pai. Se ela, em vez de nascer de Estela, fora uma
enjeitadinha recolhida por ele, é natural que a amasse e então a vida lhe correria
de outro modo; mas naquelas condições, a pobre criança nada mais representava
que o documento vivo do ludibrio materno, e o Miranda estendia até à
inocentezinha d'África o ódio que sustentava contra a esposa.
Uma espiga a tal da sua vida!
— Fui uma besta! resumiu ele, em voz alta, apeando-se da cama, onde se
havia recolhido inutilmente.
E pôs-se a passear no quarto sem vontade de dormir, sentindo que a febre
daquela inveja lhe estorricava os miolos.
Feliz e esperto era o João Romão! esse, sim, senhor! Para esse é que havia
de ser a vida!... Filho da mãe, que estava hoje tão livre e desembaraçado como
no dia em que chegou da terra sem um vintém de seu! esse, sim, que era moço e
podia ainda gozar muito, porque quando mesmo viesse a casar e a mulher lhe
saísse uma outra Estela era só mandá-la para o diabo com um pontapé! Podia
fazê-lo! Para esse é que era o Brasil!
— Fui uma besta! repisava ele sem conseguir conformar-se com a felicidade
do vendeiro. Uma grandíssima! No fim de contas que diabo possuo eu?... Uma
casa de negócio, da qual não posso separar-me sem comprometer o que lá está
enterrado! um capital metido numa rede de transações que não se liquidam
nunca, e cada vez mais se complicam e mais me grudam ao estupor desta terra,
onde deixarei a casca! Que tenho de meu, se a alma do meu crédito é o dote, que
me trouxe aquela sem-vergonha e que a ela me prende como a peste da casa
comercial me prende a esta Costa d’África?
Foi da supuração fétida destas idéias que se formou no coração vazio do
Miranda um novo ideal — o título. Faltando-lhe temperamento próprio para os
vícios fortes que enchem a vida de um homem; sem família, a quem amar e sem
imaginação para poder gozar com as prostitutas, o náufrago agarrou-se àquela
tábua, como um agonizante, consciente da morte, que se apega à esperança de
uma vida futura. A vaidade de Estela, que a principio lhe tirava dos lábios
incrédulos sorrisos de mofa, agora lhe comprazia à farta. Procurou capacitar-se
de que ela com efeito herdara sangue nobre, que ele, por sua vez, se não o tinha
herdado, trouxera-o por natureza própria, o que devia valer mais ainda; e desde
então principiou a sonhar com um baronato, fazendo disso o objeto querido da
sua existência, muito satisfeito no intimo por ter afinal descoberto uma coisa em
que podia empregar dinheiro, sem ter, nunca mais, de restituí-lo à mulher, nem
ter de deixá-lo a pessoa alguma.
Semelhante preocupação modificou-o em extremo. Deu logo para fingir-se
escravo das conveniências, afetando escrúpulos sociais, empertigando-se quanto
podia e disfarçando a sua inveja pelo vizinho com um desdenhoso ar de
superioridade condescendente. Ao passar-lhe todos os dias pela venda,
cumprimentava-o com proteção, sorrindo sem rir e fechando logo a cara em
seguida, muito sério.
Dados os primeiros passos para a compra do titulo abriu a casa e deu festas.
A mulher, posto que lhe apontassem já os cabelos brancos, rejubilou com isso.
Zulmira tinha então doze para treze anos e era o tipo acabado da fluminense;
pálida, magrinha, com pequeninas manchas roxas nas mucosas do nariz, das
pálpebras e dos lábios, faces levemente pintalgadas de sardas. Respirava o tom
úmido das flores noturnas, uma brancura fria de magnólia; cabelos
castanho-claros, mãos quase transparentes, unhas moles e curtas, como as da
mãe, dentes pouco mais claros do que a cútis do rosto, pés pequeninos, quadril
estreito mas os olhos grandes, negros, vivos e maliciosos.
Por essa época, justamente, chegava de Minas, recomendado ao pai dela, o
filho de um fazendeiro importantíssimo que dava belos lucros à casa comercial
de Miranda e que era talvez o melhor freguês que este possuía no interior.
O rapaz chamava-se Henrique, tinha quinze anos e vinha terminar na corte
alguns preparatórios que lhe faltavam para entrar na Academia de Medicina.
Miranda hospedou-o no seu sobrado da Rua do Hospício mas o estudante
queixou-se, no fim de alguns dias, de que ai ficava mal acomodado, e o
negociante, a quem não convinha desagradar-lhe, carregou com ele para a sua
residência particular de Botafogo.
Henrique era bonitinho, cheio de acanhamentos, com umas delicadezas de
menina. Parecia muito cuidadoso dos seus estudos e tão pouco extravagante e
gastador, que não despendia um vintém fora das necessidade de primeira
urgência. De resto, a não ser de manhã para as aulas, que ia sempre com o
Miranda, não arredava pé de casa senão em companhia da família, deste. Dona
Estela, no cabo de pouco tempo, mostrou por ele estima quase maternal e
encarregou-se de tomar conta da sua mesada, mesada posta pelo negociante,
visto que o Henriquinho tinha ordem franca do pai.
Nunca pedia dinheiro; quando precisava de qualquer coisa, reclamava-a de
Dona Estela, que por sua vez encarregava o marido de comprá-la, sendo o objeto
lançado na conta do fazendeiro com uma comissão de usurário. Sua hospedagem
custava duzentos e cinqüenta mil-réis por mês, do que ele todavia não tinha
conhecimento, nem queria ter. Nada lhe faltava, e os criados da casa o
respeitavam como a um filho do próprio senhor.
À noite, às vezes, quando o tempo estava bom, Dona Estela saia com ele, a
filha e um moleque, o Valentim, a darem uma volta ate à praia e, em tendo
convite para qualquer festa em casa das amigas, levava-o em sua companhia.
A criadagem da família, do Miranda compunha-se de Isaura, mulata ainda
moça, moleirona e tola, que gastava todo o vintenzinho que pilhava em comprar
capilé na venda de João Romão; uma negrinha virgem, chamada Leonor, muito
ligeira e viva, lisa e seca como um moleque, conhecendo de orelha, sem lhe
faltar um termo, a vasta tecnologia da obscenidade, e dizendo, sempre que os
caixeiros ou os fregueses da taverna, só para mexer com ela, lhe davam
atracações: “Óia, que eu me queixo ao juiz de orfe!”, e finalmente o tal
Valentim, filho de uma escrava que foi de Dona Estela e a quem esta havia
alforriado.
A mulher do Miranda tinha por este moleque uma afeição sem limites:
dava-lhe toda a liberdade, dinheiro, presentes, levava-o consigo a passeio,
trazia-o bem vestido e muita vez chegou a fazer ciúmes à filha, de tão solicita
que se mostrava com ele. Pois se a caprichosa senhora ralhava com Zulmira por
causa do negrinho! Pois, se quando se queixavam os dois, um contra o outro, ela
nunca dava razão à filha! Pois se o que havia de melhor na casa era para o
Valentim! Pois, se quando foi este atacado de bexigas e o Miranda, apesar das
súplicas e dos protestos da esposa, mandou-o para um hospital, Dona Estela
chorava todos os dias e durante a ausência dele não tocou piano, nem cantou,
nem mostrou os dentes a ninguém? E o pobre Miranda, se não queria sofrer
impertinências da mulher e ouvir sensaborias defronte dos criados, tinha de dar
ao moleque toda a consideração e fazer-lhe humildemente todas as vontades.
Havia ainda, sob as telhas do negociante, um outro hóspede além do
Henrique, o velho Botelho. Este, porém, na qualidade de parasita.
Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo
branco, curto e duro, como escova, barba e bigode do mesmo teor; muito
macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila e
davam-lhe à cara uma expressão de abutre, perfeitamente de acordo com o seu
nariz adunco e com a sua boca sem lábios: viam-se-lhe ainda todos os dentes,
mas, tão gastos, que pareciam limados até ao meio. Andava sempre de preto,
com um guarda-chuva debaixo do braço e um chapéu de Braga enterrado nas
orelhas. Fora em seu tempo empregado do comércio, depois corretor de
escravos; contava mesmo que estivera mais de uma vez na África negociando
negros por sua conta. Atirou-se muito às especulações; durante a guerra do
Paraguai ainda ganhara forte, chegando a ser bem rico; mas a roda desandou e,
de malogro em malogro, foi-lhe escapando tudo por entre as suas garras de ave
de rapina. E agora, coitado, já velho, comido de desilusões, cheio de
hemorróidas, via-se totalmente sem recursos e vegetava à sombra do Mirada,
com quem por muitos anos trabalhou em rapaz, sob as ordens do mesmo patrão,
e de quem se conservara amigo, a principio por acaso e mais tarde por
necessidade.
Devorava-o, noite e dia, uma implacável amargura, uma surda tristeza de
vencido, um desespero impotente, contra tudo e contra todos, por não lhe ter
sido possível empolgar o mundo com as suas mãos hoje inúteis e trêmulas. E,
como o seu atual estado de miséria não lhe permitia abrir contra ninguém o bico,
desabafava vituperando as idéias da época.
Assim, eram às vezes muito quentes as sobremesas do Miranda, quando,
entre outros assuntos palpitantes, vinha à discussão o movimento abolicionista
que principiava a formar-se em torno da lei Rio Branco. Então o Botelho ficava
possesso e vomitava frases terríveis, para a direita e para a esquerda, como quem
dispara tiros sem fazer alvo, e vociferava imprecações, aproveitando aquela
válvula para desafogar o velho ódio acumulado dentro dele.
— Bandidos! berrava apoplético. Cáfila de salteadores!
E o seu rancor irradiava-lhe dos olhos em setas envenenadas, procurando
cravar-se em todas as brancuras e em todas as claridades. A virtude, a beleza, o
talento, a mocidade, a força, a saúde, e principalmente a fortuna, eis o que ele
não perdoava a ninguém, amaldiçoando todo aquele que conseguia o que ele não
obtivera; que gozava o que ele não desfrutara; que sabia o que ele não
aprendera. E, para individualizar o objeto do seu ódio, voltava-se contra o
Brasil, essa terra que, na sua opinião, só tinha uma serventia: enriquecer os
portugueses, e que, no entanto, o deixara, a ele, na penúria.
Seus dias eram consumidos do seguinte modo: acordava às oito da manhã,
lavava-se mesmo no quarto com uma toalha molhada em espírito de vinho;
depois ia ler os jornais para a sala de jantar, à espera do almoço; almoçava e
sala, tomava o bonde e ia direitinho para uma charutaria da Rua do Ouvidor,
onde costumava ficar assentado até às horas do jantar, entretido a dizer mal das
pessoas que passavam lá fora, defronte dele. Tinha a pretensão de conhecer todo
o Rio de Janeiro e os podres de cada um em particular. Às vezes, poucas, Dona
Estela encarregava-o de fazer pequenas compras de armarinho, o que o Botelho
desempenhava melhor que ninguém? Mas a sua grande paixão, o seu fraco, era a
farda, adorava tudo que dissesse respeito a militarismo, posto que tivera sempre
invencível medo às armas de qualquer espécie, mormente às de fogo. Não podia
ouvir disparar perto de si uma espingarda, entusiasmava-se porém com tudo que
cheirasse a guerra; a presença de um oficial em grande uniforme tirava-lhe
lágrimas de comoção; conhecia na ponta da língua o que se referia à vida de
quartel; distinguia ao primeiro lance de olhos o posto e o corpo a que pertencia
qualquer soldado e, apesar dos seus achaques, era ouvir tocar na rua a corneta ou
o tambor conduzindo o batalhão, ficava logo no ar, e, muita vez, quando dava
por si, fazia parte dos que acompanhavam a tropa. Então, não tornava para casa
enquanto os militares neo se recolhessem. Quase sempre voltava dessa loucura
às seis da tarde, moído a fazer dó, sem poder ter-se nas pernas, estrompado de
marchar horas e horas ao som da música de pancadaria. E o mais interessante é
que ele, ao vir-lhe a reação, revoltava-se furioso contra o maldito comandante
que o obrigava àquela estopada, levando o batalhão por uma infinidade de ruas e
fazendo de propósito o caminho mais longo.
— Só parece, lamentava-se ele, que a intenção daquele malvado era dar-me
cabo da pele! Ora vejam! Três horas de marche-marche por uma soalheira de
todos os diabos!
Uma das birras mais cômicas do Botelho era o seu ódio pelo Valentim. O
moleque causava-lhe febre com as suas petulâncias de mimalho, e, velhaco,
percebendo quanto elas o irritavam, ainda mais abusava, seguro na proteção de
Dona Estela. O parasita de muito que o teria estrangulado, se não fora a
necessidade de agradar à dona da casa.
Botelho conhecia as faltas de Estela como as palmas da própria mão. O
Miranda mesmo, que o via em conta de amigo fiel, muitas e muitas vezes lhas
confiara em ocasiões desesperadas de desabafo, declarando francamente o
quanto no intimo a desprezava e a razão por que não a punha na rua aos
pontapés. E o Botelho dava-lhe toda a razão; entendia também que os sérios
interesses comerciais estavam acima de tudo.
— Uma mulher naquelas condições, dizia ele convicto, representa nada
menos que o capital, e um capital em caso nenhum a gente despreza! Agora,
você o que devia era nunca chegar-se para ela...
— Ora! explicava o marido. Eu me sirvo dela como quem se serve de uma
escarradeira!
O parasita, feliz por ver quanto o amigo aviltava a mulher, concordava em
tudo plenamente, dando-lhe um carinhoso abraço de admiração. Mas por outro
lado, quando ouvia Estela falar do marido, com infinito desdém e até com asco,
ainda mais resplandecia de contente.
— Você quer saber? afirmava ela, eu bem percebo quanto aquele traste do
senhor meu marido me detesta, mas isso tanto se me dá como a primeira camisa
que vesti! Desgraçadamente para nós, mulheres de sociedade, não podemos
viver sem esposo, quando somos casadas; de forma que tenho de aturar o que
me caiu em sorte, quer goste dele quer não goste! Juro-lhe, porém, que, se
consinto que o Miranda se chegue às vezes para mim, é porque entendo que
paga mais à pena ceder do que puxar discussão com uma besta daquela ordem!
O Botelho, com a sua encanecida experiência do mundo, nunca transmitia a
nenhum dos dois o que cada qual lhe dizia contra o outro; tanto assim que, certa
ocasião, recolhendo-se à casa incomodado, em hora que não era do seu costume,
ouviu, ao passar pelo quintal, sussurros de vozes abafadas que pareciam vir de
um canto afogado de verdura, onde em geral não ia ninguém.
Encaminhou-se para lá em bicos de pés e, sem ser percebido, descobriu
Estela entalada entre o muro e o Henrique. Deixou-se ficar espiando, sem tugir
nem mugir, e, só quando os dois se separaram, foi que ele se mostrou.
A senhora soltou um pequeno grito, e o rapaz, de vermelho que estava,
fez-se cor de cera; mas o Botelho procurou tranqüilizá-los, dizendo em voz
amiga e misteriosa:
— Isso é uma imprudência o que vocês estão fazendo!... Estas coisas não é
deste modo que se arranjam! Assim como fui eu, podia ser outra pessoa... Pois
numa casa em que há tantos quartos, é lá preciso vir meterem-se neste canto do
quintal?...
— Nós não estávamos fazendo nada! disse Estela, recuperando o
sangue-frio.
— Ah! tornou o velho, aparentando sumo respeito: então desculpe, pensei
que estivessem... E olhe que, se assim fosse, para mim seria o mesmo, porque
acho isso a coisa mais natural do mundo e entendo que desta vida a gente só leva
o que come!... Se vi, creia, foi como se nada visse, porque nada tenho a cheirar
com a vida de cada um!... A senhora está moça, está na força dos anos; seu
marido não a satisfaz, é justo que o substitua por outro! Ah! isto é o mundo, e, se
é torto, não fomos nós que o fizemos torto!... Até certa idade todos temos dentro
um bichinho-carpinteiro, que é preciso matar, antes que ele nos mate! Não lhes
doam as mãos!... apenas acho que, para outra vez, devem ter um pouquinho mais
de cuidado e...
— Está bom! basta! ordenou Estela.
— Perdão! eu, se digo isto, é para deixá-los bem tranqüilos a meu respeito.
Não quero, nem por sombra, que se persuadam de que...
O Henrique atalhou, com a voz ainda comovida:
— Mas, acredite, seu Botelho, que...
O velho interrompeu-o também por sua vez, passando-lhe a mão no ombro e
afastando-o consigo:
— Não tenha receio, que não o comprometerei, menino!
E, como já estivessem distantes de Estela, segredou-lhe em tom protetor:
— Não torne a fazer isto assim, que você se estraga... Olhe como lhe
tremem as pernas!
Dona Estela acompanhou-os a distancia, vagarosamente, afetando
preocupação em compor um ramalhete, cujas flores ela ia colhendo com muita
graça, ora toda vergada sobre as plantas rasteiras, ora pondo-se na pontinha dos
pés para alcançar os heliotrópios e os manacás.
Henrique seguiu o Botelho até ao quarto deste, conversando sem mudar de
assunto.
— Você então não fala nisto, hein? Jura? perguntou-lhe.
O velho tinha já declarado, a rir, que os pilhara em flagrante e que ficara
bom tempo à espreita.
— Falar o quê, seu tolo?... Pois então quem pensa você que eu sou?... Só
abrirei o bico se você me der motivo para isso, mas estou convencido que não
dará... Quer saber? eu até simpatizo muito com você, Henrique! Acho que você
é um excelente menino, uma flor! E digo-lhe mais: hei de proteger os seus
negócios com Dona Estela...
Falando assim, tinha-lhe tomado as mãos e afagava-as.
— Olhe, continuou, acariciando-o sempre; não se meta com donzelas,
entende?... São o diabo! Por dá cá aquela palha fica um homem em apuros!
agora quanto às outras, papo com elas! Não mande nenhuma ao vigário, nem lhe
doa a cabeça, porque, no fim de contas, nas circunstâncias de Dona Estela, é até
um grande serviço que você lhe faz! Meu rico amiguinho, quando uma mulher já
passou dos trinta e pilha a jeito um rapazito da sua idade, é como se descobrisse
ouro em pó! sabe-lhe a gaitas! Fique então sabendo de que não é só a ela que
você faz o obséquio, mas também ao marido: quanto mais escovar-lhe você a
mulher, melhor ela ficará de gênio, e por conseguinte melhor será para o pobre
homem, coitado! que tem já bastante com que se aborrecer lá por baixo, com os
seus negócios, e precisa de um pouco de descanso quando volta do serviço e
mete-se em casa! Escove-a, escove-a! que a porá macia que nem veludo! O que
é preciso é muito juizinho, percebe? Não faça outra criançada como a de hoje e
continue para diante, não só com ela, mas com todas as que lhe caírem debaixo
da asa! Vá passando! menos as de casa aberta, que isso é perigoso por causa das
moléstias; nem tampouco donzelas! Não se meta com a Zulmira! E creia que lhe
falo assim, porque sou seu amigo, porque o acho simpático, porque o acho
bonito!
E acarinhou-o tão vivamente dessa vez, que o estudante, fugindo-lhe das
mãos, afastou-se com um gesto de repugnância e desprezo, enquanto o velho lhe
dizia em voz comprimida:
— Olha! Espera! Vem cá! Você é desconfiado!... |
II
Zwei Jahre lang prosperierte das Mietshaus immer mehr von Tag zu Tag, gewann an Stärke, knetete die Leute. Nebenan erschreckte sich Miranda immer mehr,
beunruhigt durch diesen brutalen Überfluss an Leben, voller Entsetzen angesichts dieses unerbittlichen Waldes der bis an das Haus heranwuchs, bis unterhalb der Fenster und dessen Wurzeln, schlimmer noch und größer als Schlangen, alles untergruben, den Boden um ihn herum zu sprengen drohten, den Boden pflückten und alles erschütterten.
Obwohl seine Geschäfte in der Rua do Hospício nicht schlecht liefen, litt er unter dem skandalösen Erfolg des Schankwirts, dieses Typs, dieses Elenden, dieses Dreckspatzes, der nie einen Mantel anzog und der Tisch und Bett mit einer Negerin teilte.
Nachts und Sonntags, wenn er sich von den Strapazen seiner Arbeit erholte und faul ausgestreckt neben dem Tisch im Esszimmer lag und den widerwärtigen, primitiven Krach hörte, der wie ein starker Hauch von müden Tieren herüberwehte , war sein Missmut noch größer. Er konnte sich dem Fenster nicht nähern ohne diesen warmen und sinnlichen Geruch ins Gesicht geblasen zu bekommen, er ihn betäubte wie der Gestank von Tieren beim Beischlaf.
Und dann, eingeschlossen in seinem Zimmer, gleichgültig gegenüber den fleischlichen Schamlosigkeiten der Frau, schon gewohnt an die primitive Erregung, die sie in ihm entfachte, an das Kochen des Blutes und den Kontrollverlust, war es der Reichtum des Nachbarn, was ihn beschäftigte, der seine Seele verdüsterte mit einem hässlichen Gefühl der Verbitterung.
Er beneidete den anderen, diesen Portugiesen, der zu Reichtum gekommen war, ohne gehörnt worden zu sein, der dreimal so reich wie er selbst, nicht die Tochter des Patrons oder eines Balg gezeugt mit einem Kunden heiraten musste.
Abgesehen davon erschien er, der sich für höchst gerissen und erfahren hielt, der nach seiner Heirat einem ehemaligen Kollegen schrieb, der ihm gratulierte, schrieb, dass Brasilien ein Gaul voller Geld wäre, dessen Zügel ein ein Mann mühelos in die Hand nehmen könne, der sich ungemein geschäftüchtig hielt, schließlich im Vergleich mit seinem Nachbarn als ein fertiger Esel.
Er dachte er würde der Herr von Brasilien werden und wurde der Sklave einer schlecht erzogenen Brasilianerin ohne Skrupel und Hemmungen! Er dachte er wäre gemacht für große Eroberungen und war doch nur ein lächerliches und leidendes Opfer! Was war denn nun sein Afrika? Ein bisschen reicher war er, das stimmt, aber wie? Zu welchem Preis? In der er sich bei einem Teufel verschuldete, der ihm 80 000 Réis brachte und unendlich viel Verdruss und Scham! Sein Leben lief in geordneten Bahnen, aber er musste ein Leben lang eine Frau aushalten, die er hasste! Und was hatter er letztlich davon? Was blieb schlussendlich von seiner glorreichen Existenz? Von der Hölle, die er zu Hause hatte zum Purgatorium in der Arbeit und wieder zurück! Ein beneidenswertes Schicksal, daran bestand kein Zweifel!
Gefangen in dem Zweifel ob Zulmira überhaupt seine Tochter sei, fand er auch keinen Gefallen daran Vater zu sein. Wenn sie, anstatt von Estela auf die Welt gebracht, eine verlassene Waise gewesen wäre, die er aufgesammelt hatte, dann hätte er sie geliebt und sein Leben würde in anderen Bahnen verlaufen, so aber war das arme Kind nur lebendiges Dokument der Schamlosigkeit der Mutter und Miranda übertrug auf die ganz Unschuldige aus Afrika den Hass, der er gegen seine Frau hegte. Ein Stachel in seinem Fleisch.
"Sie war eine Bestie!", murmelte er laut, während er aus dem Bett stieg, wo er sich vergeblich hingelegt hatte.
Er lief im Zimmer hin und her, von Schlaflosigkeit geplagt, fühlte wie der Neid in seinen Eingeweiden brannte.
Glücklich und erfahren ist João Romão! Das kann man wohl sagen! Der muss ein tolles Leben haben! Ein Mensch heute so frei und Herr seiner selbst wie an dem Tag, als er ankam ohne eine einzige Kupfermünze in der Tasche! Er war noch jung und konnte das Leben noch genießen. Wenn er heiraten würde und seine Frau würde sich wie Estela entwickeln, dann würde er sie mit einem Tritt in den Hintern zum Teufel schicken! Das konnte er machen! Für den war Brasilien wie geschaffen!
Er konnte sich mit dem Glück des Kneipenbesitzers nicht abfindet. "Ich war ein Idiot", kreiste es in seinem Kopf. Ein mächtiger Idiot! Was besitze ich den jetzt? Einen Laden von dem ich mich nicht trennen kann ohne das in Frage zu stellen, auf dem er fußt. Kapital, dass zwischen Transaktionen hängt, die nie wirklich ausgezahlt werden und die immer komplizierter werden und mich noch mehr an den Stumpfsinn dieses Landes binden, wo ich meine Knochen lassen werde. Was bleibt mir noch, wenn alles, worauf mein Existenz fusst die Mitgift ist, die mir jene Schamlose brachte und die mich an sie bindet wie das verdammte Handelsunternehmen an diese Küste Afrikas.
Es war die stinkende Ansammlung von Eiter dieser Ideen, die sich im leeren Herzen von Miranda ein neues Ideal formte: der Titel. Da ihm das Temperament für starke Laster die das Leben eines Menschen bereichern fehlte, da er keine Familie hatte, die er liebte und ohne die nötige Phantasie um sich mit Prostituierten zu vergnügen, klammerte sich der Schiffbrüchige an jenes Tabu wie ein Sterbender, der sich seines baldigen Endes bewusst ist, sich an die Hoffnung eines zukünftigen Lebens klammert. Die Eitelkeit Estelas, bei der sich zu Beginn seine Lippen zu einem spöttischen Lächeln verzogen, gefiel ihm jetzt über die Maßen gut. Er versuchte sich davon zu überzeugen, dass tatsächlich von Geburt an blaublütig war, wohingegen er, der es nicht geerbt hatte, es aus eigener Kraft wurde, was noch viel wertvoller war. Von da an begann er, glücklich etwas gefunden zu haben, wo er Geld anlegen konnte, ohne etwas an seine Frau oder an irgendjemanden sonst abgeben zu müssen, von einem Adelstitel zu träumen.
Dieses Bestreben veränderte ihn extrem. Er fing an sich vorzustellen, Sklave der Konventionen zu sein, heuchelte Skrupel was den sozialen Umgang anging, gab sich unnahbar, wenn die Situation es zuließ und versteckte seinen Neid auf den Nachbarn hinter einem verächtlichen Auftritt herablassender Überheblichkeit. Er grüßte ihn jeden Tag, wenn er an seiner Kneipe vorüberging mit Bedacht, mit einem kalten Lächeln, wendete dann das Gesicht ab, gab sich würdevoll.
Nachdem er die ersten Schritte für den Kauf des Titels eingeleitet hatte, öffnete er sein Haus für Feierlichkeiten aller Art, was seiner Frau, bei der schon weiße Haare zu sprießen begannen, begeisterte.
Zulmira war damals zwölf ode dreizehn Jahre alt und ihr Aussehen war typisch für Rio de Janeiro: Blass, mager, mit kleinen violetten Flecken auf der Nase, den Augenlider und den Lippen, mit einem Gesicht, das leicht mit Sommersprossen überzogen war. Ihr Atem glich dem feuchten Ton nachtblühender Blumen, ein kaltes Weiß wie das einer Magnolia. Ihr Haar war hellbraun, ihre Hände fast durchsichtig, ihre Fingernägel weich und kurz wie die ihrer Mutter, ihre Zähne nur wenig heller, als die Haut ihres Gesichtes, sie hatte kleine Füße, schmale Hüften, aber große Augen, schwarz, lebhaft und bösartig.
Zu dieser Zeit kam aus Minas, mit einer Empfehlung für ihren Vater, der Sohn eines wichtigen Gutsherrn, der dem Geschäft von Miranda gute Einnahmen einbrachte und der vielleicht der beste Kunde war, den er im Inneren des Landes hatte.
Der Junge hieß Henrique, war 15 Jahre alt und hatte gerade am Hof einige Vorbereitungskurses abgeschlossen, die ihm noch fehlten um ein Studium der Medizin aufzunehmen. Zuerst beherbergte Miranda ihn im Haus in der Rua do Hospício, doch der Student fühlte sich, nachdem er dort einige Tage gewohnt hatte, unwohl und der Geschäftsmann, darauf bedacht ihn nicht verstimmen, zog mit ihm in das Einfamilienhaus in Botafogo.
Henrique war ein hübscher Junge, voller Charme, delikat wie ein Mädchen. Er widmete sich mit großem Ernst seinen Studien und war so wenig extravagant und sparsam, dass er nicht mal eine 20 Réis Kupfermünze ausgab, wenn dies nicht unbedingt nötig war. Im übrigen setzte er, sieht man von dem Besuch der Vorlesungen ab, wohin in Miranda begleitete, setzte er keinen Fuß vor die Tür, wenn er nicht von dessen Familie begleitet wurde. Schon nach kurzer Zeit entwickelte Dona Estela eine fast mütterliche Zuneigung für ihn und kümmerte sich um sein Taschengeld, dass der Geschäftsmann festgelegt hatte, da der Vater des kleinen Henrique ihm da freie Hand gelassen hatte.
Er bat nie um Geld. Brauchte er etwas, dann fragte er Donan Estela, die wiederum ihren Gattten beauftragte, es zu kaufen, wobei das, was er kaufte auf dem Konto des Gutsherrn mit eine Gebühr für die Kommission verrechnet wurde. Seine Unterbringung kostete zweihundertfünfzigtausend Réis im Monat, von denen er nichts wusste und nichts wissen wollte. Es fehlte ihm an nichts und die Angestellten des Hauses respektierten ihn, als ob er der Sohn ihres Patrons wäre.
Nachts, wenn das Wetter schön war, ging Dona Estela mit ihm, der Tochter und einem Straßenjungen, Valentim, an den Strand spazieren und wenn sie zu einer Feier bei Freundinnen eingeladen war, ging sie mit ihm dahin.
Die Dienerschaft der Familie von Miranda setzte sich zusammen aus Isaura, eine noch jungen Mulattin, träge und stumpfsinnig, die alles Geld, das sie einsammelte für Sirup aus Fraunhaarfarn ausgab, den sie in der Kneipe von João Romão kaufte. Dann war da noch eine kleine, schwarze Jungfrau mit Namen Leonor, ein leichtes lebendiges Mädchen, glatt und trocken wie ein Straßenjunge, die vom Hörensagen, inklusiv aller Begriffe, die ganze Bandbreite an obszönen Techniken kannte. Nach ihren Erzählungen bändelten sie ständig mit ihr an nur um sie zu berühren:"Ich werde mich beim Richter beschweren!" Schließlich war da noch Valentim, der Sohn einer Sklavin von Dona Estela, den sie freigelassen hatte.
Die Frau Mirandas hatte für diesen Straßenjungen eine grenzenlose Zuneigung: Sie gab ihm alle Freiheiten, Geld, Geschenke, ging mit ihm spazieren, zog ihn schick an und manchmal war sie eifersüchtig auf ihre Tochter, die ihm gegenüber so hilfsbereit war. Wie kann es sein, dass die launige Frau sich mit ihre Tochter wegen eines kleinen, schwarzen Jungen stritt? Stritten sich die beiden miteinander, gab sie nie der Tochter Recht! Das Beste im Haus war immer für Valentim! Wie kann es sein, dass Dona Estela den ganzen Tag weinte, als er nicht mehr da war, das Piano nicht mehr anfasste, nicht mehr sang, niemandem mehr die Zähne zeigte, weil er die Masern bekam und Miranda ihn ins Krankenhaus schickte, obwohl seine Frau flehte und protestierte? Der arme Miranda, hatte, wollte er nicht in Gegenwart der Angestellten ausgeschimpft werden, den Jungen zu respektieren und allen seinen Wünschen zu entsprechen.
Unter dem Dach des Geschäftmanns war außer Henrique noch ein anderer Gast, der alte Botelho. Dieser allerdings war eher ein Parasit.
Das war ein armber Teufel so ungefähr um die 70, unsympathisch, weißes, kurzes und harte Haar, wie ein Besen, Bart und Schnauzer aus demselben Stoff. Sehr mager, mit runden Brillengläsern die seine Pupille vergrößerten und ihm das Aussehen eines Geiers gaben, wozu auch seine Hakennase und auch sein Mund ohne Lippen passte. Alles seine Zähne waren sichtbar, aber so abgenutzt, dass sie schienen wie mit einer Feile halb abgeschliffen. Er war immer schwarz angezogen, mit einem Regenschirm unter dem Arm und einen Filzhut über den Ohren. Er war früher einmal kaufmännischer Angestellter gewesen, dann Sklavenjäger. Er erzählte, dass er sogar mehr als einmal auf eigene Rechnung mit Sklaven gehandelt hatte. Er hatte sich in alle möglichen riskanten Geschäfte eingelassen. Während des Krieges mit Paraguay hatte er viel verdient und war reich geworden. Aber irgendwann lief es nicht mehr rund und ein Fehlschlag folgte auf den anderen, wodurch sein ganzes Vermögen ihm durch seine Raubvogelkrallen entglitt. Jetzt war er total verarmt, alt, vollkommen desillusioniert, voll von Hämorrhoiden, ohne jedes Vermögen, und vegetierte im Schatten von Miranda, der einmal sein Kollege war, als sie den gleichen Arbeitgeber hatten und dessen Freundschaft er sich zuerst aus Zufall und dann aus Notwendigkeit erhalten hatte, vor sich hin.
Es verzehrte ihn Tag und Nacht eine unbezähmbare Bitterkeit, ein stumpfe Traurigkeit des Besiegten, ein machtlose Verzweiflung, gegen alles und jeden, weil es ihm nicht möglich gewesen ist die Welt mit seinen Händen, jetzt so nutzlos und zitternd, zu packen. Da seine derzeitige elendige Situation es ihm nicht gestattete, den Schnabel gegen irgendjemanden zu öffnen, ergab er sich fluchend den Ideen der Zeit.
Dadurch bedingt ging es an Mirandas Tische oft heiß her, wenn zwischen anderen kontroversen Themen die Diskussion auf die Abschaffung der Sklaverei kam, die durch das Gesetz von Rio Branco eingeleitet wurde. Botelho wurde dann wie besessenn und spuckte schreckliche Sätze aus, gegen links und gegen rechts, wie jemand der schießt ohne zu zielen, fluchte und benutzte dieses Ventil um den alten Hass, der sich in ihm angestaut hatte, zu kühlen.
"Banditen!", brüllte er außer sich, "Verbrecherbande!".
Sein Groll strahlte aus seinen Augen in vergifteten Pfeilen, die alles was weiß und rein war treffen wollten. Die Tugend, die Schönheit, das Talent, die Jugend, die Kraft, die Gesundheit und vor allem das Glück waren es, die er niemandem verzieh, er verfluchte alle, die das errreichtenn was er nicht bekommen hatte, das genoß, was ihm verwehrt blieb. Dass er das wusste, was er nicht gelernt hatte. Und damit sich sein Hass auf ein konkretes Objekt richten konnte, richtete er sich gegen Brasilien, das Land, das seiner Meinung nach nur dazu diente, die Portugiesen reicher zu machen, obwohl es ihn im Elend gelassen hatte.
Seine Tage verbrachte er folgendermaßen: Er stand um acht Uhr morgens auf, wusch sich in seinem Zimmer mit einem in Alkohol getränktem Handtuch, las dann im Esszimmer Zeitungen, in Erwartung des Mittagessens. Aß zu Mittag und fuhr dann mit der Straßenbahn direkt zu einem Zigarrenladen in der Rua do Ouvidor, wo er für gewöhnlich bis zum Abendessen verweilte und sich damit beschäftigte, über die Leute die an ihm vorbeigingen zu lästern. Er glaubte von sich ganz Rio de Janeiro und die Laster jedes Einzelnen zu kennen. Manchmal, wenn auch selten, beauftragte ihn Dona Estela kleine Besorgungen in einem Laden für Nähbedarf zu erledigen, was Botelho zuverlässiger als jeder andere erledigte. Aber seine große Leidenschaft, seine Schwäche, waren Uniformen. Er bewunderte alles, was irgendwas mit Militär zu tun hatte, obgleich ihm Waffen, speziell Feuerwaffen, eine unüberwindbare Angst einjagten. Er konnte es nicht hören, wenn neben ihm eine Gewehrsalve abgeschossen wurde, begeisterte sich aber für alles, was nach Krieg roch. Die Gegenwart eines Offiziers in Galauniform rührte ihn zu Tränen der Rührung. Er war bestens bewandert in allem, was das Kasernenleben betraf. Schon nach einem kurzen Blick konnte er sagen, welchen Rang ein Soldat inne hatte und wo er stationiert war und trotz seiner Gebrechlichkeit ging er auf Straße um das Horn oder die Trommel zu hören, die das Bataillon anführte und oft, wenn er es erspähte, war ein Teil jener Menge, die die Truppe begleiteten. Dann kehrte er erst nach Hause zurück, wenn die Militärs sich zurückzogen. Fast immer kehrte er nach diesen Kapriolen um sechs Nachmittags zurück, gerädert, das man Mitleid haben musste, ohne sich noch auf den Beinen halten zu können. Völlig erschöpft durch den stundenlangen Marsch zum Klang der Marschmusik. Das Interessanteste aber war, dass er, nachdem er die Konsequenzen gespürt hatte, sich wütend gegen den Kommandanten, der ihn zu dieser Plackerei gezwungen hatte indem er das ganze Bataillon durch eine unendliche Anzahl an Straßen geführt hatte, mit dem Ziel den Weg zu verlängern, auflehnte.
"Es scheint, beschwerte er sich, dass dieser Verfluchte nur wollte, dass ich fix und alle bin! Drei Stunden Marsch in dieser gottverfluchten Hitze!"
Einer der komischsten Aversionen von Botelho war sein Hass auf Valentim. Der Junge machte ihn Wahnsinnig mit seinen Launen eines verhätschelten Kindes und durchtrieben wie dieser war, überspannte er den Bogen desto weiter, er konnte ja fest damit rechnen von Dona Estela beschützt zu werden, je mehr er merkte, wie Botelho sich darüber aufregte. Der Parasit hätte ihn erwürgt, wenn er nicht die Sympathie der Hausherrin gebraucht hätte.
Botelho kannte die Schwächen von Estela wie Handfläche seiner eigenen Hand. Miranda selbst, der ihn für einen treuen Freund hielt, hatte sie ihm erzählt, wenn er in Momenten der Verzweiflung sich jemandem anvertrauen wollte und ihm frei heraus gestand, dass er sie im Innersten hasste und auch den Grund, warum er sie nicht mit einem Tritt auf die Straße warf. Botelho stimmte ihm vollkommen zu. Er verstand, dass die ernsten wirtschaftlichen Interessen wichtiger waren als alles andere.
"In dieser Situation", sagte er überzeugt, "ist nichts weniger als Kapital und niemand verachtet Kapital! Aus heutiger Sicht hättest du nie auf sie treffen dürfen..."
"Nun", erwiderte der Gatte, bediene ich mich ihrer, wie jemand, der einen Spucknapf benutzt."
Der Parasit, hocherfreut über das Ausmaß, mit dem sein Freund seine Frau verachtete, stimmte ihm in allem zu, umarmte ihn voller Bewunderung. Andererseits jedoch, wenn Estela sich über ihren Gatten äußerte, voller Verachtung und sogar mit Ekel, strahlte er noch mehr vor Zufriedenheit.
"Wissen Sie", sage sie, "ich merke sehr wohl wie dieses Müll von einem Ehemann mich hasste, aber das ist mir so egal, wie das erste Hemd, das ich trug! Unglücklicherweise können Frauen, die zur besseren Gesellschaft gehören, nicht ohne Gatten leben, wenn sie verheiratet sind und deshalb muss ich ertragen, was das Schicksal mir bestimmt hat, ob mir das nun gefällt oder nicht! Ich schwöre ihnen jeodoch, dass ich mich nur deshalb füge, wenn Miranda manchmal zu mir kommt, weil es besser ist nachzugeben, als mit einer Bestie dieses Typs zu diskutieren!
Botelho, schon mit grauen Haaren und bewandert mit den Verhältnissen dieser Welt, erzählte niemals einem von beiden was der jeweils andere ihm erzählt hatte. Gelegentlich jedoch kam es vor, dass er, wenn er verdrießlich früher als normal nach Hause kam, ein Flüstern leiser Stimmen vernahm, die aus einer grün überwucherten Ecke des Gartens kamen, wohin normalerweise niemand ging.
Auf Zehenspitzen, ohne gesehen zu werden, näherte er sich der Stelle und sah Estela und Henrique an der Mauer. Dort blieb er stehen und beobachtete, ohne einen Muks von sich zu geben, was geschah und zeigte sich erst, als die zwei sich trennten.
Die Frau stieß einen leisen Schrei aus und der Junge, wechselte die Farbe von tiefrot zu wachsbleich. Botelho versuchte sie mit freundschaftlicher und mysteriörser Stimme zu beruhigen:
"Was ihr da macht ist leichtsinnig! So macht man das nicht! Es hätte genau so gut jemand anderes sein können. In einem Haus mit so vielen Zimmern müsst ihr euch ausgerechnet in eine Ecke des Gartens setzen?"
"Wir haben haben gar nichts gemacht!", sagte Estela, die sich wieder gefasst hatte.
"Ah", entgegnete der Alte voller Respekt, "dann entschuldigen Sie, ich dachte Sie wären dabei... Und hören Sie, selbst wenn es so wäre, wäre mir das egal, denn ich halte das für die natürlichste Sache der Welt und ich verstehe, dass in diesem Leben sich die Leute nehmen was sie brauchen!.. Falls ich etwas gesehen, geglaubt habe, war es gewesen, als ob ich nichts gesehen habe, denn ich stecke meine Nase nicht in die Angelegenheiten anderer Leute! Die Frau ist hübsch und in den besten Jahren. Ihr Gatte befriedigt sie nicht und deshalb ist es normal, dass sie ihn durch einen anderen ersetzt! Ah! So ist die Welt und wenn das falsch ist, dann sind nicht wir es, die was falsch gemacht haben! Wir alle haben einen kleinen Wurm in uns, den man töten muss, bevor er uns tötet! Machen Sie sich keine Sorgen! Ich meine nur, also für das nächste Mal, seien Sie ein bisschen vorsichtiger und..."
"Es reicht jetzt! Genug!", befahl Estela.
"Entschuldigen Sie! Wenn ich das sage, dann nur deshalb, damit Sie bezüglich meiner Person beruhigt sein können. Ich will auf keinen Fall, nicht mal ansatzweise, dass Sie den Eindruck haben..."
Henrique unterbrach ihn mit noch stockender Stimme:
"Glauben Sie, Herr Botelho, dass..."
Der Alte unterbrach ihn, legte ihm die Hand auf die Schulter und stellte sich vor ihn hin:
"Hab keine Angst Junge, ich werde nichts verraten."
Und da Estela schon etwas entfernt stand, flüsterte er ihm ins Ohr:
"Mach das nicht so, das macht dich kaputt...Schau mal, wie deine Beine zittern!"
Dona Estela folgte ihnen langsam mit einigem Abstand, täuschte vor, mit der Anordnung eines Blumenstraußes beschäftigt zu sein, dessen Blumen sie mit viel Anmut pflückte, entweder gebückt über die Pflanzen am Boden oder auf den Zehenspitzen um die Sonnenwenden und andere nach der Sonne strebenden Pflanzen zu erreichen.
Henrique folgte Botelho bis zu dessen Zimmer, wobei sie das Gespräch immer nur um das eine Thema drehte.
"Sie werden das niemandem verraten, gell? Schwören Sie das", fragte er ihn.
Lachend hatter der Alte schon verkündet, dass er sie in flagranti erwischt hatte, und dass er noch eine zeitlang auf der Lauer liegen würde.
"Was soll ich verraten? Ihre Dummheit? Wer denken Sie, dass ich bin? Ich werde nur den Schnabel öffnen, wenn Sie mir einen Grund geben, dies zu tun, aber ich bin überzeugt davon, dass dies nicht der Fall sein wird. Soll ich Ihnen was sagen? Ich finde Sie sympathisch, Henrirque! Ich finde, Sie sind ein braver Junge, eine Blume! Ich sage Ihnen noch etwas: Ich muss meine Hand über ihre Geschäfte mit Dona Estela halten..."
Während er so sprach, nahm er dessen Hände und küsste sie.
"Hören Sie", fuhr er fort während er ihn streichelte. Gib dich nicht mit jungen Frauen ab, verstehst du. Sie sind der Teufel! Wegen nichts gerät ein Mann in Bedrängnis! Was die anderen angeht, so schnapp ich mir die! Nimm jede und zerbrich dir nicht den Kopf. Schlussendlich erweist du Dona Estela, in der Situation, in der sie ist, noch einen Dienst! Mein kleiner, hübscher Freund, wenn eine Frau schon die Dreißig überschritten hat und vernarrt ist in einen kleinen Jungen wie du, dann ist das wie wenn sie Gold im Staub findet! Das erregt sie! Du musst wissen, dass du damit nicht nur ihr einen Gefallen tust, sondern auch dem Ehemann: Je mehr du die Frau durchbürstest, desto ausgeglichener ist sie und desto besser geht es dem armen Mann! Wer schon genug Ärger da unten hat mit seinen Geschäften, braucht ein bisschen Ruhe wenn er von der Arbeit nach Hause kommt! Bürste sie durch, bürste sie durch! Sie ist noch weicher als Samt! Was man braucht ist ganz klar, verstehst du? Mach nicht mehr einen Blödsinn wie heute und mach weiter, nicht nur mit ihr, sondern mit allem was vor dem Glied erscheint! Geh weiter! Nur nicht die von den offenen Häusern, denn das ist gefährlich wegen den Umständen. Und auch keine Jungfrauen! Lass die Finger von Zulmira! Und glaub mir, ich rede so mit dir, weil ich dein Freund bin, weil ich dich sympathisch finde, weil ich dich hübsch finde.
Dann liebkoste er ihn so zudringlich, dass der Student sich seinen Händen entzog und mit einer Geste des Ekels und Verachtung zurückwich, worauf der Alte zu ihm mit gepresster Stimme sagte:
"Hör! Warte! Komm her! Du bist misstrauisch!..." |
III
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas
a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de
chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras
notas da ultima guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra
da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e
punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas
no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma
palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.
Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se
amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por
toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia,
suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras
palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a
pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados
de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava,
destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar
de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saiam
mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os
louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente,
espanejando-se à luz nova do dia.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração
tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara,
incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco
palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre
as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do
pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os
homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a
cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas,
fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não
descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem
tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as
saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo,
no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se;
já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia
todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se
discussões e resingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava,
gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de
plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da
vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como formigas;
fazendo compras.
Duas janelas do Miranda abriram-se. Apareceu numa a Isaura, que se
dispunha a começar a limpeza da casa.
— Nhá Dunga! gritou ela para baixo, a sacudir um pano de mesa; se você
tem cuscuz de milho hoje, bata na porta, ouviu?
A Leonor surgiu logo também, enfiando curiosa a carapinha por entre o
pescoço e o ombro da mulata.
O padeiro entrou na estalagem, com a sua grande cesta à cabeça e o seu
banco de pau fechado debaixo do braço, e foi estacionar em meio do pátio, à
espera dos fregueses, pousando a canastra sobre o cavalete que ele armou
prontamente. Em breve estava cercado por uma nuvem de gente. As crianças
adulavam-no, e, à proporção que cada mulher ou cada homem recebia o pão,
disparava para casa com este abraçado contra o peito. Uma vaca, seguida por um
bezerro amordaçado, ia, tilintando tristemente o seu chocalho, de porta em porta,
guiada por um homem carregado de vasilhame de folha.
O zunzum chegava ao seu apogeu. A fábrica de massas italianas, ali mesmo
da vizinhança, começou a trabalhar, engrossando o barulho com o seu arfar
monótono de máquina a vapor. As corridas até à venda reproduziam-se,
transformando-se num verminar constante de formigueiro assanhado. Agora, no
lugar das bicas apinhavam-se latas de todos os feitios, sobressaindo as de
querosene com um braço de madeira em cima; sentia-se o trapejar da água
caindo na folha. Algumas lavadeiras enchiam já as suas tinas; outras estendiam
nos coradouros a roupa que ficara de molho. Principiava o trabalho. Rompiam
das gargantas os fados portugueses e as modinhas brasileiras. Um carroção de
lixo entrou com grande barulho de rodas na pedra, seguido de uma algazarra
medonha algaraviada pelo carroceiro contra o burro.
E, durante muito tempo, fez-se um vaivém de mercadores. Apareceram os
tabuleiros de carne fresca e outros de tripas e fatos de boi; só não vinham
hortaliças, porque havia muitas hortas no cortiço. Vieram os ruidosos mascates,
com as suas latas de quinquilharia, com as suas caixas de candeeiros e objetos
de vidro e com o seu fornecimento de caçarolas e chocolateiras, de
folha-de-flandres. Cada vendedor tinha o seu modo especial de apregoar,
destacando-se o homem das sardinhas, com as cestas do peixe dependuradas, à
moda de balança, de um pau que ele trazia ao ombro. Nada mais foi preciso do
que o seu primeiro guincho estridente e gutural para surgirem logo, como por
encanto, uma enorme variedade de gatos, que vieram correndo acercar-se dele
com grande familiaridade, roçando-se-lhe nas pernas arregaçadas e miando
suplicantemente. O sardinheiro os afastava com o pé, enquanto vendia o seu
peixe à porta das casinhas, mas os bichanos não desistiam e continuavam a
implorar, arranhando os cestos que o homem cuidadosamente tapava mal servia
ao freguês. Para ver-se livre por um instante dos importunos era necessário atirar
para bem longe um punhado de sardinhas, sobre o qual se precipitava logo, aos
pulos, o grupo dos pedinchões.
A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a “Machona”,
portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do
campo. Tinha duas filhas, uma casada e separada do marido, Ana das Dores, a
quem só chamavam a “das Dores” e outra donzela ainda, a Nenen, e mais um
filho, o Agostinho, menino levado dos diabos, que gritava tanto ou melhor que a
mãe. A das Dores morava em sua casinha à parte, mas toda a família habitava no
cortiço.
Ninguém ali sabia ao certo se a Machona era viúva ou desquitada; os filhos
não se pareciam uns com os outros. A das Dores, sim, afirmavam que fora
casada e que largara o marido para meter-se com um homem do comércio; e que
este, retirando-se para a terra e não querendo soltá-la ao desamparo, deixara o
sócio em seu lugar. Teria vinte e cinco anos.
Nenen dezessete. Espigada, franzina e forte, com uma proazinha de orgulho
da sua virgindade, escapando como enguia por entre os dedos dos rapazes que a
queriam sem ser para casar. Engomava bem e sabia fazer roupa branca de
homem com muita perfeição.
Ao lado da Leandra foi colocar-se à sua tina a Augusta Carne-Mole,
brasileira, branca, mulher de Alexandre, um mulato de quarenta anos, soldado
de policia, pernóstico, de grande bigode preto, queixo sempre escanhoado e um
luxo de calças brancas engomadas e botões limpos na farda, quando estava de
serviço. Também tinham filhos, mas ainda pequenos, um dos quais, a Juju, vivia
na cidade com a madrinha que se encarregava dela. Esta madrinha era uma
cocote de trinta mil-réis para cima, a Léonie, com sobrado na cidade.
Procedência francesa.
Alexandre, em casa, à hora de descanso, nos seus chinelos e na sua camisa
desabotoada, era muito chão com os companheiros de estalagem, conversava, ria
e brincava, mas envergando o uniforme, encerando o bigode e empunhando a
sua chibata, com que tinha o costume de fustigar as calças de brim, ninguém
mais lhe via os dentes e então a todos falava teso e por cima do ombro. A
mulher, a quem ele só dava tu quando não estava fardado, era de uma
honestidade proverbial no cortiço, honestidade sem mérito, porque vinha da
indolência do seu temperamento e não do arbítrio do seu caráter.
Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um ferreiro chamado
Bruno, portuguesa pequena e socada, de carnes duras, com uma fama terrível de
leviana entre as suas vizinhas.
Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a quem respeitavam
todos pelas virtudes de que só ela dispunha para benzer erisipelas e cortar febres
por meio de rezas e feitiçarias. Era extremamente feia, grossa, triste, com olhos
desvairados, dentes cortados à navalha, formando ponta, como dentes de cão,
cabelos lisos, escorridos e ainda retintos apesar da idade. Chamavam-lhe
“Bruxa”.
Depois seguiam-se a Marciana e mais a sua filha Florinda. A primeira,
mulata antiga, muito seria e asseada em exagero: a sua casa estava sempre
úmida das consecutivas lavagens. Em lhe apanhando o mau humor punha-se
logo a espanar, a varrer febrilmente, e, quando a raiva era grande, corria a buscar
um balde de água e descarregava-o com fúria pelo chão da sala. A filha tinha
quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos
luxuriosos de macaca. Toda ela estava a pedir homem, mas sustentava ainda a
sua virgindade e não cedia, nem à mão de Deus Padre, aos rogos de João
Romão, que a desejava apanhar a troco de pequenas concessões na medida e no
peso das compras que Florinda fazia diariamente à venda.
Depois via-se a velha Isabel, isto é, Dona Isabel, porque ali na estalagem
lhes dispensavam todos certa consideração, privilegiada pelas suas maneiras
graves de pessoa que já teve tratamento: uma pobre mulher comida de
desgostos. Fora casada com o dono de uma casa de chapéus, que quebrou e
suicidou-se, deixando-lhe uma filha muito doentinha e fraca, a quem Isabel
sacrificou tudo para educar, dando-lhe mestre até de francês. Tinha uma cara
macilenta de velha portuguesa devota, que já foi gorda, bochechas moles de
pelancas rechupadas, que lhe pendiam dos cantos da boca como saquinhos
vazios; fios negros no queixo, olhos castanhos, sempre chorosos engolidos pelas
pálpebras. Puxava em bandos sobre as fontes o escasso cabelo grisalho untado
de óleo de amêndoas doces. Quando saia à rua punha um eterno vestido de seda
preta, achamalotada, cuja saia não fazia rugas, e um xale encarnado que lhe dava
a todo o corpo um feitio piramidal. Da sua passada grandeza só lhe ficara uma
caixa de rapé de ouro, na qual a inconsolável senhora pitadeava agora,
suspirando a cada pitada.
A filha era a flor do cortiço. Chamavam-lhe Pombinha. Bonita, posto que
enfermiça e nervosa ao último ponto; loura, muito pálida, com uns modos de
menina de boa família. A mãe não lhe permitia lavar, nem engomar, mesmo
porque o médico a proibira expressamente.
Tinha o seu noivo, o João da Costa, moço do comércio, estimado do patrão
e dos colegas, com muito futuro, e que a adorava e conhecia desde pequenita;
mas Dona Isabel não queria que o casamento se fizesse já. É que Pombinha,
orçando aliás pelos dezoito anos, não tinha ainda pago à natureza o cruento
tributo da puberdade, apesar do zelo da velha e dos sacrifícios que esta fazia
para cumprir à risca as prescrições do médico e não faltar à filha o menor
desvelo. No entanto, coitadas! daquele casamento dependia a felicidade de
ambas, porque o Costa, bem empregado como se achava em casa de um tio seu,
de quem mais tarde havia de ser sócio, tencionava, logo que mudasse de estado,
restituí-las ao seu primitivo circulo social. A pobre velha desesperava-se com o
fato e pedia a Deus, todas as noites, antes de dormir, que as protegesse e
conferisse à filha uma graça tão simples que ele fazia, sem distinção de
merecimento, a quantas raparigas havia pelo mundo; mas, a despeito de tamanho
empenho, por coisa nenhuma desta vida consentiria que a sua pequena casasse
antes de “ser mulher”, como dizia ela. E “que deixassem lá falar o doutor,
entendia que não era decente, nem tinha jeito, dar homem a uma moça que ainda
não fora visitada pelas regras! Não! Antes vê-la solteira toda a vida e ficarem
ambas curtindo para sempre aquele inferno da estalagem!”
Lá no cortiço estavam todos a par desta história; não era segredo para
ninguém. E não se passava um dia que não interrogassem duas e três vezes a
velha com estas frases:
— Então? Já veio?
— Por que não tenta os banhos de mar?
— Por que não chama outro médico?
— Eu, se fosse a senhora, casava-os assim mesmo!
A velha respondia dizendo que a felicidade não se fizera para ela. E
suspirava resignada.
Quando o Costa aparecia depois da sua obrigação para visitar a noiva, os
moradores da estalagem cumprimentavam-no em silêncio com um respeitoso ar
de lástima e piedade, empenhados tacitamente por aquele caiporismo, contra o
qual não valiam nem mesmo as virtudes da Bruxa.
Pombinha era muito querida por toda aquela gente. Era quem lhe escrevia as
cartas; quem em geral fazia o rol para as lavadeiras; quem tirava as contas; quem
lia o jornal para os que quisessem ouvir. Prezavam-na com muito respeito e
davam-lhe presentes, o que lhe permitia certo luxo relativo. Andava sempre de
botinhas ou sapatinhos com meias de cor, seu vestido de chita engomado; tinha
as suas joiazinhas para sair à rua, e, aos domingos, quem a encontrasse à missa
na igreja de São João Batista, não seria capaz de desconfiar que ela morava em
cortiço.
Fechava a fila das primeiras lavadeiras, o Albino, um sujeito afeminado,
fraco, cor de espargo cozido e com um cabelinho castanho, deslavado e pobre,
que lhe caia, numa só linha, até ao pescocinho mole e fino. Era lavadeiro e vivia
sempre entre as mulheres, com quem já estava tão familiarizado que elas o
tratavam como a uma pessoa do mesmo sexo; em presença dele falavam de
coisas que não exporiam em presença de outro homem; faziam-no até confidente
dos seus amores e das suas infidelidades, com uma franqueza que o não
revoltava, nem comovia. Quando um casal brigava ou duas amigas se
disputavam, era sempre Albino quem tratava de reconciliá-los, exortando as
mulheres à concórdia. Dantes encarregava-se de cobrar o rol das colegas, por
amabilidade; mas uma vez, indo a uma república de estudantes, deram-lhe lá,
ninguém sabia por quê, uma dúzia de bolos, e o pobre-diabo jurou então, entre
lágrimas e soluços, que nunca mais se incumbiria de receber os róis.
E daí em diante, com efeito, não arredava os pezinhos do cortiço, a não ser
nos dias de carnaval, em que ia, vestido de dançarina, passear à tarde pelas ruas
e à noite dançar nos bailes dos teatros. Tinha verdadeira paixão por esse
divertimento; ajuntava dinheiro durante o ano para gastar todo com a mascarada.
E ninguém o encontrava, domingo ou dia de semana, lavando ou descansando,
que não estivesse com a sua calça branca engomada, a sua camisa limpa, um
lenço ao pescoço, e, amarrado à cinta, um avental que lhe caia sobre as pernas
como uma saia. Não fumava, não bebia espíritos e trazia sempre as mãos
geladas e úmidas.
Naquela manhã levantara-se ainda um pouco mais lânguido que do costume,
porque passara mal a noite. A velha Isabel, que lhe ficava ao lado esquerdo,
ouvindo-o suspirar com insistência, perguntou-lhe o que tinha.
Ah! muita moleza de corpo e uma pontada do vazio que o não deixava!
A velha receitou diversos remédios, e ficaram os dois, no meio de toda
aquela vida, a falar tristemente sobre moléstias.
E, enquanto, no resto da fileira, a Machona, a Augusta, a Leocádia, a Bruxa,
a Marciana e sua filha conversavam de tina a tina, berrando e quase sem se
ouvirem, a voz um tanto cansada já pelo serviço, defronte delas, separado pelos
jiraus, formava-se um novo renque de lavadeiras, que acudiam de fora,
carregadas de trouxas, e iam ruidosamente tomando lagar ao lado umas das
outras, entre uma agitação sem tréguas, onde se não distinguia o que era galhofa
e o que era briga. Uma a uma ocupavam-se todas as tinas. E de todos os casulos
do cortiço saiam homens para as suas obrigações. Por uma porta que havia ao
fundo da estalagem desapareciam os trabalhadores da pedreira, donde vinha
agora o retinir dos alviões e das picaretas. O Miranda, de calças de brim, chapéu
alto e sobrecasaca preta, passou lá fora, em caminho para o armazém,
acompanhado pelo Henrique que ia para as aulas. O Alexandre, que estivera de
serviço essa madrugada, entrou solene, atravessou o pátio, sem falar a ninguém,
nem mesmo à mulher, e recolheu-se à casa, para dormir. Um grupo de mascates,
o Delporto, o Pompeo, o Francesco e o Andréa, armado cada qual com a sua
grande caixa de bugigangas, saiu para a peregrinação de todos os dias,
altercando e praguejando em italiano.
Um rapazito de paletó entrou da rua e foi perguntar à Machona pela Nhá
Rita.
— A Rita Baiana? Sei cá! Faz amanhã oito dias que ela arribou!
A Leocádia explicou logo que a mulata estava com certeza de pândega com
o Firmo.
— Que Firmo? interrogou Augusta.
— Aquele cabravasco que se metia às vezes ai com ela. Diz que é torneiro.
— Ela mudou-se? perguntou o pequeno.
— Não, disse a Machona; o quarto está fechado, mas a mulata tem coisas lá.
Você o que queria?
— Vinha buscar uma roupa que está com ela.
— Não sei, filho, pergunta na venda ao João Romão, que talvez te possa
dizer alguma coisa.
— Ali?
— Sim, pequeno, naquela porta, onde a preta do tabuleiro está vendendo! Ó
diabo! olha que pisas a boneca de anil! Já se viu que sorte? Parece que não vê
onde pisa este raio de criança!
E, notando que o filho, o Agostinho, se aproximava para tomar o lugar do
outro que já se ia:
— Sai daí, tu também, peste! Já principias na reinação de todos os dias?
Vem para cá, que levas! Mas, é verdade, que fazes tu que não vais regar a horta
do Comendador?
— Ele disse ontem que eu agora fosse à tarde, que era melhor.
— Ah! E amanhã, não te esqueças, recebe os dois mil-réis, que é fim do
mês. Olha! Vai lá dentro e diz a Nenen que te entregue a roupa que veio ontem à
noite.
O pequeno afastou-se de carreira, e ela lhe gritou na pista:
— E que não ponha o refogado no fogo sem eu ter lá ido!
Uma conversa cerrada travara-se no resto da fila de lavadeiras a respeito da
Rita Baiana.
— É doida mesmo!... censurava Augusta. Meter-se na pândega sem dar
conta da roupa que lhe entregaram... Assim há de ficar sem um freguês...
— Aquela não endireita mais!... Cada vez fica até mais assanhada!... Parece
que tem fogo no rabo! Pode haver o serviço que houver, aparecendo pagode, vai
tudo pro lado! Olha o que saiu o ano passado com a festa da Penha!...
— Então agora, com este mulato, o Firmo, é uma pouca-vergonha! Est’ro
dia, pois você não viu? levaram ai numa bebedeira, a dançar e cantar à viola, que
nem sei o que parecia! Deus te livre!
— Para tudo há horas e há dias!...
— Para a Rita todos os dias são dias santos! A questão é aparecer quem
puxe por ela!
— Ainda assim não e má criatura... Tirante o defeito da vadiagem...
— Bom coração tem ela, até demais, que não guarda um vintém pro dia de
amanhã. Parece que o dinheiro lhe faz comichão no corpo!
— Depois é que são elas!... O João Romão já lhe não fia!
— Pois olhe que a Rita lhe tem enchido bem as mãos; quando ela tem
dinheiro é porque o gasta mesmo!
E as lavadeiras não se calavam, sempre a esfregar, e a bater, e a torcer
camisas e ceroulas, esfogueadas já pelo exercício. Ao passo que, em torno da
sua tagarelice, o cortiço se embandeirava todo de roupa molhada, de onde o sol
tirava cintilações de prata.
Estavam em dezembro e o dia era ardente. A grama dos coradouros tinha
reflexos esmeraldinos; as paredes que davam frente ao Nascente, caiadinhas de
novo, reverberavam iluminadas, ofuscando a vista. Em uma das janelas da sala
de jantar do Miranda, Dona Estela e Zulmira, ambas vestidas de claro e ambas a
limarem as unhas, conversavam em voz surda, indiferentes à agitação que ia lá
embaixo, muito esquecidas na sua tranqüilidade de entes felizes.
Entretanto, agora o maior movimento era na venda à entrada da estalagem.
Davam nove horas e os operários das fábricas chegavam-se para o almoço. Ao
balcão o Domingos e o Manuel não tinham mãos a medir com a criadagem da
vizinhança; os embrulhos de papel amarelo sucediam-se, e o dinheiro pingava
sem intermitência dentro da gaveta.
— Meio quilo de arroz!
— Um tostão de açúcar!
— Uma garrafa de vinagre!
— Dois martelos de vinho!
— Dois vinténs de fumo!
— Quatro de sabão!
E os gritos confundiam-se numa mistura de vozes de todos os tons.
Ouviam-se protestos entre os compradores:
— Me avie, seu Domingos! Eu deixei a comida no fogo!
— Ó peste! dá cá as batatas, que eu tenho mais o que fazer!
— Seu Manuel, não me demore essa manteiga!
Ao lado, na casinha de pasto, a Bertoleza, de saias arrepanhadas no quadril,
o cachaço grosso e negro, reluzindo de suor, ia e vinha de uma panela à outra,
fazendo pratos, que João Romão levava de carreira aos trabalhadores assentados
num compartimento junto. Admitira-se um novo caixeiro, só para o frege, e o
rapaz, a cada comensal que ia chegando, recitava, em tom cantado e estridente, a
sua interminável lista das comidas que havia. Um cheiro forte de azeite frito
predominava. O parati circulava por todas as mesas, e cada caneca de café, de
louça espessa, erguia um vulcão de fumo tresandando a milho queimado. Uma
algazarra medonha, em que ninguém se entendia! Cruzavam-se conversas em
todas as direções, discutia-se a berros, com valentes punhadas sobre as mesas. E
sempre a sair, e sempre a entrar gente, e os que saiam, depois daquela
comezaina grossa, iam radiantes de contentamento, com a barriga bem cheia, a
arrotar.
Num banco de pau tosco, que existia do lado de fora, junto à parede e perto
da venda, um homem, de calça e camisa de zuarte, chinelos de couro cru,
esperava, havia já uma boa hora, para falar com o vendeiro.
Era um português de seus trinta e cinco a quarenta anos, alto, espadaúdo,
barbas ásperas, cabelos pretos e maltratados caindo-lhe sobre a testa, por
debaixo de um chapéu de feltro ordinário: pescoço de touro e cara de Hércules,
na qual os olhos todavia, humildes como os olhos de um boi de canga,
exprimiam tranqüila bondade.
— Então ainda não se pode falar ao homem? perguntou ele, indo ao balcão
entender-se com o Domingos.
— O patrão está agora muito ocupado. Espere!
— Mas são quase dez horas e estou com um gole de café no estômago!
—Volte logo!
— Moro na cidade nova. É um estirão daqui!
O caixeiro gritou então para a cozinha, sem interromper o que fazia:
— O homem que ai está, seu João, diz que se vai embora!
— Ele que espere um pouco, que já lhe falo! respondeu o vendeiro no meio
de uma carreira. Diga-lhe que não vá!
— Mas é que ainda não almocei e estou aqui a tinir!... observou o Hércules
com a sua voz grossa e sonora.
— Ó filho, almoce ai mesmo! Aqui o que não falta é de comer. Já podia
estar aviado!
— Pois vá lá! resolveu o homenzarrão, saindo da venda para entrar na casa
de pasto, onde os que lá se achavam o receberam com ar curioso, medindo-o da
cabeça aos pés, como faziam sempre com todos os que ai se apresentavam pela
primeira vez.
E assentou-se a uma das mesinhas, vindo logo o caixeiro cantar-lhe a lista
dos pratos.
— Traga lá o pescado com batatas e veja um martelo de vinho.
— Quer verde ou virgem?
— Venha o verde; mas anda com isso, filho, que já não vem sem tempo! |
2.
Es war fünf Uhr morgens und die Mietskaserne erwachte, indem sie nicht die Augen öffnete, sondern die unendlich vielen Türen und aneinandergereihten Fenster.
Ein glückliches und fröhliches Erwachen von jemandem, der am Stück sieben Stunden auf einen Schlag geschlafen hatte. Als ob man die verlorenen Noten der vorherigen Nach noch hören würde, die sich im hellen Schein und zarten Schein der Morgenröte auflösen wie ein Hauch von verlorener Sehnsucht auf fremdem Land.
Die gewaschene Wäsche, die noch vom Vortag an den Ständern hing, befeuchtete die Luft und tränkte sie mit scharfen Geruch billiger Seife. Die Steine des Waschraumes, gebleicht an den Stellen, wo gewaschen wurde und an anderen Stellen bläulich gefließt, waren von einer traurigen, grauen Blasheit, hervorgerufen durch die trockenen Blasen, die immer wieder darüber schwappten.
In den Türen erschienen noch vom Schlaf benommene Köpfe. Man hörte Gähnen, laut wie das Rauschen des Meeres. Überall räusperte man sich. Die Tassen begannen zu klirren. Der heiße Geruch des Kaffees wärmte, verdrängte alle anderen. Von Fenster zu Fenster wurden die ersten Wörter ausgetauscht. Man grüßte sich. Die Gespräch, die Nachts unterbrochen worden waren, wurden fortgesetzt. Die Kleine tapste schon draußen herum und aus dem Innern der Häuser vernahm man einen stillen Chor von Kindern die noch nicht gehen konnten. In der sich formenden konfusen Geräuschkulisse, konnte man Stimmen unterscheiden, die sich, ohne das man sagen konnte woher sie kamen, unterhielten, das Krächzen von Enten, das Krähen eines Hahnes, das Gackern von Hühnern. Aus manchen Zimmern kamen Frauen, die draußen die Käfige der Papageien aufhingen, die sich ganz ähnlich wie ihre Besitzer, lautstark ankündigten und sich im Licht des neuen Tages säuberten.
Kurz darauf hob rings um die Schnäbel ein Summen an. Eine Ansammlung von Männern und Frauen. Einer nach dem anderen wusch sich das Gesicht, in unbequemer Haltung unter dem Wasserstrahl der in ein Meter Höhe strömte. Der Boden wurde unter Wasser gesetzt. Die Frauen mussten schon die Röcke über die Hüften ziehen, damit die Röcke nicht nass werden. Man sah die sonnengebräunte Nacktheit ihrer Arme und ihrer Nacken, die sie entblößten, wenn sie das Haar am Hinterkopf zusammenbanden. Die Männer scherten sich nicht darum, ob ihre Haare nass wurden. Ganz im Gegenteil, sie hielten den Kopf unter das Wasserr und schrubbten sich kräftig den Mund und den Bart, rieben sich mit den Händen die Nase und räusperten sich. Die Türen der Toiletten ruhten nicht, sie gingen ununterbrochen auf und zu, ein pausenlose hinein- und hinausgehen. Sie verweilten nicht da drin und machten die Hosen oder Röcke zu, während sie hinausgingen. Die Kinder machten sich nicht die Mühe dahin zu gehen, sie erleichterten sich auf der Wiese hinten, hinter der Mietskaserne oder auf dem Stück Gemüsegarten.
Der Lärm wurde stärker, verdichtete sich. Das alltägliche Summen wurde stärker, nun konnte man nicht mehr einzelne Stimmen unterscheiden, es war nur noch ein kompaktes Summen, das die Mietskaserne ausfüllte. Man fing an, in der Kneipe Einkäufe zu tätigen. Diskussionen und Gespräche begannen, man hörte Gelächter und Flüche, wenn man nicht sprach, schrie man. Man spürte in dieser Fermentation des Blutes, in dieser gierigen Wucherung am Boden klebender Pflanzen, das die kräftigen Beine in den schwarzen und nahrhaften Boden des Lebens steckte, das animalische Vergnügen zu leben, die triumphierende Befriedigung auf der Erde zu atmen.
Sie gingen und kamen durch die Tür die von der Kneipe zur Mietskaserne führte wie die Ameisen um ihre Besorgungen zu machen.
Zwei Fenster im Hause von Miranda öffneten sich. Es erschien Isaura, die sich anschickte das Haus zu putzen.
"Nhá Dunga", rief sie nach unten, während sie ein Tischtuch ausschüttelte, "wenn du heute Maisgrütze hast, dann klopf an die Tür, hörst du?"
Später erschien auch Leonoro, die neugierig ihr krauses Haar ab dem Hals und den Schultern herausstreckte.
Der Bäcker betrat die Mietskaserne, seinen großen Korb auf dem Kopf, seine abgeschlossene Geldtruhe unter dem Arm und errichtete mitten im Hof seinen Stand, indem er den Korb auf ein Gestell stellte, das er schnell zusammengebaut hatte, in der Erwartung von Kunden. Binnen kurzem war er umringt von einer Wolke an Menschen. Die Kinder schmeichelten ihm und wer immer ein Brot bekommen hatte, Mann oder Frau, eilte nach Hause, das Brot an die Brust gedrückt. Ein Kuh, der ein angeleintes Kalb folgte, ging traurig mit ihrer Glocke scheppernd von Tür zu Tür, geführt von einem Mann, beladen mit Leergut aus Blech.
Das Summen erreichte seine Höhepunkt. Die Fabrik, die italienische Teigwaren herstellte und sich ganz in der Nähe befand, nahm ihre Arbeit auf und das monotone Pfeifen der Dampfmaschine steigerte den Lärm. Immer mehr Leute rannten in den Laden, wurde zu einem unaufhörlichen Wimmeln wie ein wütender Ameisenhaufen. Jetzt füllte man anstatt Kaffeetassen Blechkanister aller Art, wobei die Kerosinkanister mit ihrem Bügel aus Holz die auffälligsten waren. Man hörte, wie das Wasser in das Blech lief. Manche Wäschereien füllten schon ihre Zuber, andere bereiteten im Hof die nasse Wäsche aus. Die Arbeit begann. Den Kehlen entströmten Gesänge aus dem portugiesischen Fado und die melancholischen Lieder von Brasilien. Ein Müllwagen fuhr herein, dessen Räder auf dem Stein einen großen Lärm machten, gefolgt von einem schrecklichen, wirren Getöse des Kutschers und des Esels.
Es entstand ein Kommen und Gehen der Händler. Es erschienen die fliegenden Händler, die Fleisch, Gedärme und Innereien vom Rind verkauften. Nur Gemüsehändler kamen keine, weil es viel Gemüse gab in der Mietskaserne. Es kamen die lärmenden Straßenhändler mit ihren Dosen voll mit Krimskrams, Öllampen und Glaswaren, ihrem Bestand an Töpfen und Kannen zur Zubereitung von Schokolade, Stahlbehälter. Jeder Händler hatte seine spezielle Methode auf sich aufmerksam zu machen, wobei der Mann mit den Sardinen mit seinen Fischkörben die aufgehängt wie zwei Waagschalen an einem Holzstab hingen, den er über der Schulter trug, besonders hervor tat. Es brauchte nur einen schrillen und gutturalen Schrei damit sofort, wie herbeigezaubert, eine große Vielfalt an Katzen auftauchte, die sich ihm mit großer Vertrautheit näherten und um seine nackten Waden strichen, wobei sie bettelnd miauten. Der Sardinenverkäufer schob sie mit dem Fuß weg, während er von Tür zu Tür ging und seine Fische verkaufte, was die Viecher aber nicht dazu veranlasste aufzuhören mit der Bettelei und an den Körben kratzten, die der Mann kaum zudeckte, währen der die Kunden bediente. Um sich von den ungebetenen Gästen für einen Moment zu befreien, musste er eine handvoll Sardinen, auf die sich mit einem Satz eine Gruppe von Schnorrern warf, weit weg werfen.
Die erste, die sich ans Waschen machte war Leandra, die manchen die "Machona" nannten, eine wilde Portugiesin, die ständig brüllte, behaarte und grobe Handgelenke, eine Hüfte wie ein Tier auf dem Land. Sie hatte zwei Töchter, eine davon war verheiratet, lebte aber getrennt von ihrem Mann, Ana das Dores, die man nur das Dores nannte und eine andere, die noch ledig war, Nenen, und einen Sohne, Agostinho, ein wahrer Teufel, der so viel und besser brüllte als die Mutter. Das Dores lebte allein in einem Häuschen, aber die ganze Familie wohnte in der Mietskaserne.
Niemand wusste mit Sicherheit ob Machona Witwe war oder sich von ihrem Mann getrennt hatte. Die Kinder waren sich nicht ähnlich. Was das Dores anging, so behauptete man, dass sie verheiratet war, aber sich von ihrem Mann getrennt hatte um mit einem Händler zusammenzuleben, und dass dieser wiederum, als er sich auf's Land zurückzog sie seinem Geschäftspartner überlassen hatte, damit sie nicht schutzlos blieb. Sie war so um die 35.
Nenen war 17 Jahr alt. Unwirsch, schlank und stark, eitel und stolz, dass sie noch Jungfrau war, schlüpfte sie wie ein Aal aus den Fingern der Jungs, die sie haben, aber nicht heiraten wollten. Sie konnte gut bügeln und machte die perfekte weiße Wäsche für Männer.
Neben Leandra stand Augusta Carne-Mole am Zuber, eine Brasilianerin, weiß, die Frau von Alexandre, ein Mulatte von vierzig Jahren, Polizist, überheblich, mit großem, schwarzen Schnauzer, immer mit vorgestrecktem Kinn und einer schicken, gebügelten Hose, die Knöpfe der Uniform blank poliert, wenn er im Dienst war. Auch sie hatten Kinder, aber noch kleine, von denen einer, Juju, in der Stadt bei der Schwiegermutter wohnte, die sich um sie kümmerte. Eine Prostituierte ab 30 000 Réis aufwärts, Leonie, mit einem Haus in der Stadt und von französischer Abstammung.
Alexandre, der während seiner dienstfreien Zeit zu Hause war, in Schlappen und mit aufgeknöpften Hemd, hatte ein gutes Verhältnis mit den Mitbewohnern in der Mietskaserne, sprach, lachte, machte Scherze. Hatte er aber erstmal die Uniform angezogen, den Schnauzbart gewachst und mit Krawatte, die ihm bis zur Leinenhose hinunterreichte, dann sah niemand mehr seine Zähne und sein Tonfall wurde steif und überheblich. Seine Frau, die er nur duzte, wenn er keinen Anzug trug, war von beispielhafter Ehrenhaftigkeit, die allerdings ohne eigenen Verdienst war, da sie lediglich der Trägheit ihres Temperaments geschuldet war und nicht auf einer Entscheidung, die man ihrem Charakter hätte zurechnen können.
Neben ihr machte sich Leocádia an die Arbeit, die Frau eines Schmieds namens Bruno, klein und stämmig, kräftig, die bei den Nachbarn den Ruf hatte, ziemlich leichtsinnig zu sein.
Ihr folgte Paula, eine alte Mestizin, an der Grenze zur Idiotie, die alle respektierten wegen der Fähigkeit, über die nur sie verfügte, mittels Gebeten und Hexereien die Wundrose zu bannen und Fieber zu senken. Sie war extrem hässlich, dick, traurig, mit herumirrenden Augen, Zähne wie Messer, spitz, wie die Zähne eines Hundes, glatte Haare, fließend und noch voller Farbe trotz des Alters. Alle nannten sie "Hexe".
Es folgte Marciana und dann deren Tochter Florinda. Die ältere, eine alte, ernste Mulattin, die übermäßig gepflegt war. Ihr Haus war durch das ständige Wäschewaschen immer feucht. Wenn sie schlechte Laune hatte, fing sie an den Staub zu wischen, wie besessen zu kehren und wenn sie besonders wütend war, nahm sie einen Eimer Wasser und schüttete voller Zorn auf den Fußboden des Raumes. Die Tochter war fünfzehn, mit rötlich brauner Haut, sinnliche Lippen, schöne Zähne und den sinnliche Augen eines leichten Mädchens. Alles an ihr schrie noch einem Mann, aber sie wahrte noch ihre Jungfräulichkeit und gab niemandem nach, weder der Hand von Deus Padre, den Bitten von João
Romão, der sie im Tausch für kleine Gefälligkeiten im Rahmen der Einkäufe, die Florinda täglich machte, pflücken wollte.
Dann kam die alte Isabel, soll heißen, Dona Isabel, weil in der Mietskaserne ihr alle eine gewissen Achtung aufgrund des ernsten Auftretens von jemandem der schon einiges hinter sich hatte. Sie war eine arme, verbitterte Frau. Sie war mit einem Hutmacher verheiratet, der Bankrott ging und sich umbrachte. Er hinterließ ihr ein kränkliches und schwaches Mädchen, dem Isabel alles opferte und für deren Bildung, Französisch eingeschlossen, sie Privatlehrer engagierte. Sie hatte das ausgemergelte Gesicht einer frommen Portugiesin, obwohl sie einmal dick war, weiche Wangen mit schlafer Haut, die wie leere Säcke an den Mundwinkeln herunterhingen, braune, immer verweinte, von den Augenliedern bedeckte, Augen. Ihr lichtes, graues, mit süßem Mandelöl bestrichenes Haar trug sie nach hinten gebunden. Wenn sie auf die Straße ging, trug sie immer das gleiche schwarze, glatte Kleid, dessen Rock keine Falten warf und ein rotes Tuch um die Schultern, wodurch ihre Gestalt eine pyramidenförmige Gestalt annahm. Von ihrer ehemaligen Größe war ihr nur eine goldene Schnupftabakdose geblieben, aus der die unglückliche Frau immer mal wieder seufzend eine Prise nahm.
Die Tochter war die Sonne der Mietskaserne. Sie hieß Pombinha. Sie war hübsch, wenn auch kränklich, in höchstem Maße nervös. Blond, sehr blass und wirkte wie eine Tochter aus gutem Hause. Die Mutter erlaubte ihr weder zu waschen noch zu bügeln, auch weil der Arzt dies ausdrücklich verboten hatte.
Sie hatte einen Verlobten, João da Costa, ein kaufmännischer Angestellter, bei seinem Chef und bei seinen Kollegen beliebt, der noch eine große Zukunft vor sich hatte und der sie verehrte und seit frühester Kindheit kannte. Dona Isabel wollte aber nicht, dass sie jetzt schon heirate. Es war so, dass Pombinha, die im übrigen schon fast 18 war, trotz des Eifers der Alten und der Opfer, die sie brachte um die Anordnungen des Arztes zu erfüllen, der Natur noch nicht den blutigen Tribut der Pubertät gezahlt hatte, obwohl die Tochter keine Sorgfalt vermissen ließ. Doch welch ein Pech! Von dieser Heirat hing das Glück der Zwei ab, denn Costa, dessen Job als sich galt, da er bei seinem Onkel angestellt war und später einmal dessen Companion werden sollte, beabsichtigte, nachdem er Zustand ein anderer gerworden war, sie in das ursprüngliche soziale Umfeld zurückzuführen. Die arme alte verzweifelte daran und bat Gott jede Nacht, bevor sie einschlief, sie zu beschützen und der Tochter die Gnade erwies, die er ohne besondere Meriten jedem Mädchen auf der Welt erwies. Aber trotz aller Anstrengungen würde sie niemals zulassen, dass ihre Kleine heiratet, ohne "Frau zu sein", wie sie sich ausdrückte und man möge aufhören mit dem Doktor zu sprechen, es wäre klar, dass es nicht richtig ist, ein Mädchen, das noch nicht die Regel hatte, einem Mann zu geben! Niemals! Das würde sie es vorziehen, wenn sie ihr ganzes Leben unverheirate bliebe und beide für immer diese Hölle von Mietskaserne aushalten müssten!
In der Mietskaserne waren alle bzgl. dieser Geschichte auf dem Laufenden. Das war für niemanden ein Geheimnis und es verging nicht ein einziger Tag, an dem die Alte nicht mit der Frage konfrontiert wurde:
"Und nun? Ist sie schon gekommen?"
"Warum macht sie keine Kur am Meer?"
"Warum geht sie nicht zu einem anderen Arzt?"
"Wenn ich an Ihrer Stelle wäre, würde ich sie trotzdem verheiraten!"
Die Alte antwortete, dass sie niemals glücklich sein werde und seufzte resigniert.
Besuchte Costa nach der Arbeit seine Verlobte, grüßten ihn die Bewohner der Mietskaserne mit einem Ausdruck gemischt aus Respekt und Mitleid, betrübt von so viel Pech, gegen das nicht mal die Künste der Hexe halfen.
Pombinha war bei allen ausgeprochen beliebt. Sie schrieb ihnen ihre Brief, führte für die Wäscherinnen die Listen, führte für sie Buch, las denen, die es hören wollten, aus der Zeitung vor. Behandelten sie mit großem Respekt und gaben ihr Geschenke, was ihr einen gewissen Luxus ermöglichte. Sie hatte immer Halbschuhe oder Sandalen mit farbigen Socken und ein Kleid aus gebügelten Kattun an. Sie hatte ein bisschen Schmuck, wenn sie auf die Straße ging und wer sie Sonntags in der Kirche São João Batista traf, hätte nie gedacht, dass in einer Mietskaserne wohne würde.
Am Ende der Reihe der ersten Wäscherinnen war Albino, etwas verweiblicht und schwach, mit einer Hautfarbe wie gekochter Spargel und braunen Haaren, ausgelaugt und spärlich, das ihm in gerader Linie hinab bis zu seinem weichen und grazilen Nacken fiel. Er war ein Wäscher und hatte schon so lange unter Frauen gelebt und war so vertraut mit ihnen, dass sie ihn behandelten, als ob er dem selben Geschlecht angehören würde. In seiner Gegenwart sprachen sie über Dinge, über die sie in Gegenwart eines anderen Mannes nie gesprochen hätten. Sie äußerten sich ihm gegenüber über ihre Liebschaften und Seitensprünge mit einer solchen Offenheit, dass diese ihn weder schockierten noch berührten. Stritt sich ein Paaar oder gab es eine Auseinandersetzung zwischen zwei Freundinnen, dann versuchte Albino immer zu schlichten, rief die Frauen dazu auf, sich zu vertragen. Früher hatte er es auf sich genommen, das Geld für die Kolleginnen einzuziehen, aus purer Hilfsbereitschaft. Einmal aber ging er in ein Studentwohnheim und er wurde dort, keiner weiß warum, derartig verprügelt, dass der arme Teufel unter Tränen schwor, dass er nie mehr für andere Leute Geld einziehen wird.
Von da an verließ er, außer an Karneval, wo er als Tänzern verkleidet hinging, den Tag über durch die Straßen ging und nachts in den Theatern tanzte, nie mehr die Mietskaserne. Für dieses Vergnügen hatte er eine wahre Leidenschaft und sparte das ganze Jahr um es dann für diese Makerade auszugeben. Niemand, egal ob am Sonntag oder an einem Wochentag, egal ob beim waschen oder in seiner Freizeit, traf ihn jemals anders bekleidet an, als mit seiner weißen, gebügelten Hose, seinem sauberen Hemd, ein Tuch um die Hüfte, das wie ein Rock über seine Beine fiel. Er rauchte nicht, trank keinen Alkohol und hatte immer kalte und feuchte Hände.
An jenem Morgen war er noch ein bisschen schlaffer als gewöhnlich, weil er eine unruhige Nacht verbracht hattte. Die alte Isabel, die zu seiner linken Stand, fragte ihn, als sie sein seufzen hörte, was er denn habe.
Ach, ein stechenden Schmerz, der nich aufhört!
Die alte nannte mehrere Mittel, die Abhilfe schaffen sollten, und inmitten des ganzen Trubels unterhielten sich die beiden über Beschwerden.
Was den Rest der Reihe anging, Machona, Augusta, Leocádia, die Hexe, Marciana und ihre Tochter, so unterhielten sie sich von Zuber zu Zuber, brüllend und fast ohne sich zu hören, mit einer Stimme, die von der Arbeit schon etwas ermüdet war. Vor ihnen, hinter Kästen für die Geräte, war schon die nächste Reihe von Wäscherinnen, die von außen herbei eilten, beladen mit Wäschebündeln, nebeneinander in Position gingen, alles in ständiger Bewegung, ohne dass man unterscheiden konnte, was Spaß war und was Streit. Eine nach der anderen besetzte die Zuber. Aus allen Öffnungen der Mietskaserne kamene Männer auf dem Weg zur Arbeit. Durch eine Tür, die sich im hinteren Bereich der Mietskaserne befand, verschwanden die Arbeiter des Steinbruchs, von wo man jetzt das Klingen der Hacken und Pichel hörte. Miranda, bekleidet mit einer Hose aus Segeltuch, hohem Hut und schwarzer Jacke, ging, auf dem Weg zum Lager und begleitet von Henrique, der zu seiner Vorlesung ging, vorbei. Alexandre, der an diesem Morgen vom Dienst zurückkam, kam feierlich herein, durchschritt den Hof, ohne mit irgendjemandem, auch nicht mit seiner Frau zu sprechen, und zog sich um zu schlafen in sein Haus zurück. Ein Gruppe Straßenverkäufer, Delporto, Pompeo, Francesco und Andréa, jeder von ihnen beladen mit seinem Bauchladen voller Krimskrams, kam gerade heraus um, wie jeden Tag, durch die Stadt zu gehen und dabei auf italienisch zu debatieren und zu fluchen. Ein Jüngelchen mit Jacket kam von der Straße herein und fragte Machona nach Nhá Rita.
"Rita Baiana? Keine Ahnung. Morgen ist es acht Tage her, dass sie weg ist!"
Leocádia erklärte später, dass s ich die Mulattin mit Firmo vergnügt hat.
"Mit welchem Firmo?", fragte Augustta.
"Der Bock mit dem sie manchmal zusammen war. Er sagt er sei Dreher."
"Ist sie weggezogen?", fragte der Kleine.
"Nein", sagte Machona. Das Zimmer ist zu, aber die Mulattin hat noch Sachen darin. Was willst du?"
"Ich komme um Wäsche abzuholen, die sie noch hat."
"Keine Ahnung, mein Kleiner", frag in der Kneipe von João Romão, der kann dir vielleicht was sagen."
"Dort?"
"Ja, kleiner, an dieser Tür, wo die Schwarze des Kneipwirts bedient! Zum Teufel! Pass auf, du stapft über den Sack mit der Wäschefarbe. Hat man sowas schon gesehen. Sieht so aus, als ob der Bengel gar nicht schaut, wo er hintritt."
Als sie sah, dass ihr Sohn, Agostinho, sich näherte um sich da hinzustellen, wo der andere stand.
"Geh da weg verdammt noch mal! Geht das wieder los mit deinen täglichen Streichen? Komm her, was hast du! Was machst du überhaupt hier, wie kommt's dass du nicht den Garten des Kommandanten bewässerst?"
"Er hat mir gestern gesagt, dass mittags komme, das ist besser."
"Ah! Vergiss es morgen nicht und hol die zwei Tausend Réis, es ist Monatsende. Hör! Geh rein und sag Nenen, dass sie dir die Wäsche geben soll, die gestern gekommen ist."
Der Kleine rannte los und sie schrie ihm hinterher:
"Und sie soll nicht anfangen, die Zwiebeln zu dünsten, bevor ich nicht da bin!"'
Zwischen den anderen Frauen in der Reihe der Wäscherinnen entspann eine Diskussion über Rita Baiana.
"Die ist echt verrückt!", meinte Augusta, "sich austoben ohne sich um die Wäsche zu kümmern, die einem übergeben wurde. Wenn sie so weitermacht, hat sie bald keine Kunden mehr."
"Die bekommt gar nichts mehr geregelt! Die wird immer verrückter! Die hat wohl Feuer am Schwanz! Egal was sie gerade macht, wenn es was zu feirn gibt, dann ist sie weg! Erinnert ihr euch noch, was letztes Jahr auf der Festa da Penha passiert ist!"
"Und jetzt, mit diesem Mulatten, Firmo, sie ist einfach schamlos! Hast du sie da gesehen? Sie haben sich betrunken, getanzt, gesungen zur Guitarre, ich weiß nicht was! Möge Gott ihnen beistehen!
"Für alles gibt die richtige Zeit und den richtigen Tag!"
"Für Rita sind alle Tage Feiertage! Es muss nur jemand kommen und sie schubsen!"
"Einen schlechten Charakter hat sie nicht. Wenn man mal von ihren Landstreichermanieren absieht."
"Sie hat ein gutes Herz, wenn man davon absieht, dass sie nicht mal einen 20 Réis Groschen von einem Tag auf den anderen bei sich behalten kann. Man könnte glauben, dass Geld sie am ganzen Körper kitzelt!"
"Was soll nur aus ihr werden! O João Romão vertraut ihr jetzt schon nicht mehr!"
"Na Rita hat ihm ja wohl ordentlich die Hände füllt ihm ja ordentlich die Hände, wenn sie Geld hat, weil sie es gleich ausgibt!"
Die Wäschereien waren nie ruhig, waren immer am schrubben und am klopfen, dabei die Hemden und Unterhosen auszuwringen, die von dieser Übung schon zerschliessen waren. Während der ganze Plauderei, wurde die Mietskaserne immer mehr mit einer mit nasser Wäsche beflaggt, die in der Sonne silbern glänzte.
Es war Dezember und die Sonne brannte. Das Gras in den Vorgärten leuchtete grünlich, die dem Osten zugeneigten Wände, frisch gekalkt, glänzten und blendeten den Blick. In einem der Esszimmerfenster von Miranda plauderten mit leiser Stimme, in weiß gekleidet, ohne auf das Treiben unten acht zu geben, der Welt entrückt und in seliger Ruhe, Dona Estela und Zulmira, während sie sich die Fingernägel manikürten.
Den größten Andrang gab es in der Kneipe, am Eingang der Mietskaserne. Es war neun Uhr und die Arbeiter der Fabriken kamen zum Mittagessen. Domingos und Manuel hatten nicht genug Hände um die Dienerschaft der Nachbarschaft abzufertigen. Ein gelbes Paket folgte auf das andere und das Geld klingelte ohne Unterlass in die Schublade.
"Halbes Kilo Reis!"
"Zucker für 100 Réis!"
"Eine Flasche Essig!"
"Tabak für 20 Réis!"
"Ein Viertel Seife!"
Die Schreie vermischten sich zu einer Mischung aus allen möglichen Tönen.
Man konnte die Stimmen von Käufern vernehmen, die sich über irgendwas beschwerten:
"Beil dich Domingos! Ich habe das Essen auf dem Feuer gelassen!"
"Verdammt! Beeil dich mit den Kartoffeln, ich habe noch andere Sachen zu erledigen!"
"Manuel, mach hinne mit der Butter!"
Nebenan, in der Küche, kam und ging Bertoleza mit den Pfannen, mit einer zerknitterten Schürze um die Hüfte, der Nacken groß und schwarz, glänzend vor Schweiß, ein Gericht nach dem anderen zubereitend, die João Romão im Laufschritt zu den Arbeitern brachte, die an den Tischen im Saal nebenan saßen. Man hatte, nur für das Frittieren einen neuen Verkäufer eingestellt und jedes Mal wenn ein neuer Gast kam leierte der Junge in schrillem Ton die unendliche Liste von Gerichten runter, die es gab. Die Luft war geschwängert von dem Geruch nach Frittieröl. Der Zuckerrohrschnaps kreiste von Tisch zu Tisch und jeder Becher Kaffee, aus dichtem Ton gebrannt, verströmte einen Vulkan an Dampf, der nach verbranntem Mais roch. Bei dem fürchterlichen Krach verstand man sein eigenes Wort nicht mehr! Die Gespräche liefen quer durch den ganzen Saal, ein einziges Geschrei, das durch ordentliche Fausthiebe auf den Tisch unterstrichen wurde. Es war ein ständiges kommen und gehen und die, die nach dem opulentem Mahl strahlend vor Zufriedenheit, den Bauch vollgeschlagen, hinausgingen, rülpsten nochmal.
Auf der Holzbank draußen, an der Mauer in der Nähe der Kneipe, wartete ein Mann, bekleidet mit einer Hose und einem Hemd auch blauem Beinwollstoff, großgewachsen, Lederschuhe, seit einer guten Stunde um mit dem Kneipenwirt zu sprechen.
Es war ein Portugiese zwischen 35 und 40 Jahren, großgewachsen, breitschultrig mit eine rauhen Bart, schwarze, ungekämmte Haare, die unter einem ordinären Filzhut hervorschauten: Nacken wie ein Stier und ein Gesicht wie Herkules, dessen Augen jedoch, sanft wie die eines Ochsen unter dem Joch, Ruhe und Güte austrahlten.
"Kann man den Mann immer noch nicht sprechen?", fragte er indem er sich an der Theke an Domingo richtete.
"Der Wirt ist momentan sehr beschäftigt. Warten Sie!"
"Aber es ist nun schon fast zehn und ich habe einen ganzen Becher Kaffee im Magen!"
"Kommen später zurück!"
"Ich wohne in Cidade Nova. Das ist ein weiter weg bis hierher!"
Der Kellner schrie, ohne seine Arbeit zu unterbrechen, zur Küche hinüber.
"Der Mann der sie sprechen will Herr João, sagt, dass er geht!"
"Er soll noch ein bisschen warten, ich spreche ihn gleich!", antwortete der Wirt, ohne seinen Laufschritt zu untebrechen, "er soll nicht gehen".
"Ich habe noch nichts gegessen und habe Kohldampf!", antwortete der Herkules mit seiner groben und sonoren Stimme.
"Iss doch hier! Hier fehlt es nicht an Essen. Es könnte schon da sein!"
"Also gut!", entschied der Bär von einem Mann, verließ die Kneipe und ging hinüber in die Kantine, wo alle die dort waren ihn mit neugierigen Blicken empfingen, ihn von oben bis zu den Füßen musternd, wie sie es immer taten, wenn jemand dort zum ersten Mal auftauchte.
Er setzte sich an eines der Tischchen und sofort kam der Kellner um ihm die Liste der Gerichte vorzusingen.
"Bring mir den Fisch mit Kartoffeln und ein kleines Glas Wein."
"Trocken oder süß?"
"Bring den Trocknen, aber beeil dich, Junge, von alleine passiert nichts!" |
IV
Meia hora depois, quando João Romão se viu menos ocupado, foi ter com o
sujeito que o procurava e assentou-se defronte dele, caindo de fadiga, mas sem
se queixar, nem se lhe trair a fisionomia o menor sintoma de cansaço.
— Você vem da parte do Machucas? perguntou-lhe. Ele falou-me de um
homem que sabe calçar pedra, lascar fogo e fazer lajedo.
— Sou eu.
— Estava empregado em outra pedreira?
— Estava e estou. Na de São Diogo, mas desgostei-me dela e quero passar
adiante.
— Quanto lhe dão lá?
— Setenta mil-réis.
— Oh! Isso é um disparate!
— Não trabalho por menos...
— Eu, o maior ordenado que faço é de cinqüenta.
— Cinqüenta ganha um macaqueiro...
— Ora! tenho aí muitos trabalhadores de lajedo por esse preço!
— Duvido que prestem! Aposto a mão direita em como o senhor não
encontra por cinqüenta mil-réis quem dirija a broca, pese a pólvora e lasque
fogo, sem lhe estragar a pedra e sem fazer desastres!
— Sim, mas setenta mil-réis é um ordenado impossível!
— Nesse caso vou como vim... Fica o dito por não dito!
— Setenta mil-réis é muito dinheiro!...
— Cá por mim, entendo que vale a pena pagar mais um pouco a um
trabalhador bom, do que estar a sofrer desastres, como o que sofreu sua pedreira
a semana passada! Não falando na vida do pobre de Cristo que ficou debaixo da
pedra!
— Ah! O Machucas falou-lhe no desastre?
— Contou-mo, sim senhor, e o desastre não aconteceria se o homem
soubesse fazer o serviço!
— Mas setenta mil-réis é impossível. Desça um pouco!
— Por menos não me serve... E escusamos de gastar palavras!
— Você conhece a pedreira?
— Nunca a vi de perto, mas quis me parecer que é boa. De longe
cheirou-me a granito.
— Espere um instante.
João Romão deu um pulo à venda, deixou algumas ordens, enterrou um
chapéu na cabeça e voltou a ter com o outro.
— Ande a ver! gritou-lhe da porta do frege, que a pouco e pouco se
esvaziara de todo.
O cavouqueiro pagou doze vinténs pelo seu almoço e acompanhou-o em
silêncio.
Atravessaram o cortiço.
A labutação continuava. As lavadeiras tinham já ido almoçar e tinham
voltado de novo para o trabalho. Agora estavam todas de chapéu de palha,
apesar das toldas que se armaram. Um calor de cáustico mordia-lhes os toutiços
em brasa e cintilantes de suor. Um estado febril apoderava-se delas naquele
rescaldo; aquela digestão feita ao sol fermentava-lhes o sangue. A Machona
altercava com uma preta que fora reclamar um par de meias e destrocar uma
camisa; a Augusta, muito mole sobre a sua tábua de lavar, parecia derreter-se
como sebo; a Leocádia largava de vez em quando a roupa e o sabão para coçar
as comichões do quadril e das virilhas, assanhadas pelo mormaço; a Bruxa
monologava, resmungando numa insistência de idiota, ao lado da Marciana que,
com o seu tipo de mulata velha, um cachimbo ao canto da boca, cantava toadas
monótonas do sertão:
“Maricas tá marimbando,
Maricas tá marimbando,
Na passage do riacho
Maricas tá marimbando.”
A Florinda, alegre, perfeitamente bem com o rigor do sol, a rebolar sem
fadigas, assoviava os chorados e lundus que se tocavam na estalagem, e junto
dela, a melancólica senhora Dona Isabel suspirava, esfregando a sua roupa
dentro da tina, automaticamente, como um condenado a trabalhar no presídio; ao
passo que o Albino, saracoteando os seus quadris pobres de homem linfático,
batia na tábua um par de calças, no ritmo cadenciado e miúdo de um cozinheiro
a bater bifes. O corpo tremia-lhe todo, e ele, de vez em quando, suspendia o
lenço do pescoço para enxugar a fronte, e então um gemido suspirado subia-lhe
aos lábios.
Da casinha número 8 vinha um falsete agudo, mas afinado. Era a das Dores
que principiava o seu serviço; não sabia engomar sem cantar. No número 7
Nenen cantarolava em tom muito mais baixo; e de um dos quartos do fundo da
estalagem saia de espaço a espaço uma nota áspera de trombone.
O vendeiro, ao passar por detrás de Florinda, que no momento apanhava
roupa do chão, ferrou-lhe uma palmada na parte do corpo então mais em
evidência.
— Não bula, hein?!... gritou ela, rápido, erguendo-se tesa.
E, dando com João Romão:
— Eu logo vi. Leva implicando aqui com a gente e depois, vai-se comprar
na venda, o safado rouba no peso! Diabo do galego Eu não te quero, sabe?
O vendeiro soltou-lhe nova palmada com mais força e fugiu, porque ela se
armara com um regador cheio de água.
— Vem pra cá, se és capaz! Diabo da peste!
João Romão já se havia afastado com o cavouqueiro.
— O senhor tem aqui muita gente!... observou-lhe este.
— Oh! fez o outro, sacudindo os ombros, e disse depois com empáfia: —
Houvesse mais cem quartos que estariam cheios! Mas é tudo gente séria! Não há
chinfrins nesta estalagem; se aparece uma rusga, eu chego, e tudo acaba logo!
Nunca nos entrou cá a policia, nem nunca a deixaremos entrar! E olhe que se
divertem bem com as suas violas! Tudo gente muita boa!
Tinham chegado ao fim do pátio do cortiço e, depois de transporem uma
porta que se fechava com um peso amarrado a uma corda, acharam-se no
capinzal que havia antes da pedreira.
— Vamos por aqui mesmo que é mais perto, aconselhou o vendeiro.
E os dois, em vez de procurarem a estrada, atravessaram o capim quente e
trescalante.
Meio-dia em ponto. O sol estava a pino; tudo reverberava a luz
irreconciliável de dezembro, num dia sem nuvens. A pedreira, em que ela batia
de chapa em cima, cegava olhada de frente. Era preciso martirizar a vista para
descobrir as nuanças da pedra; nada mais que uma grande mancha branca e
luminosa, terminando pela parte de baixo no chão coberto de cascalho miúdo,
que ao longe produzia o efeito de um betume cinzento, e pela parte de cima na
espessura compacta do arvoredo, onde se não distinguiam outros tons mais do
que nódoas negras, bem negras, sobre o verde-escuro.
À proporção que os dois se aproximavam da imponente pedreira, o terreno
ia-se tornando mais e mais cascalhudo; os sapatos enfarinhavam-se de uma
poeira clara. Mais adiante, por aqui e por ali, havia muitas carroças, algumas em
movimento, puxadas a burro e cheias de calhaus partidos; outras já prontas para
seguir, à espera do animal, e outras enfim com os braços para o ar, como se
acabassem de ser despejadas naquele instante. Homens labutavam.
À esquerda, por cima de um vestígio de rio, que parecia ter sido bebido de
um trago por aquele sol sedento, havia uma ponte de tábuas, onde três pequenos,
quase nus, conversavam assentados, sem fazer sombra, iluminados a prumo pelo
sol do meio-dia. Para adiante, na mesma direção, corria um vasto telheiro, velho
e sujo, firmado sobre colunas de pedra tosca; ai muitos portugueses trabalhavam
de canteiro, ao barulho metálico do picão que feria o granito. Logo em seguida,
surgia uma oficina de ferreiro, toda atravancada de destroços e objetos
quebrados, entre os quais avultavam rodas de carro; em volta da bigorna dois
homens, de corpo nu, banhados de suor e alumiados de vermelho como dois
diabos, martelavam cadenciosamente sobre um pedaço de ferro em brasa; e ali
mesmo, perto deles, a forja escancarava uma goela infernal, de onde saiam
pequenas línguas de fogo, irrequietas e gulosas.
João Romão parou à entrada da oficina e gritou para um dos ferreiros:
— O Bruno! Não se esqueça do varal da lanterna do portão!
Os dois homens suspenderam por um instante o trabalho.
— Já lá fui ver, respondeu o Bruno. Não vale a pena consertá-lo; está todo
comido de ferragem! Faz-se-lhe um novo, que é melhor!
— Pois veja lá isso, que a lanterna está a cair!
E o vendeiro seguiu adiante com o outro, enquanto atrás recomeçava o
martelar sobre a bigorna.
Em seguida via-se uma miserável estrebaria, cheia de capim seco e
excremento de bestas, com lugar para meia dúzia de animais. Estava deserta,
mas, no vivo fartum exalado de lá, sentia-se que fora habitada ainda aquela
noite. Havia depois um depósito de madeiras, servindo ao mesmo tempo de
oficina de carpinteiro, tendo à porta troncos de arvore, alguns já serrados, muitas
tábuas empilhadas, restos de cavernas e mastros de navio.
Daí à pedreira restavam apenas uns cinqüenta passos e o chão era já todo
coberto por uma farinha de pedra moída que sujava como a cal.
Aqui, ali, por toda a parte, encontravam-se trabalhadores, uns ao sol, outros
debaixo de pequenas barracas feitas de lona ou de folhas de palmeira. De um
lado cunhavam pedra cantando; de outro a quebravam a picareta; de outro
afeiçoavam lajedos a ponta de picão; mais adiante faziam paralelepípedos a
escopro e macete. E todo aquele retintim de ferramentas, e o martelar da forja, e
o coro dos que lá em cima brocavam a rocha para lançar-lhe fogo, e a surda
zoada ao longe, que vinha do cortiço, como de uma aldeia alarmada; tudo dava a
idéia de uma atividade feroz, de uma luta de vingança e de ódio. Aqueles
homens gotejantes de suor, bêbados de calor, desvairados de insolação, a
quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a pedra, pareciam um punhado de
demônios revoltados na sua impotência contra o impassível gigante que os
contemplava com desprezo, imperturbável a todos os golpes e a todos os tiros
que lhe desfechavam no dorso, deixando sem um gemido que lhe abrissem as
entranhas de granito. O membrudo cavouqueiro havia chegado a fralda do
orgulhoso monstro de pedra; tinha-o cara a cara, mediu-o de alto a baixo,
arrogante, num desafio surdo.
A pedreira mostrava nesse ponto de vista o seu lado mais imponente.
Descomposta, com o escalavrado flanco exposto ao sol, erguia-se altaneira e
desassombrada, afrontando o céu, muito íngreme, lisa, escaldante e cheia de
cordas que mesquinhamente lhe escorriam pela ciclópica nudez com um efeito
de teias de aranha. Em certos lugares, muito alto do chão, lhe haviam espetado
alfinetes de ferro, amparando, sobre um precipício, miseráveis tábuas que, vistas
cá de baixo, pareciam palitos, mas em cima das quais uns atrevidos pigmeus de
forma humana equilibravam-se, desfechando golpes de picareta contra o
gigante.
O cavouqueiro meneou a cabeça com ar de lástima. O seu gesto
desaprovava todo aquele serviço.
— Veja lá! disse ele, apontando para certo ponto da rocha. Olhe para aquilo!
Sua gente tem ido às cegas no trabalho desta pedreira. Deviam atacá-la
justamente por aquele outro lado, para não contrariar os veios da pedra. Esta
parte aqui é toda granito, é a melhor! Pois olhe só o que eles têm tirado de lá —
umas lascas, uns calhaus que não servem para nada! É uma dor de coração ver
estragar assim uma peça tão boa! Agora o que hão de fazer dessa cascalhada que
ai está senão macacos? E brada aos céus, creia! ter pedra desta ordem para
empregá-la em macacos!
O vendeiro escutava-o em silêncio, apertando os beiços, aborrecido com a
idéia daquele prejuízo.
— Uma porcaria de serviço! continuou o outro. Ali onde está aquele homem
é que deviam ter feito a broca, porque a explosão punha abaixo toda esta aba que
é separada por um veio. Mas quem tem ai o senhor capaz de fazer isso?
Ninguém; porque é preciso um empregado que saiba o que faz; que, se a pólvora
não for muito bem medida, nem só não se abre o veio, como ainda sucede ao
trabalhador o mesmo que sucedeu ao outro! É preciso conhecer muito bem o
trabalho para se poder tirar partido vantajoso desta pedreira! Boa é ela, mas não
nas mãos em que está! É muito perigosa nas explosões; é muito em pé! Quem
lhe lascar fogo não pode fugir senão para cima pela corda, e se o sujeito não for
fino leva-o o demo! Sou eu quem o diz!
E depois de uma pausa, acrescentou, tomando na sua mão, grossa como o
próprio cascalho, um paralelepípedo que estava no chão:
— Que digo eu?! Cá está! Macacos de granito! Isto até é uma coisa que
estes burros deviam esconder por vergonha!
Acompanhando a pedreira pelo lado direito e seguindo-a na volta que ela
dava depois, formando um ângulo obtuso, é que se via quanto era grande.
Suava-se bem antes de chegar ao seu limite com a mata.
— Que mina de dinheiro!... dizia o homenzarrão, parando entusiasmado
defronte do novo pano de rocha viva que se desdobrava na presença dele.
— Toda esta parte que se segue agora, declarou João Romão, ainda não é
minha.
E continuaram a andar para diante.
Deste lado multiplicavam-se as barraquinhas; os macaqueiros trabalhavam à
sombra delas, indiferentes àqueles dois. Viam-se panelas ao fogo, sobre quatro
pedras, ao ar livre, e rapazitos tratando do jantar dos pais. De mulher nem sinal.
De vez em quando, na penumbra de um ensombro de lona, dava-se com um
grupo de homens, comendo de cócoras defronte uns dos outros, uma sardinha na
mão esquerda, um pão na direita, ao lado de uma garrafa de água.
— Sempre o mesmo serviço malfeito e mal dirigido!... resmungou o
cavouqueiro.
Entretanto, a mesma atividade parecia reinar por toda a parte. Mas, lá no
fim, debaixo dos bambus que marcavam o limite da pedreira, alguns
trabalhadores dormiam à sombra, de papo para o ar, a barba espetando para o
alto, o pescoço intumescido de cordoveias grossas como enxárcias de navio, a
boca aberta, a respiração forte e tranqüila de animal sadio, num feliz e pletórico
resfolgar de besta cansada.
— Que relaxamento! resmungou de novo o cavouqueiro. Tudo isto está a
reclamar um homem teso que olhe a sério para o serviço!
— Eu nada tenho que ver com este lado! observou Romão.
— Mas lá da sua banda hão de fazer o mesmo! Olará!
— Abusam, porque tenho de olhar pelo negócio lá fora...
— Comigo aqui é que eles não fariam cera. isso juro eu! Entendo que o
empregado deve ser bem pago, ter para a sua comida à farta, o seu gole de
vinho, mas que deve fazer serviço que se veja, ou, então, rua! Rua, que não falta
por ai quem queira ganhar dinheiro! Autorize-me a olhar por eles e verá!
— O diabo é que você quer setenta mil-réis... suspirou João Romão.
— Ah! nem menos um real!... Mas comigo aqui há de ver o que lhe faço
entrar para algibeira! Temos cá muita gente que não precisa estar. Para que tanto
macaqueiro, por exemplo? Aquilo é serviço para descanso; é serviço de criança!
Em vez de todas aquelas lesmas, pagas talvez a trinta mil-réis...
— É justamente quanto lhes dou.
— ... melhor seria tomar dois bons trabalhadores de cinqüenta, que fazem o
dobro do que fazem aqueles monos e que podem servir para outras coisas!
Parece que nunca trabalharam! Olhe, é já a terceira vez que aquele que ali está
deixa cair o escopro! Com efeito!
João Romão ficou calado, a cismar, enquanto voltavam. Vinham ambos
pensativos.
— E você, se eu o tomar, disse depois o vendeiro, muda-se cá para a
estalagem?...
— Naturalmente! não hei de ficar lá na cidade nova, tendo o serviço aqui!...
— E a comida, forneço-a eu?...
— Isso é que a mulher é quem a faz; mas as compras saem-lhe da venda...
— Pois está fechado o negócio! deliberou João Romão, convencido de que
não podia, por economia, dispensar um homem daqueles. E pensou lá de si para
si: “Os meus setenta mil-réis voltar-me-ão à gaveta. Tudo me fica em casa!”
— Então estamos entendidos?...
— Estamos entendidos!
— Posso amanhã fazer a mudança?
— Hoje mesmo, se quiser; tenho um cômodo que lhe há de calhar. É o
número 35. Vou mostrar-lho.
E aligeirando o passo, penetraram na estrada do capinzal com direção ao
fundo do cortiço.
— Ah! é verdade! como você se chama?
— Jerônimo, para o servir.
— Servir a Deus. Sua mulher lava?
— É lavadeira, sim senhor.
— Bem, precisamos ver-lhe uma tina.
E o vendeiro empurrou a porta do fundo da estalagem, de onde escapou,
como de uma panela fervendo que se destapa, uma baforada quente, vozeria
tresandante à fermentação de suores e roupa ensaboada secando ao sol. |
V
Eine halbe Stunde später, als João Romão weniger beschäftigt war, kümmerte er sich um den Mann, der ihn sprechen wollte und setzte sich ihm gegenüber, völlig erschöpft, aber ohne zu klagen und ohne dass sein Gesichtsausdruck seine Müdigkeit verraten hätte.
"Sie kommen von Machucas?" fragte er ihn, "der hat mir von jemandem erzählt, der Steine verlegen kann, sich mit brennen auskennt und Fliesen machen kann."
"Das bin ich."
"Waren Sie schon in einem anderen Steinbruch beschäftigt?"
"War und bin ich. An dem von São Diogo, aber ich dort gefällt mir es nicht mehr und ich will vorankommen."
"Wie viel verdienen Sie da?"
"Siebzigtausend Réis."
"Das ist ein Unsinn!"
"Für weniger arbeit ich nicht."
"Das höchste Gehalt, das ich zahle ist fünfzigtausend."
"Fünfzigtausend verdient ein Arbeiter."
"Mal langsam! Ich habe hier viele Fliesenleger für diesen Preis!"
"Ich zweifle, dass sie es bringen! Ich wette meine rechte Hand, dass Sie niemanden für fünfzigtausend finden, der die Bohrlöcher richtig setzt, das Pulver richtig dosiert und den Stein sprengt, ohne dass es zur Katastrophe führt!"
"Ja, aber siebzigtausend ist unmögliches Gehalt!"
"Dann gehe ich, wie ich gekommen bin. Wir sind zu keinem Ergebnis gekommen!"
"Siebzigtausend ist viel Geld!"
"Mag sein, aber ich weiß, dass es besser ist einem guten Arbeiter etwas mehr zu bezahlen, als ein Desaster zu erleben, wie es vor kurzem in ihrem Steinbruch passiert ist! Und wir reden jetzt gar nicht von dem armen Cristo, der unter den Steinen liegen geblieben ist!"
"Machuca hat ihne also von dem Unglück erzählt?"
"Das hat er mir erzählt ja und das Unglück wäre nicht passier, wenn der Mann gewusst hätte, wie man das macht!"
"Siebzigtausend ist unmöglich. Gehen Sie ein bisschen runter mit dem Preis!"
"Kennen Sie den Steinbruch?"
"Ich habe ihn noch nie aus der Nähe gesehen, aber er scheint mir gut zu sein. Von weitem riecht es nach Granit."
"Warten Sie einen Augenblick."
João Romão ging kurz in die Kneipe, gab ein paar Anweisungen, setzte sich einen Hut auf und kehrte zu dem anderen zurück.
"Kommen Sie", rief er ihm von der Tür der Kantine zu, die sich langsam zu leeren begann.
Der Bergmann zahlte die 20 Réis für sein Essen und begleitete schweigend den Wirt.
Sie gingen durch die Mietskaserne.
Die Schufterei ging weiter. Die Wäscherinnen waren schon beim Essen gewesen und inzwischen wieder zurückgekommen. Sie hatten jetzt, obwohl man eine Plane aufgespannt hatte, einen Strohut auf. Eine ätzende Hitze biss sie in den glühenden und vor Schweiß glänzenden Nacken. In dieser Hitze erfasste sie ein fiebriger Zustand. Bei dieser Hitze fermentierte die Verdauung ihr Blut. Machona stritt sich mit einer Schwarzen, die ein paar Socken forderte, und dass ein Hemd ausgetauscht würde. Augusta, sehr langsam an ihrem Waschbrett, schien wie Kernseife dahinzuschmelzen. Leocádia ließ ab und an die Wäsche und die Seife um sie die Hüften und den Schambereich zu kratzen, die durch die Hitze gereizt waren. Die Hexe hielt Monologe, quengelte mit idiotischer Beharrlichkeit neben Marciana, die ganz nach der Art der alten Mulattinen, eine Pfeife im Mundewinkel, monotone Lieder sang, wie sie auf dem Land gesungen werden.
Maricas schlägt den Marimba Rhythmus
Maricas schlägt den Marimba Rhythmus
da wo man den Bach durchquert
Maricas schlägt den Marimba Rhythmus
Florinda, fröhlich, unbeeindruckt von der Strenge der Sonne, wieselte umher ohne zu ermüden und pfiff dabei die melancholischen und lasziven Lieder, die man in der Mietskaserne hören konnte. Neben ihr seufzte die melancholische Dona Isabel, wahrend sie in der Wanne, automatisch wie ein Gefangener im Gefängnis, die Wäsche schrubbte. Ein Schritt weiter ließ Albino seine armen Hüften eines schlafen Mannes schwingen, schrubbte auf dem Waschbrett, im stetigen und schwachen Rhytmus mit dem ein Koch Hackfleisch macht. Sein Körper zitterte und manchmal machte er das Tuch, dass er um den Nacken geschlungen hatte los um sich die Stirn zu trocknen, gefolgt von einem Seufzer, der über seine Lippen drang.
Aus dem Häuschen Nummer 8 kam eine schrille, aber gut gestimmte, Falsett Stimme. Sie stammte von Dores, die ihre Arbeit begann. Sie konnte nicht bügeln ohne zu singen. In Nummer 7 trällerte Nenen in einem sehr viel tieferen Ton und aus dem hinteren Bereich der Mietskaserne ertönte von Zeit zu Zeit ein rauer Trompetenklang.
Der Kneipenwirt gab Florinda, die in diesem Moment Wäsche vom Boden aufhob, einen Klaps auf die Körperstelle, die in diesem Moment am exponiertesten war.
"Kleiner Scherz, was?!", schrie sie, sich gerade aufrichtend.
Und dann, zu João Romão gewandt:
"Ich wusste es sofort. Macht hier seine Scherze mit den Leuten und wenn man dann im Laden einkauft, dann trickst der Gauner mit den Gewichten. Teufel von einem Galizier. Du gefällst mir nicht, weißt du?"
Der Kneipenwirt gab ihr noch einen, stärkeren, Klaps und flüchtete, weil sie sich mit einer Gießkanne voller Wasser bewaffnete.
"Komm her, wenn du kannst! Verfluchter Teufel!"
João Romão hatte sich mit dem Bergmann schon entfernt.
"Der Herr hat hier viele Mieter!", bemerkte dieser.
"Oh", machte dieser, zuckte die Schultern um dann hochmütig anzumerken: "Es könnten mehr als 100 Zimmer sein, wo jemand wohnt! Aber alles ordentliche Leute! In diesem Haus gibt es keinen Ärger. Wenn es Streit gibt, komme ich und das ist schnell beendet! Die Polizei war noch nie hier und wir lassen sie auch nicht rein! Hören Sie, was sie mit ihrer Musik für einen Spaß haben! Alles nette Leute!"
Sie waren am Ende des Hofes der Mietskaserne angekommen und nachdem sie eine Tür aufgemacht hatten, das mit einem an einer Kette befestigten Gewicht geschlossen wurde, befanden sie sich auf der vor dem Steinbruch liegenden Wiese.
"Da entlang, das ist der kürzeste Weg", sagte der Kneipenwirt.
Anstatt die Straße entlang zu gehen, überquerten sie die heiße und dampfende Wiese.
Es war genau Mittag. Die Sonne stand im Zenith. Alles blitzte von der blendenden Dezembersonne an einem Tag ohne Wolken. Der Steinbruch, völlig angestrahlt von diesem Licht, blendete. Schaute man genauer hin, so dass man die Nuancen im Stein wahrnahm, schmerzten die Augen. Man sah nur einen großen, weißen, leuchtenden Fleck, der unten auf dem mit feinkörnigem mSchotter bedeckten Boden endete und aus der Ferne aussah wie grauer Asphalt. Oben endete er mit eine kompakten Schicht Wald, von dem man nichts sah als schwarze Flecken, richtig schwar auf einem dunkelgrünen Untergrund.
In dem Maße, wie sie sich dem gewaltigen Steinbruch näherten, war der Boden immer mehr von Schotter bedeckt. Die Schuhe wurden von dem klaren Staub bedeckt. Weiter vorne standen Karren umher, einige bewegten sich, gezogen von einem Esel und beladen mit gebrochenem Fels. Andere schon bereit ihnen zu folgen, die nur noch auf das Tier warteten, und andere mit der Zugstange in der Luft, ganz so als ob sie gerade erst entladen worden wären. Männer die schufteten.
Links, über einem Flussbett, dessen Fluss von der gierigen Sonne weggetrunken zu sein schien, war ein Brücke aus Brettern, wo drei kleine Jungen, fast nackt, saßen und plauderten, ohne auch nur den geringsten Schatten zu werfen, von der Sonne senkrecht angetrahlt. Weiter vorne, in derselben Richtung, stand ein großer Schuppen, alt und schmutzig, errichtet auf ein paar Säulen unbehauenen Steins. Dort arbeiten viele Portugiesen, beim metallischen Klang der Picke, die den Granit bearbeitete. Dahinter stand eine Schmiede, vollgestopft mit Schrott und kaputten Teilen, dazwischen aufgestapelt Räder von Karren. Um den Amboss herum standen zwei Männer, mit nackten Körpern, in Schweiß gebadet, rot erleuchtet wie zwei Teufel, die rhythmisch auf ein glühendes Stück Eisen hämmerten. In ihrer Nähe öffnete sich ein höllischer Ofen, aus dem kleine Feuerzungen zuckten, unruhig und gierig.
João Romão blieb am Eingang der Schmiede stehen und rief einem der zwei Schmiede zu:
"Bruno! Vergiss die Halterung für die Lampe über der Tor nicht!"
"Ich habe sie mir schon angeschaut", antwortete Bruno, "es macht keinen Sinn sie zu reparieren, sie ist vollkommen durchgerostet! Machen Sie eine neue, das ist besser."
"Dann mach das, die fällt bald runter!"
Und dann ging der Kneipenwirt mit dem anderen weiter und hinter ihnen setzte wieder das Gehämmer auf dem Amboss ein.
Man sah einen elenden Stall, voller Heu und Exkremente, ein Platz für etwa ein halbes Dutzend Tiere. Er war jetzt verlassen, aber dem Gestank der von dort kam, konnte man entnehmen, dass sie noch diese Nacht bewohnt war. Dahinter war ein Lager für Holz, da auch als Schreinerei diente, an der Tür aufgestapelte Baumstämme, manche schon zugesägt, viele aufeinandergestappelte Bretter, Querstreben und Masten von Schiffen.
Von hier bis zum Steinbruch waren es höchstens fünfzig Meter und der Boden war schon ganz bedeckt mit dem Staub der zugeschliffener Steine der klebte wie Kalk.
Hier und dort, überall sah man Arbeiter, einige in der Sonne, andere unter kleinen Barracken aus Segeltuch oder Palmenblätter. Auf der einen Seite schliffen sie singend Steine zurecht, auf der anderen Seite brachen sie sie mit einem Picke. Manche machten Ziegel mit einem Pichel, oder Kacheln mit einem Meisel oder einer Machete. Das ganze Gedröhn der Werkzeuge, das Hämmern der Schmiede, der Chor, der in der Höhe den Fels durchbohrte um die Sprengung vorzubereiten, das ferne Rauschen, das von der Mietskaserne ausging wie von einem in Alarmbereitschaft gesetztes Dorf, all das vermittelte den Eindruck einer wilden Aktikvität, eines Rachefeldzuges und Hass.
Diese vor Schweiß triefenden Männer, von der Hitze ganz benommen, das Hirn weich von der Sonne, brachen, spalteten und unterwarfen den Stein ihrem Willen, schienen wie eine Handvoll Teufel, die sich machtlos gegen den gleichgültigen Giganten auflehnten, der sie mit Verachtung betrachtete, von allen Schlägen und Schüssen, die auf seinem Rücken auftrafen unbeeindruckt, der ohne einen Muks von sich zu geben duldete, dass man ihm die Eingeweide aus Granit öffnete. Der kräftige Minenarbeiter war am Fuß des gewaltigen Monsters aus Stein angekommen, stand vor ihm von Angesicht zu Angesicht, vermaß ihn von oben nach unten, ihn schweigend heraufordernd.
Von diesem Punkt aus zeigte sich der Steinbruch von seiner mächtigsten Seite. Zerfetzt, seine von Kratzern durchzogenen Seite der Sonne zugewendet, erhob er sich hochmütig, ohne einen Schatten zu werfen, den Himmel heraufordernd, abweisend, glatt, heiß, voller Stricke, ekelerregend wie Spinnenhaare, die über seine kolossale Nacktheit liefen. An manchen Stellen, hoch über dem Boden, hatte man Bolzen aus Eisen eingeschlagen, auf die sich über dem Abgrund schwebend elende Bretter stützten, die von da unten wie Stöcke aussehen, auf denen aber kühne Pygmäen in Menschenform balancierten, die mit einem Pichel den Giganten mit Hiebe malträtierten.
Der Bergmann schüttelte den Kopf mit einer Geste des Bedauerns. Die Geste zeigte, dass er die ganze Arbeit missbilligte.
"Schauen Sie sich das an", sagte er und zeigte auf einen Punkt des Felsens, "schauen Sie dahin! Ihre Leute sind ohne Nachzudenken an die Arbeit im Steinbruch gegangen. Sie hätten genau auf der anderen Seite anfangen müssen, um der Maserung des Gesteins zu folgen. Diese Seite da ist alles Granit und zwar bester Qualität! Und dann schauen Sie mal, was die daraus gemacht haben. Ein paar Splitter, Kieselsteine, die zu nichts zu gebrauchen sind! Das tut in der Seele weh, wenn man sieht, wie ein so schönes Stück zerstört wird! Was soll man jetzt mit so Schotter machen, außer Steine zum flicken? Das schreit zum Himmel! Einen so schönen Stein zu haben und ihn dann zum Flicken zu verwenden!"
Der Kneipenwirt hörte ihm schweigend zu, kniff die Lippen zusammen, verstimmt, als er von dem Schaden erfuhr.
"Eine sauschlechte Arbeit!", fuhr der andere fort, "dort wo jener Mann steht hätte sie die Bohrung machen müssen, weil die Explosion das ganze überstehende Material das jetzt durch eine Gesteinschicht getrennt ist nach unten drückt. Aber wenn haben Sie hier, der so etwas machen könnte? Niemand, denn das für braucht man einen Angestellten, der weiß war er tut, wenn nämlich das Pulver nicht richtig abgemessen wird, dann wird die Gesteinschicht nicht nur nicht geöffnet, sondern dem Arbeiter passiert das, was dem anderen passiert ist! Man muss sich sehr gut auskennen, um aus dem Steinbruch das Maximum herauszuholen! Das ist ein schöner Steinbruch, aber nicht in den Händen in denen er jetzt ist! Hier zu sprengen ist gefährlich und sehr steil! Wer hier sprengt, der kann nur nach oben über ein Seil flüchten und wenn er nicht flink ist, dann nimmt ihn der Teufel! Das sage ich Ihnen!"
Und nach einer Pause fügte er hinzu, während er eine Gesteinsplatte, die auf dem Boden lag, in seine mächtige Hand nahm:
"Hab ich es nicht gesagt?! Da ist es! Bruch aus Granit! Das ist etwas, was die Esel besser vor Scham verstecken solltenn!"
Folgte man dem Steinbruch rechts herum und folgte man der Kurve, die er dann in einem stumpfen Winkel machte, sah man wie groß er war. Nur langsam wurde er kleiner, bis er schließlich den Waldrand erreichte.
"Was für eine Goldmine!", sagte der Riese begeistert, als er vor einer frischen Gesteinsschicht stand, die sich vor ihm öffnete.
"Der Teil, der jetzt kommt", sagte João Romão, "gehört mir noch nicht."
Und sie gingen weiter.
Auf dieser Seite gab es immer mehr Barracken in der Schatten die Arbeiter schufteten ohne auf die zwei zu achten. Man sah Töpfe auf dem Feuer auf vier Beinen, freistehend, und Kinder, die sich um das Essen der Väter kümmerten. Keine Spur von einer Frau. Manchmal sah man, im Schatten eines Leintuches, eine Gruppen von Männern, im Sitzen essend, eine Sardine in der linken Hand, ein Brot in der Rechten, neben sich eine Flasche Wasser.
"Immer die gleiche schlecht gemachte und schlecht geplante Arbeit", brummte der Bergmann.
Es schien, als ob überall der Gang der Dinge derselbe wäre, aber am Ende, unter den Bambusstäben die das Ende des Steinbruchs markierten, schliefen einige Arbeiter im Schatten, Bauch in der Luft, den Bart in die Höhe gesteckt, der Nacken mit aufgeblähten Halsadern, groß wie die Takelage eines Schiffes, mit offenem Mund, in tiefen Zügen atmend und ruhig wie ein gesundes Tier, heftig schnarchend wie ein müdes Tier.
"Was für ein Halodri!", brummte der Bergmann wieder. Das verlangt nach einer starken Hand, die darauf achtet, dass ordentlich gearbeitet wird!
"Mit dieser Seite habe ich nichts zu tun!", bemerkte Romão.
"Aber hier macht Ihre Bande genau das gleiche! Schauen Sie doch!"
"Die nützen es aus, dass ich da draußen auf mein Geschäft achten muss."
"Wäre ich da, dann würden sie nicht faulenzen, das schwör ich ihnen! Ich vestehe, dass man einen Arbeiter anständig bezahlen muss, er muss genug zum Essen haben, einen Gläschen Wein, aber er muss auch so arbeiten, dass man es sieht, wenn nicht, auf die Straße! Auf der Straße gibt es genug Leute, die Geld verdienen wollen! Beauftragen sie mich sie zu beaufsichtigen und Sie werden das Resultat sehen!"
"Aber zum Teufel nochmal, Sie wollen siebzigtausend Réis", seufzte João Romão.
"Nicht einen Real weniger! Aber mit mir werden Sie sehen, wie viel Geld in Ihren Geldsack fließt! Wir haben hier viele Leute, die unnötig sind. Warum zum Beispiel so viele Arbeiter? Das ist eine Arbeit zum ausruhen. Eine Arbeit für Kinder! Anstatt so viel Geld auszugeben für diese Taugenichtse, zahlst du besser dreißigtausend Réis ..."
"Das ist genau das, was ich Ihnen bezahle."
"Wäre es besser zwei gute Arbeiter für fünfzigtausend einzustellen, die das Doppelte von dem machen, was diese Affen machen und die man auch für andere Sachen einsetzen kann! Es sieht so aus, als ob sie nie arbeiten würden! Schauen Sie den an! Das ist schon das dritte Mal, dass der dort den Meisel fallen lässt! Mit Absicht!"
João Romão schwieg, nachdenklich, während sie zurückgingen, beide ihren Gedanken nachhängend.
"Und wenn ich Sie einstelle", sagte schließlich der der Kneipenwirt, ziehen Sie dann in das Mietshaus?"
"Natürlich! Ich bleibe doch nicht in der Neustadt, wenn meine Arbeit hier ist!"
"Und das Essen kommt von mir?"
"Das macht eine Frau, aber die Zutaten kommen von Ihrem Laden."
"Dann ist das Geschäft besiegelt!", stellte João Romão, überzeugt, dass er aus wirtschaftlichen Gründen auf so einen Mann nicht verzichten könne, fest. Bei sich dachte er, dass die siebzigtausend Réis wieder in seiner Schublade landen würden. Alles bleibt im Haus.
"Wir haben uns also geeinigt?"
"Wir haben uns geeinigt!"
"Heute ist ein Zimmer freigeworden, wenn sie wollen, dass Ihnen gefallen wird. Es ist die Nummer 35, im hinteren Teil des Hause."
Und den Schritt beschleunigend, betraten sie die Wiese, die in den hinteren Teil des Mietshauses führte.
"Sie haben mir noch gar nicht gesagt, wie Sie heißen?"
"Jerônimo, stets zu Diensten."
"Gott zu dienen. Ist Ihre Frau Wäscherin?"
"Sie ist Wäscherin, ja."
"Gut, dann müssen wir einen Zuber für sie besorgen."
E o vendeiro empurrou a porta do fundo da estalagem
Der Kneipenwirt stieß die Hintertür der Mietskasern auf, aus der wie aus einem Topf, dessen Deckel weggenommen wird, ein heißer Wind und ein Gestank wie von gärendem Schweiß und eingeseifter Wäsche die in der Sonne trocknet entwich. |
V
No dia seguinte, com efeito, ali pelas sete da manhã, quando o cortiço fervia
já na costumada labutação, Jerônimo apresentou-se junto com a mulher, para
tomarem conta da casinha alugada na véspera.
A mulher chamava-se Piedade de Jesus; teria trinta anos, boa estatura, carne
ampla e rija, cabelos fortes de um castanho fulvo, dentes pouco alvos, mas
sólidos e perfeitos, cara cheia, fisionomia aberta; um todo de bonomia toleirona,
desabotoando-lhe pelos olhos e pela boca numa simpática expressão de
honestidade simples e natural.
Vieram ambos à boleia da andorinha que lhes carregou os trens. Ela trazia
uma saia de sarja roxa, cabeção branco de paninho de algodão e na cabeça um
lenço vermelho de alcobaça; o marido a mesma roupa do dia anterior.
E os dois apearam-se muito atrapalhados com os objetos que não confiaram
dos homens da carroça; Jerônimo abraçado a duas formidáveis mangas de vidro,
das primitivas, dessas em que se podia à vontade enfiar uma perna; e a Piedade
atracada com um velho relógio de parede e com uma grande trouxa de santos e
palmas bentas. E assim atravessaram o pátio da estalagem, entre os comentários
e os olhares curiosos dos antigos moradores, que nunca viam sem uma pontinha
de desconfiança os inquilinos novos que surgiam.
— O que será este pedaço de homem? indagou a Machona da sua vizinha de
tina, a Augusta Carne-Mole.
— A modos, respondeu esta, que vem para trabalhar na pedreira. Ele ontem
andou por lá um ror de tempo com o João Romão.
— Aquela mulher que entrou junto será casada com ele?
— É de crer.
— Ela me parece gente das ilhas.
— Eles o que têm é muito bons trastes de seu! interveio a Leocádia. Uma
cama que deve ser um regalo e um toucador com um espelho maior do que
aquela peneira!
— E a cômoda, você viu, Nhá Leocádia? perguntou Florinda, gritando para
ser ouvida, porque entre ela e a outra estavam a Bruxa e a velha Marciana.
— Vi, Rico traste!
— E o oratório, então? Muito bonito!...
— Vi também. É obra de capricho. Não! eles sejam lá quem for, são gente
arranjada... Isso não se lhes pode negar!
—Se são bons ou maus só com o tempo se saberá!... arriscou Dona Isabel.
— Quem vê cara não vê corações... sentenciou o triste Albino, suspirando.
— Mas o número 35 não estava ocupado por aquele homem muito amarelo
que fazia charutos?... inquiriu Augusta.
— Estava, confirmou a mulher do ferreiro, a Leocádia, porém creio que
arribou, devendo não sei quanto, e o João Romão então esvaziou-lhe ontem a
casa e tomou conta do que era dele.
— É! acudiu a Machona; ontem, pelo cair das duas da tarde, o Romão
andava aí às voltas com os cacarecos do charuteiro. Quem sabe, se o pobre
homem não levou a breca, como sucedeu àquele outro que trabalhava de
ourives?
— Não! Este creio que está vivo...
— O que lhe digo é que aquele número 35 tem mau agouro! Eu cá por mim
não o queria nem de graça! Foi lá que morreu a Maricas do Farjão!
Três horas depois, Jerônimo e Piedade achavam-se instalados e
dispunham-se a comer o almoço, que a mulher preparara o melhor e o mais
depressa que pôde. Ele contava aviar até a noite uma infinidade de coisas, para
poder começar a trabalhar logo no dia seguinte.
Era tão metódico e tão bom como trabalhador quanto o era como homem.
Jerônimo viera da terra, com a mulher e uma filhinha ainda pequena, tentar
a vida no Brasil, na qualidade de colono de um fazendeiro, em cuja fazenda
mourejou durante dois anos, sem nunca levantar a cabeça, e de onde afinal se
retirou de mãos vazias e uma grande birra pela lavoura brasileira. Para continuar
a servir na roça tinha que sujeitar-se a emparelhar com os negros escravos e
viver com eles no mesmo meio degradante, encurralado como uma besta, sem
aspirações, nem futuro, trabalhando eternamente para outro.
Não quis. Resolveu abandonar de vez semelhante estupor de vida e atirar-se
para a Corte, onde, diziam-lhe patrícios, todo o homem bem disposto encontrava
furo. E, com efeito, mal chegou, devorado de necessidades e privações, meteu-se
a quebrar pedra em uma pedreira, mediante um miserável salário. A sua
existência continuava dura e precária; a mulher já então lavava e engomava, mas
com pequena freguesia e mal paga. O que os dois faziam chegava-lhes apenas
para não morrer de fome e pagar o quarto da estalagem.
Jerônimo, porém, era perseverante, observador e dotado de certa habilidade.
Em poucos meses se apoderava do seu novo ofício e, de quebrador de pedra,
passou logo a fazer paralelepípedos; e depois foi-se ajeitando com o prumo e
com a esquadria e meteu-se a fazer lajedos; e finalmente, à força de dedicação
pelo serviço, tornou-se tão bom como os melhores trabalhadores de pedreira e a
ter salário igual ao deles. Dentro de dois anos, distinguia-se tanto entre os
companheiros, que o patrão o converteu numa espécie de contramestre e
elevou-lhe o ordenado a setenta mil-réis.
Mas não foram só o seu zelo e a sua habilidade o que o pôs assim para a
frente; duas outras coisas contribuíram muito para isso: a força de touro que o
tornava respeitado e temido por todo o pessoal dos trabalhadores, como ainda, e,
talvez, principalmente, a grande seriedade do seu caráter e a pureza austera dos
seus costumes. Era homem de uma honestidade a toda prova e de uma primitiva
simplicidade no seu modo de viver. Sala de casa para o serviço e do serviço para
casa, onde nunca ninguém o vira com a mulher senão em boa paz; traziam a
filhinha sempre limpa e bem alimentada, e, tanto um como o outro, eram sempre
os primeiros à hora do trabalho. Aos domingos iam às vezes à missa ou, à tarde,
ao Passeio Público; nessas ocasiões, ele punha uma camisa engomada, calçava
sapatos e enfiava um paletó; ela o seu vestido de ver a Deus, os seus ouros
trazidos da terra, que nunca tinham ido ao monte de socorro, malgrado as
dificuldades com que os dois lutaram a principio no Brasil.
Piedade merecia bem o seu homem, muito diligente, sadia, honesta, forte,
bem acomodada com tudo e com todos, trabalhando de sol a sol e dando sempre
tão boas contas da obrigação, que os seus fregueses de roupa, apesar daquela
mudança para Botafogo, não a deixaram quase todos.
Jerônimo, ainda na cidade nova, logo que principiara a ganhar melhor,
fizera-se irmão de uma ordem terceira e tratara de ir pondo alguma coisinha de
parte. Meteu a filha em um colégio, “que a queria com outro saber que não ele, a
quem os pais não mandaram ensinar nada”. Por último, no cortiço em que então
moravam, a sua casinha era a mais decente, a mais respeitada e a mais
confortável; porém, com a morte do seu patrão e com uma reforma estúpida que
os sucessores dele realizaram em todo o serviço da pedreira, o colono
desgostou-se dela e resolveu passar para outra.
Foi então que lhe indicaram a do João Romão, que, depois do desastre do
seu melhor empregado, andava justamente à procura de um homem nas
condições de Jerônimo.
Tomou conta da direção de todo o serviço, e em boa hora o fez, porque dia a
dia a sua influência se foi sentindo no progresso do trabalho. Com o seu
exemplo os companheiros tornavam-se igualmente sérios e zelosos. Ele não
admitia relaxamentos, nem podia consentir que um preguiçoso se demorasse ali
tomando o lagar de quem precisava ganhar o pão. E alterou o pessoal da
pedreira, despediu alguns trabalhadores, admitiu novos, aumentou o ordenado
dos que ficaram, estabelecendo-lhes novas obrigações e reformando tudo para
melhor. No fim de dois meses já o vendeiro esfregava as mãos de contente e via,
radiante, quanto lucrara com a aquisição de Jerônimo; tanto assim que estava
disposto a aumentar-lhe o ordenado para conservá-lo em sua companhia. “Valia
a pena! Aquele homem era um achado precioso! Abençoado fosse o Machucas
que lho enviara!” E começou a distingui-lo e respeitá-lo como não fazia a
ninguém.
O prestigio e a consideração de que Jerônimo gozava entre os moradores da
outra estalagem donde vinha, foi a pouco e pouco se reproduzindo entre os seus
novos companheiros de cortiço. Ao cabo de algum tempo era consultado e
ouvido, quando qualquer questão difícil os preocupava. Descobriam-se defronte
dele, como defronte de um superior, até o próprio Alexandre abria uma exceção
nos seus hábitos e fazia-lhe uma ligeira continência com a mão no boné, ao
atravessar o pátio, todo fardado, por ocasião de vir ou ir para o serviço. Os dois
caixeiros da venda, o Domingos e o Manuel, tinham entusiasmo por ele.
“Aquele é que devia ser o patrão, diziam. É um homem sério e destemido! Com
aquele ninguém brinca!” E, sempre que a Piedade de Jesus ia lá à taverna fazer
as suas compras, a fazenda que lhe davam era bem escolhida, bem medida ou
bem pesada. Muitas lavadeiras tomavam inveja dela, mas Piedade era de natural
tão bom e benfazejo que não deva por isso e a maledicência murchava antes de
amadurecer.
Jerônimo acordava todos os dias às quatro horas da manhã, fazia antes dos
outros a sua lavagem à bica do pátio, socava-se depois com uma boa palangana
de caldo de unto, acompanhada de um pão de quatro; e, em mangas de camisa
de riscado, a cabeça ao vento, os grossos pés sem meias metidos em um
formidável par de chinelos de couro cru, seguia para a pedreira.
A sua picareta era para os companheiros o toque de reunir. Aquela
ferramenta movida por um pulso de Hércules valia bem os clarins de um
regimento tocando alvorada. Ao seu retinir vibrante surgiam do caos opalino das
neblinas vultos cor de cinza, que lá iam, como sombras, galgando a montanha,
para cavar na pedra o pão nosso de cada dia. E, quando o sol desfechava sobre o
píncaro da rocha os seus primeiros raios, já encontrava de pé, a bater-se contra o
gigante de granito, aquele mísero grupo de obscuros batalhadores.
Jerônimo só voltava a casa ao descair da tarde, morto de fome e de fadiga. A
mulher preparava-lhe sempre para o jantar alguma das comidas da terra deles. E
ali, naquela estreita salinha, sossegada e humilde, gozavam os dois, ao lado um
do outro, a paz feliz dos simples, o voluptuoso prazer do descanso após um dia
inteiro de canseiras ao sol. E, defronte do candeeiro de querosene, conversavam
sobre a sua vida e sobre a sua Marianita, a filhinha que estava no colégio e que
só os visitava aos domingos e dias santos.
Depois, até às horas de dormir, que nunca passavam das nove, ele tomava a
sua guitarra e ia para defronte da porta, junto com a mulher, dedilhar os fados da
sua terra. Era nesses momentos que dava plena expansão às saudades da pátria,
com aquelas cantigas melancólicas em que a sua alma de desterrado voava das
zonas abrasadas da América para as aldeias tristes da sua infância.
E o canto daquela guitarra estrangeira era um lamento choroso e dolorido, eram
vozes magoadas, mais tristes do que uma oração em alto-mar, quando a
tempestade agita as negras asas homicidas, e as gaivotas doidejam assanhadas,
cortando a treva com os seus gemidos pressagos, tontas como se estivessem
fechadas dentro de uma abóbada de chumbo. | V
Am folgenden Tag um sieben Uhr morgens, als die Mietskaserne schon fieberhaft der täglichen Plackerei nachging, erschien Jerônimo tatsächlich zusammen mit seiner Frau um das Tags zuvor gemietete Häuschen in Beschlag zu nehmen.
Die Frau hieß Piedade de Jesus. Sie war etwa 30 Jahre alt, von schönem Wuchs, kräftig und schlank, mit dichtem braunem, glänzendem Haar, nicht besonders weiße Zähne, aber gut erhalten und makelos, ein volles Gesicht, mit offenen Zügen, von naiver Gutherzigkeit, die aus ihren Augen und ihrem Mund strahlte und ihrem ganzen Wesen einen Ausdruck von einfacher und natürlicher Ehrlichkeit verlieh.
Beide waren mit einen Lastkarren gekommen um ihre Sachen zu transportieren. Sie trug eine violette Hose, ein weißes Oberteil aus Baumwolltuch und auf dem Kopf ein rotes Baumwolltuch. Der Mann trug dieselbe Kleidung wie am Vortag.
Beide stiegen, ihre Habseligkeiten umklammernd aus, da sie den Lenkern des Karrens nicht vertrauten, aus. Jerônimo trug zwei herrliche Kronleuchter aus Glas, zwei von der Art, wie sie ursprünglich waren, in die man ohne weiteres einen Fuß stecken konnte, während Piedade mit einer alten Wanduhr beladen war und einem Bündel Heiliger sowie geweihten Palmblättern. So durchquerten sie, begleitet von den Kommentaren und Blicken der alten Mieter, die Neuankömmlinge nie ohne ein gewisses Misstrauen betrachteten, den Hof.
"Was wird das wohl für ein Typ Mensch sein?" fragte Machona ihre Nachbarin am Zuber, Augusta Carne-Mole.
"Wahrscheinlich", antwortete diese, "werden sie im Steinbruch arbeiten. Er ist gestern ziemlich lang mit João Romão da rumspaziert."
"Die Frau, die mit ihm reingekommen ist, ist mit ihm verheiratet?"
"Scheint so."
"Ich glaube sie kommt von den Inseln."
"Auf jeden Fall haben sie hübschen Hausrat!", mischte sich Leocádia ein, "ein Bett von einem Geschenk und ein Schminktisch mit einem Spiegel größer als jener Sieb!"
"Und die Kommode, hast du die gesehen, Nhá Leocá´dia?" fragte Florinda, laut, damit sie auch gehört wird, denn zwischen ihr und der anderen standen Bruxa und die alte Marciana.
"Hab' ich gesehen, schöner Hausrat!"
"Und den Hausaltar? Sehr schön!"
"Hab ich auch gesehen. Luxuriös. Nicht! Wer immer sie auch sein mögen, das sind wohlhabende Leutte. Das kann man ihnen nicht absprechen!"
"Ob sie gut oder schlecht sinnd, wird man erst mit der Zeit erfahren!", erwiderte Dona Isabel.
"Wer das Gesicht sieht, sieht das Herz nicht", stellte, mit einem Seufzer, der traurige Albino fest.
"War die Nummer 35 nicht von dem man mit sehr gelber Haut bewohnt, der Zigarren drehte?", fragte Augusta.
"Hat er", bestätigte die Frau des Schmieds, Leocádia, ich glaube aber es ging ihm dann besser und da er noch noch was weiß ich wie viel schuldete, hat João Romão ihn rausgeworfen und sich seiner Sachen bemächtigt."
"Erst gestern", fügte Machona an, "so um zwei Uhr mittags, ging Romão hin und her mit dem Schrott des Zigarrendrehers. Wer weiß, ob er nicht einen Anfall bekommen hat, wie der, der als Goldschmied arbeitete?"
"Nein! der lebt glaub ich noch!"
"Ich sage euch, die Nummer 35 verspricht nichts Gutes! Die würde ich nicht mal kostenlos wollen! Da ist Maricas do Farjão gestorben!"
Drei Stunden später hatten sich Jerônimo und Piedade eingerichtet und aßen zu Mittag, welches die Frau so gut und so schnell wie möglich wie sie konnte zubereitet hatte. Sie hatte bis zum Abend noch eine Menge Dinge zu erledigen um am nächsten Tag mit der Arbeit beginnen zu können.
Sie war so methodisch und fleißig, wie sie als Mensch in Ordnung war.
Jerônimo war mit seiner Frau und einer noch kleinen Tochter von Portugal immigriert um in Brasilien, als Pächter eines Grundbesitzers, auf dessen Gut er zwei Jahre schuftete ohne voran zu kommen und das er nach zwei Jahren mit leeren Händen und empört über die Arbeitsweise in Brasilien, ein neues Leben zu beginnen. Um auf dem Gut weiter arbeiten zu können, musste er akzeptieren, dass er mit den schwarzen Sklaven konkurriert und wie sie leben muss, unter denselben entwürdigenden Umständen, eingepfercht wie ein Tier, ohne Ziele und ohne Zukunft, ewig für einen anderen arbeitend.
Das wollte er nicht. Er beschloss dies stumpfsinnige Leben aufzugeben und an den Hof zu ziehen. Er hatte von Landsleuten gehört, dass dort jeder, der geignet ist, eine Anstellung findet. Und tatsächlich, kaum war er angekommen, von Mangel und Entbehrungen gezeichnet, machte er sich daran bei einer miserablen Bezahlung in einem Steinbruch Steine zu brechen. Sein Leben war weiterhin hart und unsicher. Die Frau wusch schon Wäsche und bügelte, hatte aber nur wenig Kundschaft, die schlecht bezahlte. Was die zwei verdienten reichte gerade aus, um nicht zu verhungern und die das Zimmer in der Mietskaserne zu bezahlen.
Jerônimo war jedoch ausdauernd, ein guter Beobachter und mit einer gewissen Begabung. In nur wenigen Monaten beherrschte er sein Handvwerk und stieg vom Steinbrecher zum Zuhauer von Quadern auf. Später machte er sich mit dem Lot und dem Lineal vertraut und machte Fließen. Schlussendlich wurde er durch seinen Fleiß bei der Arbeit so gut wie die besten Arbeiter des Steinbruchs und verdiente auch so viel wie sie. Innerhalb von zwei Jahren stach er unter den anderen Arbeitern so hervor, dass sein Arbeitgeber ihn zu einer Art Vorarbeiter machte und seinen Lohn auf sechzigtausend Réis erhöhte.
Aber nicht nur sein Fleiß und seine Fähigkeiten waren es, die ihn nach vorne brachten. Zwei andere Sachen trugen hierzu noch viel bei. Zu nennen wäre zum einen die Kraft eines Stieres, die alle Arbeitern Respekt einflössten und gefürchtet wurden, zum anderen die große Ernsthaftigkeit seines Charakters und die strenge Reinheit seines Lebensstiles. Er war ein Mann von einer über allem Zweifel erhobenen Ehrenhaftigkeit und von einer einfachen Lebensweise. Er ging von seinem Haus zur Arbeit und von der Arbeit zu seinem Haus, wo niemand ihn jemals anders mit seiner Frau gesehen hat, als friedlich vereint. Sonntags gingen sie manchmal in die Kirche oder am Nachmittag in einen Park. Bei dieser Gelegenheit trug er ein gebügeltes Hemd, Schuhe und ein Jacket. Sie trug das Kleid, das für den Gang in die Kirche angemessen war und ihren goldenen Schmuck, denn sie von Portugual mitgebracht und auch in den Zeiten größter Not, die sie anfänglich in Brasilien durchlebten, nie verpfändet hatte.
Piedade war ihrem Mann ebenbürtig. Sie war sehr fleißig, gesund, ehrenhaft, stark, kam mit allem und mit allen klar, arbeitete von Sonnaufgang bis Sonnenuntergang und erledigte alles so gut, dass fast alle Kunden, die ihr die Kleidung überließen, dies auch noch taten, als sie nach Botafogo zog.
Jerônimo war schon in der Neustadt, sobald er mehr verdiente, einem Laienorden beigetreten und war bestrebt etwas auf die Seite zu legen. Die Tochter schickte er in eine Schule, weil er wollte, dass sie mehr lerne als er, dessen Eltern ihn gar nichts lernen ließen. In der Mietskaserne wo er bislang gewohnt hatte, war sein Häuschen das ordentlichste, das respektierteste und das best eingerichtetste. Als sein Arbeitgeber jedoch starb und seine Nachfolger unsinnige Reformen in der Arbeit im Steinbruch durchführten, entschloss er sich zu wechseln, weil er diese ablehnte.
In dieser Situation erzählten sie ihm von João Romão, der nach dem Verlust seines besten Angestellten auf der Suche nach einem Mann mit den Qualifikationen von Jerônimo war.
Er übernahm die Leitung der ganzen Arbeit und das tat er zur rechten Zeit, denn von Tag zu Tag wurde sein Einfluss im Fortschritt der Arbeit sichtbarer. Die Kollegen nahmen ihn sich als Vorbild und wurden ebenfalls gewissenhafter und fleißiger. Er duldete keinen Müßiggang und konnte auch nicht akzeptieren, dass ein Faulenzer anstatt von jemandem, der sein Brot verdienen musste, da blieb. Er tauschte das Personal des Steinbruchs aus, kündigte einigen Arbeitern und stellte neue ein. Er erhöhte den Lohn derjenigen die blieben, gab ihnen aber auch neue Aufgaben und strukturierte die Arbeit besser. Schon nach zwei Monaten rieb sich der Kneipenwirt die Hände als er sah, frohlockend, wie viel er durch die Einstellung von Jerônimo verdiente. So zufrieden war er, dass er sogar bereit war, den Lohn zu erhöhen, damit er weiter für ihn arbeite: "Das war es wert, dieser Mann war ein guter Fund! Gesegnet sei Machusas, der ihn mir geschickt hatte!" Er respektierte und bevorzugte ihn wie sonst niemanden.
Die Achtung und der Respekt den die Mieter der alten Mietskaserne, von der er kam, Jerônimo entgegenbrachten gewann er Stück für Stück unter den neuen Mietern der Mietskaserne. Nach einiger Zeit bat man ihn um seine Meinung , wenn irgendein schwieriges Problem sie beschäftigte. Sie zogen den Hut vor ihm wie vor einem Vorgesetzten und selbst Alexandre benahm sich ihm gegenüber anders und deutete mit dem Finger an seine Mütze, wenn er, in Uniform, den Hof überquerte auf dem Weg zur Arbeit oder von dort kommend. Die zwei Verkäufer des Ladens, Domingos und Manuel, waren begeistert von ihm. "Der müsste der Chef sein", sagten sie, "das ist ein seriöser und furchtloser Mann! Mit dem spielt niemand!" Ging Piedade de Jesus in die Kneipe um ihre Einkäufe zu tätigen, dann war die Ware für sie immer gut gewählt und korrekt abgewogen. Viele Wäscherinnen waren neidisch aus sie, aber Piedade war so von Natur aus so gütig und wohlwollend, dass sie nichts darauf gab und die Verleumdnungen verstummten noch ehe sie sich verfestigten.
Jerônimo stand jeden Morgen um vier Uhr morgens auf, wusch sich noch vor den anderen am Hahn im Hof, dann aß er eine Schüssel Hafergrütze in Fleischbrühe und einen Laib Brot. Mit einem gestreiften Hemd, ohne Kopfbedeckung, seine großen Füße ohne Socken in Sandalen gesteckt, ging er dann zum Steinbruch.
Sein Pickel gab den Takt für seine Mitarbeiter vor. Dieses Werkzeug, bewegt von der Kraft eines Herkules, entsprach den Tönen eines ganzen Regiments in der Morgendämmerung. Beim vibrierenden Klang tauchten aus dem bläulich schimmernden Chaos unscharfe graue Formen auf, die sich wie Schatten einfanden, den Berg hinaufstiegen, um in dem Stein das tägliche Brot zu verdienen. Wenn dann die Sonne ihre ersten Strahlen auf dem Gipfel des Felsen schoss, war die kleine,elende Gruppe dunkler Kämpfer schon auf den Füßen, um gegen den Giganten aus Granit zu kämpfen.
Erst wenn sich der Tag zu Ende neigte, kehrte Jerônimo zurück, ausgehungert und erschöpft. Zum Abendessen hatte seine Frau ihm immer ein Gericht aus ihrer Heimat zubereitet. Und dort, in dem engen Raum, entspand und einfach, genossen die beiden, einer neben dem anderen, den glücklichen Frieden das einfache und sinnliche Vergnügen der Entspannung nach einem Tag voller Arbeit in der Sonne und sprachen vor der Öllampe über ihr Leben und Marianite, das Töchterchen, das in der Schule war und sie nur an Sonn- und Feiertagen besuchte.
Anschließend nahm er bis zum Schlafen gehen, was nie nach neun Uhr der Fall war, seine Guitarre und ging vor die Tür, zusammen mit seiner Frau, um die Fados seiner Heimat zu spielen. In diesen Momenten ließ er in diesen melancholischen Liedern, wo seine in den heißen Zonen Amerikas verbannte Seele zu den traurigen Dörfern seiner Kindheit flog, freien Lauf.
Der Gesang dieser fremden Guitarra war ein weinendes Klagen voller Trauer, Stimmen voller Leid, trauriger noch als ein Gebet auf hoher See, wenn der Sturm die schwarzen tödlichen Flügel erzittern lässt, wenn die Möwen, vom Wahnsinn erfasst, mit ihren unheilverkündenden Schreien die Finsternis durchschneiden, als ob sie eingeschlossen wären in einem Gefäß aus Blei. |
VI
Amanhecera um domingo alegre no cortiço, um bom dia de abril. Muita luz
e pouco calor.
As tinas estavam abandonadas; os coradouros despidos. Tabuleiros e
tabuleiros de roupa engomada saiam das casinhas, carregados na maior parte
pelos filhos das próprias lavadeiras que se mostravam agora quase todas de fato
limpo; os casaquinhos brancos avultavam por cima das saias de chita de cor.
Desprezavam-se os grandes chapéus de palha e os aventais de aniagem; agora as
portuguesas tinham na cabeça um lenço novo de ramagens vistosas e as
brasileiras haviam penteado o cabelo e pregado nos cachos negros um ramalhete
de dois vinténs; aquelas trancavam no ombro xales de lã vermelha, e estas de
crochê, de um amarelo desbotado. Viam-se homens de corpo nu, jogando a
placa, com grande algazarra. Um grupo de italianos, assentado debaixo de uma
árvore, conversava ruidosamente, fumando cachimbo. Mulheres ensaboavam os
filhos pequenos debaixo da bica, muito zangadas, a darem-lhes murros, a
praguejar, e as crianças berravam, de olhos fechados, esperneando. A casa da
Machona estava num rebuliço, porque a família ia sair a passeio; a velha gritava,
gritava Nenen, gritava o Agostinho. De muitas outras saiam cantos ou sons de
instrumentos; ouviam-se harmônicas e ouviam-se guitarras, cuja discreta
melodia era de vez em quando interrompida por um ronco forte de trombone.
Os papagaios pareciam também mais alegres com o domingo e lançavam
das gaiolas frases inteiras, entre gargalhadas e assobios. À porta de diversos
cômodos, trabalhadores descansavam, de calça limpa e camisa de meia lavada,
assentados em cadeira, lendo e soletrando jornais ou livros; um declamava em
voz alta versos de “Os Lusíadas:, com um empenho feroz, que o punha rouco.
Transparecia neles o prazer da roupa mudada depois de uma semana no corpo.
As casinhas fumegavam um cheiro bom de refogados de carne fresca fervendo
ao fogo. Do sobrado do Miranda só as duas últimas janelas já estavam abertas e,
pela escada que descia para o quintal, passava uma criada carregando baldes de
águas servidas. Sentia-se naquela quietação de dia inútil a falta do resfolegar
aflito das máquinas da vizinhança, com que todos estavam habituados. Para
além do solitário capinzal do fundo a pedreira parecia dormir em paz o seu sono
de pedra; mas, em compensação, o movimento era agora extraordinário à frente
da estalagem e à entrada da venda. Muitas lavadeiras tinham ido para o portão,
olhar quem passava; ao lado delas o Albino, vestido de branco, com o seu lenço
engomado ao pescoço, entretinha-se a chupar balas de açúcar, que comprara ali
mesmo ao tabuleiro de um baleiro freguês do cortiço.
Dentro da taverna, os martelos de vinho branco, os copos de cerveja
nacional e os dois vinténs de parati ou laranjinha sucediam-se por cima do
balcão, passando das mãos do Domingos e do Manuel para as mãos ávidas dos
operários e dos trabalhadores, que os recebiam com estrondosas exclamações de
pândega. A Isaura, que fora num pulo tomar o seu primeiro capilé, via-se tonta
com os apalpões que lhe davam. Leonor não tinha um instante de sossego,
saltando de um lado para outro, com uma agilidade de mono, a fugir dos punhos
calosos dos cavouqueiros que, entre risadas, tentavam agarrá-la; e insistia na sua
ameaça do costume: “que se queixava ao juiz de orfe”, mas não se ia embora,
porque defronte da venda viera estacionar um homem que tocava cinco
instrumentos ao mesmo tempo, com um acompanhamento desafinado de bombo,
pratos e guizos.
Eram apenas oito horas e já muita gente comia e palavreava na casa de pasto
ao lado da venda. João Romão, de roupa mudada como os outros, mas sempre
em mangas de camisa, aparecia de espaço em espaço, servindo os comensais; e a
Bertoleza, sempre suja e tisnada, sempre sem domingo nem dia santo, lá estava
ao fogão, mexendo as panelas e enchendo os pratos.
Um acontecimento, porém, veio revolucionar alegremente toda aquela
confederação da estalagem. Foi a chegada da Rita Baiana, que voltava depois de
uma ausência de meses, durante a qual só dera noticias suas nas ocasiões de
pagar o aluguei do cômodo.
Vinha acompanhada por um moleque, que trazia na cabeça um enorme
samburá carregado de compras feitas no mercado; um grande peixe espiava por
entre folhas de alface com o seu olhar embaciado e triste, contrastando com as
risonhas cores dos rabanetes, das cenouras e das talhadas de abóbora vermelha.
— Põe isso tudo ai nessa porta. Ai no número 9, pequeno! gritou ela ao
moleque, indicando-lhe a sua casa, e depois pagou-lhe o carreto. — Podes ir
embora, carapeta!
Desde que do portão a bisparam na rua, levantou-se logo um coro de
saudações.
— Olha! quem ai vem!
— Olé! Bravo! É a Rita Baiana!
— Já te fazíamos morta e enterrada!
— E não é que o demo da mulata está cada vez mais sacudida?...
— Então, coisa-ruim! por onde andaste atirando esses quartos?
— Desta vez a coisa foi de esticar, hein?!
Rita havia parado em meio do pátio.
Cercavam-na homens, mulheres e crianças; todos queriam novas dela. Não
vinha em traje de domingo; trazia casaquinho branco, uma saia que lhe deixava
ver o pé sem meia num chinelo de polimento com enfeites de marroquim de
diversas cores. No seu farto cabelo, crespo e reluzente, puxado sobre a nuca,
havia um molho de manjericão e um pedaço de baunilha espetado por um
gancho. E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos
e plantas aromáticas. Irrequieta, saracoteando o atrevido e rijo quadril baiano,
respondia para a direita e para a esquerda, pondo à mostra um fio de dentes
claros e brilhantes que enriqueciam a sua fisionomia com um realce fascinador.
Acudiu quase todo o cortiço para recebê-la. Choveram abraços e as chufas
do bom acolhimento.
Por onde andara aquele diabo, que não aparecia para mais de três meses?
— Ora, nem me fales, coração! Sabe? pagode de roga! Que hei de fazer? é a
minha cachaça velha!...
— Mas onde estiveste tu enterrada tanto tempo, criatura?
— Em Jacarepaguá.
— Com quem?
— Com o Firmo...
— Oh! Ainda dura isso?
— Cala a boca! A coisa agora é séria!
— Qual! Quem mesmo? Tu? Passa fora!
— Paixões da Rita! exclamou o Bruno com uma risada. Uma por ano! Não
contando as miúdas!
— Não! isso é que não! Quando estou com um homem não olho pra outro!
Leocádia, que era perdida pela mulata, saltara-lhe ao pescoço ao primeiro
encontro, e agora, defronte dela, com as mãos nas cadeiras, os olhos úmidos de
comoção, rindo, sem se fartar de vê-la, fazia-lhe perguntas sobre perguntas:
— Mas por que não te metes tu logo por uma vez com o Firmo? por que não
te casas com ele?
— Casar? protestou a Rita. Nessa não cai a filha de meu pai! Casar? Livra!
Para quê? para arranjar cativeiro? Um marido é pior que o diabo; pensa logo que
a gente é escrava! Nada! qual! Deus te livre! Não há como viver cada um senhor
e dono do que é seu!
E sacudiu todo o corpo num movimento de desdém que lhe era peculiar.
— Olha só que peste! considerou Augusta, rindo, muito mole, na sua
honestidade preguiçosa.
Esta também achava infinita graça na Rita Baiana e seria capaz de levar um
dia inteiro a vê-la dançar o chorado.
Florinda ajudava a mãe a preparar o almoço, quando lhe cheirou que
chegara a mulata, e veio logo correndo, a rir-se desde longe, cair-lhe nos braços.
A própria Marciana, de seu natural sempre triste e metida consigo, apareceu à
janela, para saudá-la. A das Dores, com as saias arrepanhadas no quadril e uma
toalha por cima amarrada pela parte de trás e servindo de avental, o cabelo ainda
por pentear, mas entrouxado no alto da cabeça, abandonou a limpeza que fazia
em casa e veio ter com a Rita, para dar-lhe uma palmada e gritar-lhe no nariz:
— Desta vez tomaste um fartão, hein, mulata assanhada?...
E, ambas a caírem de riso, abraçaram-se em intimidade de amigas, que não
têm segredos de amor uma para a outra.
A Bruxa veio em silêncio apertar a mão de Rita e retirou-se logo.
— Olha a feiticeira! bradou esta última, batendo no ombro da idiota. Que
diabo você tanto reza, tia Paula? Eu quero que você me dê um feitiço para
prender meu homem!
E tinha uma frase para cada um que se aproximasse. Ao ver Dona Isabel,
que apareceu toda cerimoniosa na sua saia da missa e com o seu velho xale de
Macau, abraçou-a e pediu-lhe uma pitada, que a senhora recusou, resmungando:
— Sai daí diabo!
— Cadê Pombinha? perguntou a mulata.
Mas, nessa ocasião, Pombinha acabava justamente de sair de casa, muito
bonita e asseada com um vestido novo de cetineta. As mãos ocupadas com o
livro de rezas, o lenço e a sombrinha.
— Ah! Como está chique! exclamou a Rita, meneando a cabeça. É mesmo
uma flor! — e logo que Pombinha se pôs ao seu alcance, abraçou-lhe a cintura e
deu-lhe um beijo. — O João Costa se não te fizer feliz como os anjos sou capaz
de abrir-lhe o casco com o salto do chinelo! Juro pelos cabelos do meu homem!
— E depois, tornando-se séria, perguntou muito em voz baixa a Dona Isabel: —
Já veio?... ao que a velha respondeu negativamente com um desconsolado e
mudo abanar de orelhas.
O circunspecto Alexandre, sem querer declinar da sua gravidade, pois que
estava fardado e pronto para sair, contentou-se em fazer com a mão um
cumprimento à mulata, ao qual retrucou esta com uma continência militar e uma
gargalhada que o desconcertaram.
Iam fazer comentários sobre o caso, mas a Rita, voltando-se para o outro
lado, gritou:
— Olha o velho Libório! Como está cada vez mais duro!... Não se entrega
por nada o demônio do judeu!
E correu para o lugar, onde estava, aquecendo-se ao belo sol de abril, um
octogenário, seco, que parecia mumificado pela idade, a fumar num resto de
cachimbo, cujo pipo desaparecia na sua boca já sem lábios.
— Êh! êh! fez ele, quando a mulata se aproximou.
— Então? perguntou Rita, abaixando-se para tocar-lhe no ombro. Quando é
o nosso negócio?... Mas você há de deixar-me primeiro abrir o bauzinho de
folha!...
Libório riu-se com as gengivas, tentando apalpar as coxas da Baiana, por
caçoada, afetando luxúria.
Todos acharam graça nesta pantomimice do velhinho, e então, a mulata,
para completar a brincadeira, deu uma volta entufando as saias e sacudiu-as
depois sobre a cabeça dele, que se fingiu indignado, a fungar exageradamente.
E entre a alegria levantada pela sua reaparição no cortiço, a Rita deu conta
de que pintara na sua ausência; disse o muito que festou em Jacarepaguá; o
entrudo que fizera pelo carnaval. Três meses de folia! E, afinal abaixando a voz,
segredou às companheiras que à noite teriam um pagodinho de violão. Podiam
contar como certo!
Esta última noticia causou verdadeiro júbilo no auditório. As patuscadas da
Rita Baiana eram sempre as melhores da estalagem. Ninguém como o diabo da
mulata para armar uma função que ia pelas tantas da madrugada, sem saber a
gente como foi que a noite se passou tão depressa. Além de que “era aquela
franqueza! enquanto houvesse dinheiro ou crédito, ninguém morria com a tripa
marcha ou com a goela seca!”
— Diz-me cá, ó Leocadinha! quem são aqueles jururus que estão agora no
35? indagou ela, vendo o Jerônimo à porta da casa com a mulher.
— Ah! explicou a interrogada, é o Jeromo e mais a Piedade, um casal que
inda não conheces. Entrou ao depois que arribaste. Boa gente, coitados!
Rita carregou para dentro do seu cômodo as provisões que trouxera; abriu
logo a janela e pôs-se a cantar. Sua presença enchia de alegria a estalagem toda.
O Firmo, o mulato com quem ela agora vivia metida, o demônio que a
desencabeçara para aquela maluqueira, de Jacarepaguá, ia lá jantar esse dia com
um amigo. Rita declarava isto às companheiras, amolando uma faquinha no
tijolo da sua porta, para escamar o peixe; enquanto os gatos, aqueles mesmos
que perseguiam o sardinheiro, vinham, um a um, chegando-se todos só com o
ruído da afiação do ferro.
Ao lado direito da casinha da mulata, no número 8, a das Dores
preparava-se também para receber nesse dia o seu amigo e dispunha-se a fazer
uma limpeza geral nas paredes, nos tetos, no chão e nos móveis, antes de
meter-se na cozinha. Descalça, com a saia levantada até ao joelho, uma toalha na
cabeça, os braços arregaçados, viam-na passar de carreira, de casa para a bica e
da bica outra vez para casa, carregando pesados baldes cheios de água. E daí a
pouco apareciam ajudantes gratuitos para os arranjos do jantar, tanto do lado da
das Dores, como do lado da Rita Baiana. O Albino encarregou-se de varrer e
arrumar a casa desta, entretanto que a mulata ia para o fogão preparar os seus
quitutes do Norte. E veio a Florinda, e veio a Leocádia, e veio a Augusta,
impacientes todas elas pelo pagode que havia de sair à noite, depois do jantar.
Pombinha não apareceu durante o dia, porque estava muito ocupada, aviando a
correspondência dos trabalhadores e das lavadeiras: serviço este que ela deixava
para os domingos.
Numa pequena mesa, coberta por um pedaço de chita, com o tinteiro ao lado
da caixinha de papel, a menina escrevia, enquanto o dono ou dona da carta
ditava em voz alta o que queria mandar dizer à família. ou a algum mau devedor
de roupa lavada. E ia lançando tudo no papel, apenas com algumas ligeiras
modificações, para melhor, no modo de exprimir a idéia. Pronta uma carta,
sobrescritava-a, entregava-a ao dono e chamava por outro, ficando a sós com um
de cada vez, pois que nenhum deles queria dar o seu recado em presença de mais
ninguém senão de Pombinha. De sorte que a pobre rapariga ia acumulando no
seu coração de donzela toda a súmula daquelas paixões e daqueles
ressentimentos, às vezes mais fétidos do que a evaporação de um lameiro em
dias de grande calor.
— Escreva lá, Nhã Pombinha! disse junto dela um cavouqueiro, coçando a
cabeça; mas faça letra grande, que é pra mulher entender! Diga-lhe que não
mando desta feita o dinheiro que me pediu, porque agora não o tenho e estou
muito acossado de apertos; mas que lho prometo pro mês. Ela que se vá
arranjando por lá, que eu cá sabe Deus como me coço; e que, se o Luís, o irmão,
resolver de vir, que mo mande dizer com tempo, para ver se se lhe dá furo à vida
por aqui; que isto de vir sem inda ter p’ronde, é fraco negócio, porque as coisas
por cá não correm lá para que digamos!
E depois que a Pombinha escreveu, acrescentou:
— Que eu tenho sentido muito a sua falta dela; mas também sou o mesmo e
não me meto em porcarias e relaxamento; e que tenciono mandar buscá-la, logo
que Deus me ajude, e a Virgem! Que ela não tem de que se arreliar por mor do
dinheiro não ir desta; que, como lá diz o outro: quando não há el-rei o perde!
Ah! (ia esquecendo!) quanto à Libânia, é tirar daí o juízo! que a Libânia se
atirou aos cães e faz hoje má vida na Rua de São Jorge; que se esqueça dela por
vez e perca o amor às duas coroas que lhe emprestou!
E a menina escrevia tudo, tudo, apenas interrompendo o seu trabalho para
fitar, com a mão no queixo, o cavouqueiro, à espera de nova frase. |
VI
Ein fröhlicher Sonntag erwachte in der Mietskaserne, ein guter Tag im April. Viel Licht und nicht zu heiß.
Die Zuber waren verlassen, die Wäscheleinen nackt. Körbe voll mit gebügelter Wäsche, fast alle transportiert von den eigenen Söhnen der Wäscherinnen, die jetzt alle tatsächlich sauber waren, kamen aus den Häuschen. Die weißen Oberhemden aufgestappelt auf den bunten Röcken. Sie mieden die Strohüte und die Schürzen aus grobem Leinen. Die Portugiesinnen trugen jetzt neue Tuch mit einem Blumenmuster auf dem Kopf und die Brasilianerinnen hatten ihr Haar frisiert und ein Blumengewinde zu zweimal 20 Réis befestigt mit einer schwarzen Haarspange. Jene trugen über den Schultern Schals aus roter Wolle und diese ein mattgelbes gehäkeltes Tuch. Männer mit nacktem Oberkörper spielten Brettspiele, wobei sie viel Lärm machten. Eine Gruppe Italiener unterhielt sich lautstark, während sie Pfeife rauchten. Frauen seiften schlecht gelaunt unter dem Hahn ihre Kinder ein, wobei sie immer mal wieder schimpfend einen Klaps verabreichten, die Kinder schrien, zappelten mit geschlossenen Augen. Das Haus von Machona war in Aufruhr, weil die Familie im Begriff war, spazieren zu gehen. Die Alte schrie, Nenen schrie, Agostinho schrie. Aus den anderen Häuschen kamen Lieder und Töne von Instrumenten. Man hörte Mundharmonika und Guitarren, deren leiser Ton immer wieder durch den rauen Ton einer Trompete unterbrochen wurde.
Auch die Papageien schienen am Sonntag glücklicher und ließen in ihren Käfigen, unterbrochen durch lautes Gelächter und schrille Schreie, ganze Wörter vernehmen. Vor den Türen der verschiedenen Zimmer, mit sauberer Hose und gewaschenen Strümpfen, ruhten Arbeiter auf einem Stuhl sitzend sich aus, während sie sie Zeitung oder ein Buch lasen oder buchstabierten. Einer deklamierte mit einer so lauten Stimme "Os Lusíadas", dass er heiser wurde. Man sah ihnen das Vergnügen an, dass sie am Wechsel der Kleidung hatten, nachdem sie eine Woche dieselbe Kleidung getragen hatten. Den Häuschen entströmte der Duft von geschmorenem frischem Fleisch, das über dem Ofen brutzelte. Im Hause von Miranda waren nur die letzten zwei Fenster geöffnet und ein Hausmädchen, beladen mit zwei Eimern Schmutzwasser, ging die Treppe hinunter, die in den Garten führte. In der Ruhe dieses Feiertages fühlte man die Abwesenheit der Maschine der Nachbarschaft mit ihrem Keuchen, an die alle gewöhnt waren. Hinter dem einsamen Garten hinter dem Haus schien der Steinbruch friedlich seinen Traum aus Stein zu schlafen. Vor der Mietskaserne und am Eingang der Kneipe hingegen war ein ungewöhnliches Treiben. Viele Wäscherinnen hatten sich am Tor eingefunden, um zu schauen wer vorbeikam. Neben ihnen stand Albino, in weiß gekleidet, mit seinem gebügelten Tuch um den Hals, vertrieb er sich die Zeit mit dem Lutschen von Bonbons, die er direkt von einem Straßenhändler kaufte, der in der Mietskaserne wohnte.
In der Kneipe wurde ein Glas Weißwein, ein Krug Bier, ein Gläschen Schnaps nach dem anderen über die Theke geschoben, verließ die Hände von Domingo und Manuel um in die gierigen Hände der Angenstellten und Arbeiter zu gelangen, die sie mit dem lautem Festgebrüll in Empfang nahmen. Isaura, die kurz hereingekommen war um ihr erstes Gläschen Likör zu nehmen, war verärgert, weil sie ständig betatscht wurde. Leonor hatte nicht einen Moment Ruhe, sprang flink wie ein Affe von einer Seite auf die andere um sich den schwieligen Händen der Arbeiter zu entziehen, die sie lachend versuchten zu packen, dabei die Drohungen ausstoßend, die man von ihr kannte wie "Scher dich zum Teufel". Sie ging aber auch nicht weg, weil sie sah wie gegenüber der Kneipe ein Mann hielt, der fünf Instrumente auf einmal spielte, begleitet von Trommeln, Tellern und Schellen.
Es war erst acht Uhr, aber es waren schon viele Leute in der Kantine neben der Kneipe, die aßen und schwatzten. João Romão, auch er mit frisch eingekleidet, aber immer noch in einem kurzärmeligen Hemd, tauchte von Zeit zu Zeit auf und bediente die Gäste. Bertoleza, wie immer schmutzig und ungewaschen, egal ob Sonntag oder Feiertag, stand am Ofen, hantierte mit den Töpfen und füllte die Teller.
Ein Ereignis jedoch rief einen fröhlichen Aufruhr hervor unter der Gesellschaft der Mietskasern hervor und zwar die Ankunft von Rita Baiana, die nach monatelanger Abwesenheit, während derer man nur von ihr hörte, wenn sie die Miete für das Zimmer bezahlte.
Sie kam in Begleitung eines Jungen, der auf dem Kopf einen enormen Bastkorb trug, voll mit Dingen, die sie auf dem Markt gekauft hatte. Ein großer Fisch starrte, mit einem toten und traurigen Blick, zwischen die Salatblätter hindurch, was in Kontrast stand zu den heiteren Farben der Radieschen, Karotten und zu den roten Kürbisstücken.
"Stell alles dahin vor diese Tür. Vor die Nummer 9, Kleiner!", rief sie dem Jungen zu, auf ihr Haus zeigend und zahlte ihm dann für Lieferung. "Du kannst jetzt gehen, Bub!"
Schon als die Leute am Tor sie auf der Straße gesehen hatten, setzte der ganz Chor an sie zu begrüßen.
"Schau mal wer da kommt!"
"Hoppla! Erstaunlich! Das ist Rita Baiana!"
"Wir glaubten schon du wärst tot und beerdigt!"
"Und nun ist der Teufel von einer Mulattin noch hübscher geworden?"
Männer, Frauen und Kinder näherten sich ihr. Alle wollten wissen, wie es ihr ergangen ist. Sie trug kein Sonntagskleid. Sie trug eine weiße Weste, einen Rock bis zu den in polierten Ledersandalen mit bunten Verzierungen steckenden Füßen. In ihrem üppigen, krauseligen und glänzendem Haar, über dem Nacken zusammengebunden, war ein Bündel Basilikum und ein Stück Vanille, festgemacht mit einer Klammer. Sie verströmte die Reinheit der Brasilianerinnen und einen sinnlichen Duft von Klee und aromatischen Pflanzen. Unruhig, ihren starken baianischen Hüften schwenkend, wandte sie sich nach rechts und links, zeigte die Reihe ihre reinen und glänzenden Zähne, die ihrem Gesicht mit einem faszinierenden Moment bereicherten.
Fast die ganze Mietskaserne eilte herbei um sie zu empfangen. Es regnete Umarmungen und gutmütige Witzeleien der Begrüßung.
Wo zum Teufel hast du gesteckt, dass du dich mehr als drei Monate nicht hast blicken lassen?
"Frag mich jetzt mein Schatz! Ok! Lustiges Volk! Was soll ich schon gemacht haben? Das sind Geschichten aus meiner Vergangenheit!"
"Aber wo warst du solange vergraben, Mädchen?"
"In Jacarepaguá."
"Mit wem"
"Mit Firmo."
"Ah! Da ist immer noch was?"
"Schweig! Die Sache ist jetzt ernst!"
"Welcher! Derselbe? Du? Los, rück raus mit der Sprache!"
"Die Liebschaften von Rita!", lachte Bruno. Eine jedes Jahr, ohne die Liebeleien mitzuzählen."
"Nein, das stimmt nicht! Wenn ich mit einem Mann zusammen bin, dann schaue ich nicht nach anderen!"
Leocádia, der in die Mulattin vernarrt war, sprang ihr sofort an den Hals, und jetzt, vor ihr stehend, die Hände an den Hüften, die Augen feucht vor Rührung, ohne sich an ihr satt sehen zu können, stellte ihr Fragen über Fragen:
"Aber warum ziehst du nicht schlussendlich zu ihm? Warum heiratest du ihn nicht?"
"Heiraten?", erwiderte Rita. Darauf fällt die Tochter ihres Vaters nicht herein! Heiraten? Gott bewahr! Für was? Um sich festnehmen zu lassen? Ein Ehemann ist schlimmer als der Teufel. Er denkt sofort,dass man seine Sklavin ist! Nichts da! Nie! Gott bewahr! Es gibt nichts besseres als sein eigener Herr zu sein und selber bestimmen zu können!
Dabei schüttelte sie den ganzen Körper mit einem Ausdruck der Verachtung, der für sie typisch war.
"Du machst mich noch wahnsinnig!", warf lachend ein, schlaff in ihrer faulen Ehrenhaftigkeit.
Auch sie fand Rita Baiana unendlich lustig und sie wäre in der Lage gewesen, ihr einen ganzen Tag zuzuschauen wenn sie einen Chorada tanzt.
Florinda half der Mutter das Mittag Essen zuzubereiten, als sie hörte dass die Mulattin gekommen war, lief sie schnell herbei, lachte schon von weitem, fiel ihr in die Arme.
Selbst Marciana, die normalerweise traurig und in sich gekehrt war, erschien am Fenster um sie zu begrüßen. Das Dores, mit über den Hüften gefaltetem Rock und einem Tuch, das hinten zusammengefaltet war und als Schürze diente, das Haar noch ungekämmt, aber auf dem Kopf zusammengebunden, unterbrach den Hauputz und kam um Rita zu begrüßen, sie zu tätscheln und ihr ins Gesicht zu sagen:
"Dieses mal hast du es aber übertrieben, was, verdammte Mulattinn?"
Und beide kugelten sich vor lachen, umarmten sich mit der Vertrautheit von Freundinnen, die in Liebesangelegenheiten keine Geheimnisse voreinander hatten.
Die Hexe kam schweigend heran, öffnete die Ritas Hand und ging dann wieder weg.
"Hör mal, Hexenmeisterin!", rief letztere und gab einen Klaps auf die Schulter der Schwachsinnigen. Warum betest du so viel Tante Paula? Ich will dass du mir einen Zauberspruch gibst, damit ich einen Mann nehme!
Für jeden hatte sie einen Satz parat. Als sie Dona Isabel sah, die feierlich gekleidet mit ihrem Rock, mit dem sie in die Kirche ging, ihrem alten Macau Schal, eintrat, umarmte sie sie und bat um eine Prise Tabak, was die Frau ihr brummend verweigerte:
"Du bist des Teufels!"
"Kommt Pombinha?", fragte die Mulattin.
Aber just in diesem Moment trat Pombinha aus der Tür, hübsch und gepflegt mit einem neuen Kleid aus Samt. Die Hände beschäftigt mit dem Gebetsbuch, dem Halstuch und dem Sonnenschirm.
"Wie elegant sie ist!", rief Rita und schüttelte den Kopf, "sie ist geradezu eine Blume." Und als Pombinha ihn ihrer Reichweite war, umfasste sie sie an den Hüften und gab ihr einen Kuss. "Wenn João Costa dich nicht glücklich wie einen Engel macht, dann bringe ich es fertig ihm den Schädel zu spalten mit einem Fusstritt! Das schwöre ich bei den Haaren meines Mannes!
"Und dann fragte sie leise und ernst Dona Isabel: "Hast du es schon gesehen?", was die Alte verneinte mit einem untröstlichen und stummen fecheln mit den Ohren.
Alexandre, wie immer sich reserviert gebend, begnügte sich damit, ohne sein gravitätisches Gebaren aufzugeben, die Mulattin mit der Hand zu grüßen, was diese, worüber er sich ärgerte, unter lautem Gelächter mit einem militärischen Gruß erwiderte.
Man hätte den Vorfall kommentiert, aber Rita drehte sich um rief:
"Schau an, der alte Libório! Genau so stur wie früher! Der jüdische Dämon will einfach nicht aufgeben!"
Und rannte dahin, wo sich ein Achtzigjähriger, trocken wie eine durch das Alter vertrocknete Mumie, in der schönen Aprilsonne wärmte und den Rest einer Pfeife rauchte, deren Stil in einem Mund ohne Lippen verschwand.
"Hey, hey", machte er, als die Mulattin sich näherte.
"Nun?" fragte Rita und bückte sich um ihm auf die Schulter zu klopfen, "wie ist das mit unserem Geschäft? Aber du musst mich zuerst mal das Kästchen mit den Blättern öffnen lassen!"
Libóriu lachte mit dem Zahnfleisch, versuchte dabei die Schenkel von Baiana zu berühren, auf eine spöttische Art, und dabei Erregung vortäuschend.
Alle fanden die Geste des Alten lustig und die Mulattin, um den Scherz weiter zu treiben, drehte sich um ließ den Rock fliegen und bewegte ihn über seinem Kopf, während er so tat als ob er verärgert wäre und heftig schnaubte, hin und her.
In dem ganzen Trubel der durch ihre Rückkehr in die Mietskaserne entstanden war, erzählte Rita was sie in der Zeit ihrer Abwesenheit getan hatte. ?Sie erzählte, wie sie in Jacarepaguá gefeiert hatte, was sie am Fasnachtsdonnerstag gemacht hatte. Drei verrückte Monate! Am Schluss erzählte sie den Freundinnen, mit leiser Stimme, ein Geheimnis. Nachts wird es einen Pagodinho auf der Guitarra geben. Sie könnten sich darauf verlassen.
Diese Nachricht löste einen wahren Jubel im Publikum aus. Die Feierlichkeiten von Rita Baiana waren immer die besten der Mietskaserne. Niemand außere dem Teufel einer Mulattin konnte Feiern organisieren, die bis in die späten Morgenstunden andauerten und bei der die Leute danach nicht wussten, wie die Nacht so schnell vorüber gegangen war. Der Gipfel war diese Freigibigkeit. Solange Geld oder Kredit da war, starb niemand mit leerem Magen oder mit trockener Kehle.
"Sag mir Leocadinha, wer sind die Gestalten, die jetzt in Nummer 35 sind", fragte sie, als sie Jerônimo mit seiner Frau an der Tür sah.
"Das sind Jeromo und Piedade, ein Ehepaar, das du noch nicht kennst. Sie sind gekommen nachdem du weg warst. Friedliche Leute, zurückhaltend!"
Rita trug die Sachen, die sie gbracht hatte, in ihr Zimmer, öffnete dann das Fenster und begann zu singen. Ihre Anwesenheit erfüllte die ganze Mietskaserne mit Freude.
Firmo, der Mulatte mit dem sie jetzt zusammen war, der Dämon, der sie zu jenen Verrücktheiten in Jacarepaguá verleitete, sollte an diesem Abend mit einem Freund zum Essen kommen. Rita erzählte das ihren Freundinnen, während sie ein Messer am Stein ihrer Tür schärfte um den Fisch zu entschuppen, während die Katzen, dieselben, die den Sardinenverkäufer verfolgten, eine nach der anderen beim Klang des Schleifens der Messer, herankamen.
Zur Rechten des Häuschens der Mulattin, in der Nummer 8, das Dores bereitete sich auch vor um ihren Freund zu empfangen und machte eine Generalreinigung der Wände, der Decke, des Bodens und der Möbel, bevor sie anfing das Essen zuzubereiten. Barfuß, den Rock hochgezogen bis zum Knie, ein Handtuch um den Kopf gewunden, die Ärmel hochgekrempelt, sah man wie sie vom Haus zum Hahn und vom Hahn zum Haus lief und schwere, mit Wasser gefüllte Eimer schleppte. Schon nach kurzer Zeit kamen Helfer, sowohl bei Rita wie auch bei das Dores, die bei der Vorbereitung des Essens ohne Lohn Hilfe leisteten. Albino machte sich daran das Haus von Rita zu kehren und aufzuräumen, während die Mulattin das Gebäck zubereitete, so wie es aus dem Norden Brasiliens kannte. Es kam Florinda, Leocádia, Augsta, alle gespannt auf die Feier wartend, die Nachts, nach dem Essen, stattfinden sollte. Pombinha erschien den ganzen Tag nicht, weil sie sehr beschäftigt war mit der Korrespondenz der Arbeiter und der Wäscherinnen. Eine Arbeit, die sie immer sonntags erledigte.
An ihrem kleinen Tisch sitzend, der bedeckt war mit einem Tischtuch, das Tintenfass neben dem Stappel Papier, schrieb das Mädchen auf, was der Absender des Briefes mit lauter Stimme diktierte oder was er seiner Familie oder einem säumigen Schuldner, für den sie die Wäsche gewaschen hatte, sagen wollte. Das alles warf sie auf's Papier, brachte hier und da kleine Verbesserungen an, um den Grundgedanken besser auszudrücken. War der Brief einmal fertig, schrieb sie ihn nochmal ab, gab ihn dem Absender und rief den nächten, so dass sie immer nur mit einem war, weil keiner wollte, dass die anderen erfahren, was sie Pombinha diktierten. Das arme Mädchen häufte also in ihrem unerfahrenen Herz die ganze Summe jener Leidenschaften und Aversionen an, von denen manche einen stärkeren Gestank absonderten als ein Sumpf an heißen Tagen.
"Schreiben Sie Frau Pombinha!", sagte ein Arbeiter des Steinbruchs und kratzte sich am Kopf, "aber schreib in großen Buchstaben, damit die Frau das auch versteht! Sag ihr, dass ich das Geld für die Feier, um das sie mich bat nicht schicken werde, weil ich es im Moment nicht habe und in einer schwierigen Lage bin. Aber ich verspreche es ihr bis zum Monatsende. Sie soll irgendwie schauen, dass sie klar kommt, Gott weiß, wie ich mich abstrample. Wenn Luís, der Bruder, sich entschließt zu kommen, dann soll er mir das vorhere sagen, damit man sieht, ob man ihn hier untebringen kann. Hierher zu kommen ohne zu wissen, wohin man gehen kann, ist ein schlechtes Geschäft, denn die Dinge laufen hier nicht, wie sie sollen!"
Und nachdem Pombinha das geschrieben hatte, fügte er hinzu:
"Ich fühle, wie sehr sie mir fehlt, bin aber immer noch der alte und mache keine Schweinereien oder bin faul. Ich versuche, sie kommen zu lassen, sobald mir Gott und die Jungfrau hilft! Sie soll sich nicht ärgern, dass jetzt kein Geld beiliegt. Wie man sagt: Wenn der König nichts hat, hat, verlierst du! Ah, fast hätte ich es vergessen, was Libânia angeht, soll sie die Konsequenzen aus den Tatsachen ziehen, vor die Hunde gegangen ist und heute in der Straße São Jorge und dort einen liederlichen Lebenswandel hat. Die zwei Kronen, die sie ihr ausgeliehen hat, soll sie als Liebesgabe abschreiben.
Das Mädchen schrieb alles auf, hielt nur kurz an um den Arbeiter anzuschauen, bis dieser den nächsten Satz diktierte. |
VII
E assim ia correndo o domingo no cortiço até às três da tarde, horas em que
chegou mestre Firmo, acompanhado pelo seu amigo Porfiro, trazendo aquele o
violão e o outro o cavaquinho.
Firmo, o atual amante de Rita Baiana, era um mulato pachola, delgado de
corpo e ágil como um cabrito; capadócio de marca, pernóstico, só de maçadas, e
todo ele se quebrando nos seus movimentos de capoeira. Teria seus trinta e
tantos anos, mas não parecia ter mais de vinte e poucos. Pernas e braços finos,
pescoço estreito, porém forte; não tinha músculos, tinha nervos. A respeito de
barba, nada mais que um bigodinho crespo, petulante, onde reluzia cheirosa a
brilhantina do barbeiro; grande cabeleira encaracolada, negra, e bem negra,
dividida ao meio da cabeça, escondendo parte da testa e estufando em grande
gaforina por debaixo da aba do chapéu de palha, que ele punha de banda,
derreado sobre a orelha esquerda.
Vestia, como de costume, um paletó de lustrina preta já bastante usado,
calças apertadas nos joelhos, mas tão largas na bainha que lhe engoliam os
pezinhos secos e ligeiros. Não trazia gravata, nem colete, sim uma camisa de
chita nova e ao pescoço, resguardando o colarinho, um lenço alvo e perfumado;
à boca um enorme charuto de dois vinténs e na mão um grosso porrete de
Petrópolis, que nunca sossegava, tantas voltas lhe dava ele a um tempo por entre
os dedos magros e nervosos.
Era oficial de torneiro, oficial perito e vadio; ganhava uma semana para
gastar num dia; às vezes, porém, os dados ou a roleta multiplicavam-lhe o
dinheiro, e então ele fazia como naqueles últimos três meses: afogava-se numa
boa pândega com a Rita Baiana. A Rita ou outra. “O que não faltava por aí eram
saias para ajudar um homem a cuspir o cobre na boca do diabo!” Nascera no Rio
de Janeiro, na Corte; militara dos doze aos vinte anos em diversas maltas de
capoeiras; chegara a decidir eleições nos tempos do voto indireto. Deixou nome
em várias freguesias e mereceu abraços, presentes e palavras de gratidão de
alguns importantes chefes de partido. Chamava a isso a sua época de paixão
política; mas depois desgostou-se com o sistema de governo e renunciou às lutas
eleitorais, pois não conseguira nunca o lugar de continuo numa repartição
pública — o seu ideal! —Setenta mil-réis mensais: trabalho das nove às três.
Aquela amigação com a Rita Baiana era uma coisa muito complicada e
vinha de longe; vinha do tempo em que ela ainda estava chegadinha de fresco da
Bahia, em companhia da mãe, uma cafuza dura, capaz de arrancar as tripas ao
Manduca da Praia. A cafuza morreu e o Firmo tomou conta da mulata; mas
pouco depois se separaram por ciúmes, o que aliás não impediu que se
tornassem a unir mais tarde, e que de novo brigassem e de novo se procurassem.
Ele tinha “paixa” pela Rita, e ela, apesar de volúvel como toda a mestiça, não
podia esquecê-lo por uma vez; metia-se com outros, é certo, de quando em
quando, e o Firmo então pintava o caneco, dava por paus e por pedras, enchia-a
de bofetadas, mas, afinal, ia procurá-la, ou ela a ele, e ferravam-se de novo, cada
vez mais ardentes, como se aquelas turras constantes reforçassem o combustível
dos seus amores.
O amigo que Firmo trazia aquele domingo em sua companhia, o Porfiro, era
mais velho do que ele e mais escuro. Tinha o cabelo encarapinhado. Tipógrafo.
Afinavam-se muito os dois tipos com as suas calças de boca larga e com os seus
chapéus ao lado; mas o Porfiro tinha outra linha: não dispensava a sua gravata
de cor saltando em laço frouxo sobre o peito da camisa; fazia questão da sua
bengalinha com cabeça de prata e da sua piteira de âmbar e espuma, em que ele
equilibrava um cigarro de palha.
Desde a entrada dos dois, a casa de Rita esquentou. Ambos tiraram os
paletós e mandaram vir parati, “a abrideira para muqueca baiana”. E não tardou
que se ouvissem gemer o cavaquinho e o violão.
Ao lado chegava também o homem da das Dores, com um companheiro do
comércio; vinham vestidos de fraque e chapéu alto. A Machona, Nenen e o
Agostinho, já de volta do seu passeio à cidade, lá estavam ajudando. Ficariam
para o rega-bofe.
Um rumor quente, de dia de festa, ia-se formando naquele ponto da
estalagem.
Tanto numa casa, como na outra, o jantar seria às cinco horas. Rita “botou”
vestido branco, de cambraia, encanudado a ferro. Leocádia, Augusta, o Bruno, o
Alexandre e o Albino jantariam com ela no número 9; e no número 8, com a das
Dores, ficariam, além dos parentes desta, Dona Isabel, Pombinha, Marciana e
Florinda.
Jerônimo e sua mulher foram convidados para ambas as mesas, mas não
aceitaram o convite para nenhuma, dispostos a passar a tarde ao lado um do
outro, tranqüilamente como sempre, comendo em boa paz o seu cozido à moda
da terra e bebendo o seu quartilho de verde pela mesma infusa.
Entretanto, os dois jantares vizinhos principiaram ruidosos logo desde a
sopa e assanharam-se progressivamente.
Meia hora depois vinha das duas casas uma algazarra infernal. Falavam e
riam todos ao mesmo tempo; tilintavam os talheres e os copos. Cá de fora
sentia-se perfeitamente o prazer que aquela gente punha em comer e beber à
farta, com a boca cheia, os beiços envernizados de molho gordo. Alguns cães
rosnavam à porta, roendo os ossos que traziam lá de dentro. De vez em quando,
da janela de uma das casas aparecia uma das moradoras, chamando a vizinha,
para entregar um prato cheio, permutando as duas entre si os quitutes e as
petisqueiras em que eram mais peritas.
— Olha! gritava a das Dores para o número 9, diz à Rita que prove deste
zorô, pra ver que tal o acha, e que o vatapá estava muito gostoso! Se ela tem
pimentas, que me mande algumas!
Do meio para o fim do jantar o baralho em ambas as casas era medonho. No
número 8 berravam-se brindes e cantos desafinados. O português amigo da das
Dores, já desengravatado e com os braços à mostra, vermelho, lustroso de suor,
intumescido de vinho virgem e leitão de forno, repotreava-se na sua cadeira, a
rir forte, sem calar a boca, com a camisa a espipar-lhe pela braguilha aberta. O
sujeito que a acompanhara fazia fosquinhas a Nenen, protegido no seu namoro
por toda a roda, desde a respeitável Machona até ao endemoninhado Agostinho,
que não ficava quieto um instante, nem deixava sossegar a mãe, gritando um
contra o outro como dois possessos. Florinda, sempre muito risonha e esperta,
divertia-se a valer e, de vez em quando, levantava-se da mesa, para ir de carreira
levar lá fora ao número 12 um prato de comida à sua velha que, à última hora,
vindo-lhe o aborrecimento, resolvera não ir ao jantar. À sobremesa o esfogueado
amigo da dona da casa exigiu que a amante se lhe assentasse nas coxas e
dava-lhe beijos em presença de toda a companhia, o que fez com que Dona
Isabel, impaciente por afastar a filha daquele inferno, declarasse que sentia
muito calor e que ia lá para a porta esperar mais à fresca o café.
Em casa de Rita Baiana a animação era inda maior. Firmo e Porfiro faziam
o diabo, cantando, tocando bestialógicos, arremedando a fala dos pretos
cassanges. Aquele não largava a cintura da mulata e só bebia no mesmo copo
com ela; o outro divertia-se a perseguir o Albino, galanteando-o afetadamente,
para fazer rir à sociedade. O lavadeiro indignava-se, dava o cavaco”. Leocádia,
a quem o vinho produzira delírios hilaridade, torcia-se em gargalhadas, tão
fortes e sacudidas que desconjuntavam a cadeira em que ela estava; e, muito
lubrificada pela bebedeira, punha os pesados pés sobre os de Porfiro, roçando as
pernas contra as dele e deixando-se apalpar pelo capadócio. O Bruno, defronte
dela, rubro e suado como se estivesse a trabalhar na forja, falava e gesticulava
sem se levantar, praguejando ninguém sabia contra quem. O Alexandre, à
paisana, assentado ao lado da mulher, conservava quase toda a sua seriedade e
pedia que não fizessem tanto barulho porque podiam ouvir da rua. E notou, em
voz misteriosa, que o Miranda tinha vindo já espiar por várias vezes da janela do
sobrado.
— Que espie as vezes que quiser! bradou a Rita. Pois então a gente não é
senhora de estar um domingo em casa a seu gosto e com os amigos que
entender?!... Que vá pro diabo que o lixe! Eu não como nem bebo do que é dele!
Os dois mulatos e o Bruno também eram da mesma opinião. “Pois então!
Desde que se não ofendia, nem prejudicava a safardana nenhum com aquele
divertimento, não havia de que falar!”
— E que não entiquem muito, ameaçou o Firmo, que comigo é nove! E o
trunfo é paus!
O Porfiro exclamou:
— Se se incomodam com a gente... os incomodados são os que se mudam!
Ora pistolas!
— O domingo fez-se pra gozar!... resmungou o Bruno, deixando cair a
cabeça nos braços cruzados sobre a mesa.
Mas ergueu-se logo, cambaleando, e acrescentou, despindo o braço direito
até o ombro:
— Eles que se façam finos, que os racho!
O Alexandre procurou acalmá-lo, dando-lhe um charuto.
Em uma outra casinha do cortiço acabava de estalar uma nova sobremesa,
engrossando o barulho geral: era o jantar de um grupo de italianos mascates,
onde o Delporto, o Pompeo, o Francesco e o Andréa representavam as principais
figuras. Todos eles cantavam em coro, mais afinados que nas outras duas casas;
quase, porém, que se lhes não podia ouvir as vozes, tantas e tão estrondosas
eram as pragas que soltavam ao mesmo tempo. De quando em quando, de entre
o grosso e macho vozear dos homens, esguichava um falsete feminino, tão
estridente que provocava réplica aos papagaios e aos perus da vizinhança. E,
daqui e dali, iam rebentando novas algazarras em grupos formados cá e lá pela
estalagem. Havia nos operários e nos trabalhadores decidida disposição para
pandegar, para aproveitar bem, até ao fim, aquele dia de folga. A casa de pasto
fermentava revolucionada, como um estômago de bêbedo depois de grande
bródio, e arrotava sobre o pátio uma baforada quente e ruidosa que entontecia.
O Miranda apareceu furioso à janela, com o seu tipo de comendador, a
barriga empinada para a frente, de paletó branco, um guardanapo ao pescoço e
um trinchante empunhado na destra, como uma espada.
— Vão gritar pra o inferno, com um milhão de raios! berrou ele, ameaçando
para baixo. Isto também já é demais! Se não se calam, vou daqui direito chamar
a policia! Súcia de brutos!
Com os berros do Miranda muita gente chegou à porta de casa, e o coro de
gargalhadas, que ninguém podia conter naquele momento de alegria, ainda mais
o pôs fora de si.
— Ah, canalhas! O que eu devia fazer era atirar-lhes daqui, como a cães
danados!
Uma vaia uníssona ecoou em todo o pátio da estalagem, enquanto em volta
do negociante surgiam várias pessoas, puxando-o para dentro de casa.
— Que é isso, Miranda! Então! Estás agora a dar palha?...
— O que eles querem é que encordoes!...
— Saia daí papai!
— Olhe alguma pedrada, esta gente é capaz de tudo!
E via-se de relance Dona Estela, com a sua palidez de flor meia fanada, e
Zulmira, lívida, um ar de fastio a fazê-la feia, e o Henriquinho, cada vez mais
bonito, e o velho Botelho, indiferente, a olhar para toda esta porcaria do mundo
com o profundo desprezo dos que já não esperam nada dos outros, nem de si
próprios.
— Canalhas! repisava o Miranda.
O Alexandre, que fora de carreira enfiar a sua farda, apresentou-se então e
disse ao negociante que não era prudente atirar insultos cá pra baixo. Ninguém o
tinha provocado! Se os moradores da estalagem jantavam em companhia de
amigos, lá em cima o Miranda também estava comendo com os seus
convidados! Era mau insultar, porque palavra puxa palavra, e, em caso de ter de
depor na policia, ele, Alexandre, deporia a favor de quem tivesse razão!...
— Fomente-se! respondeu o negociante, voltando-lhe as costas.
— Já se viu chubregas mais atrevido?! exclamou Firmo, que até ai estivera
calado, à porta da Rita, com as mãos nas cadeiras, a fitar provocadoramente o
Miranda.
E gritando mais alto, para ser bem ouvido:
— Facilita muito, meu boi manso, que te escorvo os galhos na primeira
ocasião!
O Miranda foi arrancado com violência da janela, e esta fechada logo em
seguida com estrondo.
— Deixa lá esse labrego! resmungou Porfiro, tomando o amigo pelo braço e
fazendo-o recolher-se à casa da mulata. Vamos ao café, é o que é, antes que
esfrie!
Defronte da porta de Rita tinham vindo postar-se diversos moradores do
cortiço, jornaleiros de baixo salário, pobre gente miserável, que mal podia matar
a fome com o que ganhava. Ainda assim não havia entre eles um só triste. A
mulata convidou-os logo a comer um bocado e beber um trago. A proposta foi
aceita alegremente.
E a casa dela nunca se esvaziava.
Anoitecia já.
O velho Libório, que jamais ninguém sabia ao certo onde almoçava ou
jantava, surgiu do seu buraco, que nem jabuti quando vê chuva.
Um tipão, o velho Libório! Ocupava o pior canto do cortiço e andava
sempre a fariscar os sobejos alheios, filando aqui, filando ali, pedindo a um e a
outro, como um mendigo, chorando misérias eternamente, apanhando pontas de
cigarro para fumar no cachimbo, cachimbo que o sumítico roubara de um pobre
cego decrépito. Na estalagem diziam todavia que Libório tinha dinheiro
aferrolhado, contra o que ele protestava ressentido, jurando a sua extrema
penaria. E era tão feroz o demônio naquela fome de cão sem dono, que as mães
recomendavam às suas crianças todo o cuidado com ele, porque o diabo do
velho, quando via algum pequeno desacompanhado, punha-se logo a rondá-lo, a
cercá-lo de festas e a fazer-lhe ratices para o engabelar, até conseguir furtar-lhe
o doce ou o vintenzinho que o pobrezito trazia fechado na mão.
Rita fê-lo entrar e deu-lhe de comer e de beber; mas sob condição de que o
esfomeado não se socasse demais, para não rebentar ali mesmo.
Se queria estourar, fosse estourar para longe!
Ele pôs-se logo a devorar, sofregamente, olhando inquieto para os lados,
como se temesse que alguém lhe roubasse a comida da boca. Engolia sem
mastigar, empurrando os bocados com os dedos, agarrando-se ao prato e
escondendo nas algibeiras o que não podia de uma só vez meter para dentro do
corpo.
Causava terror aquela sua implacável mandíbula, assanhada e devoradora;
aquele enorme queixo, ávido, ossudo e sem um dente, que parecia ir engolir
tudo, tudo, principiando pela própria cara, desde a imensa batata vermelha que
ameaçava já entrar-lhe na boca, até as duas bochechinhas engelhadas, os olhos,
as orelhas, a cabeça inteira, inclusive a sua grande calva, lisa como um queijo e
guarnecida em redor por uns pêlos puídos e ralos como farripas de coco.
Firmo propôs embebedá-lo, só para ver a sorte que ele daria. O Alexandre e
a mulher opuseram-se, mas rindo muito; nem se podia deixar de rir, apesar do
espanto, vendo aquele resto de gente, aquele esqueleto velho, coberto por uma
pele seca, a devorar, a devorar sem tréguas, como se quisesse fazer provisão
para uma outra vida.
De repente, um pedaço de carne, grande demais para ser ingerido de uma
vez, engasgou-o seriamente. Libório começou a tossir, aflito, com os olhos
sumidos, a cara tingida de uma vermelhidão apoplética. A Leocádia, que era
quem lhe ficava mais perto, soltou-lhe um murro nas costas.
O glutão arremessou sobre a toalha da mesa o bocado de carne já meio
triturado.
Foi um nojo geral.
— Porco! gritou Rita, arredando-se.
— Pois se o bruto quer socar tudo ao mesmo tempo! disse Porfiro. Parece
que nunca viu comida, este animal!
E notando que ele continuava ainda mais sôfrego por ter perdido um
instante:
— Espere um pouco, lobo! Que diabo! A comida não foge! Há muito ai
com que te fartares por uma vez! Com efeito!
— Beba água, tio Libório! aconselhou Augusta.
E, boa, foi buscar um copo de água e levou-lho a boca.
O velho bebeu, sem despregar os olhos do prato.
Arre diabo! resmungou Porfiro, cuspindo para o lado. Este é mesmo capaz
de comer-nos a todos nós, sem achar espinhas!
Albino, esse, coitado! é que não comia quase nada e o pouco que conseguia
meter no estômago fazia-lhe mal. Rita, para bolir com ele, disse que semelhante
fastio era gravidez com certeza.
— Você já começa, hein?... balbuciou o pobre moço, esgueirando-se com a
sua xícara de café.
— Olha, cuidado! gritou-lhe a mulata. Pouco café, que faz mal ao leite, e a
criança pode sair trigueira!
O Albino voltou para dizer muito sério à Rita que não gostava dessas
brincadeiras.
Alexandre, que havia acendido um charuto, depois de oferecer outros,
galantemente, aos companheiros, arriscou, para também fazer a sua pilhéria, que
o sonso do Albino fora pilhado às voltas com a Bruxa no capinzal dos fundos da
estalagem, debaixo das mangueiras.
Só a Leocádia achou graça nisto e riu a bandeiras despregadas. Albino
declarou, quase chorando, que ele não mexia com pessoa alguma, e que
ninguém, por conseguinte, devia mexer com ele.
— Mas afinal, perguntou Porfiro, é mesmo exato que este pamonha não
conhece mulher?...
— Ele é quem pode responder! acudiu a mulata. E esta história vai ficar
hoje liquidada! Vamos lá, ó Albino! confessa-nos tudo, ou mal te terás de haver
com a gente!
— Se eu soubesse que era para isto que me chamaram não tinha vindo cá,
sabe? gaguejou o lavadeiro, amuado. Eu não sirvo de palito!
E ter-se-ia retirado chorando, se a Rita não lhe cortasse a saída, dizendo,
como se falasse a uma criatura do seu sexo, mais fraca do que ela:
— Ora não sejas tolo! Deixa-te ficar ai! Se deres o cavaco é pior!
Albino limpou as lágrimas e foi sentar-se de novo.
Entretanto, a noite fechava-se, refrescando a tarde com o sudoeste. Bruno
roncava no lugar em que tinha jantado. A Leocádia passara livremente a perna
para cima da de Porfiro, que a abraçava, bebendo parati aos cálices.
Mas o Firmo lembrou que seria melhor irem lá para fora; e todos, menos o
Bruno, dispuseram-se a deixar a sala, enquanto o velho Libório! pedia a
Alexandre um cigarro para despejar no cachimbo. Servido, o filante desapareceu
logo, correndo ao faro de outros jantares. Rita, Augusta e Albino ficaram
lavando a louça e arrumando a casa.
Lá fora o coro dos italianos se prolongava numa cadência monótona e
arrastada, em que havia muito peso de embriaguez. Junto à porta de várias casas
faziam-se grupos de pessoas assentadas em cadeiras ou no chão; mas a roda da
Rita Baiana era a maior, porque fora engrossada pelos convivas da das Dores. O
fumo dos cachimbos e dos charutos elevava-se de toda a parte. Decrescera o
ruído geral; fazia-se a digestão; já ninguém discutia e todos conversavam.
Acendeu-se o lampião do pátio. Iluminaram-se diversas janelas das
casinhas.
Agora, no sobrado do Miranda é que era o maior barulho. Saia de lá uma
terrível gritaria de hipes e hurras, virgulada pelo desarrolhar de garrafas de
champanha.
— Como eles atacam!... observou Alexandre, já de novo sem farda.
— E, no entanto, reprovam que a gente coma o que é seu com um pouco
mais de alegria! comentou a Rita. Uma súcia!
Falou-se então largamente a respeito da família do Miranda, principalmente
de Dona Estela e do Henrique. A Leocádia afiançou que, numa ocasião,
espiando por cima do muro, trepada num montão de garrafas vazias que havia
no pátio do cortiço, vira a sirigaita com a cara agarrada à do estudante, aos
beijos e aos abraços, que era obra; e assim que os dois deram fé que ela os
espreitava, deitaram a fugir que nem cães apedrejados.
A Augusta Carne-Mole benzeu-se, com uma invocação à Virgem
Santíssima, e o companheiro do amigo da das Dores, que insistia no seu namoro
com a Nenen, mostrou-se muito admirado com a noticia, “supunha Dona Estela
um modelo de seriedade”.
— Qual! negou Alexandre. Isso por ai é tudo uma pouca-vergonha, que faz
descrer um homem de si mesmo! Eu também já vi de uma feita bem boas coisas
pela sombra dela na parede; mas não era com o estudante, era com um sujeito
que lá ia às vezes, um barbado, careca e comido de bexigas. E a pequena vai
pelo mesmo conseguinte...
Esta novidade produziu grande surpresa no grupo inteiro. Quiseram os
pormenores e o Alexandre não se fez de rogado: o namoro da Zulmira era com
um rapazola magro, de lunetas, bigode louro, bem vestido, que lhe rondava a
casa à noite e às vezes de madrugada. Parecia estudante!
— O que eles têm feito? inquiriu a das Dores.
— Por enquanto a coisa não passa de namorico da janela para a rua.
Conversam sempre naquela última do lado de lá de fora. Já os tenho apreciado
quando estou de serviço. Ele fala muito em casamento e a pequena o quer; mas,
pelo jeito, o velho é que lhe corta as asas.
— Ele não tem entrada na casa?
— Não! Pois isso é que eu acho feio...! Se ele quer casar com a menina,
devia entender-se com a família e não estar agora daqui debaixo a fazer-lhe
fosquinhas!
— Sim, intrometeu-se o Firmo; mas não vê que aquele mesmo, o Miranda,
vai dar a filha a um estudante! Guarda-a para um dos seus... Quem sabe até se o
bruto não tem já de olho por ai algum cafezista pé-de-boi!... Eu sei o que é essa
gente!
— Por isso é que se vê tanta porcaria por esse mundo de Cristo! disse a
Augusta. Filha minha só se casará com quem ela bem quiser; que isto de
casamentos empurrados à força acabam sempre desgraçando tanto a mulher
como o homem! Meu marido é pobre e é de cor, mas eu sou feliz, porque casei
por meu gosto!
— Ora! Mais vale um gosto que quatro vinténs!
Nisto começou a gemer à porta do 35 uma guitarra; era de Jerônimo. Depois
da ruidosa alegria e do bom humor, em que palpitara àquela tarde toda a
república do cortiço, ela parecia ainda mais triste e mais saudosa do que nunca:
“Minha vida tem desgostos,
Que só eu sei compreender...
Quando me lembro da terra
Parece que vou morrer...”
E, com o exemplo da primeira, novas guitarras foram acordando. E, por fim,
a monótona cantiga dos portugueses enchia de uma alma desconsolada o vasto
arraial da estalagem, contrastando com a barulhenta alacridade que vinha lá de
cima, do sobrado do Miranda.
“Terra minha, que te adoro,
Quando é que eu te torno a ver?
Leva-me deste desterro;
Basta já de padecer.”
Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos desterrados, iam todos,
até mesmo os brasileiros, se concentrando e caindo em tristeza; mas, de repente,
o cavaquinho do Porfiro, acompanhado pelo violão do Firmo, romperam
vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais que os primeiros acordes da
música crioula para que o sangue de toda aquela gente despertasse logo, como se
alguém lhe fustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outras notas, e
outras, cada vez mais ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos
que soavam, eram lúbricos gemidos e suspiros soltos em torrente, a correrem
serpenteando, como cobras numa floresta incendiada; eram ais convulsos,
chorados em frenesi de amor; música feita de beijos e soluços gostosos; carícia
de fera, carícia de doer, fazendo estalar de gozo.
E aquela música de fogo doidejava no ar como um aroma quente de plantas
brasileiras, em torno das quais se nutrem, girando, moscardos sensuais e
besouros venenosos, freneticamente, bêbedos do delicioso perfume que os mata
de volúpia.
E à viva crepitação da música baiana calaram-se as melancólicas toadas dos
de além-mar. Assim à refulgente luz do trópicos amortece a fresca e doce
claridade dos céus da Europa, como se o próprio sol americano, vermelho e
esbraseado, viesse, na sua luxúria de sultão, beber a lágrima medrosa da decaída
rainha dos mares velhos.
Jerônimo alheou-se de sua guitarra e ficou com as mãos esquecidas sobre as
cordas, todo atento para aquela música estranha, que vinha dentro dele continuar
uma revolução começada desde a primeira vez em que lhe bateu em cheio no
rosto, como uma bofetada de desafio, a luz deste sol orgulhoso e selvagem, e lhe
cantou no ouvido o estribilho da primeira cigarra, e lhe acidulou a garganta o
suco da primeira fruta provada nestas terras de brasa, e lhe entonteceu a alma o
aroma do primeiro bogari, e lhe transtornou o sangue o cheiro animal da
primeira mulher, da primeira mestiça, que junto dele sacudiu as saias e os
cabelos.
— Que tens tu, Jeromo?... perguntou-lhe a companheira, estranhando-o.
— Espera, respondeu ele, em voz baixa: deixa ouvir!
Firmo principiava a cantar o chorado, seguido por um acompanhamento de
palmas.
Jerônimo levantou-se, quase que maquinalmente, e seguido por Piedade,
aproximou-se da grande roda que se formara em torno dos dois mulatos. Ai, de
queixo grudado às costas das mãos contra uma cerca de jardim, permaneceu,
sem tugir nem mugir, entregue de corpo e alma àquela cantiga sedutora e
voluptuosa que o enleava e tolhia, como à robusta gameleira brava o cipó
flexível, carinhoso e traiçoeiro.
E viu a Rita Baiana, que fora trocar o vestido por uma saia, surgir de ombros
e braços nus, para dançar. A lua destoldara-se nesse momento, envolvendo-a na
sua coma de prata, a cujo refulgir os meneios da mestiça melhor se acentuavam,
cheios de uma graça irresistível, simples, primitiva, feita toda de pecado, toda de
paraíso, com muito de serpente e muito de mulher.
Ela saltou em meio da roda, com os braços na cintura, rebolando as ilhargas
e bamboleando a cabeça, ora para a esquerda, ora para a direita, como numa
sofreguidão de gozo carnal, num requebrado luxurioso que a punha ofegante; já
correndo de barriga empinada; já recuando de braços estendidos, a tremer toda,
como se se fosse afundando num prazer grosso que nem azeite, em que se não
toma pé e nunca se encontra fundo. Depois, como se voltasse à vida, soltava um
gemido prolongado, estalando os dedos no ar e vergando as pernas, descendo,
subindo, sem nunca parar com os quadris, e em seguida sapateava, miúdo e
cerrado, freneticamente, erguendo e abaixando os braços, que dobrava, ora um,
ora outro, sobre a nuca, enquanto a carne lhe fervia toda, fibra por fibra,
tirilando.
Em torno o entusiasmo tocava ao delírio; um grito de aplausos explodia de
vez em quando, rubro e quente como deve ser um grito saído do sangue. E as
palmas insistiam, cadentes, certas, num ritmo nervoso, numa persistência de
loucura. E, arrastado por ela, pulou à arena o Firmo, ágil, de borracha, a fazer
coisas fantásticas com as pernas, a derreter-se todo, a sumir-se no chão, a
ressurgir inteiro com um pulo, os pés no espaço, batendo os calcanhares, os
braços a querer fugirem-lhe dos ombros, a cabeça a querer saltar-lhe. E depois,
surgiu também a Florinda, e logo o Albino e até, quem diria! o grave e
circunspecto Alexandre.
O chorado arrastava-os a todos, despoticamente, desesperando aos que não
sabiam dançar. Mas, ninguém como a Rita; só ela, só aquele demônio, tinha o
mágico segredo daqueles movimentos de cobra amaldiçoada; aqueles requebros
que não podiam ser sem o cheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz
doce, quebrada, harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante.
E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos
enamorados.
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele
recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor
vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas,
que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se
não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o
sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu
azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca
doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele,
assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade
da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha
daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer,
uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e
espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.
Isto era o que Jerônimo sentia, mas o que o tonto não podia conceber. De
todas as impressões daquele resto de domingo só lhe ficou no espírito o
entorpecimento de uma desconhecida embriaguez, não de vinho, mas de mel
chuchurreado no cálice de flores americanas, dessas muito alvas, cheirosas e
úmidas, que ele na fazenda via debruçadas confidencialmente sobre os limosos
pântanos sombrios, onde as oiticicas trescalam um aroma que entristece de
saudade.
E deixava-se ficar, olhando. Outras raparigas dançaram, mas o português só
via a mulata, mesmo quando, prostrada, fora cair nos braços do amigo. Piedade,
a cabecear de sono, chamara-o várias vezes para se recolherem; ele respondeu
com um resmungo e não deu pela retirada da mulher.
Passaram-se horas, e ele também não deu pelas horas que fugiram.
O circulo do pagode aumentou: vieram de lá defronte a Isaura e a Leonor, o
João Romão e a Bertoleza, desembaraçados da sua faina, quiseram dar fé da
patuscada um instante antes de caírem na cama; a família do Miranda pusera-se
à janela, divertindo-se com a gentalha da estalagem; reunira povo lá fora na rua;
mas Jerônimo nada vira de tudo isso; nada vira senão uma coisa, que lhe
persistia no espírito: a mulata ofegante a resvalar voluptuosamente nos braços
do Firmo.
Só deu por si, quando, já pela madrugada, se calaram de todo os
instrumentos e cada um dos folgadores se recolheu à casa.
E viu a Rita levada para o quarto pelo seu homem, que a arrastava pela
cintura.
Jerônimo ficou sozinho no meio da estalagem. A lua, agora inteiramente
livre das nuvens que a perseguiam, lá ia caminhando em silêncio na sua viagem
misteriosa. As janelas do Miranda fecharam-se. A pedreira, ao longe, por detrás
da última parede do cortiço, erguia-se como um monstro iluminado na sua paz.
Uma quietação densa pairava já sobre tudo; só se distinguiam o bruxulear dos
pirilampos na sombra das hortas e dos jardins, e os murmúrios das árvores que
sonhavam.
Mas Jerônimo nada mais sentia, nem ouvia, do que aquela música
embalsamada de baunilha, que lhe entontecera a alma; e compreendeu
perfeitamente que dentro dele aqueles cabelos crespos, brilhantes e cheirosos, da
mulata, principiavam a formar um ninho de cobras negras e venenosas, que lhe
iam devorar o coração.
E, erguendo a cabeça, notou no mesmo céu, que ele nunca vira senão depois
de sete horas de sono, que era já quase ocasião de entrar para o seu serviço, e
resolveu não dormir, porque valia a pena esperar de pé. |
VII
So verging der Sonntag in der Mietskaserne bis um drei Uhr nachmittags, als Meister Firmo, in Begleitung seines Freundes Porfiro kam, der seine Guitarre und eine Ukulele mitbrachte.
Firmo, der derzeitige Liebhaber von Rita Baiana, war ein lustiger Geselle, schlank und flink wie eine Ziege. Er stammte aus Capadócia, war hochnäsig, ein einzigartiger Raufbold, ein drahtiger Körper in den Bewegungen des Capoeira. Er wird wohl dreißig Jahre als gewesen sein, sah abar aus, also ob er kaum älter als dreißig wäre. Die Beine und Arme waren schlank, der Nacken schmal, aber stark. Wenig Muskeln, aber drahtig. Was den Bart anging, hatte er nur einen krausen, kleinen, kecken Schnauzer, glänzend von der wohlriechenden Bartwichse des Friseurs; volles lockiges Haar, schwar, sehr schwarz, mitten einem Mittelscheitel, ein Teil des Kopfes verhüllend, das ungekämmt unter der Krempe seines Strohutes, den er schief, dem linken Ohr zugeneigt, gebunden hatte. Bekleidet war er mit einer reich verzierten Jacke, schon ziemlich abgenutzt, Schuhe, die bis zum Knie reichten, wobei der Saum so weit war, dass man nichts sa von seinen zierlichen, leichten Füßen. Er trug weder Kravatte noch eine Weste, aber ein Hemd aus neuem Kattun und im Nacken ein weißes und parfümiertes Tuch, das den Hals bedeckte. In seinem Mund steckte eine enorme Zigarre zu zweimal 20 Réis und in der Hand einen Schlagstock, den er so oft zwischen seinen mageren und nervösen Fingern drehte, dass dieser nie zur Ruhe kam.
Von Beruf war er Drechsler, im Staatsdienst und müßiggängerisch. Er verdiente in einer Woche, was er an einem Tag ausgab. Manchmal jedoch vervielfachten sich seine Einkünfte durch Würfel oder Roulette und dann machte er das, was in den letzten drei Monaten gemacht hatte. Er tobte sich in aus in einer wilden Party mit Rita Baiana. Mit Rita oder einer anderen. "Was nie fehlt, sind Röcke, die einem Mann helfen das Kupfer in das Maul des Teufels zu spucken!" Er war in Rio de Janeiro, am Hof, geboren. Von seinem zwölften bis zum zwanzigsten Lebensjahr war er Mitglied einer Capoeira Truppe. Er hatte es in den Zeiten der indirekten Wahlen fertig gebracht Wahlen zu entscheiden. Er setzte in verschiedenen Gemeinden Namen auf eine Liste und verdiente sich so Hochachtung, Geschenke und Dankesworte einiger wichtiger Parteichefs. Er nannte das seine Zeit politischer Leidenschaften. Dann aber widerte ihn der Regierungsapparat an und beteiligte sich nicht mehr an Wahlkämpfen, weil er das, was er wollte, eine feste Anstellung im Staatsdienst, seinem Ideal, mit siebzigtausend Réis und Arbeit von neun bis drei nie erreichte.
Die Liebschaft mit Rita Baiana war ein komplizierte Geschichte und reichte weit in die Vergangenheit. Sie entstand in der Zeit, als Rita gerade frisch aus Bahia kam, in Begleitung ihrer Mutter, eine harte Frau, halb Indianerin halb Schwarze, die in der Lage war, selbst Manduca da Praia die Gedärme rauszureissen. Als ihre Mutter starb, nahm Firmo sich der Mulattin an, bald darauf trennten sie sich aber wieder aus Eifersucht, was sie aber nicht daran hinderte, bald wieder ein Paar zu sein, sich wieder zu streiten und sich wieder zu suchen. Er liebte sie leidenschaftlich, und sie, obwohl sie wie alle Mestizen launisch war, konnte ihn nicht vergessen. Sie war mit anderen zusammen, von Zeit zu Zeit, das stimmt, und Firmo wurde dann wild, fuchtelte mit dem Messer und mit Steinen herum, schlug auf sie ein, aber schließlich versuchte er sich mit ihr zu versöhnen, oder sie mit ihm, und sie wurden wieder ein Paar, immer leidenschaftlicher, als ob die ständigen Reibereien den Kraftstoff ihrer Liebe verstärken würde.
Der Freund den Firmo an jenem Tag mitbrachte, Porfiro, war älter als er und dunkler, mit lockigem Haar. Er war Drucker. Die zwei ähnelten sich mit ihrern unten weiten Hosen und den schief aufgesetzten Hüten, aber Porfiro hatte einen anderen Stil. Er verzichtete nicht auf die farbige Krawatte die locker gebunden über der Brust des Hemdes hing. Er legte besonderen Wert auf seinen Spazierstock mit silbernem Kopf und auf seine Zigarrettenspitze aus Bernstein und Meerschaum, in der er eine mit Stroh gedrehte Zigarette balancierte.
Seit die zwei gekommen waren, wurde es heiß im Häuschen von Rita. Beide zogen ihre Jacken aus und ließen Schnaps kommen, "den richtigen Schnaps für das Mädchen aus Bahia." Es dauerte dann auch nicht lange, dass man den Klang der Ukulele und der Guitarre vernahm.
In der Nachbarwohnung war der Mann von das Dores eingetroffen, mit einem Kollegen aus dem Geschäft. Sie trugen einen Frack und einen hohen Hut. Machona, Nenen und Agostinho, die von ihrem Spaziergang in der Stadt schon zurückgekehrt waren, halfen ihr. Sie würden bis zur Sause bleiben.
Ein heißes Stimmengewirr, wie an Festtagen, breitete sich in diesem Stockwerk der Mietskaserne aus.
In beiden Häusern sollte es um fünf Uhr Abendessen geben. Rita trug ein weißes Kleid aus Batist, mit dem Bügeleisen in Form gebracht. Leocádia, Augusta, Bruno, Alexandre und Albino würden mit ihr in der Nummer 9 essen und in der Nummer acht, mit den zwei Dores, die Verwandten von ihr, Dona Isabel, Pombinha, Marciana und Florinda.
Jerônimo und seine Frau waren von beiden eingeladen worden, hatten aber beide Einladungen ausgeschlagen und zogen es vor den Nachmittag wie immer einer neben dem anderen zu verbringen, friedlich das Gericht verzehrend, dass sie von ihrer Heimat kannten und ein Viertel zu trockenen Weines zu trinken, der auch von da kam.
Schon zu Beginn ging es laut her beim Essen, doch bald nach der Suppe, war die Stimmung immer aufgeheizter.
Nach einer halben Stunde kam aus den zwei Häusern ein höllisches Geschrei. Alle sprachen und lachten zur selben Zeit. Es klirrten die Bestecke und die Gläser. Auch von draußen konnte man hören, mit welcher Lust die Leute sich dem üppigen Essen und Trinken hingaben, mit vollem Mund, die Lippen glänzend von dicker Soße. Einige Hunde knurrten an der Tür, an den Knochen nagend, die man von drinnen brachte. Von Zeit zu Zeit erschien erschien eine Bewohnerin der Häuser an der Tür, rief die Nachbarin um ihr einen vollen Teller zu überreichen, um die Gerichte und die Leckerbissen zu tauschen, die die eine besser als die andere zubereiten konnte.
"Hör", schrie Dores zur Nummer 9 hinüber, "sag der Rita sie soll die Kalamares mit Zwiebeln probieren, mal sehen wie sie sie findet. Die Kalamares in Kokusnusssoße sind hervorragend! Wenn sie Gewürze hat, soll sie mir was rüberschicken!"
Ab der Mitte des Abendessens bis zum Schluss wurde der Tumult schrecklich. In der Nummer 8 brüllte man Trinksprüche und gröhlte Lieder. Der Portugiese, der Freund von das Dores, hatte die Krawatte schon ausgezogen und die Ärmel hochgekrempelt, rot, schweißtriefend, benebelt von jungem Wein und dem Spanferkel, lehnte sich im Stuhl zurück, lachte lauthals, ohne den Mund zu schließen, sein Schmerbauch aus dem offenen Hemd hängend. Die Gestalt mit der Nenen zusammen war, blinzelte ihr zu, wobei das Getändel von allen gedeckt wurde, angefangen bei der respektablen Machona, bis zum durchgedrehten Agostinho, der nicht einen Augenblick ruhig blieb und auch seiner Mutter keine Ruhe ließ, brüllte die eine und den anderen an, wie zwei Bessessene. Florinda, immer heiter und ausgeglichen, amüsierte sich prächtig, von Zeit zu Zeit erhob sie sich vom Tisch um schnell einen Teller voller Essen zu ihrer Alten auf Nummer 12 zu bringen, die im letzten Augenblick alles so widerwärtig fand, dass sie beschloss nicht zu Abend zu essen. Beim Nachtisch bat der ausgehungerte Freund der Dame des Hauses, dass seine Geliebte sich auf seine Schenkel setzt. Er küsste sie in Gegenwart der ganzen Gesellschaft, was dazu führte, dass Dona Isabel, im Bestreben ihre Tochter aus dieser Hölle wegzubringen, verkündete, dass ihr heiß sei und sie deshalb vor der Tür, wo es kühler sei, auf den Kaffee warte.
Der Trubel war noch größer im Haus von Rita Baiana. Firmo und Porfiro führten sich auf wie zwei Teufel, sangen und spielten Zoten, machten sich über die Art wie die Schwarzen von Cassanges sprechen lustig. Jener ließ seine Hände nicht von der Hüfte der Mulattin und trank nur aus demselben Glas wie sie. Der andere vergnügte sich damit hinter Albino herzulaufen, machte ihm voller Zuneigung den Hof, um die Gesellschaft zum lachen zu bringen. Der Wäscher war verärgert, nahm das ernst. Leocádia, betrunken von dem ganzen Wein, bekam einen Lachanfall, bog sich so vor lachen, dass der Stuhl auf dem sie saß auseinanderbrach. Benommen vor Trunkenheit, legte sie ihre Beine auf die von Porfiro, presste ihre Beine gegen seine und ließ sich von dem Dummkopf betatschen. Bruno, vor ihr, knallrot und verschwitzt als ob er in der Schmiede arbeiten würde, sprach gestikulierend ohne sich zu erheben, fluchte ohne dass irgendjemand wusste warum. Alexandre, jetzt in Zivil, saß neben seiner Frau, war fast so ernst wie immer und bat, nicht so viel Lärm zu machen, wel man das von der Straße aus hören könne. Mit einem Tonfall als würde er ein Geheimnis offenbaren, bemerkte er, dass Miranda schon mehrere Male vom Fenster seines Hauses aus herübergeschaut hatte.
"Soll er doch gucken!", brummte Rita. Hat man etwa nicht das Recht am Sonntag zu Hause zu machen und mit seinen Freunden zu machen, was man will?! Der soll zum Teufel gehen und sich von ihm schmiergeln lassen! Ich trinke und esse auch nicht das, was ihm gehört!"
Die zwei Mulattinen und Bruno stimmten ihr zu: "Wenn man niemand belästigt und dieses Vergnügen nicht irgendjemanden schadet, braucht man nicht darüber zu reden!"
"Und dass sie bloß keinen Ärger machen", drohte Firmo, "mich kennt er noch nicht! Ich geig ihm die Meinung und fertig!"
Porfiro fügte hinzu:
"Wenn sich jemand belästigt fühlt, dann sind es die, dieFänggehen müssen! Fertig"
"Sonntage sind dafür da, sich zu amüsieren!", brummte Bruno und ließ den Kopf auf die auf dem Tisch gekreuzten Hände fallen.
Richtete sich dann aber wieder auf, schwankend, und fügte, den rechten Arm zur Schulter hochziehend hinzu: "Die, die so fein tun, auf die pfeif ich!"
Alexandre versuchte ihn zu beruhigen und gab ihm eine Zigarre.
Auch in einem anderen Häuschen der Mietskaserne ging es nach dem Essen hoch her und der Lärmpegel schwoll an. Es war das Abendessen einer Gruppe italienischer Straßenverkäufer, zu denen als wichtigste Figuren Delporto, Pompeo, Francesco und Andréa gehörten. Sie sangen im Chor und das harmonischer als in den anderen zwei Häusern. Man konnte allerdings bei dem fürchterlichen Gedröhn, das zu gleichen Zeit ertönte, ihre Stimmen kaum hören. Von Zeit zu Zeit konnte man unter den groben und maskulinen männlichen Stimmen auch ein weibliches Falsett hören, das so schrill war, dass es die Papageien und die Truthähne der Nachbarschaft zu einer Antwort provozierte. Und hier und da brach immer wieder neuer Trubel aus, von Gruppen, die sich hier und dort in der Mietskaserne gebildet hatten. Die Angestellten und Arbeiter hatte eine starke Neigung zum Feiern und den Ruhetag bis ganz zum Ende auszukosten. Die Kantine brodelte im Aufruhr, wie der Magen eines Betrunkenen nach dem Mahl und über den ganzen Hof strömte ein heißer und lauter Atem, der einen betäubte.
Miranda erschien wütend, gekleidet in Galauniform,den Bauch nach vorne gestreckt, weißer Mantel, einen Latz am Hals und ein Tranchiermesser wie ein Schwert in der Rechten.
"Schreit doch in der Hölle, mit Tausend Blitzen!" schrie er, denen unten drohend, "das ist zuviel, ich rufe gleich die Polizei! Dreckiges Pack!"
Veranlasst durch das Gebrüll von Miranda eilten viele Leute zur Haustür und der Chor des Gelächters, das in diesem Moment niemand mehr zurückhalten konnte, brachte ihn noch mehr in Rage.
"Ihr Kanaillen! Man sollte euch wie verdammte Hunde hinauswerfen!"
Eine Welle an Spott durchhallte den ganzen Hof der Mietskaserne, als anstatt des Kaufmanns mehrere Personen erschienen, die ihn ins Innere des Hauses zogen.
"Was ist los Miranda! Nervst du jetzt die Leute?"
"Sie wollen, dass du dich zusammenreisst!"
"Geh da weg Papa!"
"Pass auf die Steine auf, diese Leute sind zu allem fähig!"
Plötzlich erschien Dona Estela, blass wie eine halb verwelkte Blume, und Zulmira, bleich und häßlich vor Verdruss, Henriquinho, der immer hübscher wurde und der alte Botelho, gleichgültig auf diese ganze Sauerei der Welt herabblickend mit der tiefen Verachtung desjenigen, der weder von den anderen noch etwas erwartete, noch von sich selbst.
"Kanaillen!", setzte Miranda nach.
Alexandre, der schnell seine Uniform angezogen hatte, zeigte sich dem Kaufmann und sagte ihm, dass es nicht weise sei, Beleidigungen hinabzuschicken. Niemand hatte ihn provoziert! Wenn die Bewohner der Mietskaserne mit ihren Freunden zu Abend essen, dann machen sie nur das, was Miranda da oben mit seinen Gästen auch macht! Beleidigungen sind schlecht, den ein Wort gibt das andere und wenn die Polizei kommt, dann wird er, Alexandre, zugunsten dessen aussagen, der Recht hat!
"Scher dich zum Teufel!", antworte ihm der Kaufmann und drehte ihm den Rücken zu.
"Hat man schon einen frecheren Strolch gesehen?!", rief Firmo, der bis jetzt schweigsam an der Tür von Rita stand, die Hände an den Hüften, provozierend Miranda anstarrte.
Laut, damit er ihn gut hört, rief er:
"Gib acht mein zahmer Ochse, bei der ersten Gelegenheit stutz ich dir die Hörner."
Miranda wurde gewaltsam vom Fenster weggezogen und dieses wurde dann mit einem Donnerschlag geschlossen.
"Lass den Tölpel!", brummte Porfiro, und nahm den Freund beim Arm und zog ihn in das Haus der Mulattin. Lasst uns Kaffee trinken, sonst wird er kalt."
Vor der Tür von Rita hatten sich mehrer Bewohner der Mietskaserne niedergelassen, schlecht bezahlte Tagelöhner, Leute, die im Elend lebten, die mit dem, was sie verdienten kaum den Hunger stillen konnten. Trotzdem war keine von ihnen traurig. Die Mulattin lud sie sofort zum Essen und Trinken ein. Einer Einladung, der fröhlich gefolgt wurde.
Ihr Haus war nie leer.
Es wurde bereits Nacht.
Der alte Libório, von dem niemand sicher wusste wo er zu Mittag oder zu Abend aß, kam aus seinem Loch, dass er nie verließ, wenn es regnete.
Der alte Libório war eine Nummer für sich! Er wohnte in der schlechtesten Ecke der Mietskaserne und schnupperte nach den Resten der anderen, schlüpfte hier- und dorthin, bat diesen und jenen, wie ein Bettler, klagte ewig sein Leid, hob Zigarrenstummel auf, die er in der Pfeife rauchte, eine Pfeife die der Raffzahn einem gebrechlichen Blinden gestohlen hatte. In der Mietskaserne erzählte man, dass er noch irgendwo Geld gebunkert habe, was er verärgert bestritt, schwörend dass er völlig mittelos sei. So schrecklich wütete der Dämon des Hungers in diesem Hund ohne Herr, dass die Mütter ihre Kinder vor ihm warnten, weil der Teufel von einem Alten, wenn er einen Kleinen ohne Begleitung sah, sich an ihn heranmachte, ihn umkreiste, Witze und Faxen machte, ihn bezirzte, bis er es schaffte ihm die zwölfer oder zwanziger Münze, die er in der Hand hielt zu klauen.
Rita ließ ihn rein und gab ihm, unter der Bedingung, dass er sich nicht überfresse und ihr die Wohnung vollkotze, zu essen und zu trinken.Wenn er kotzen wolle, soll er das weit weg machen.
Er machte sich dann daran, alles zu verschlingen, wie ausgehungert, unruhig um sich schauend, als ob er jemanden fürchten würde, der ihm das Essen vom Mund stiehlt. Er schlang es in sich hinein ohne zu kauen, schob mit den Fingern das Essen in sich hinein, hielt sich am Teller fest, versteckte in den Taschen, was er sich nicht auf einmal in den Körper stopfen konnte.
Seine unbarmherzigen Kiefern waren furchteinflößend, wie bessessen von dem Drang alles zu verschlingen. Alles schien dieses enorme, gierige, knochige Kinn zu verschlingen, alles, angefangen beim eigenen Gesicht, von der enormen Kartoffelnase, die schon drohte in den Mund einzudringen, bis zu den runzeligen Wangen, den Augen, den Ohren, den ganzen Kopf mit seiner großen Glatze, glatt wie ein Käse und verziert mit kreisförmig angeordneten, abgenutzen und dürren Haaren wie die Fäden einer Kokosnuss.
Firmo schlug vor, ihn besoffen zu machen, nur um zu sehen, wie er dann aussieht. Alexandre und seine Frau widersetzten sich dem, lachten aber bei der Vorstellung. Man konnte einfach nicht aufhören zu lachen, wenn man diesen Rest von einem Menschen sah, dieses alte Skelett, bedeckt von einer trockenen Haut, der ohne Unterbrechung alles in sich hineinschlang, also ob er Proviant für das nächste Leben anhäufen wollte.
Plötzlich verschluckte er sich an einem großen Stück Fleisch, zu groß, um verschlungen zu werden. Libório begann zu husten, mit vertränten Augen, das Gesicht rötlich verfärbt wie bei einem Anfall. Leocádia, die neben ihm stand, verpasste ihm einen Schlag mit der Faust in die Rippen.
Der Vielfraß viel auf das Tischtuch, den Bissen Fleisch halb zerhackt.
Alle fingen an, sich zu ekeln.
"Schwein!", schrie Rita, und wendete sich ab.
Der Tölpel will alles auf einmal runterschlingen!", schrie Porfiro, "man könnte glauben, er hätte in seinem ganzen Leben noch nie was Essbares gesehen."
Und als er sah, dass dieser jetzt noch gieriger war, weil er einen Augenblick verloren hatte:
"Halt mal einen Moment inne, Wolf! Zum Teufel! Das Essen flüchtet nicht! Es ist genug da, damit du satt wirst! Das kannst du mir glauben!"
"Trink Wasser, Libório!", riet Augusta.
Und, gutmütig wie sie war, ging sie ein Glas Wasser holenn und führte es ihm an den Mund.
Der Alte trank, ohne die Augen vom Teller abzuwenden.
"Was für ein Teufel!", brummte Porfirio und spuckte neben sich, "der bringt es fertig uns alle aufzufressen ohne nach den Gräten zu suchen."
Albino, der Ärmste, aß fast nichts und das wenige, was er in den Magen brachte, verursachte ihm Übelkeit. Rita sagte zum Spaß zu ihm, dass solche Unanehmlichkeiten sicher von der Schwangerschaft herrühre.
"Du machst dich wohl lustig, was?", stotterte der arme Junge, und versteckte sich hinter seiner Kaffeetasse.
"Pass auf!", rief die Mulattin, "nicht zu viel Kaffee, da wird die Milch schlecht und das Kind wird schwarz."
Albino drehte sich zu ihr um und sagte in ernstem Tonfall, dass ihm solche Witze nicht gefallen würden.
Alexandre, der sich eine Zigarette angezündet hatte nachdem er ganz Gentleman den anderen auch eine angeboten hatte, dass der dumme Albino im hinteren Bereich der Mietskaserne, unter den Mangobäumen, zusammen mit der Hexe erwischt worden sei.
Nur Leocádia fand das lustig und lachte aus vollem Hals. Albino, kurz davor zu weinen, sagte, dass er alle Leute in Ruhe lasse und man ihn folglich auch in Ruhe lassen könne.
"Also", fragte Porfiro, "ist es wirklich wahr, dass dieser Schlappschwanz noch nie mit einer Frau zusammen war?"
"Nur er kann das beantworten!", fügte die Mulattin hinzu. Diese Sache muss heute geklärt werden! Los Albino! Beichte es uns, andernfalls glauben wir, dass du uns nicht vertraust!"
"Wenn ich gewusst hätte, dass ihr mich deshalb gerufen habt, dann wäre ich nicht gekommen, weißt du?", brachte der Wäscher stotternd und mürrisch vor. Ich habe keine Lust, Zielscheibe für Spott zu sein!"
Er hätte sich weinend zurückgezogen, wenn Rita ihm nicht den Weg versperrt hätte und mit ihm, wie mit einer Frau gesprochen hätte, aber schwächer als sie:
"Sei nicht dumm! Bleib hier! Wenn du sauer bist, ist alles schlimmer!"
Albino wischte sich die Tränen ab und setzte sich wieder hin.
Unterdessen war es vollständig Nacht geworden, mit dem Süd-Ost Wind war der Nachmittag kühler geworden. Bruno schnarchte an dem Ort, wo er gegessen hatte. Leocádia strich leicht mit ihrem Bein über das Bein von Porfiro, der sie küsste und dabei Zuckerrohrschnaps aus Cognacgläsern trank.
Dann fiel Firmo ein, dass es besser wäre nach draußen zu gehen und alle, außer Bruno, machten sich bereit hinauszugehen, während der alte Libório Alexandre um eine Zigarre bat, um damit seine Pfeife zu füllen. Als er sie bekommen hatte, verschwand der Schmarotzer sofort und rannte zum Feuer anderer Öfen. Rita, Augusta und Albino blieben zu Hause, wuschen das Geschirr und räumten die Wohnung auf.
Draußen dauerte der Chor der Italiener noch an, zog sich monoton und schleppend hin, geprägt von Trunkenheit. Vor der Tür verschiedener Häuser bildeten sich Gruppen von Personen, die auf Stühlen oder auf dem Boden saßen. Die Gruppe vor der Tür von Rita Baiana aber war die größte, weil sie von den Gästen von das Dores vergrößert wurde. Überall stieg der Rauch der Pfeifen und der Zigarren auf. Das allgemeine Getose nahm ab. Man verdaute. Niemand diskutierte mehr, man unterhielt sich.
Das Licht im Hof ging an. In den Fenstern einiger Häuser brannte Licht.
Nun war es das Haus von Miranda, wo der größte Lärm herkam. Ein schrecklicher Gebrüll an hipp hurras hallte herüber, vermischt mit dem Klingen von Champagnerflaschen.
"Die wollen provozieren!", bemerkte Alexandre, der nun keine Uniform mehr trug.
"Und beschweren sich, dass die Leute essen was ihnen gehört und dabei ein bisschen Spaß haben!", kommentierte Rita, "eine Saubande."
Man sprach über die Familien Miranda, vor allem über Dona Estela und Henrique. Leocádia versicherte, dass sie einmal, als sie, stehend auf einem Haufen leerer Flaschen auf dem Hof der Mietskaserne, über die Mauer schaute, die Verführerin gesehen hatte, deren Gesicht an das des Studenten geklebt war, sie sich küssten und umarmten, dass es sehenswert war. Sobald sie bemerkten, dass sie beobachtet wurden, flüchteten sie wie Hunde, die mit Steinen bombardiert werden.
Augusta Carne-Mole bekreuzigte sich, rief die heilige Jungfrau Maria an und Kollege des Freundes von das Dores, der weiterhin einen Faible für Nenen hatte, war sehr verwundert, als er die Nachricht hörte: "Ich dachte Dona Estela wäre ein Vorbild an Treue."
"Ach was", erwiderte Alexandre. Das da drüben ist pure Schamlosigkeit, da zweifelt ein Mann an sich selbst! Ich habe sie auch schon mal im Schatten der Wand schöne Sachen machen sehen. Das war aber nicht mit dem Studenten, das war mit einer Gestalt, die da manchmal hinging, ein bärtiger Glatzkopf, voller Pockennarben. Und die kleine geht in dieselbe Richtung.
Diese Nachricht verwunderte die ganze Gruppe. Sie wollten mehr Details wissen und Alexandre ließ sich nicht lange bitten. Der Liebhaber von Zulmira war ein magerer Bursche mit Brille, blonder Schnauzer, gut angezogen, der nachts und manchmal auch im Morgengrauen um ihr Haus schlich. Er schien ein Student zu sein!
"Und was machen sie?", fragte Dores.
"Bis jetzt scheint es nocht nicht über eine Liebschaft vom Fenster zur Straße hinausgegangen zu sein. Sie reden immer an dem letzten Außenfenster zur Straße hin. Ich bemerke sie immer, wenn ich im Dienst bin. Er spricht viel von Heirat und die Kleine liebt ihn, aber der Alte mit seinem Dünkel, stutzt ihr die Flügel."
"Er verkehrt nicht in dem Haus?"
"Nein! Das ist es, was ich schlecht finde! Wenn er das Mädchen heiraten will, dann muss er mit der Familie reden und nicht da unten rumstehen und Grimassen schneiden!"
"Ja", mischte sich Firmo ein, "aber ich sehe nicht, dass der Miranda seine Tochter einem Studenten geben wird! Der hebt sie für einen von den seinen auf! Wer weiß, ob er nicht schon jetzt irgedein alteingesessener Kaffeeanbauer ein Auge auf sie geworfen hat! Ich kenne diese Leute!"
"Deshalb sieht man soviel Mist auf dieser Erde der Christenheit!", sagte Augusta, "meine Tochter wird nur jemanden heiraten, den sie liebt. Diese ganzen arrangierten Heiraten enden immer damit, dass sowohl der Mann wie auch die Frau unglücklich sind! Mein Mann ist arm und farbig, aber ich bin glücklich, weil ich nach meinem Geschmack geheiratet habe!"
"Genau! Was gefällt ist wichtiger als vier zwanzig Réis Geldmünzen!"
Jetzt begann eine Guitarre vor der Tür 25 zu klagen. Es war Jerônimo. Nach dem ganzen fröhlichen Tumult und der guten Laune, in der die ganze Gemeinschaft den ganzen Nachmittag eingetaucht war, klang sie noch trauriger und sehnsüchtiger als normal:
Mein Leben ist voller Leiden
die ich allein versteh'
erinnere ich mich meiner Heimat
dann ist's ums Herz mir weh
Und dem Beispiel der ersten Guitarre folgend, stimmten andere Guitarren ein, bis die monotone Elegie der Portugiesen das ganze Dorf der Mietskaserne, in scharfem Kontrast mit der lauten Fröhlichkeit, die von dort oben, vom Haus von Miranda herüberschallte, erfüllte.
Meine Heimat, wie ich dich verehre
wann werde ich dich wiedersehen
Erlöse mich aus der Verbannung
mein Leiden muss zu Ende gehen
Von den harmonischen und nostalgischen Klängen der zwei fern der Heimat Lebenden berührt, wurden sogar die Brasilianer stummer und von Traurigkeit erfüllt. Plötzlich aber spielte die Ukulele von Porfiro begleitet von der Mandoline von Firmo einen brasilianischen Chorado. Schon die ersten Akkorde der Kreolenmusik reichte, damit das Blut jener Leute erwachte, als ob jemand die Körper mit Brennesseln gepeitscht hätte. Es folgten andere Lieder und auf diese andere, immer hitzigere, mitreissendere. Es war nicht nur zwei Instrumente, die ertönten, es waren mehrdeutige Schreie und Seufzer, die in Strömen dahinflossen, wie Schlangen in einem Wald in Flammen. Es waren zuckende Schreie, ausgestoßen in der Raserei der Liebe, eine Musik gemacht aus Küssen und Schluchzern der Leidenschaft, aus der Liebkosung des Raubtieres und des Schmerzes, die Lust zum explodieren brachte.
Diese Musik des Feuers strömte durch die Luft wie das heiße Aroma brasilianischer Pflanzen um die herum sinnliche Mücken und giftige Käfer kreisen, besoffen von dem wunderbaren Parfüm, das ihnen, übermannt von Sinnlichkeit, den Tod bringt.
Beim Erklingen der Musik von Bahia verstummten die melancholischen Lieder von jenseits des Meeres, wie das blendende Licht der Tropen die frische und sanfte Klarheit des Himmels über Europa erblassen lässt, ganz so als ob die amerikanische Sonne höchstselbst, rot und glühend, gekommen wäre um mit der Sinnlichkeit orientalischer Herrscher die ängstliche Träne der Königin der alten Meere wegzutrinken.
Jerônimo ließ ab von seiner Guitarre, lauschte mit auf den Saiten vergessenen Händen dieser fremden Musik, die in seinem Innern eine Wandlung bewirkte, deren Beginn schon eingesetzt hatte, als sie ihm das erste Mal, wie eine Drohung, ins Gesicht schlug, unter diesem stolzen und wilden Licht, als sie ihm den Refrain der ersten Zigarette ins Ohr flüsterte, als er das erste Mal die saure Frucht dieser glühenden Erde über seine Gaumen fließen fühlte, der Duft des Aromas des ersten Jasmins seine Seele, das Blut und der animalische Geruch der ersten Frau, der ersten Mestizin, die ihren Rock und ihre Haare zittern ließ, betörte.
"Was hast du, Jeromo?", fragte seine Kameradin befremdet."
"Warte", antwortete er leise: Lass mich zuhören!"
Firmo fing an, einen Chorado zu singen, begleitet von einem Klatschen mit den Händen.
Jerônimo erhob sich, fast wie automatisch, und näherte sich, gefolgt von Piedade, der großen Gruppe, die sich um die zwei Mulatten gebildet hatte. Dort blieb er, das Kinn auf den Handrücken gestützt, angelehnt an einer Gartenmauer, ohne einen Mucks von sich zu geben, Körper und Geist hingegeben diesem verführerischen und sinnlichen Gesang, der ihn fesselte und bannte wie eine klebrige, starke Kletterpflanze mit flexiblen Lianen, zärtlich und hinterlistig.
Er sah Rita, die ihr Kleid gegen einen Rock getauscht hatte, Schultern und Arme nackt auftauchen um zu tanzen. Der in diesem Moment unverhüllte Mond, hüllte sie ein in seine silberne Mähne, bei dessen Schein sich die Bewegungen der Mestizin, voller unwiderstehlicher Grazie, einfach, primitiv, ganz ein Werk der Sünde, des Paradieses, fast wie eine Schlange und ganz Frau, deutlicher abzeichneten.
Sie sprang in die Mitte der Gruppe, mit den Händen an den Hüften, wippend mit den Lende und mit dem Kopf schaukelnd, nach links und rechts, in völliger Hingabe an die Sinnlichkeit, eine sinnliche Verführung, deren Anziehungskraft sich man nicht entziehen kann; jetzt in schneller Bewegung mit offenem Bauch, dann die ausgestreckten Arme nach hinten gestreckt, bebend, eingetaucht in eine dichte Lust wie in Öl, wo man nie stehen kann und nie Grund findet. Dann, also ob sie ins Leben zurückgekehrt wäre, stieß sie einen langen Schrei aus, schnalzte mit den Fingern in der Luft, bog die Beine, ging in die Knie, richtete sich wieder auf, immer mit den Hüften wippend, schlug den Takt mit ihren Füßen, immer wieder, hart, frenetisch, hob und senkte die Arme, legte einmal den einen, einmal den anderen hinter ihre Hals, während ihr Körper bebte, jede Faser, zitternd.
Um sie herum erreichte die Begeisterung das Stadium des Deliriums. Von Zeit zu Zeit explodierte der Applaus in einem Schrei, tiefrot und heiß wie ein Schrei, der vom Blut stammt. Die Handflächen, rhythmisch, fest, vertieften den Rausch. Von ihr gezogen, er sprang in die Manege, flink, betrunken, machte irre Sachen mit den Beinen, gab sich ganz hin, tauchte ab zum Boden um dann mit einem Satz wieder aufzutauchen, die Beine flogen, schlug sich auf die Fersen, die Arme lösten sich von den Schultern, der Kopf wollte davon springen. Dann erschien Florinda, dann Albino und schließlich, wer hätte das jemals für möglich gehalten, der ernste und umsichtige Alexandre.
Der Chorado riss alle mit sich, despotisch, brachte all die zur Verzweiflung, die nicht tanzen konnten. Aber niemand tanzte wie Rita. Nur sie, nur dieser Dämon, besaß den heimlichen Zauber dieser Bewegungen einer verzauberten Kobra. Diese schmachtenden Bewegungen waren nichts ohne die Anmut der Mulattin und ohne diese Stimme, schmachtend, harmonisch, arrogant, zärtlich und flehend.
Jerônimo sah und hörte, fühlte wie seine Seele durch seinen verliebten Augen entwich.
Diese Mulattin war das große Mysterium, die Synthese aller Eindrücke, die er seit seiner Ankunft empfangen hatte. Sie war das gleisende Licht des Mittags, die rote Farbe der Siesta auf dem Landgut, sie war das Aroma des Klees und der Vanille, das ihn in den Wäldern Brasiliens verwirrte. Sie war die jungfräuliche und scheue Palme, die sich keiner anderen Pflanze beugte. Sie war das Gift und der reizvolle Zucker. Sie war ein Breiapfel noch süßer noch als Honig, sie war der Kaschuapfel, der Wunden trocknet mit seinem Saft aus Feuer. Sie war die grüne und untreue Kobra, die giftige Raupe, die verrückte Fliege die schon seit langem um seine Körper schwirrte, Sehnsüchte in ihm entfachend, die die Fasern, die von der Sehnsucht nach seiner Heimat geschwächt hatten, erwachen ließ, die ihm in die Arterien n stach, um ihn sein Blut einen Funken jener Liebe des Nordens zu spritzen, eine Note jener Musik aus Seufzern und Wollust, eine Larve jener Wolke des Kanthariden Käfers die um Rita Baina herum summten und sich in der Luft in einer aphrodisierenden Fluoreszenz ausbreiteten.
Das war es, was Jerônimo fühlte, auch wenn sein Verstand das nicht erfassen konnte. Von allen Eindrücken, die er von diesem Sonntagabend empfangen hatte, blieb in seinem Geist nur die Benommenheit einer unbekannten Trunkenheit, nicht vom Wein, sondern von dem Honig, der in den amerikanischen Blütenkelchen, die auf dunklen und feuchten Sümpfen wachsen, den weißen, duftenden und feuchten, die er auf dem Landgut gesehen hatte, brodelte, wo der Oiticica-Baum ein Aroma verströmt, das die Seele traurig stimmt und mit Sehnsucht erfüllt.
Er ließ sich gehen, hörte nur noch zu. Andere Portugiesinnen tanzten, aber der Portugieses sah, auch als diese sich auf dem Boden in die ihres Freundes fallen ließ, nur die Mulattin. Piedade, die vor Müdigkeit den Kopf hängen ließ, rief ihn mehrere Male, damit sie sich zurückziehen, aber er antwortete nur mit einem Brummen und bemerkte gar nicht, also seine Frau ging.
Die Stunden vergingen und er merkte auch nicht, wie die Stunden verstrichen.
Der Kreis der Feiernden vergrößerte sich. Es kamen Isaura und Leonor, João Romão und Bertoleza, die nach getaner Arbeit schauen wollten, ob auf der Feier alles mit rechten Dingen zuging, bevor sie ins Bett fielen. Die Familie von Miranda ging ans Fenster, amüsierte sich über den Pöbel der Mietskaserne. Es sammelte sich Volk draußen auf der Straße. Aber Jerônimo sah nichts von alldem. Er sah nur noch ein Ding, dass in seinem Geist haften geblieben war: Die keuchende Mulattin, die sich sinnlich in die Arme von Firmo gleiten ließ.
Er kam erst wieder zu sich, im Morgengrauen, als alle Instrumente schwiegen und jeder der Feiernden sich in sein Haus zurückgezogen hatte.
Er sah, wie Rita von ihrem Freund, an den Lenden, ins Zimmer gezogen wurde.
Jerônimo blieb alleine in der Mitte der Mietskaserne. Der Mond, befreit von den Wolken, die ihn verfolgten, machte schweigend seine mysteriöse Reise.Die Fenster im Hause von Miranda wurden geschlossen. Der Steinbruch, weit hinter der letzten Wand der Mietskaserne, erhob sich wie ein erleuchtetes Monster, nun friedlich. Alles war durchdrungen von tiefer Ruhe. Man sah nur noch das Flackern zweier Glühwürmchen im Schatten der Obst- und Ziergärten und das Murmeln der Bäume die träumten.
Aber Jerônimo fühlte und hörte nur jene Musik mit dem Aroma der Vanille, die seine Seele vernebelte. Er sah vollkommen, dass dieses kräuselige, brillante und duftende Haar der Mulattin anfing in seinem Inneren ein Nest schwarzer Cobras entstehen ließ, dass seine Seele verschlingen wird.
Und als er den Kopf erhob, sah er denselben Himmel, den sie erst sehen wird, nach sieben Stunden Schlaf und da es schon fast an der Zeit war, mit seiner Arbeit zu beginnen, entschloss er sich nicht schlafen zu gehen, weil es sich lohnte zu warten. |
VIII
No dia seguinte, Jerônimo largou o trabalho à hora de almoçar e, em vez de
comer lá mesmo na pedreira com os companheiros, foi para casa. Mal tocou no
que a mulher lhe apresentou à mesa e meteu-se logo depois na cama,
ordenando-lhe que fosse ter com João Romão e lhe dissesse que ele estava
incomodado e ficava de descanso aquele dia.
— Que tens tu, Jeromo?...
— Morrinhento, filha... Vai, anda!
— Mas sentes-te mal?
— Ó mulher! vai fazer o que te disse e ao depois então darás à língua!
— Valha-me a Virgem! Não sei se haverá chá preto na venda!
E ela saiu, aflita. Qualquer novidade no marido, por menor que fosse,
punha-a doida. “Pois um homem rijo, que nunca caia doente? Seria a febre
amarela?... Jesus, Santo Filho de Maria, que nem pensar nisso era bom! Credo!”
A notícia espalhou-se logo ali entre as lavadeiras.
— Foi da friagem da noite, afirmou a Bruxa, e deu um pulo à casa do
trabalhador para receitar.
O doente repeliu-a, pedindo-lhe que o deixasse em paz; que ele do que
precisava era de dormir. Mas não o conseguiu: atrás da Bruxa correu a segunda
mulher, e a terceira, e a quarta; e, afinal, fez-se durante muito tempo em sua casa
um entrar e sair de saias. Jerônimo perdeu a paciência e ia protestar brutalmente
contra semelhante invasão, quando, pelo cheiro, sentiu que a Rita se aproximava
também.
— Ah!
E desfranziu-se-lhe o rosto.
— Bons dias! Então que é isso, vizinho? Você caiu doente com a minha
chegada? Se tal soubera não vinha!
Ele riu-se. E era a primeira vez que ria desde a véspera
A mulata aproximou-se da cama.
Como principiara a trabalhar esse dia, tinha as saias apanhadas na cintura e
os braços completamente nus e frios da lavagem. O seu casaquinho branco
abria-lhe no pescoço, mostrando parte do peito cor de canela.
Jerônimo apertou-lhe a mão.
— Gostei de vê-la ontem dançar, disse, muito mais animado.
— Já tomou algum remédio?...
— A mulher falou ai em chá preto...
— Chá! Que asneira! Chá é água morna! Isso que você tem é uma
resfriagem. Vou-lhe fazer uma xícara de café bem forte para você beber com um
gole de parati, e me dirá se sua ou não, e fica depois fino e pronto para outra!
Espera ai!
E saiu logo, deixando todo quarto impregnado dela.
Jerônimo, só com respirar aquele almíscar, parecia melhor. Quando Piedade
tornou, pesada, triste, resmungando consigo mesma, ele sentiu que principiava a
enfará-lo; e, quando a infeliz se aproximou do marido, este, fora do costume,
notou-lhe o cheiro azedo do corpo. Voltou-lhe então o mal-estar e desapareceu o
último vestígio do sorriso que ele tivera havia pouco.
— Mas que sentes tu, Jeromo?... Fala, homem! Não me dizes nada! Assim
m’assustas... Que tens, diz’-lo!
— Não cozas o chá. Vou tomar outra coisa...
— Não queres o chá? Mas é o remédio, filhinho de Deus!
— Já te disse que tomo outra mezinha. Oh!
Piedade não insistiu.
— Queres tu um escalda-pés?...
— Toma-lo tu!
Ela calou-se. Ia a dizer que nunca o vira assim tão áspero e seco, mas receou
importuná-lo. “Era naturalmente a moléstia que o punha rezinguento.”
Jerônimo fechara os olhos, para a não ver, e ter-se-ia, se pudesse, fechado
por dentro, para a não sentir. Ela, porém, coitada! fora assentar-se à beira da
cama, humilde e solicita, a suspirar, vivendo naquele instante, para e
exclusivamente, para o seu homem, fazendo-se muito escrava dele, sem vontade
própria, acompanhando-lhe os menores gestos com o olhar, inquieta, que nem
um cão que, ao lado do dono, procura adivinhar-lhe as intenções.
— ‘Stá bem, filha, não vais tratar do teu serviço?...
— Não te dê isso cuidado! Não parou o trabalho! Pedi à Leocádia que me
esfregasse a roupa. Ela hoje tinha pouco que fazer e...
— Andaste mal...
— Ora! Não há três dias que fiz outro tanto por ela... E demais, não foi que
tivesse o homem doente, era a calaçaria do capinzal!
— Bom, bom, filha! não digas mal da vida alheia! Melhor seria que
estivesses à tua tina em vez de ficar ai a murmurar do próximo... Anda! vai
tomar conta das tuas obrigações.
— Mas estou-te a dizer que não há transtorno!...
— Transtorno já é estar eu parado; e o pior será pararem os dois!
— Eu queria ficar a teu lado, Jeromo!
— E eu acho que isso é tolice! Vai! anda!
Ela ia retirar-se, como um animal enxotado, quando deu com a Rita, que
entrava muito ligeira e sacudida, trazendo na mão a fumegante palangana de
café com parati e no ombro um cobertor grosso para dar um suadouro ao doente.
— Ah! fez Piedade, sem encontrar uma palavra para a mulata.
E deixou-se ficar.
Rita, despreocupadamente, alegre e benfazeja como sempre, pousou a
vasilha sobre a cômoda do oratório e abriu o cobertor.
— Isso é que o vai pôr fino! disse. Vocês também, seus portugueses, por
qualquer coisinha ficam logo pra morrer, com uma cara da última hora! E ai, ai,
Jesus, meu Deus! Ora esperte-se! Não me seja maricas!
Ele riu-se assentando-se na cama.
— Pois não é assim mesmo? perguntou ela a Piedade, apontando para o
carão barbado de Jerônimo. Olhe só pr’aquela cara e diga-me se não está a pedir
que o enterrem!
A portuguesa não dizia nada, sorria contrafeita, no intimo, ressentida contra
aquela invasão de uma estranha nos cuidados pelo seu homem. Não era a
inteligência nem a razão o que lhe apontava o perigo, mas o instinto, o faro sutil
e desconfiado de toda a fêmea pelas outras, quando sente o seu ninho exposto.
— Está-me a parecer que agora te achas melhor, hein?... desembuchou
afinal, procurando o olhar do marido, sem conseguir disfarçar de todo o seu
descontentamento.
— Só com o cheiro! reforçou a mulata, apresentando o café ao doente.
Beba, ande! beba tudo e abafe-se! Quero, quando voltar logo, encontrá-lo
pronto, ouviu? — E acrescentou, falando à Piedade, em tom mais baixo e
pousando-lhe a mão no ombro carnudo: — Ele daqui a nada deve estar ensopado
de suor; mude-lhe toda a roupa e dê-lhe dois dedos de parati, logo que peça
água. Cuidado com o vento!
E saiu expedida, agitando as saias, de onde se evolavam eflúvios de
manjerona.
Piedade chegou-se então para o cavouqueiro, que já tinha sobre as pernas o
cobertor oferecido pela Rita, e, ajudando-o a levar a tigela à boca, resmungou:
— Deus queira que isto não te vá fazer mal em vez de bem!... Nunca tomas
café, nem gostas!...
— Isto não é por gosto, filha, é remédio!
Ele com efeito nunca entrara com o café e ainda menos com a cachaça; mas
engoliu de uma assentada o conteúdo da tigela, puxando em seguida o cobertor
até às ventas.
A mulher tratou de abafar-lhe bem os pés e foi buscar um xale para lhe
cobrir a cabeça.
— Trata de sossegar! Não te mexas!
E dispôs-se a ficar junto da cama, a vigiá-lo, só andando na ponta dos pés,
abafando a respiração, correndo a cada instante à porta de casa para pedir que
não fizessem tanta bulha lá fora; toda ela desassossegada, numa aflição quase
supersticiosa por aquele incômodo de seu homem. Mas Jerônimo não levou
muito que a não chamasse para lhe mudar a roupa. O suor inundava-o.
— Ainda bem! exclamou ela, radiante.
E, depois de fechar hermeticamente a porta do quarto e meter um punhado
de roupa suja numa fresta que havia numa das paredes, sacou-lhe fora a camisa
molhada, enfiando-lhe logo outra pela cabeça; em seguida tirou-lhe as ceroulas e
começou, munida de uma toalha, a enxugar-lhe todo o corpo, principiando pelas
costas, passando depois ao peito e aos sovacos, descendo logo às nádegas, ao
ventre e às pernas, e esfregando sempre com tamanho vigor de pulso, que era
antes uma massagem que lhe dava; e tanto assim que o sangue do cavouqueiro
se revolucionou.
E a mulher, a rir-se, lisonjeada, ralhava:
— Tem juízo! Acomoda-te! Não vês que estás doente?...
Ele não insistiu. Agasalhou-se de novo e pediu água. Piedade foi buscar o
parati.
— Bebe isto, não bebas a água agora.
— Isto é cachaça!
— Foi a Rita que disse para te dar...
Jerônimo não precisou de mais nada para beber de um trago os dois dedos
de restilo que havia no copo.
Sóbrio como era, e depois daquele dispêndio de suor, o álcool produziu-lhe
logo de pronto o efeito voluptuoso e agradável da embriaguez nos que não são
bêbedos: um delicioso desfalecer de todo o corpo; alguma coisa do longo
espreguiçamento que antecede à satisfação dos sexos, quando a mulher, tendo
feito esperar por ela algum tempo, aproxima-se afinal de nós, numa avidez
gulosa de beijos. Agora, no conforto da sua cama, na doce penumbra do quarto,
com a roupa fresca sobre a pele, Jerônimo sentia-se bem, feliz por ver-se longe
da pedreira ardente e do sol cáustico; ouvindo, de olhos fechados, o ronrom
monótono da máquina de massas, arfando ao longe, e o zunzum das lavadeiras a
trabalharem, e, mais distante, um interminável cantar de galos a porfia, enquanto
um dobre de sinos rolava no ar, tristemente, anunciando um defunto da
paróquia.
Quando Piedade chegou lá fora, dando parte do bom resultado do remédio, a
Rita correu de novo ao quarto do doente.
— Então, que me diz agora? Sente-se ou não melhorzinho?
Ele voltou para a rapariga o seu olhar de animal prostrado e, por única
resposta, passou-lhe o braço esquerdo na cintura e procurou com a mão direita
segurar a dela. Queria com isto traduzir o seu reconhecimento, e a mulata assim
o entendeu, tanto que consentiu: mal, porém, a sua carne lhe tocou na carne, um
desejo ardente apossou-se dele; uma vontade desensofrida de senhorear-se no
mesmo instante daquela mulher e possuí-la inteira, devorá-la num só hausto de
luxúria, trincá-la como um caju.
Rita, ao sentir-se empolgar pelo cavouqueiro, escapou-lhe das garras com
um pulo.
— Olhe que peste! Faça-se de tolo, que digo à sua mulher, hein? Ora vamos
lá!
Mas, como a Piedade entrava na salinha ao lado, disfarçou logo,
acrescentando noutro tom:
— Agora é tratar de dormir e mudar de roupa, se suar outra vez Até logo!
E saiu.
Jerônimo ouviu as suas ultimas palavras já de olhos fechados e, quando
Piedade entrou no quarto, parecia sucumbido de fraqueza. A lavadeira
aproximou-se da cama do marido em ponta de pés, puxou-lhe o lençol mais para
cima do peito e afastou-se de novo, abafando os passos. À porta da entrada a
Augusta, que fora fazer uma visita ao enfermo, perguntou-lhe por este com um
gesto interrogativo; Piedade respondeu sem falar, pondo a mão no rosto e
vergando desse lado a cabeça, para exprimir que ele agora estava dormindo.
As duas saíram para falar à vontade; mas, nessa ocasião, lá fora no pátio da
estalagem, acabava de armar-se um escândalo medonho. Era o caso que o
Henriquinho da casa do Miranda ficava às vezes à janela do sobrado, nas horas
de preguiça, entre o almoço e o jantar, entretido a ver a Leocádia lavar,
seguindo-lhe os movimentos uniformes do grosso quadril e o tremular das
redondas tetas à larga dentro do cabeção de chita. E, quando a pilhava sozinha,
fazia-lhe sinais brejeiros, piscava-lhe o olho, batendo com a mão direita aberta
sobre a mão esquerda fechada. Ela respondia, indicando com o polegar o interior
do sobrado, como se dissesse que fosse procurar a mulher do dono da casa.
Naquele dia, porém, o estudante apareceu à janela, trazendo nos braços um
coelhinho todo branco, que ele na véspera arrematara num leilão de festa.
Leocádia cobiçou o bichinho e, correndo para o depósito de garrafas vazias, que
ficava por debaixo do sobrado, pediu com muito empenho ao Henrique que lho
desse. Este, sempre com seu sistema de conversar por mímica, declarou com um
gesto qual era a condição da dádiva.
Ela meneou a cabeça afirmativamente, e ele fez-lhe sinal de que o esperasse
por detrás do cortiço, no capinzal dos fundos.
A família do Miranda havia saído. Henrique, mesmo com a roupa de andar
em casa e sem chapéu, desceu à rua, ganhou um terreno que existia à esquerda
do sobrado e, com o seu coelho debaixo do braço, atirou-se para o capinzal.
Leocádia esperava por ele debaixo das mangueiras.
— Aqui não! disse ela, logo que o viu chegar. Aqui agora podem dar com a
gente!...
— Então onde?
— Vem cá!
E tomou à sua direita, andando ligeira e meio vergada por entre as plantas.
Henrique seguiu-a no mesmo passo, sempre com o coelho sobraçado. O calor
fazia-o suar e esfogueava-lhe as faces. Ouvia-se o martelar dos ferreiros e dos
trabalhadores da pedreira.
Depois de alguns minutos, ela parou num lugar plantado de bambus e
bananeiras, onde havia o resto de um telheiro em ruínas.
— Aqui!
E Leocádia olhou para os lados, assegurando-se de que estavam a sós.
Henrique, sem largar o coelho, atirou-se sobre ela, que o conteve:
— Espera! preciso tirar a saia; está encharcada!
— Não faz mal! segredou ele, impaciente no seu desejo.
— Pode-me vir um corrimento!
E sacou fora a saia de lã grossa, deixando ver duas pernas, que a camisa a
custo só cobria até o joelho, grossas, maciças, de uma brancura levemente rósea
e toda marcada de mordeduras de pulgas e mosquitos.
— Avia-te! Anda! apressou ela, lançando-se de costas ao chão e
arregaçando a fralda até a cintura; as coxas abertas.
O estudante atirou-se, sôfrego, sentindo-lhe a frescura da sua carne de
lavadeira, mas sem largar as pernas do coelho.
Passou-se um instante de silêncio entre os dois, em que as folhas secas do
chão rangeram e farfalharam.
— Olha! pediu ela, faz-me um filho, que eu preciso alugar-me de
ama-de-leite... Agora estão pagando muito bem as amas! A Augusta
Carne-Mole, nesta última barriga, tomou conta de um pequeno ai na casa de
uma família de tratamento, que lhe dava setenta mil-réis por mês!... E muito
bom passadio!... Sua garrafa de vinho todos os dias!... Se me arranjares um filho
dou-te outra vez o coelho!
E o pobre brutinho, cujas pernas o estudante não largava, começou a
queixar-se dos repelões que recebia cada vez mais acelerados.
— Olha que matas o bichinho! reclamou a lavadeira. Não batas assim com
ele! mas não o soltes, hein!
Ia dizer ainda alguma coisa, mas acudiu-lhe o espasmo e ela fechou os olhos
e pôs-se a dar com a cabeça de um lado para o outro, rilhando os dentes.
Nisto, passos rápidos fizeram-se sentir galgando as plantas, na direção em
que os dois estavam; e Henrique, antes de ser visto, lobrigou a certa distancia a
insociável figura do Bruno.
Não lhe deu tempo a que se aproximasse; de um salto galgou por detrás das
bananeiras e desapareceu por entre o matagal de bambus, tão rápido como o
coelho que, vendo-se livre, ganhara pela outra banda o caminho do capinzal.
Quando o ferreiro, logo em seguida, chegou perto da mulher, esta ainda não
tinha acabado de vestir a saia molhada.
— Com quem te esfregavas tu, sua vaca?! bradou ele, a botar os bofes pela
boca.
E, antes que ela respondesse, já uma formidável punhada a fazia rolar por
terra.
Leocádia abriu num berreiro. E foi debaixo de uma chuva de bofetadas e
pontapés que acabou de amarrar a roupa.
— Agora eu vi! sabes! Nega se fores capaz!
— Vá à pata que o pôs! exclamou ela, com a cara que era um tomate. Já lhe
disse que não quero saber de você pra nada, seu bêbedo!
E, vendo que ele ia recomeçar a dança, abaixou-se depressa, segurou com
ambas as mãos um matacão de granito que encontrou a seus pés, e gritou,
erguendo-o sobre a cabeça:
— Chega-te pra cá e verás se te abro aqui mesmo ou não o casco!
O ferreiro compreendeu que ela era capaz de fazer o que dizia e estacou
lívido e ofegante.
— Arme a trouxa e rua! sabe?
— Olha a desgraça! Tinha de muito assentado de ir! Queria era uma
ocasião! Nem preciso de você pra nada, fique sabendo!
E, para meter-lhe mais raiva, acrescentou, empinando a barriga:
— Já cá está dentro com que hei de ganhar a vida! Alugo-me de ama! Ou
pensará que todos são como você, que nem para fazer um filho serve, diabo do
sem-préstimo?
— Mas não me hás de levar nada de casa! Isso te juro eu, biraia!
— Ah, descanse! que não levarei nada do que é seu, nem preciso!
— Põe essa pedra no chão!
— Um corno! Eu arrumo-ta na cabeça se te chegas pra cá!
— Sim, sim, sim, contanto que te musques por uma vez!
— Pois então despache o beco!
Ele virou-lhe as costas e tornou lentamente por onde viera, de cabeça
pendida, as mãos nas algibeiras das calças, aparentando agora um soberano
desprezo pelo que se passava.
Só então foi que ela se lembrou do coelho.
— Ora gaitas! disse, endireitando-se e tomando direção contrária à do
marido.
Este fora ai direito ao cortiço narrar, a quem quisesse ouvir, o que se
acabava de dar. O escândalo assanhou a estalagem inteira, como um jato de água
quente sobre um formigueiro. “Ora, aquilo tinha de acontecer mais hoje mais
amanhã! — Um belo dia a casa vinha abaixo! — A Leocádia parecia não desejar
senão isso mesmo!” Mas ninguém atinava com quem diabo pilhara o Bruno a
mulher no capinzal. Fizeram-se mil hipóteses; lembrando-se nomes e nomes,
sem se chegar a nenhum resultado satisfatório. O Albino tentou logo arranjar a
reconciliação do casal, jurando que o Bruno estava enganado com certeza e que
vira mal. “Leocádia era uma excelente rapariga, incapaz de tamanha
safadagem!” O ferreiro tapou-lhe a boca com uma bolacha, e ninguém mais se
meteu a congraçá-los.
Entretanto, o Bruno entrara em casa e lançava pela janela cá para fora tudo o
que ia encontrando pertencente à mulher. Uma cadeira fez-se pedaços contra as
pedras, depois veio um candeeiro de querosene, uma trouxa de roupas, saias e
casaquinhos de chita, caixas de chapéus cheias de trapos, uma gaiola de
pássaros, uma chaleira; e tudo era arremessado com fúria ao meio da área, entre
o silêncio comovido dos que assistiam ao despejo. Um chim, que entrara para
vender camarões e parara distraído perto da janela do ferreiro, levou na cabeça
com uma bilha da Bahia e berrava como criança que acaba de ser esbordoada. A
Machona, que não podia ouvir ninguém gritar mais alto do que ela, caiu-lhe em
cima aos murros e o pôs fora do portão com tremenda descompostura. “Era o
que faltava que viesse também aquele salamaleque do inferno para azoinar uma
criatura mais do que já estava!” Dona Isabel, com as mãos cruzadas sobre o
ventre, tinha para aquela destruição um profundo olhar de lástima. Augusta
meneava a cabeça tristemente sem conceber como havia mulheres que
procuravam homem, tendo um que lhes pertencia. A Bruxa, indiferente, não
interrompera sequer o seu trabalho; ao passo que a das Dores, de mãos nas
cadeiras, a sala pelo meio das canelas, um cigarro no canto da boca, encarava
desdenhosa a sanha daquele marido, tão brutal como o dela o fora.
— Sempre os mesmos pedaços de asno!... comentava franzindo o nariz. Se a
tola da mulher só lhes procura agradar e fazer-lhes o gosto, ficam enjoados, e, se
ela não toma a sério a borracheira do casamento, dão por paus e por pedras,
como esta besta! Uma súcia, todos eles!
Florinda ria, como de tudo, e a velha Marciana queixava-se de que lhe
respingaram querosene na roupa estendida ao sol. Nessa ocasião justamente, um
saco de café, cheio de borra, deu duas voltas no ar e espalhou o seu conteúdo,
pintalgando de pontos negros os coradouros. Fez-se logo um alarido entre as
lavadeiras. “Aquilo não tinha jeito, que diabo! Armavam lá as suas turras e os
outros é que haviam de aturar?!... Sebo! que os mais não estavam dispostos a
suportar as fúrias de cada um! Quem parira Mateus que o embalasse! Se agora,
todas as vezes que a Leocádia se fosse espojar no capinzal, o bruto do marido
tinha de sujar daquele modo o trabalho da gente, ninguém mais poderia ganhar
ali a sua vida! Que espiga!” Pombinha chegara à porta do número 15, dando fé
do barulho, com uma costura na mão, e Nenen, toda afogueada do ferro de
engomar, perguntava, com um frouxo riso, se o Bruno ia reformar a mobília da
casa. A Rita fingia não ligar importância ao fato e continuava a lavar à sua tina.
“Não faziam tanta festa ao tal casamento? Pois que agüentassem! Ela estava
bem livre de sofrer uma daquelas!” O velho Libório chegara-se para ver se, no
meio da confusão, apanhava alguma coisa do despejo, e a Machona, notando
que o Agostinho fazia o mesmo, berrou-lhe do lugar em que se achava:
— Sai daí, safado! Toca lá no quer que seja, que te arranco a pele do rabo!
Um irmão do santíssimo entrara na estalagem, com a sua capa encarnada, a
sua vara de prata em uma das mãos, na outra a salva do dinheiro, e parara em
meio do pátio, suplicando muito fanhoso: “Uma esmola para a cera do
Sacramento!” As mulheres abandonaram por um instante as tinas e foram beijar
devotamente a colombina imagem do Espírito Santo. Pingaram na salva
moedinhas de vintém.
Todavia, o Bruno acabava de despejar o que era da mulher e saia de novo de
casa, dando uma volta feroz à fechadura. Atravessou por entre o murmurante
grupo dos curiosos que permaneciam defronte de sua porta, mudo, com a cara
fechada, jogando os braços, como quem, apesar de ter feito muito, não
satisfizera ainda completamente a sua cólera.
Leocádia apareceu pouco depois e, vendo por terra tudo que era seu, partido
e inutilizado, apoderou-se de fúria e avançou sobre a porta, que o marido
acabava de fechar, arremetendo com as nádegas contra as duas folhas, que
cederam logo, indo ela cair lá dentro de barriga para cima.
Mas ergueu-se, sem fazer caso das risadas que rebentaram cá fora e,
escancarando a janela com arremesso, começou por sua vez a arrasar e a destruir
tudo que ainda encontrara em casa.
Então principiou a verdadeira devastação. E a cada objeto que ela varria
para o pátio, gritava sempre: “Upa! Toma, diabo!”
— Aí vai o relógio! Upa! Toma, diabo!
E o relógio espatifou-se na calçada.
— Aí vai o alguidar!
— Aí vai o jarro!
— Aí vão os copos!
— O cabide!
— O garrafão!
— O bacio!
Um riso geral, comunicativo, absoluto, abafava o baralho da louça
quebrando-se contra as pedras. E Leocádia já não precisava acompanhar os
objetos com a sua frase de imprecação, porque cada um deles era recebido cá
fora com um coro que berrava:
— Upa! Toma, diabo!
E a limpeza prosseguia. João Romão acudiu de carreira, mas ninguém se
incomodou com a presença dele. Já defronte da porta do Bruno havia uma
montanha de cacos acumulados; e o destroço continuava ainda, quando o
ferreiro reapareceu, vermelho como malagueta, e foi galgando a casa, com um
raio de roda de carro na mão direita.
Os circunstantes o seguiram, atropeladamente, num clamor.
— Não dá!
— Não pode!
— Prende!
— Não deixa bater!
— Larga o pau!
— Segura!
— Agüenta!
— Cerca!
— Toma o porrete!
E Leocádia escapou afinal das pauladas do marido, a quem o povaréu
desarmara num fecha-fecha.
— Ordem! Ordem! Vá de rumor! exclamava o vendeiro, a quem,
aproveitando a confusão, haviam já ferrado um pontapé por detrás.
O Alexandre, que vinha chegando do serviço nesse momento, apressou-se a
correr para o lugar do conflito e cheio de autoridade intimou o Bruno a que se
contivesse e deixasse a mulher em paz, sob pena de seguir para a estação no
mesmo instante.
— Pois você não vê esta galinha, que apanhei hoje com a boca na botija,
não me vem ainda por cima dar cabo de tudo?!... interrogou o Bruno,
espumando de raiva e quase sem fôlego para falar.
— Porque você pôs em cacos o que é meu! gritou Leocádia.
— Está bom! está bom! disse o polícia, procurando dar à voz inflexões
autoritárias e reconciliadoras. Fale cada um por sua vez! Seu marido...
acrescentou ele, voltando-se para a acusada, diz que a senhora...
— É mentira! interrompeu ela.
— Mentira?! É boa! Tinhas a saia despida e um homem por cima!
— Quem era? — Quem foi? — Quem era o homem? interrogaram todos a
um só tempo.
— Quem era ele, no fim de contas? inquiriu também Alexandre.
— Não lhe pude ver as fuças!... respondeu o ferreiro; mas, se o apanho,
arrancava-lhe o sangue pelas costas!
Houve um coro de gargalhadas.
— E mentira! repetiu Leocádia, agora sucumbida por uma reação de
lágrimas. Há muito tempo que este malvado anda caçando pretexto para romper
comigo e, como eu não lho dou...
Uma explosão de soluços a interrompeu.
Desta vez não riram, mas um bichanar de cochichos formou-se em torno do
seu pranto.
— Agora... continuou ela, enxugando os olhos na costa da mão; não sei o
que será de mim, porque este homem, além de tudo, escangalhou-me até o que
eu trouxe quando me casei com ele!...
— Não disseste que já tinhas ai dentro com que ganhar a vida?... É andar!
— É falso! soluçou Leocádia.
— Bem, interveio Alexandre, embainhando o seu refle; está tudo
terminado! Seu marido vai recebê-la em boa paz...
— Eu?! esfuziou o ferreiro. Você não me conhece!
— Nem eu queria! retorquiu a mulher. Prefiro meter-me com um cavalo de
tílburi a ter de aturar este bruto!
E, catando em casa alguma coisa sua que ainda havia, e recolhendo do
montão dos cacos o que lhe pareceu aproveitável, fez de tudo uma grande trouxa
e foi chamar um carregador.
A Rita saiu-lhe ao encontro.
— Para onde vais tu?... perguntou-lhe em voz baixa.
— Não sei, filha, por ai!... Hei de encontrar um furo!... Os cães não
vivem?...
— Espere um instante... disse a mulata. Olha, empurra a trouxa ai para
dentro do meu cômodo. — E correndo ao Albino, que lavava: — Passa-me no
sabão aquela roupa, ouviste? E, quando Firmo acordar, diz-lhe que precisei ir a
rua.
Depois, deu um pulo ao quarto, mudou a saia molhada, atirou nos ombros o
seu xale de crochê e, batendo nas costas da companheira, segredou-lhe:
— Anda cá comigo! não ficarás à toa!
E as duas saíram, ambas sacudidas, deixando atrás de si suspensa a
curiosidade do cortiço inteiro. | VIII
Am nächsten Tag hörte Jerônimo zur Mittagszeit auf zu arbeiten und anstatt vor Ort mit den Kollegen zu esssen, ging er nach Hause. Er rührte kaum an, was die Frau ihm auf den Tisch stellte, ging dann ins Bett und befahl seiner Frau zu João Romão zu gehen und ihm zu sagen, dass er unpassend sei und heute ausruhen werde.
"Was hast du, Jeromo?"
"Ich bin niedergeschlagen, lass mich jetzt in Ruhe!"
"Fühlst du dich schlecht?"
"Mach was ich dir sage und schwatz nicht!"
"Barmherzige Jungfrau! Ich weiß nicht, ob es in der Kneipe schwarzen Tee gibt!"
Sie ging traurig hinaus. Jede Änderung im Wesen ihres Mannes, so klein sie auch war, schmerzte sie. "Ein so starker Mann, der nie krank wurde? Hat er das gelbe Fieber? Mein Gott, dass Gott erbarm, ich glaube daran sollte man nicht mal denken!"
Die Neuigkeit verbreitete sich sofort unter den Wäscherinnen.
"Er wird sich erkältet haben", sagte die Hexe und stattete dem Haus des Arbeiters einen Besuch ab um zu beten.
Der Kranke wies sie ab, bat sie, ihn in Ruhe zu lassen, dass er lediglich schlafen müsse. Aber er wurde sie nicht los. Nach der Hexe kam die zweite Frau, die dritte, die vierte und schließlich war in seinem Haus ein ständiges kommen und gehen von Röcken. Jerônimo verlor die Geduld und wollte sich gegen diese Invasion seines Hauses mit deutlichen Worten zur Wehr setzen, als er am Geruch spürte, dass auch Rita sich näherte.
"Ah!"
Die Falten auf seiner Stirn glätteten sich.
"Guten Tag! Nun, was ist los Nachbar? Sind Sie krank geworden, weil ich gekommen bin? Hätte ich das gewusst, wäre ich nicht gekommen!"
Er lachte und es war das erste Mal seit dem vorigen Abend, dass er lachte.
Die Mulattin näherte sich dem Bett.
Da sie gerade erst anfing zu arbeiten, hatte sie den Rock an die Lenden geheftet und die Arme waren völlig nackt und kalt von dem Waschwasser. Ihre weiße Schürze war am Hals offen, zeigte einen Teil ihrer zimtfarbenen Brust.
Jerônimo drückte ihr die Hand.
"Es gefällt mir, wie sie gestern getanzt haben", sagte er, "schon viel lebendiger."
"Haben Sie schon irgenden Medikament eingenommen?"
"Meine Frau hat irgendwas von schwarzem Tee gesagt."
"Tee! Was für ein Blödsinn! Tee ist laues Wasser! Sie sind erkältet. Ich mache ihnen einen starken Kaffee damit Sie ihn trinken mit einem Schluck Schnaps. Dann sagen Sie mir, ob sie schwitzen oder nicht. Danach sind sie wieder frisch und munter. Warten Sie!"
Und sie ging wieder hinaus, hinterließ ein von ihr erfülltes Zimmer.
Allein schon dieser Geruch, schien Jerônimo Linderung zu verschaffen. Als Piedade zurückkam, betrübt, triste, vor sich hinbrummend, spürte sie, dass er anfing ihr zu grollen und als sich die Unglückliche ihrem Mann näherte, roch er, anders als sonst, den sauren Geruch ihres Körpers. Er fühlte sich wieder schlechter und die letzte Spur eines Lächelns, das er noch bis vor kurzem hatte, verschwand.
"Was hast du, Jeromo? Sprich mit mir! Du sagst mir nichts! Du machst mir Angst. Was hast du, sag es!"
"Nichts, mach den Tee. Ich trinke etwas anderes."
"Du willst keinen Tee? Aber das würde dir gut tun, mein Gott!"
"Ich habe dir schon gesagt, ich nehme eine andere Medizin!"
Piedade hakte nicht nach.
"Willst du ein Fußbad?"
"Nimm du eines!"
Sie schwieg. Sie wollte sagen, dass sie ihn noch nie so mürrisch und wortkarg erlebt hatte, aber sie wollte ihn nicht noch mehr verärgern. "Es ist wohl durch sein Unwohlsein bedingt, dass er so mürrisch ist."
Jerônimo schloss die Augen, um sie nicht zu sehen und hätte sich, hätte er gekonnt, eingeschlossen, um sie nicht zu hören. Sie jedoch setzte sich auf den Bettrand, bescheiden und flehend, lebte in diesem Moment nur für ihn, für ihn allein, für ihren Mann, machte sich ganz zu seinem Sklaven, ohne eigenen Willen, verfolgte mit den Augen noch die geringste seiner Bewegungen, noch unruhiger als ein Hund an der Seite seines Herrn, versuchte seine Absichten zu erahnen.
"Beruhige dich, arbeitest du nicht?"
"Kümmere dich nicht darum! Ich höre nicht auf zu arbeiten! Ich habe Leocádia gebeten die Wäsche zu waschen. Sie hatte heute wenig zu tun und..."
"Das war nicht gut..."
"Ach was! Es ist nicht mal drei Tage her, da hab ich dasselbe für sie getan... Und sie hatte nicht mal einen kranken Mann, sie wollte lediglich auf der Wiese ausspannen!"
"Gut, gut! Sprich nicht so über andere! Es wäre besser du wärst an deinem Zuber, anstatt hier schlecht über andere zu reden... Geh! Mach deine Arbeit."
Sie wollte sich schon wie ein verschrecktes Tier zurückziehen, als sie auf Rita traf, die fröhlich und beschwingt ins Zimmer trat, in der Hand eine Schüssel Kaffee mit Schnaps und auf der Schulter ein dickes Tuch als Wärmedecke für den Kranken.
"Ah!", sagte Piedade, ohne ein passendes Wort für die Mulattin zu finden und blieb.
Rita, sorglos, fröhlilch und wohlwollend wie immer, setzte das Tablett auf den Altar und entfaltete die Dicke.
"Damit geht es dir gleich besser!", sagte sie, "ihr Portugiesen wegen jede Kleinigkeit versetzt euch in eine Laune, dass man meint ihr würdet sterben mit einem Gesicht wie auf dem Sterbebett! Meine Güte! Nun mal munter! Benimm dich nicht wie ein Weib!"
Er lachte und richtete sich im Bett auf.
"Ist es nicht so?", fragte sie Piedade und zeigte auf bärtige Gesicht von Jerônimo. Schau dir nur dieses Gesicht an und sag mir, ob er nicht darum bittet beerdigt zu werden!"
Die Portugiesin sagte nichts, rang sich ein Lächeln ab, im Innern verärgert über diese Einmischung einer Fremden in die Pflege ihres Mannes. Es war nicht die Intelligenz oder der Verstand, der sie auf die Gefahr hinwies, sonder der Instinkt, sondern das feine und misstrauische Gespür jeder Frau anderen Frauen gegenüber, wenn sie ihr Kind in Gefahr sieht.
"Ich glaube es geht dir jetzt schon besser oder?", sagte sie schließlich frei heraus und suchte den Blick ihres Mannes, ohne jedoch seinen Unmut erkennen zu können.
"Allein schon der Geruch!", bestätigte die Mulatttin und gab dem Kranken den Kaffee. Trink, los! Erholen Sie sich! Ich will, dass sie bereit sind, wenn ich wieder komme, haben Sie das gehört?"
Und zu Piedade gewand sagte sie leise, wobei sie ihr die Hand auf den kräftigen Arm legte: "Er sollte auf keinen Fall so verschwitzt rumliegen. Zieh ihn aus und gib ihm zwei Finger Zuckerrohrschnaps, sobald er um Wasser bietet. Vorsicht mit dem Wind!"
Dann ging sie mit einem Gruß hinaus, ihr Rock, der einen Duft von Mayoran verströmte, wehte.
Piedade setzte sich neben den Bergmann, der schon auf den Beinen die Decke hatte, die Rita ihm gebracht hatte und während sie ihm half, die Schüssel an den Mund zu führen, brummte sie:
"Möge Gott, dass dies deinen Zustand nicht verschlimmert, anstatt ihn zu verbessern! Du trinkst nie Kaffee, du magst das nicht!"
"Ich trinke es nicht, weil ich es mag. Das ist Medizin!"
In der Tat trank er nie Kaffee und noch weniger aus einer Schüssel, aber er trank den ganzen Inhalt der Schüssel auf einmal und zog dann die Decke hoch bis zur Nase.
Seine Frau versuchte seine Füße zu bedecken und holte einen Schal für seinen Kopf.
"Bleib ruhig! Beweg dich nicht!"
Sie setzte sich neben ihn ans Bett, beobachtete ihn, bewegte sich nur auf Zehenspitzen, hielt den Atem an, rannte ständig zur Tür des Hauses um die Leute zu bitten, da draußen nicht so einen Lärm zu machen. Sie war beunruhigt, erfüllt von einer geradezu abergläubischen Unruhe ob der Unpässlichkeit ihres Mannes. Jerônimo aber kümmerte das so wenig, dass er sie auch nicht aufforderte, die Kleider zu wechseln. Er war Schweiß gebadet.
"Nun ist gut!", rief sie strahlend.
Nachdem sie die Tür des Zimmers fest verschlossen hatte und ein Bündel schmutziger Wäsche in die sich in der Wand befindliche Lucke gestopft hatte, zog sie ihm das feuchte Hemd aus und zog ihm ein anderes über den Kopf. Dann zog sie seine lange Unterhose nach oben und begann mit einem Handtuch seinen ganzen Körper abzutrocknen, beginnen bei den Rippen , dann die Brust, dann die Achseln, die Pobacken, den Bauch und die Beine, schrubbte immer stärker, es war mehr wie eine Massage, bis das Blut des Bergmanns rauschte.
Die Frau lachte, liebkoste ihn tadelnd.
"Sei vernünftig! Beruhige dich! Siehst du nicht, dass du krank bist?"
Er erwiderte nichts. Er bedeckte sich wieder und bat um Wasser. Piedade holte den Zuckerrohrschnaps.
"Trink das, trink jetzt kein Wasser."
"Das ist Zuckerohrrschnaps!"
"Rita sagte, ich soll dir das geben."
Mehr brauchte es nicht, damit Jerônimo mit einem Schluck die zwei Finger Schnaps trank, die in dem Glas waren.
Nüchtern wie er war und nachdem er so geschwitzt hatte, hatte der Alkohol jenen wohligen und angenehmen Effekt der Trunkenheit, die die spüren, die nicht betrunken sind. Ein angenehmes Erschlaffen des ganzen Körpers, eine Art völliger Entspannung die der Befriedigung des Geschlechts vorangeht, wenn die Frau, nachdem man auf sie gewartet hat, sich uns schließlich nähert in einer nach Süßem verlangenden Gier. Jetzt, bequem im Bett liegend, im süßen Schatten des Zimmmers, neu eingekleidet in frische Wäsche, fühlte sich Jerônimo wohl, glücklichi, so weit entfernt vom glühenden Steinbruch und der sengenden Sonne zu sein. Mit geschlossenen Augen dem Brummen der Nudelmaschinen lauschend, die in der Ferne keuchten, das Summen der arbeitenden Wäscherinnen und in der Ferne die Hähne, die ohne Unterlass um die Wette krähten, während in der Ferne ein trauriges Geläut einen Schicksalschlag ankündigte, jemand, der in der Pfarrgemeinde verstorben ist.
Als Piedade hinaus ging, um die positive Wirkung der Medizin zu verkünden, eilte Rita wieder in das Zimmer des Kranken.
"Was sagen Sie jetzt? Fühlen Sie sich jetzt ein bisschen besser oder nicht?"
Er wandte sich dem Mädchen zu mit dem Blick eines unterwürfigen Tieres und seine einzige Antwort war, ihr den rechten Arm um die Hüfte zu legen und mit der rechten Hand nach ihrer zu fassen. Er wollte so seine Dankbarkeit ausdrücken und die Mulattin verstand es auch so, so dass sie sich nicht wehrte. Als aber sein Fleisch das ihre berührte, ergriff ihn eine brennende Sehnsucht. Das mächtige Verlangen von ihr sofort Besitz zu ergreifen, sie zu verschlingen in einem Ausschöpfen der ganzen Sinnlichkeit, sie wie Fruchtfleisch zu verzehren.
Als Rita merkte, wie sehr der Bergmann von ihr angezogen war, entwand sie sich seinen Krallen mit einem Satz.
"Verflucht noch mal! Seien Sie kein Dummkopf, was sag ich Ihrer Frau? Lassen wir das!"
Als aber Piedade ins das Nachbarzimmer trat, veränderte sie sofort ihren Ton und fügte hinzu:
"Jetzt müssen Sie versuchen zu schlafen und die Wäsche zu wechseln, wenn Sie wieder schwitzen. Bis später!". Mit diesen Worten ging Sie hinaus.
Jerônimo hatte bei ihren letzten Worten schon die Augen geschlossen und als Piedade ins Zimmer trat, schien er wieder einen Schwächeanfall zu haben. Die Wäscherin näherte sich auf Zehenspitzen dem Bett des Mannes, zog ihm das Leintuch über die Brust und entfernte sich wieder auf leisen Sohlen. An der Tür fragte sie Augusta, die im Begriff war, dem Kranken einen Besuch abzustatten, mit einer fragenden Geste. Piedade antwortete ohne zu sprechen, das Gesicht auf einer Hand den Kopf geneigt um ihr anzuzeigen, dass er jetzt schläft.
Die zwei gingen hinaus um sich laut zu unterhalten, aber gerade in diesem Moment begann im Hof der Mietskaserne ein schrecklicher Skandal. Henriquino schaute manchmal, wenn er nichts zu tun hatte, zwischen dem Mittagessen und dem Abendessen, aus einem Fenster des Hauses von Miranda und schaute Leocádia beim Wäsche waschen zu, verfolgte mit den Augen die regelmäßigen Bewegungen ihrer breiten Hüften und ihrer runden Brüste eingehüllt in ein Baumwolltuch. Sah er, dass sie alleine war, dann machte er obszöne Gesten, zwinkerte ihr zu, schlug mit der rechten offenen Hand in die linke geschlossene. Sie antwortete, indem sie mit dem Daumen auf das Innere des Hauses zeigte, also ob sagen will, dass sie die Frau des Hausherrn aufsuchen werde.
An diesem Tag jedoch erschien der Student am Fenster mit einem ganz weißen Hasen, den er am Vorabend bei einer Auktion ersteigert hatte. Leocádia wollte das Plüschtier und rannte zu der Stelle, wo die leeren Flaschen gelagert wurden, das sich unterhalb des Hauses befand, Henrique instäntig bittend, dass er es ihr gebe. Dieser wiederum, seiner Kommunikation über Mimik treu bleibend, teilte ihr mit, unter welchen Bedingungen sie es geschenkt haben könne.
Sie stimmte mit dem Kopf zu und er gab ihr mit Zeichen zu verstehen, dass er sie auf der Wiese hinten erwarten würde.
Die Familie von Miranda war nicht zu Hause. Henrique, mit der Kleidung, die er zu Hause trug und ohne Hut, kam auf die Straße, betrat, mit seinem Häschen unter ein Grundstück auf der linken Seite des Hauses und ging dann in Richtung der Wiese. Leocádia erwartete ihn unter den Mangobäumen.
"Hier nicht!", sagte sie, als sie ihn ihn kommen sah, "hier können Leute kommen!"
"Wo dann?"
"Komm hierher!"
Sie bog rechts ab, leicht gebeugt zwischen den Pflanzen. Henrique folgte ihr auf die gleiche Art, immer den Plüschhasen in den Händen haltend. Er schwitzte bei der Hitze ließ seine Wangen glühen. Man hörte das Hämmern der Schmiede und der Arbeiter des Steinbruchs.
Nach einigen Minuten hielt sie an einem Ort, wo Bambus und Bananstauden wuchsen und wo ein verfallener Schuppen stand.
"Hier!"
Leocádia schaute um sich, versicherte sich, dass sie alleine waren.
Henrique stürzte sich, ohne den Hasen loszulassen, auf sie.
"Warte! Ich muss den Rock ausziehen, er ist nass!"
"Das ist egal!", stieß er, ungeduldig in seinem Begehr, hervor.
"Kann sein, dass er noch nässer wird!"
Sie zog den Rock aus Walle hoch und zeigt ihre zwei üppigen Beine, die das Hemd nur bis zum Knie bedeckte, ganz weiß mit einem rosa Tönung und bedeckt mit Flohbissen und Mückenstichen.
"Mach! Beeil dich!", drängte sie und legte sich mit dem Rücken auf den Boden, zog den Rock hoch bis zur Hüfte, mit gespreizten Schenkeln.
Der Student näherte sich, voller Gier, fühlte das frische Fleisch der Wäscherin, ließ aber die Beine des Hasen nicht los.
Einen Moment veharrten sie in Schweigen, während die trockenen Blätter auf dem Boden raschelten und knirrschten.
"Hör! Mach mir einen Sohn, ich will mich als Amme verdingen, heute werden die Ammen gut bezahlt! A Augusta Carne-Mole, also sie das letzte Mal schwanger war, nach sie sich eines Kleinen in einer Familie an, die ihr siebzig Tausen Réis im Monat bezahlte! Das ist ein guter Tagessatz! Jedem seine tägliche Weinflasche! Wenn du mir einen Sohn besorgst, dann geb ich dir auch den Hasen wieder!
Das arme Tier, dessen Beine der Student nicht losließ, fing an sich über die immer heftiger werdenden Schläge zu beklagen.
"Hör mal, du bringst den kleinen Wurm noch um!", rief die Wäscherin, "schlag ihn nicht so, aber lass ihn auch nicht los!"
Sie wollte noch etwas sagen, aber sie wurde von einem Anfall erschüttert, schloss die Augen und fing an, den Kopf hin und her zu bewegen, die Zähne zusammenzupressen.
Unterdessen ließen sich Schritte vernehmen, die durch die Pflanzten streiften, in der Richtung, wo auch sie sich befanden und Henrique erspähte in der Ferne, bevor er selbst gesehen wurde, die wenig angenehme Figur des Bruno.
Er ließ ihm nicht die Zeit, heranzukommen. Mit einem Satz sprang er hinter die Bananenstauden und verschwand zwischen dem Bambus Gebüsch, so schnell wie der Hase, der, da er nun frei war, auf der anderen Seite den Weg zur Wiese fand.
Als der Schmied kurz darauf in die Nähe seiner Frau kam, hatte diese den nassen Rock nicht wieder angezogen.
"Mit wem reibst du dich du, du Kuh?", wetterte er fluchend.
Noch bevor sie antworten konnte, streckte sie schon ein mächtiger Fausthieb zu Boden.
Leocádia fing an zu heulen und sammelte ihre Wäsche ein, während ein Ungewitter aus Ohrfeigen und Fußtritten auf sie niederprasselte.
"Jetzt habe ich es gesehen! Keine Widerrede! Leugne es wenn du es wagst!"
"Scher dich zum Teufel!", rief sie mit einem knallroten Gesicht. Ich habe dir schon gesagt, dass ich nichts mehr von dir wissen will, verfluchter Trunkenbold."
Und da sie sah, dass er nicht locker lassen wollte, bückte sie sich schnell, griff mit beiden Händen nach einem Stein aus Granit, der sich vor ihren Füßen befand und, den Stein über dem Kopf haltend:
"Komm her und du wirst sehen, dass ich dir gleich hier den Schädel öffne!"
Der Schmied verstand, dass sie in der Lage war zu tun, was sie sagte und blieb erblasst stehen wie ein Pfahl.
"Pack deine Sachen und geh! Kapiert?"
"Was für ein Unglück! Ich hatte schon lange vor zu gehen! Ich habe nur noch einen Anlass gebraucht! Ich brauche dich für nicht, damit du es weißt!"
Und um ihn noch mehr zu ärgern, fügte sie noch hinzu, auf ihren Bauch zeigend.
"Ich habe da schon drin, mit was ich meinen Lebensunterhalt verdienen werde! Ich verdinge mich als Amme! Oder denkst du alle sind wie du, der nicht mal dazu taugt ein Kind zu machen, wertloser Teufel?"
"Aber du nimmst nichts aus dem Haus mit! Das schwör ich dir Hexe!"
"Ganz entspannt! Ich nehme von deinen Sachen nichts mit, das brauch ich gar nicht!"
"Leg den Stein hin!"
"Niemals! Ich schlagg dir damit den Kopf ein, wenn du hierher kommst!"
"Hervorragend, vorausgesetzt du verschwindest!"
"Dann mach den Weg frei!"
Er drehte ihr den Rücken zu und ging den Weg zurück, den er gekommen war, mit gesenktem Kopf, die Hände in den Hosentaschen, mit einer Körperhaltung, die verriet, dass er das Vorgefallene bedauerte."
Erst jetzt erinnerte sie sich an den Hasen.
"Jetzt heulst du!", sagte sie und ging, in entgegengesetzter Richtung wie ihr Mann, ihres Weges.
Dieser ging direkt zur Mietskaserne und erzählte jedem, der es hören wollte, was gerade vorgefallen war. Der Skandal brachte die ganze Mietskaserne in Wallung, wie ein heißer Wasserguss einen Ameisenhaufen. "Das musste passieren, wenn nicht heute, dann morgen! Eines schönen Tages wird das Haus abstürzen! Leocádia wünschte sich nichts anderes als das!" Niemand konnte allerdings erraten, mit welchem Teufel Bruno sein Frau auf der Wiese erwischt hatte. Tausend Hypothesen wurden gemacht. Man erinnerte sich an immer mehr Namen, konnte aber zu keinem befriedigenden Ergebnis kommen. Ablino versuchte später, das Ehepaar wieder miteinander zu versöhnen, schwörend, dass Bruno sich mit Sicherheit irrt und was anderes gesehen hatte. "Leocádia ist ein tolle Frau, zu so einer Schandtat unfähig. Der Schmied stopfte ihm mit einer Ohrfeige den Mund und niemand mehr versuchte, sie wieder zusammen zu bringen.
Unterdessen war Bruno in sein Haus gegangen und hatte alles, was seiner Frau gehörte aus dem Fenster geworfen. Ein Stuhl ging zu Bruch, als er auf die Steine knallte, dann kam eine Kerosinlampe, ein Bündel Wäsche, Röcke und Schürzen aus Baumwolle, Hutschachteln voll mit Lappen, ein Vogelkäfig, eine Teekanne. Alles mit Wut aufgehäuft inmitten des Platzes unter dem bewegten Schweigen aller derjenigen, die der Verbitterung beiwohnten. Ein Chinese, der hereingekommen war um Garnelen zu verkaufen und zerstreut vor dem Fenster des Schmieds stand, bekam ein Krug auf den Kopf und schrie wie ein Kind, das gerade verprügelt wurde. Machona, die es nicht ertrug, wenn jemand noch lauter schrie als sie, kam zu den Schlägen noch hinzu und setzte ihn, total verärgert, vor die Tür: "Das fehlte noch, dass ein solcher Gruß der Hölle kommt um jemanden noch mehr verwirren, als er es ohnehin schon war!" Dona Isabel, mit über dem Bauch verschränkten Händen, betrachtete das Geschehen mit einem Ausdruck von Mitleid. Augusta schüttelte traurig den Kopf ohne zu verstehen, wie es Frauen geben könne, die einen Mann suchten, obwohl sie einen hatten, der ihnen gehörte. Die Hexe, gleichgültig, unterbrach nicht mal ihre Arbeit, wohingegen das Dores, die Hände an den Hüften, mittendrin, eine Zigarre in den Mundwinkeln, betrachtete voller verachtung den Zorn dieses Gatten, so brutal wie ihrer.
"Immer die gleichen Esel!", kommentierte sie und rümpfte die Nase. Wenn irgendeine stumpfsinnige Frau versucht ihnen zu gefallen und zu machen, was sie wollen, dann sind sie wütend und wenn sie diesen Ehewahnsinn nicht ernst nimmt, drehen sie durch wie ein Tier! Alle zusammen ein einziger Abschaum!
Florinda, wie üblich, lachte und die alte Marciana beklagte sich, dass man Kerosin auf ihre in der Sonne ausgebreitete Wäsche schüttete. In diesem Moment flog ein Sack voll mit gemahlenem Kaffee aus dem Fenster, drehte sich zweimal in der Luft und verteilte seinen Inhalt, wodurch die ganze zur Bleiche ausgelegte Wäsche mit weißen Punkten besprengelt wurde. Sofort erhob sich ein Gekreische unter den Wäscherinnen. "Der hat kein Benehmenn, was für ein Teufel! Was haben die anderen damit zu tun, wenn die Streithähne aufeinander losgehen?! Nichts! Und die anderen haben auch keine Lust die Tobsuchtsanfälle des einen oder anderen zu erleben! Soll jeder zusehen, wie er klar kommt! Wenn er jetzt jedesmal wenn Leocádia sich auf der Wiese wälzt der durchgeknallte Gatte die Arbeit der Leute beschmutzt, kann niemand mehr dort seinen Lebensunterhalt verdienen! Was für ein Krampf!" Pombinha war an der Tür Nummer 15 angekommen und wurde, mit einer Näharbeit in den Händen, Zeuge des Lärms, Nenem, heißt von dem Bügeleisen, fragte mit einem schwachen Lächeln, ob Bruno vorhabe, das Mobiliar im Haus zu erneuern. Rita tat so, als ob sie der Situation keine Bedeutung zumesse und fuhr an ihrem Zuber fort, die Wäsche zu waschen. "Haben sie nicht ihre Hochzeit ordentlich gefeiert? Dann sollen sie das aushalten! Sie sich das aus freien Stücken ausgesucht!" Der alte Libório kam, um zu sehen, ob er aus d em ganzen Durcheinander irgendeinen Profit ziehen könne. . Machona, die sah, dass Agostionho das gleiche tat, rief ihm von dem Platz, wo sie sich befand zu: "Geh da weg du Strolch! Lass die Finger davon, sonst zieh ich dir das Fell über die Ohren!"
Ein Bruders des heiligen Ordens betrat, in seiner roten Kutte die Mietskaserne, mit seine silbernen Stab in der einen Hand und dem Beute für das Geld in der anderen, hielt inmitten des Hofes und sagte mit sehr näselnder Stimme: "Ein Almosen für die Sakramente!" Die Frauen verließen für eine Moment ihre Zuber um die Taube des heiligen Geistes zu küssen und warfen in den Spendenbeutel kleinie Münzen zu zwanzig.
Bruno hatte jedoch inzwischen alles, was seiner Frau gehörte hinausgeworfen und kam wieder aus dem Haus, wobei er das Schluss mit einem lauten Klang einrasten ließ. Er ging durch die Gruppe der Schaulustigen, mit den Armen rudernd wie jemand der, obwohl er schon viel getan hatte, seinen Zorn noch immer nicht hat stille können.
Kurz darauf erschien Leocádia, die, als sie alles was ihr gehörte zerbrochen und unbrauchbar auf dem Boden liegen sah, zur Haustür ging, die ihr Gatte soeben geschlossen hatte, mit dem Hintern gegen die zwei Türflügel die sofort nachgaben, worauf sie mit dem Bauch vorne ins Haus fiel.
Aber sie erhob sich wieder, ohne auf das Gelächter zu achten, das sich draußen erhob, öffnete das Fenster mit Schwung und begann nun ihrerseits alles zu zerstören, was sich im Haus befand.
Jetzt setzte die eigentliche Verwüstung ein und mit jedem Objekt, dass sie in den Hof warf schrie sie: "Hops! Nimm es Teufel!"
"Hier ist die Uhr! Hop! Nimme es Teufel!"
Und die Uhr zerschnellte auf dem Boden.
"Hier ist die Schüssel!"
"Hier der Krug!"
"Hier kommen die Gläser!"
"Der Kleiderständer!"
"Die Korbflasche!"
"Der Nachttopf!"
Ein allgemeines, einstimmig, absolut, dämpfte den Krach des Geschirrs, das auf die Steine knallte. Leocádia brauchte jetzt die Objekte gar nicht mehr mit ihrem Fluch zu begleiten, weil jedesmal der Chor draußen brüllte:
"Hops! Nimm es Teufel!"
Und die Säuberung ging weiter. João Romão kam herbeigerannt, aber niemand kümmerte sich um seine Gegenwart. Vor der Tür von Bruno hatte sich bereits ein großere Scherbenhaufen angesammelt und die Zerstörung ging weiter, als der Schmied wieder auftauchte, rot wie roter Pfeffer eilte er zu seinem Haus, mit einer Radspeiche in der rechten Hand..
Die Umherstehenden folgtem ihm, kreischend, durcheinander.
"Lass sie in Ruhe!"
"Das kannst du nicht!"
"Nimm!"
"Lass es dir nicht einfallen, sie zu schlagen!"
"Wirf den Prügel weg!"
"Vorsicht!"
"Beherrsch dich!"
"Komm her!"
"Nimm den Prügel!"
Leocádia entwischten der Prügel ihres Mannes, den die Meute im Getümmel entwaffnet hatte.
"Ruhe! Ruhe! Aufhören!", schrie der Kneipenwirt, dem man, unter Ausnützung des allgemeinen Chaos, schon ein paar Tritte in den Hintern verpasst hatte.
Alexandre, der in diesem Moment von der Arbeit kam, beeilte sich den Ort der Auseinandersetzung zu erreichen und mit seiner Autorität ausgestattet, schüchterte er Bruno ein und brachte ihn dazu, sich zusammenzunehmen und seine Frau in Ruhe zu lassen, andernfalls er sofort zur Polizeistation abgeführt würde.
"Sehen Sie das Huhn nicht, dass ich heute in flagranti erwischt habe, hat sie nicht noch obendrein alles kaputt gemacht?", vor Wut kochend und vor Atemlosigkeit fast unfähig zu sprechen.
"Warum hast du zerdeppert was mir gehört!", schrie Leocádia.
"Ist gut! Ist gut!", sagte der Polizist und versuchte dabei einen sowohl verbindlichen wie versöhnlichen Ton zu treffen. Jeder möge nun für sich sprechen! Ihr Mann sagt", wobei er sich der Angeklagten zuwandte, "dass Sie ..."
"Das ist eine Lüge", sagte sie.
"Lüge?! Das ist der Gipfel! Sie hatte den Rock hochgezogen und einen Mann über sich!"
"Wer war es? Wer ist es gewesen? Wer war der Mann?" fragten alle auf einmal.
"Wer war es denn?", fragte schließlich auch Alexandre.
"Ich konnte seine Fratze nich sehen!", antwortete der Schmied, "wenn ich ihn aber erwische, dann hau ich ihm die Rippen weich!"
Es erhob sich ein großes Gelächter.
"Das ist eine Lüge!", wiederholte Leocádia, sagte Leocádia und untedrückte ihre Tränen. Dieser Verfluchte sucht nun schon seit langem nach einem Grund, sich von mir zu trennen und da ich ihm keinen gebe...."
Der Rest des Satzes wurde von Tränen erstickt.
Jetzt lachte niemand, aber ihre Klagen wurden zunehmend von Tuscheln und Flüstern begleitet.
"Jetzt", fuhr sie fort und wischte sich mit dem Handrücken die Tränen weg, "weiß ich nicht, was aus mir werden soll, weil dieser Mann, mal abgesehen von allem anderen, hat mir selbst das genommen, was ich besaß, bevor ich ihn heiratete!"
"Hast du nicht gesagtt, du hättest jetzt etwas um deinen Lebensunterhalt zu verdienen? ... Und jetzt!"
"Das stimmt nicht", schluchzte Leocádia.
"Gut", intervenierte Alexandre und steckte seinen
Schlagstock in die Hülle. Nun ist Schluss! Ihr Mann wird sich wieder mit Ihnen vertragen..."
"Ich ?!", stieß der Schmied hervor, "Sie kennen mich nicht"
"Ich will das auch nicht!", erwiderte die Frau, "ich ziehe es vor mir einem Kutschpferd zusammenzuleben als diesen Strolch zu ertragen!"
Sie sammelte alle ihre Sachen zusammen und durchsuchte den Haufen aus Scherben nach Dingen, die ihr brauchbar erschienen, machte aus dem allen ein großes Bündel und ging einen Lastenträger suchen.
Rita kam ihr entgegen.
"Wohin gehst du?", fragte sie leise.
"Ich weiß nicht, irgendwohin! Ich muss einen Unterschlupf finden! Leben nicht auch die Hunde?"
"Warte einen Moment", sagte die Mulattin. Bring das Bündel in mein Haus." Sie lief zu Albino, der mit der Wäsche beschäftigt war: "Seif mir diese Wäsche ein, hörst du? Und wenn Firmo aufwacht, sag ihm, dass ich weg musste."
Dann sprang sie ins Zimmer, wechselte den nassen Rock, zog sich ihren gehäkelten Schal über die Schultern und flüsterte ihre Freundin, mit einem Klaps auf den Rücken zu:
"Komm mit mir! Wir werden eine Bleibe organisieren!"
Dann gingen die zwei beschwingt von dannen, die ganze neugierige Mietskaserne hinter sich lassend. |
IX
Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, uma xícara
de café bem grosso, à moda da Ritinha, e tragava dois dedos de parati “pra
cortar a friagem”.
Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a
hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho misterioso
e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo
e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora
aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus
primitivos sonhos de ambição; para idealizar felicidades novas, picantes e
violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de
guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso
resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com
que o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria
contra os conquistadores aventureiros.
E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos
de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. A sua casa perdeu aquele ar
sombrio e concentrado que a entristecia; já apareciam por lá alguns
companheiros de estalagem, para dar dois dedos de palestra nas horas de
descanso, e aos domingos reunia-se gente para o jantar. A revolução afinal foi
completa: a aguardente de cana substituiu o vinho; a farinha de mandioca
sucedeu à broa; a carne-seca e o feijão-preto ao bacalhau com batatas e cebolas
cozidas; a pimenta-malagueta e a pimenta-de-cheiro invadiram vitoriosamente a
sua mesa; o caldo verde, a açorda e o caldo de unto foram repelidos pelos ruivos
e gostosos quitutes baianos, pela muqueca, pelo vatapá e pelo caruru; a couve à
mineira destronou a couve à portuguesa; o pirão de fubá ao pão de rala, e, desde
que o café encheu a casa com o seu aroma quente, Jerônimo principiou a achar
graça no cheiro do fumo e não tardou a fumar também com os amigos.
E o curioso é que quanto mais ia ele caindo nos usos e costumes brasileiros,
tanto mais os seus sentidos se apuravam, posto que em detrimento das suas
forças físicas. Tinha agora o ouvido menos grosseiro para a música,
compreendia até as intenções poéticas dos sertanejos, quando cantam à viola os
seus amores infelizes; seus olhos, dantes só voltados para a esperança de tornar à
terra, agora, como os olhos de um marujo, que se habituaram aos largos
horizontes de céu e mar, já se não revoltavam com a turbulenta luz, selvagem e
alegre, do Brasil, e abriam-se amplamente defronte dos maravilhosos
despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras sem fim, donde, de espaço a
espaço, surge um monarca gigante, que o sol veste de ouro e ricas pedrarias
refulgentes e as nuvens tocam de alvos turbantes de cambraia, num luxo oriental
de arábicos príncipes voluptuosos.
Ao passo que com a mulher, a S’ora Piedade de Jesus, o caso mudava muito
de figura. Essa, feita de um só bloco, compacta, inteiriça e tapada, recebia a
influência do meio só por fora, na maneira de viver, conservando-se inalterável
quanto ao moral, sem conseguir, à semelhança do esposo, afinar a sua alma pela
alma da nova pátria que adotaram. Cedia passivamente nos hábitos de
existência, mas no intimo continuava a ser a mesma colona saudosa e
desconsolada, tão fiel às suas tradições como a seu marido. Agora estava até
mais triste; triste porque Jerônimo fazia-se outro; triste porque não se passava
um dia que lhe não notasse uma nova transformação; triste, porque chegava a
estranhá-lo, a desconhecê-lo, afigurando-se-lhe até que cometia um adultério,
quando à noite acordava assustada ao lado daquele homem que não parecia o
dela, aquele homem que se lavava todos os dias, aquele homem que aos
domingos punha perfumes na barba e nos cabelos e tinha a boca cheirando a
fumo. Que pesado desgosto não lhe apertou o coração a primeira vez em que o
cavouqueiro, repelindo o caldo que ela lhe apresentava ao jantar, disse-lhe:
— Ó filha! por que não experimentas tu fazer uns pitéus à moda de cá?...
— Mas é que não sei... balbuciou a pobre mulher.
— Pede então à Rita que to ensine... Aquilo não terá muito que aprender!
Vê se me fazes por arranjar uns camarões, como ela preparou aqueles doutro
dia. Souberam-me tão bem!
Este resvalamento do Jerônimo para as coisas do Brasil penalizava
profundamente a infeliz criatura. Era ainda o instinto feminil que lhe fazia
prever que o marido, quando estivesse de todo brasileiro, não a queria para mais
nada e havia de reformar a cama, assim como reformou a mesa.
Jerônimo, com efeito, pertencia-lhe muito menos agora do que dantes. Mal
se chegava para ela; os seus carinhos eram frios e distraídos, dados como por
condescendência; já lhe não afagava os rins, quando os dois ficavam a sós,
malucando na sua vida comum; agora nunca era ele que a procurava para o
matrimônio, nunca; se ela sentia necessidade do marido, tinha de provocá-lo. E,
uma noite, Piedade ficou com o coração ainda mais apertado, porque ele, a
pretexto de que no quarto fazia muito calor, abandonou a cama e foi deitar-se no
sofá da salinha. Desde esse dia não dormiram mais ao lado um do outro. O
cavouqueiro arranjou uma rede e armou-a defronte da porta de entrada, tal qual
como havia em casa da Rita.
Uma outra noite a coisa ainda foi pior. Piedade, certa de que o marido não
se chegava, foi ter com ele; Jerônimo fingiu-se indisposto, negou-se, e terminou
por dizer-lhe, repelindo-a brandamente:
— Não te queria falar, mas... sabes? deves tomar banho todos os dias e...
mudar de roupa... Isto aqui não é como lá! Isto aqui sua-se muito! É preciso
trazer o corpo sempre lavado, que, ao se não, cheira-se mel!... Tem paciência!
Ela desatou a soluçar. Foi uma explosão de ressentimentos e desgostos que
se tinham acumulado no seu coração. Todas as suas mágoas rebentaram naquele
momento.
— Agora estás tu a chorar! Ora, filha, deixa-te disso!
Ela continuou a soluçar, sem fôlego, dando arfadas com todo o corpo.
O cavouqueiro acrescentou no fim de um intervalo:
— Então, que é isto, mulher? Pões-te agora a fazer tamanho escarcéu, nem
que se cuidasse de coisa séria!
Piedade desabafou:
— É que já não me queres! Já não és o mesmo homem para mim! Dantes
não me achavas que pôr, e agora até já te cheiro mal!
E os soluços recrudesciam.
— Não digas asnices, filha!
— Ah! eu bem sei o que isto é!...
— E bobagem tua, é o que é!
— Maldita hora em que viemos dar ao raio desta estalagem! Antes me tivera
caldo um calhau na cabeça!
— Estás a queixar-te da sorte sem razão! Que Deus te não castigue.
Esta rezinga chamou outras que, com o correr do tempo, se foram
amiudando. Ah! já não havia dúvida que mestre Jerônimo andava meio caldo
para o lado da Rita Baiana; não passava pelo número 9, sempre que vinha à
estalagem durante o dia, que não parasse à porta um instante, para perguntar-lhe
pela “saudinha”. O fato de haver a mulata lhe oferecido o remédio, quando ele
esteve incomodado, foi pretexto para lhe fazer presentes amáveis; pôr os seus
préstimos à disposição dela e obsequiá-la em extremo todas as vezes que a
visitava. Tinha sempre qualquer coisa para saber da sua boca, a respeito da
Leocádia, por exemplo; pois, desde que a Rita se arvorara em protetora da
mulher do ferreiro, Jerônimo afetava grande interesse pela “pobrezinha de
Cristo”.
— Fez bem, Nhá Rita, fez bem!... A se’ora mostrou com isso que tem bom
coração...
— Ah, meu amigo, neste mundo hoje por mim, amanha por ti!...
Rita havia aboletado a amiga, a principio em casa de umas engomadeiras do
Catete, muito suas camaradas, depois passou-a para uma família, a quem
Leocádia se alagou como ama-seca; e agora sabia que ela acabava de descobrir
um bom arranjo num colégio de meninas.
— Muito bem! muito bem! aplaudia Jerônimo.
— Ora, o quê! O mundo é largo! sentenciou a baiana. Há lugar pro gordo e
há lugar pro magro! Bem tolo é quem se mata!
Em uma das vezes em que o cavouqueiro perguntou-lhe, como de costume,
pela pobrezinha de Cristo, a mulata disse que Leocádia estava grávida.
— Grávida? mas então não é do marido!...
— Pode bem ser que sim. Barriga de quatro meses...
— Ah! mas ela não foi há mais tempo do que isso?...
— Não. Vai fazer agora pelo São João quatro meses justamente.
Jerônimo já nunca pegava na guitarra senão para procurar acertar com as
modinhas que a Rita cantava. Em noites de samba era o primeiro a chegar-se e o
último a ir embora; e durante o pagode ficava de queixo bambo, a ver dançar a
mulata, abstrato, pateta, esquecido de tudo; babão. E ela, consciente do feitiço,
que lhe punha, ainda mais se requebrava e remexia, dando-lhe embigadas ou
fingindo que lhe limpava a baba no queixo com a barra da saia.
E riam-se.
Não! definitivamente estava caído!
Piedade agarrou-se com a Bruxa para lhe arranjar um remédio que lhe
restituísse o seu homem. A cabocla velha fechou-se com ela no quarto, acendeu
velas de cera, queimou ervas aromáticas e tirou sorte nas cartas.
E depois de um jogo complicado de reis, valetes e damas, que ela dispunha
sobre a mesa caprichosamente, a resmungar a cada figura que saia do baralho
uma frase cabalística, declarou convicta, muito calma, sem tirar os olhos das
suas cartas:
— Ele tem a cabeça virada por uma mulher trigueira.
— É o diacho da Rita Baiana! exclamou a outra. Bem cá me palpitava por
dentro! Ai, o meu rico homem!
E a chorar, limpando, aflita, as lágrimas no avental de cânhamo, suplicou à
Bruxa, pelas alminhas do purgatório, que lhe remediasse tamanha desgraça.
— Ai, se perco aquela criatura, S’ora Paula, lamuriou a infeliz entre
soluços; nem sei que virá a ser de mim neste mundo de Cristo!... Ensine-me
alguma coisa que me puxe o Jeromo!
A cabocla disse-lhe que se banhasse todos os dias e desse a beber ao seu
homem, no café pela manhã, algumas gotas das águas da lavagem; e, se no fim
de algum tempo, este regime não produzisse o desejado efeito, então cortasse
um pouco dos cabelos do corpo, torrasse-os até os reduzir a pó e lhos
ministrasse depois na comida.
Piedade ouviu a receita com um silêncio respeitoso e atento, o ar
compungido de quem recebe do médico uma sentença dolorosa para um doente
que estimamos. Em seguida, meteu na mão da feiticeira uma moeda de prata,
prometendo dar-lhe coisa melhor se o remédio tivesse bons resultados.
Mas não era só a portuguesa quem se mordia com o descaimento do
Jerônimo para a mulata, era também o Firmo. Havia muito já que este andava
com a pulga atrás da orelha e, quando passava perto do cavouqueiro, olhava-o
atravessado.
O capadócio ia dormir todas as noites com a Rita, mas não morava na
estalagem; tinha o seu cômodo na oficina em que trabalhava. Só pelos domingos
é que ficavam juntos durante o dia e então não relaxavam o seu jantar de
pândega. Uma vez em que ele gazeara o serviço, o que não era raro, foi vê-la
fora das horas do costume e encontrou-a a conversar junto à tina com o
português. Passou sem dizer palavra e recolheu-se ao número 9, onde ela foi
logo ter de carreira. Firmo não lhe disse nada a respeito das suas apreensões,
mas também não escondeu o seu mau humor; esteve impertinente e rezingueiro
toda a tarde. Jantou de cara amarrada e durante o parati, depois do café, só falou
em rolos, em dar cabeçadas e navalhadas, pintando-se terrível, recordando
façanhas de capoeiragem, nas quais sangrara tais e tais tipos de fama; “não
contando dois galegos que mandara pras minhocas, porque isso para ele não era
gente! — Com um par de cocadas boas ficavam de pés unidos para sempre!”
Rita percebeu os ciúmes do amigo e fez que não dera por coisa alguma.
No dia seguinte, às seis horas da manhã, quando ele saia da casa dela,
encontrou-se com o português, que ia para o trabalho, e o olhar que os dois
trocaram entre si era já um cartel de desafio. Entretanto, cada qual seguiu em
silêncio para o seu lado.
Rita deliberou prevenir Jerônimo de que se acautelasse. Conhecia bem o
amante e sabia de quanto era ele capaz sob a influência dos ciúmes; mas, na
ocasião em que o cavouqueiro desceu para almoçar, um novo escândalo acabava
de explodir, agora no número 12, entre a velha Marciana e sua filha Florinda.
Marciana andava já desconfiada com a pequena, porque o fluxo mensal
desta se desregrara havia três meses, quando, nesse dia, não tendo as duas
acabado ainda o almoço, Florinda se levantou da mesa e foi de carreira para o
quarto. A velha seguiu-a. A rapariga fora vomitar ao bacio.
— Que é isto?... perguntou-lhe a mãe, apalpando-a toda com um olhar
inquiridor.
— Não sei, mamãe...
— Que sentes tu?...
— Nada...
— Nada, e estás lançando?... Hein?!
— Não sinto nada, não senhora!...
A mulata velha aproximou-se, desatou-lhe violentamente o vestido,
levantou-lhe as saias e examinou-lhe todo o corpo, tateando-lhe o ventre, já
zangada. Sem obter nenhum resultado das suas diligências, correu a chamar a
Bruxa, que era mais que entendida no assunto. A cabocla, sem se alterar, largou
o serviço, enxugou os braços no avental, e foi ao número 12; tenteou de novo a
mulatinha, fez-lhe várias perguntas e mais à mãe, e depois disse friamente:
— Está de barriga.
E afastou-se, sem um gesto de surpresa, nem de censura.
Marciana, trêmula de raiva, fechou a porta da casa, guardou a chave no seio
e, furiosa, caiu aos murros em cima da filha. Esta, embalde tentando escapar-lhe,
berrava como uma louca.
Abandonaram-se logo todas as tinas do pátio e algumas das mesas do frege,
e o populacho, curioso e alvoroçado, precipitou-se para o número 12, batendo na
porta e ameaçando entrar pela janela.
Lá dentro, a velha escarranchada sobre a rapariga que se debatia no chão,
perguntava-lhe gritando e repetindo:
— Quem foi?! Quem foi?!
E de cada vez desfechava-lhe um sopapo pelas ventas.
— Quem foi?!
A pequena berrava, mas não respondia.
— Ah! não queres dizer por bem? Ora espera!
E a velha ergueu-se para apanhar a vassoura no canto da sala.
Florinda, vendo iminente o cacete, levantou-se de um pulo, ganhou a janela
e caiu de um salto lá fora, entre o povo amotinado. Coisa de uns nove palmos de
altura.
As lavadeiras a apanharam, cuidando em defendê-la da mãe, que surgiu logo
à porta, ameaçando para o grupo, terrível e armada de pau.
Todos procuraram chamá-la à razão:
— Então que é isso, tia Marciana?! Então que é isso?!
— Que é isto?! É que esta assanhada está de barriga! Está ai o que é! Para
tanto não lhe faltou jeito, nem foi preciso que a gente andasse atrás dela se
matando, como sucede sempre que há um pouco mais de serviço e é necessário
puxar pelo corpo! Ora está ai o que é!
— Bem, disse a Augusta, mas não lhe bata agora, coitada! Assim você lhe
dá cabo da pele!
— Não! Eu quero saber quem lhe encheu o bandulho! E ela há de dizer
quem foi ou quebro-lhe os ossos!
— Então, Florinda, diz logo quem foi... É melhor! aconselhou a das Dores.
Fez-se em torno da rapariga um silêncio ávido, cheio de curiosidade.
— Estão vendo?... exclamou a mãe. Não responde, este diabo! Mas
esperem, que eu lhes mostro se ela fala, ou não!
E as lavadeiras tiveram de agarrar-lhe os braços e tirar-lhe o cacete, porque
a velha queria crescer de novo para a filha.
Ao redor desta a curiosidade assanhava-se cada vez mais. Estalavam todos
por saber quem a tinha emprenhado. “Quem foi?! Quem foi?!” esta frase
apertava-a num torniquete. Afinal, não houve outro remédio:
— Foi seu Domingos... disse ela, chorando e cobrindo o rosto com a fralda
do vestido, rasgado na luta.
— O Domingos!...
— O caixeiro da venda!...
— Ah! foi aquele cara de nabo? gritou Marciana. Vem cá!
E, agarrando a filha pela mão, arrastou-a até à venda.
Os circunstantes acompanharam-na ruidosamente e de carreira.
A taverna, como a casa de pasto, fervia de concorrência.
Ao balcão daquela, o Domingos e o Manuel aviavam os fregueses, numa
roda-viva. Havia muitos negros e negras. O baralho era enorme. A Leonor lá
estava, sempre aos pulos, mexendo com um, mexendo com outro, mostrando a
dupla fila de dentes brancos e grandes, e levando apalpões rudes de mãos de
couro nas suas magras e escorridas nádegas de negrinha virgem Três marujos
ingleses bebiam gengibirra, cantando, ébrios, na sua língua e mascando tabaco.
Marciana na frente do grande grupo e sem largar o braço da filha, que a
seguia como um animal puxado pela coleira, ao chegar à porta lateral da venda,
berrou:
— Ó seu João Romão!
— Que temos lá? perguntou de dentro o vendeiro, atrapalhado de serviço.
Bertoleza, com uma grande colher de zinco gotejante de gordura, apareceu à
porta, muito ensebada e suja de tisna; e, ao ver tanta gente reunida, gritou para
seu homem:
— Corre aqui, seu João, que não sei o que houve!
Ele veio afinal.
Que diabo era aquilo?
— Venho entregar-lhe esta perdida! Seu caixeiro a cobriu, deve tomar conta
dela!
João Romão ficou perplexo.
— Hein! Que é lá isso?!
— Foi o Domingos! disseram muitas vozes.
— O seu Domingos!
O caixeiro respondeu: “Senhor...” com uma voz de delinqüente.
— Chegue cá!
E o criminoso apresentou-se, lívido de morte.
— Que fez você com esta pequena?
— Não fiz nada, não senhor!...
— Foi ele, sim! desmentiu-o a Florinda. — O caixeiro desviou os olhos,
para a não encarar. — Um dia de manhãzinha, às quatro horas, no capinzal,
debaixo das mangueiras...
O mulherio em massa recebeu estas palavras com um coro de gargalhadas.
— Então o senhor anda-me aqui a fazer conquistas, hein?!... disse o patrão,
meneando a cabeça. Muito bem! Pois agora é tomar conta da fazenda e, como
não gosto de caixeiros amigados, pode procurar arranjo noutra parte!...
Domingos não respondeu patavina; abaixou o rosto e retirou-se lentamente.
O grupo das lavadeiras e dos curiosos derramou-se então pela venda, pelo
portão da esta agem, pelo frege, por todos os lados, repartindo-se em pequenos
magotes que discutiam o fato. Principiaram os comentários, os juízos pró e
contra o caixeiro; fizeram-se profecias.
Entretanto, Marciana, sem largar a filha, invadira a casa de João Romão e
perseguia o Domingos que preparava já a sua trouxa.
— Então? perguntou-lhe. Que tenciona fazer?
Ele não deu resposta.
— Vamos! vamos! fale! desembuche!
— Ora lixe-se! resmungou o caixeiro, agora muito vermelho de cólera. —
Lixe-se, não!... Mais devagar com o andor! Você há de casar: ela é menor!
Domingos soltou uma palavrada, que enfureceu a velha.
— Ah, sim?! bradou esta. Pois veremos!
E despejou da venda, gritando para todos:
— Sabe? O cara de nabo diz que não casa!
Esta frase produziu o efeito de um grito de guerra entre as lavadeiras, que se
reuniram de novo, agitadas por uma grande indignação.
— Como, não casa?!...
— Era só o que faltava!
— Tinha graça!
— Então mais ninguém pode contar com a honra de sua filha?
— Se não queria casar pra que fez mal?
— Quem não pode com o tempo não inventa modas!
— Ou ele casa ou sai daqui com os ossos em sopa!
— Quem não quer ser loto não lhe vista a pele!
A mais empenhada naquela reparação era a Machona, e a mais indignada
com o fato era a Dona Isabel. A primeira correra à frente da venda, disposta a
segurar o culpado, se este tentasse fugir. Com o seu exemplo não tardou que em
cada porta, onde era possível uma escapula, se postassem as outras de sentinela,
formando grupos de três e quatro. E, no meio de crescente algazarra, ouviam-se
pragas ferozes e ameaças:
— Das Dores! toma cuidado, que o patife não espirre por ai!
— Ó seu João Romão, se o homem não casa, mande-no-lo pra cá! Temos
ainda algumas pequenas que lhe convêm!
— Mas onde está esse ordinário?!
— Saia o canalha!
— Está fazendo a trouxa!
— Quer escapar!
— Não deixe sair!
— Chame a polícia!
— Onde está o Alexandre?
E ninguém mais se entendia. À vista daquela agitação, o vendeiro foi ter
com o Domingos.
— Não saia agora, ordenou-lhe. Deixe-se ficar por enquanto. Logo mais lhe
direi o que deve fazer.
E chegando a uma das portas que davam para a estalagem, gritou:
— Vá de rumor! Não quero isto aqui! É safar!
— Pois então o homem que case! responderam.
— Ou dê-nos pra cá o patife!
— Fugir é que não!
— Não foge! não deixa fugir!
— Ninguém se arrede!
E, como a Marciana lhe lançasse uma injúria mais forte, ameaçando-o com
o punho fechado, o taverneiro jurou que, se ela insistisse com desaforos, a
mandaria jogar lá fora, junto com a filha, por um urbano.
— Vamos! Vamos! Volte cada uma para a sua obrigação, que eu não posso
perder tempo!
— Ponha-nos então pra cá o homem! exigiu a mulata velha.
— Venha o homem! acompanhou o coro.
— É preciso dar-lhe uma lição!
— O rapaz casa! disse o vendeiro com ar sisudo. Já lhe falei... Está
perfeitamente disposto! E, se não casar, a pequena terá o seu dote! Vão
descansados; respondo por ele ou pelo dinheiro!
Estas palavras apaziguaram os ânimos; o grupo das lavadeiras afrouxou;
João Romão recolheu-se: chamou de parte o Domingos e disse-lhe que não
arredasse pé de casa antes de noite fechada.
— No mais... acrescentou, pode tratar de vida nova! Nada o prende aqui.
Estamos quites.
— Como? se o senhor ainda não me fez as contas?!...
— Contas? Que contas? O seu saldo não chega para pagar o dote da
rapariga!...
— Então eu tenho de pagar um dote?!...
— Ou casar... Ah, meu amigo, este negócio de três vinténs é assim! Custa
dinheiro! Agora, se você quiser, vá queixar-se à policia... Está no seu direito! Eu
me explicarei em juízo!...
— Com que, não recebo nada?...
— E não principie com muita coisa, que lhe fecho a porta e deixo-o ficar às
turras lá fora com esses danados! Você bem viu como estão todos a seu respeito!
E, se há pouco não lhe arrancaram os fígados, agradeça-o a mim! Foi preciso
prometer dinheiro e tenho de cair com ele, decerto! mas não é justo, nem eu
admito, que saia da minha algibeira porque não estou disposto a pagar os
caprichos de ninguém, e muito menos dos meus caixeiros!
— Mas...
— Basta! Se quiser, por muito favor, ficar aqui até à noite, há de ficar
calado; ao contrário — rua!
E afastou-se.
Marciana resolveu não ir ao subdelegado, sem saber que providências
tomaria o vendeiro. Esperaria até ao dia seguinte “para ver só!” O que nesse ela
fez foi dar uma boa lavagem na casa e arrumá-la muitas vezes, como costumava,
sempre que tinha lá as suas zangas.
O escândalo não deixou de ser, durante o dia, discutido um só instante. Não
se falava noutra coisa; tanto que, quando, já à noite, Augusta e Alexandre
receberam uma visita da comadre, a Léonie, era ainda esse o principal assunto
das conversas.
Léonie, com as suas roupas exageradas e barulhentas de cocote à francesa,
levantava rumor quando lá ia e punha expressões de assombro em todas as caras.
O seu vestido de seda cor de aço, enfeitado de encarnado sangue de boi, curto,
petulante, mostrando uns sapatinhos à moda com um salto de quatro dedos de
altura; as suas lavas de vinte botões que lhe chegavam até aos sovacos; a sua
sombrinha vermelha, sumida numa nuvem de rendas cor-de-rosa e com grande
cabo cheio de arabescos extravagantes; o seu pantafaçudo chapéu de imensas
abas forradas de velado escarlate, com um pássaro inteiro grudado à copa; as
suas jóias caprichosas, cintilantes de pedras finas; os seus lábios pintados de
carmim; suas pálpebras tingidas de violeta; o seu cabelo artificialmente louro;
tudo isto contrastava tanto com as vestimentas, os costumes e as maneiras
daquela pobre gente, que de todos os lados surgiam olhos curiosos a espreitá-la
pela porta da casinha de Alexandre; Augusta, ao ver a sua pequena, a Juju, como
vinha tão embonecada e catita, ficou com os dela arrasados de água.
Léonie trazia sempre muito bem calçada e vestida a afilhada, levando o
capricho ao ponto de lhe mandar talhar a roupa da mesma fazenda com que fazia
as suas e pela mesma costureira; arranjava-lhe chapéus escandalosos como os
dela e dava-lhe jóias. Mas, naquele dia, a grande novidade que Juju apresentava
era estar de cabelos louros, quando os tinha castanhos por natureza. Foi caso
para uma revolução na estalagem; a noticia correu logo de número a número, e
muitos moradores se abalaram do cômodo para ver a filhita da Augusta “com
cabelos de francesa”.
Tal sucesso pôs Léonie radiante de alegria. Aquela afilhada era o seu luxo, a
sua originalidade, a coisa boa da sua vida de cansaços depravados; era o que aos
seus próprios olhos a resgatava das abjeções do oficio. Prostituta de casa aberta,
prezava todavia com admiração e respeito a honestidade vulgar da comadre;
sentia-se honrada com a sua estima; cobria-a de obséquios de toda a espécie.
Nos instantes que estava ali, entre aqueles seus amigos simplórios, que a
matariam de ridículo em qualquer outro lagar, nem ela parecia a mesma, pois até
os olhos lhe mudavam de expressão. E não queria preferências: assentava-se no
primeiro banco, bebia água pela caneca de folha, tomava ao colo o pequenito da
comadre e, às vezes, descalçava os sapatos para enfiar os chinelos velhos que
encontrasse debaixo da cama.
Não obstante, o acatamento que lhe votavam Alexandre e a mulher não
tinha limites; pareciam capazes dos maiores sacrifícios por ela. Adoravam-na.
Achavam-na boa de coração como um anjo, e muito linda nas suas roupas de
espavento, com o seu rostinho redondo, malicioso e petulante, onde reluziam
dentes mais alvos que um marfim.
Juju, com um embrulho de balas em cada mão, era carregada de casa em
casa, passando de braço a braço e levada de boca em boca, como um ídolo
milagroso, que todos queriam beijar.
E os elogios não cessavam:
— Rica pequena!...
— É um enlevo olhar a gente pro demoninho!
—É mesmo uma lindeza de criança!
— Uma criaturinha dos anjos!
— Uma boneca francesa!
— Uma menina Jesus!
O pai acompanhava-a comovido, mas solene sempre, parando a todo
momento, como em procissão, à espera que cada qual desafogasse por sua vez o
entusiasmo pela criança. Silenciosamente risonho, com os olhos úmidos,
patenteada em todo o seu carão mulato, de bigode que parecia postiço, um ar
condolente e estúpido de um profundo reconhecimento por aquela fortuna, que
Deus lhe dera à filha, enviando-lhe dos céus o ideal das madrinhas.
E, enquanto Juju percorria a estalagem, conduzida em triunfo, Léonie na
casa da comadre, cercada por uma roda de lavadeiras e crianças, discreteava
sobre assuntos sérios, falando compassadamente, cheia de inflexões de pessoa
prática e ajuizada, condenando maus atos e desvarios, aplaudindo a moral e a
virtude. E aquelas mulheres, aliás tão alegres e vivazes, não se animavam,
defronte dela, a rir nem levantar a voz, e conversavam a medo cochichando, a
tapar a boca com a mão, tolhidas de respeito pela cocote, que as dominava na
sua sobranceria de mulher loura vestida de seda e coberta de brilhantes. A das
Dores sentiu-se orgulhosa, quando Léonie lhe pousou no ombro a mãozinha
enluvada e recendente, para lhe perguntar pelo seu homem. E não se fartavam de
olhar para ela, de admirá-la; chegavam a examinar-lhe a roupa, revistar-lhe as
salas, apalpar-lhe as meias, levantando-lhe o vestido, com exclamações de
assombro à vista de tanto luxo de rendas e bordados. A visita sorria, por sua vez
comovida. Piedade declarou que a roupa branca da madama era rica nem como a
da Nossa Senhora da Penha. E Nenen, no seu entusiasmo, disse que a invejava
do fundo do coração, ao que a mãe lhe observou que não fosse besta. O Albino
contemplava-a em êxtase, de mão no queixo, o cotovelo no ar. A Rita Baiana
levara-lhe um ramalhete de rosas. Esta não se iludia com a posição da loureira,
mas dava-lhe apreço talvez por isso mesmo e, em parte, porque a achava deveras
bonita. “Ora! era preciso ser bem esperta e valer muito para arrancar assim da
pele dos homens ricos aquela porção de jóias e todo aquele luxo de roupa por
dentro e por fora!”
— Não sei, filha! pregava depois a mulata, no pátio, a uma companheira;
seja assim ou assado, a verdade é que ela passa muito bem de boca e nada lhe
falta: sua boa casa; seu bom carro para passear à tarde; teatro toda a noite; bailes
quando quer e, aos domingos, corridas, regatas, pagodes fora da cidade e
dinheirama grossa para gastar à farta! Enfim, só o que afianço é que esta não
está sujeita, como a Leocádia e outras, a pontapés e cachações de um bruto de
marido! É dona das suas ações! livre como o lindo amor! Senhora do seu
corpinho, que ela só entrega a quem muito bem lhe der na veneta!
— E Pombinha?... perguntou a visita. Não me apareceu ainda!...
— Ah! esclareceu Augusta. Não está ai, foi à sociedade de dança com a
mãe.
E, como a outra mostrasse na cara não ter compreendido, explicou que a
filha de Dona Isabel ia todas as terças, quintas e sábados, mediante dois mil-réis
por noite, servir de dama numa sociedade em que os caixeiros do comércio
aprendiam a dançar.
— Foi lá que ela conheceu o Costa... acrescentou.
— Que Costa?
— O noivo! Então a Pombinha já não foi pedida?
— Ah! sei...
E a cocote perguntou depois, abafando a voz:
— E aquilo?... Já veio afinal?...
— Qual! Não é por falta de boa vontade da parte delas, coitadas! Agora
mesmo a velha fez uma nova promessa a Nossa Senhora da Anunciação... mas
não há meio!
Daí a pouco, Augusta apresentou-lhe uma xícara de café, que Léonie
recusou por não poder beber. “Estava em uso de remédios...” Não disse, porém,
quais eram estes, nem para que moléstia os tomava.
— Prefiro um copo de cerveja, declarou ela.
E, sem dar tempo a que se opusessem, tirou da carteira uma nota de dez
mil-réis, que deu a Agostinho para ir buscar três garrafas de Carls Berg.
A vista dos copos, liberalmente cheios, formou-se um silêncio enternecido.
A cocote distribuiu-os por sua própria mão aos circunstantes, reservando um
para si. Não chegavam. Quis mandar buscar mais; não lho permitiram, objetando
que duas e três pessoas podiam beber juntas.
— Para que gastar tanto?... Que alma grande!
O troco ficou esquecido, de propósito, sobre a cômoda, entre uma infinita
quinquilharia de coisas velhas e bem tratadas.
— Quando você, comadre, agora me aparece por lá?... quis saber Léonie
— Pra semana, sem falta; levo-lhe toda a roupa. Agora, se a comadre tem
precisão de alguma... pode-se aprontar com mais pressa...
— Então é bom mandar-me toalhas e lençóis... Camisas de dormir, é
verdade! também tenho poucas.
— Depois d’amanhã está tudo lá.
E a noite ia-se passando. Deram dez horas. Léonie, impaciente já pelo rapaz
que ficara de ir buscá-la, mandou ver se ele por acaso estaria no portão, à espera.
— É aquele mesmo que veio da outra vez com a comadre?...
— Não. É um mais alto. De cartola branca.
Correu muita gente até à rua. O rapaz não tinha chegado ainda. Léonie ficou
contrariada.
— Imprestável!... resmungou. Faz-me ir sozinha por ai ou incomodar
alguém que me acompanhe!
— Por que a comadre não dorme aqui?... lembrou Augusta. Se quiser,
arranja-se tudo! Não passará bem como em sua casa, mas uma noite corre
depressa!...
Não! não era possível Precisava estar em casa essa noite: no dia seguinte
pela manhã iriam procurá-la muito cedo.
Nisto chegou Pombinha com Dona Isabel. Disseram-lhes logo à entrada que
Léonie estava em casa do Alexandre, e a menina deixou a mãe um instante no
número 15 e seguiu sozinha para ali, radiante de alegria. Gostavam-se muito
uma da outra. A cocote recebeu-a com exclamações de agrado e beijou-a nos
dentes e nos olhos repetidas vezes.
— Então, minha flor, como está essa lindeza! perguntou-lhe, mirando-a
toda.
— Saudades suas... respondeu a moça, rindo bonito na sua boca ainda pura.
E uma conversa amiga, cheia de interesse para ambas, estabeleceu-se,
isolando-as de todas as outras. Léonie entregou à Pombinha uma medalha de
prata que lhe trouxera; uma tetéia que valia só pela esquisitice, representando
uma fatia de queijo com um camundongo em cima. Correu logo de mão em
mão, levantando espantos e gargalhadas.
— Por um pouco que não me apanhas... continuou a cocote na sua conversa
com a menina. Se a pessoa que me vem buscar tivesse chegado já, eu estaria
longe. — E mudando de tom, a acarinhar-lhe os cabelos: — Por que não me
apareces!... Não tens que recear: minha casa é muito sossegada... Já lá têm ido
famílias!...
— Nunca vou à cidade... É raro! suspirou Pombinha.
— Vai amanhã com tua mãe; jantam as duas comigo...
— Se mamãe deixar... Olha! ela ai vem. Peça.
Dona Isabel prometeu ir, não no dia seguinte, mas no outro imediato, que
era domingo. E a palestra durou animada até que chegou, daí a um quarto de
hora, o rapaz por quem esperava Léonie. Era um moço de vinte e poucos anos,
sem emprego e sem fortuna, mas vestido com esmero e muito bem apessoado. A
cocote, logo que o viu aproximar-se, disse baixinho à menina:
— Não é preciso que ele saiba que vais lá domingo, ouviste?
Juju dormia. Resolveram não acordá-la; iria no dia seguinte.
Na ocasião em que Léonie partia pelo braço do amante, acompanhada até o
portão por um séquito de lavadeiras, a Rita, no pátio, beliscou a coxa de
Jerônimo e soprou-lhe à meia voz:
— Não lhe caia o queixo!...
O cavouqueiro teve um desdenhoso sacudir d’ombros.
— Aquela pra cá nem pintada!
E, para deixar bem patente as suas preferências, virou o pé do lado e bateu
com o tamanco na canela da mulata.
— Olha o bruto!... queixou-se esta, levando a mão ao lagar da pancada.
Sempre há de mostrar que é galego! |
IX
Wochen vergingen. Jerônimo trank jetzt jeden Morgen eine große Tasse Kaffee, wie die kleine Rita, und dazu zwei Finger Zuckerrohrschnaps "gegen die Erkältung."
Ein langsame und tiefe Verwandlung ging in ihm vor, Tag für Tag, Stunde für Stunde, durchdrang seinen Körper und steigerte seine Sinne, ein Vorgang so mysteriös wie die Entwicklung Larve zur Puppe. Seine Energie erlahmte langsam. Er wurde nachdenklich und romantisch. Das Leben in Amerika und die Natur Brasiliens zeigten ihm jetzt neue und verführerische Aspekte, die ihn tief berührten. Er vergaß seine ursprünglichen ehrgeizigen Träume. Eine andere Art von Glück, pikant und erschütternd, war jetzt sein Ideal, neue Leidenschaften erfültlen ihn, er fand gefallen an Genüssen, wurde faul und gab sich auf, geschlagen von der Sonne und der Hitze, eine Mauer aus Feuer, mit welcher der ewig aufsässige Geist des letzten Tamaya Indianers das Vaterland gegen die abenteuerlichen Konquistadoren verteidigte.
So veränderten sich allmählich seine spezifischen Angewohnheiten eines Portugiesen aus der Provinz. Jerônimo begann Brasilianer zu werden. Sein Haus verlor jene traurige Atmosphäre der Genügsamkeit die so traurig war. Einige Kameraden aus der Mietskaserne begannen ihn zu besuchen um in den Musestunden ein Schwätzchen zu halten und Sonntags traf er sich mit Leuten zum Abendessen. Schließlich war die Wandlung komplett. Der Zuckerrohrschnaps ersetzte den Wein. Das Maniokmehl ersetzte das Maismehl. Das Trockenfleisch mit schwarzen Bohnen folgte auf den Stockfisch mit Kartoffeln und gekochten Zwiebeln. Chilischotten und Paprika eroberten siegreich seinen Tisch. Die Kartoffelsuppe, die Brotsuppe, die Suppe mit Schweinespeck wurde von den heleln und köstlichen baianischen Speisen, der Fischsuppe, der Koskosmilchsuppe, der Suppe mit Okra Schotten. Die Grünkohlsuppe nach Mineira Art stürzte die Grünkohlsuppe nach portugiesischer Art vom Thron. Der Brei aus Maniokmehl durch Brot aus Weizenmehl und seit der Kaffee das Haus mit seinem Aroma füllte, fing Jerônimo auch an gefallen an dem Geruch von Rauch zu finden und es dauerte nicht lange, bis er mit seinen Freunden rauchte.
Das Merkwürdige war, dass seine Sinne immer feiner wurden, je mehr er die brasilianischen Gewohnheiten annahm, allerdings zu Lasten seiner physischen Stärke. Er hatte jetzt ein weniger grobes Ohr für Musik, verstand sogar die poetischen Absichten der Musik von Sertão, wenn sie von der Guitarre begleitet von ihrer unglücklichen Liebe sangen. Sein Augen, die früher nur darauf gerichtet waren, in seine Heimat zurückzukehren, richteten sich jetzt, wie die Augen eines Seemanns, auf den weiten Horizont des Himmels und des Meeres, wenn sie sich nicht gegen das gleisende, wilde und fröhliche Licht Brasiliens wehrten oder sich öffneten vor den unbegrenzten Steilhängen der Gebierge ohne Ende, wo, zwischen den Räumen, ein gigantischer Gipfel auftaucht, den die Sonne in Gold kleidet und reichen glänzenden Steinen, wo die Wolken in einem Luxus arabischer, sinnlicher Prinzen die Turbane aus Batist berühren
Schritt für Schritt änderte sich die Beziehung zu seiner Frau, Piedade de Jesus. Sie war aus einem Block, kompakt, wie aus einem Stück und verschlossen, der Einfluß ihrer Umgebung betraf nur Äußerlichkeiten, die Art zu leben, änderte aber nicht ihre Grundeinstellungen, bewirkte nicht, wie bei ihrem Mann, dass ihre Seele in Übereinstimmung gebracht wurde mit der Seele des Landes, das sie gewählt hatten. Passiv nahm sie die Gewohnheiten ihrer Umgebung an, aber im Innersten blieb sie dieselbe sehnsüchtige und untröstliche Siedlerin, hielt so treu zu ihren Traditionen wie zu ihrem Mann. Jetzt war sie noch trauriger. Traurig, weil Jerônimo ein anderer wurde. Traurig, weil kein Tag verging, an dem sie nicht eine andere Veränderung an ihm wahrnahm. Traurig, weil sie ihn vermisste, weil sie ihn nicht wieder erkannte, sie stellte sich sogar vor, dass er ihr untreu würde, wenn sie nachts neben dem Mann aufwachte, der nicht mehr der ihre schien, jener Mann, der sich täglich wusch, jener Mann, der sich sonntags seinen Bart und die Haare parfümierte und dessen Mund nach Rauch roch. So tief war ihr Schmerz, dass es ihr das Herz brach, als der Bergman ihr Essen weg schob und zu ihr sagte:
"Warum versuchst du nicht eines der hiesigen köstlichen Gerichte zuzubereiten?"
"Weil ich das nicht kann", stotterte die Frau.
"Dann bitte Rita, dass sie es dir beibringt. Das ist schnell gelernt! Mach mir ein paar Garnelen, wie sie sie vor kurzem zubereitet hat. Sie schmeckten mir so gut!"
Dieses Hinübergleiten des Jerônimo zu den Sitten Brasiliens schmerzte sie tief. Es war der Instinkt der Frau, der sie vorhersehen ließ, dass er, wenn er einmal vollständig Brasilianer geworden ist, er nichts mehr von ihr wollte und das Bett wie auch der Tisch neu gestaltet werden müsste.
Jerônimo gehörte nun viel weniger zu ihr wie früher. Er kam kaum noch zu ihr. Seine Zärtlichkeiten waren kalt und zerstreut, glichen eher einem Zugeständnis. Er streichelte ihre Lenden nicht mehr, wenn sie alleine waren, was ihr gemeinsames Leben schwerer machte. Nie war er es, der nach ihr als Gattin begehrte, nie. Verlangte sie nach dem Mann, dann musste sie ihn dazu bringen. Eines nachts wurde ihr Herz noch bedrückter, als er unter dem Vorwand, dass es zu heiß sei, das Bett verließ und sich auf dem Sofa im Wohnzimmer ausstreckte.Von diesem Tag an schliefein sie nicht mehr zusammen. Der Bergmann besorgte eine Hängematte und befestigte sie vor der Eingangstür, ganz so wie im Haus von Rita.
Eines Nachts war es noch schlimmer. Piedade, nachdem sie auf ihren Mann gewartet hatte, ging zu ihm. Jerônimo gab vor, unpässlich zu sein, verweigerte sich, bis er ihr schließlich rundheraus sagte.
"Ich will nicht mehr mit dir sprechen, verstehst du das? Du sollst jeden Tag ein Bad nehmen und... die Kleider wechseln... Dieses hier ist nicht wie das! Das hier ist durchgeschwitzt! Man muss den Körper immer sauber halten, damit er nach Honig riecht! Hab Geduld!"
Sie fing an zu schluchzen. Mit einem Schlag entluden sich der Schmerz und der Verdruss, der sich in ihrem Herzen angesammelt hatte. Ihr ganzer Ärger entlud sich in diesem Augenblick.
"Jetzt weinst du! Hör auf damit!"
Sie schluchzte weiter, ohne Atem, keuchte mit dem ganzen Körper.
Nach einem weiteren Anfall fügte der Bergmann hinzu:
"Was ist los, Frau? Du machst jetzt soviel Geschrei wegen nichts!"
Piedade sagte, was sie dachte:
"Du liebst mich nicht mehr! Du bist nicht mehr derselbe Mann für mich! Früher hast du nicht auf mich geachtet, jetzt findest du sogar, dass ich schlecht rieche!"
Die Schluchzer wurden stärker.
"Sag nicht solche Dummheiten!"
"Ah! Ich weiß, was das ist!"
"Das sind deine Dummheiten, das ist es!"
"Verflucht sei der Tag, an dem wir hier eingezogen sind! Es wäre besser gewesen, wenn mir ein Fels auf den Kopf gefallen wäre!"
"Du beklagst dich ohne Grund über dein Schicksal! Dass Gott dich nicht bestrafe."
Auf diesen Streit folgten andere und mit der Zeit immer mehr. Es gab nun keinen Zweifel mehr, das Meister Jerônimo in Rita Baiana verliebt war. Er ging nie, wenn er während des Tages zur Mietskaserne kam, an der Tür von Nummer 9 vorbei, ohne einen Moment davor stehen zu bleiben und zu grüßen. Die Tatsache, dass die Mulattin ihm Medizin gebracht hatte, als er krank war, war ein Vorwand sie nett zu grüßen. Er zeigte sich ihr von seiner besten Seite schmeichelte ihr ausgiebig, jedesmal, wenn er sie sah. Es gab immer etwas, was er aus ihrem Munde hören wollte. Seit Rita sich zur Beschützerin der Frau des Schmieds emporgeschwungen hatte, gab Jerônimo vor sich für die arme Christin zu interessieren.
"Das hast du gut gemacht, gut gemacht! Du hast gezeigt, dass du ein gutes Herz hast."
"Heute für mich, morgen für dich meine Freund."
Rita hatte ihre Freundin zuerst in dem Haus der Büglerinnen von Catete untergebracht, mit denen sie befreundet war, dann ging sie zu einer Familie, wo sich Leocadia als Kinderfrau verdingte. Jetzt hatte sie eine Anstellung ein einer Mädchenschule gefunden.
"Sehr gut! Sehr gut!", applaudierte Jerônimo.
"Nun denn! Die Welt ist groß!", stellte die Baianerin fest. Es gibt Platz für Dicke und Dünne! Beschränkt wer sich umbringt!"
Als der Bergmann sie einmal wieder fragte, wie es der armen Christin gehe, sagte die Mulattin, dass sie schwanger sei.
"Schwanger?", dann ist das wohl nicht von ihrem Mann!"
"Doch, das kann schon sein. Sie hat einen Bauch von vier Monaten."
"Ah! Aber ist sie nicht schon länger als vier Monate weg?"
"Nein. Am Johannistag sind es genau vier Monate."
Jerônimo nahm die Guitarre jetzt nur noch in die Hand, um die Melodien einzuüben, die Rita sang. An den Abenden, an denen Samba gespielt wurde, war er der erste der kam und der letzte, der ging. Während der Feier saß er da mit offenem Mund und schaute zu, wie die Mulattin, hingegeben, wie betäubt, selbstvergessen tanzte. Sie wusste um den Zauber, der ihn anzog, ihre Bewegungen wurden noch intensiver und sinnlicher, zeigte ihren Bauchnabel oder täuschte vor, ihm den Bart mit dem Rocksaum zu säubern.
Und sie lachten.
Nein! Er war ihr verfallen!
Piedade wandte sich an die Hexe, damit sie ihr eine Medizin gebe, die ihr ihren Mann zurückbringen möge. Die alte Mestizin schloss sich mit ihr in ein Zimmer ein, zündete Wachskerzen an, verbrannte verschiedene aromatische Pflanzen und las in den Karten die Zukunft.
Nach einem komplizierten Spiel mit Königen, Buben und Damen, die sie willkürlich auf dem Tisch ausbreitete, zu jeder Karte, die sie aus dem Stappel zog eine mysteriöse Formel sprechend, erlärte sie schließlich mit Entschiedenheit, ruhig, ohne den Blick von den Karten abzuwenden:
"Er hat eine Mulattin."
"Das ist dieser Teufel von Rita Baiana!", schrie die andere. Das hab ich schon lange gespürt. Oh, mein vortrefflicher Mann!"
Weinend, betrübt sich mit der Schürze aus Hanf die Tränen wegwischend, flehte sie die Hexe an, um der Reinigung der verstorbenen Seelen willen, dass sie dieses Unglück lindere.
"Wenn ich ihn verliere, Frau Paula, klagte die Unglückliche unter Schluchzern, dann weiß ich nicht, was in dieser christlichen Welt aus mir werden soll! Helfen sie mir, Jeromo zurückzubringen!"
Die Mestizin empfahl ihr, sich täglich zu baden und dem morgendlichen Kaffee ihres Mannes ein paar Tropfen des Badewassers hinzuzufügen. Sollte dies auch nach einiger Zeit nicht zu dem gewünschten Effekt führen, dann soll sie sich ein paar Haare abschneiden, diese soll sie dann tosten bis sie zu Staub geworden sind und ihm dann zum Essen hinzufügen.
Piedade vernahm das Rezept in ernstem und aufmerksamen Schweigen, mit einem betrübtem Gesichtsausdruck, wie jemand, der von Arzt den schmerzlichen Befund eines Kranken erhält, der uns nahe steht. Sie legte eine Silbermünze in die Hand der Hexerin und versprach ihr, mehr zu geben, wenn die Medizin gute Ergebnisse zeitigte.
Aber nicht nur die Portugiesin quälte die Leidenschaft Jerônimo für die Mulattin, sondern auch Firmo. Schon seit längerem lag dieser auf der Lauer und wenn der Bergmann vorbeiging, schaute er ihn schief an.
Dieser Vagabund verbrachte die Nächte bei Rita, wohnte aber nicht in der Mietskaserne. Er hatte eine Wohnung an dem Ort, wo er wohnte. Nur an den Sonntagen waren sie den ganzen Tag zusammen und abends aßen sie auf der Feier. Als er mal wieder blau machte, was nicht selten vorkam, kam er zu anderen Stunde als gewöhnlich und sah, wie sie am Zuber stand und mit dem Portugiesen sprach. Er ging vorbei, ohne ein Wort zu sagen und zog sich in das Zimmer Nr. 9 zurück, wohin sie ihm nacheilte. Firmo erzählte ihr nichts von seinen Ängsten, aber kaschierte auch nicht seine schlechte Laune. Er war den ganzen Nachmittag frech und schlecht gelaunt. Beim Abendessen machte er ein finsteres Gesicht und beim Zuckerrohrschnaps, nach dem Kaffee, hatter er nur ein Thema, Kopfnüsse zu geben, Messerstiche, sprach davon, was er für ein schrecklicher Typ ist, erwähnte die Heldentaten aus seiner Zeit als Capoeiro, wo er alle möglichen berühmten Typen hatte bluten lassen: "Die zwei Gallegos, die ich zu den Würmern schickte nicht mitgezählt, weil die es nicht drauf hatten! Mit ein paar schönen Kopfnüssen haben die die Beine für immer zusammen gehalten!" Rita bemerkte, dass ihr Freund eifersüchtig war, tat aber so, als ob sie nichts bemerke.
Am nächsten Tag, um sechs Uhr morgens, als er aus dem Haus kam, traf er auf den Portugiesen, der gerade zur Arbeit ging und allein die Blicke, die die beiden austauschten, war schon ein Drohbrief, wenn auch beide schweigend ihres Weges gingen.
Rita fragte sich, ob sie Jerônimo nicht zur Vorsicht mahnen müsse. Sie kannte ihren Liebhaber und wusste, zu was er fähig war, wenn er eifersüchtig war. Als der Bergmann jedoch zum Essen kam, erschütterte ein neuer Skandal die Mietskaserne, diesmal in Nr. 12, zwischen Marciana und ihrer Tochter Florinda.
Marciano hegte schon Befürchtungen bezüglich der Kleinen, weil die Regel schon seit drei Monaten überfällig war, als, kaum hatten die zwei an diesem Tag das Mittagessen beendet, Florinda sich erhob und in ihr Zimmer lief. Die Alte folgte ihr. Das Mädchen übergab sich in den Napf.
"Was ist los?", fragte die Mutter, ihr auf die Schulter klopfend, mit inquisitorischem Blick
"Ich weiß es nicht, Mama."
"Was fühlst du?"
"Nichts."
"Nichts, un du übergibst dich?"
"Ich fühle nichts!"
Die Mulattin näherte sich, öffnete gewaltsam das Kleid, hob ihren Rock hoch und untersuchte ihren ganzen Körper, betatschte ihren Bauch, wütend. Da ihre Bestrebungen zu keinem Ergebnis führten, ging sie die Hexe holen, die in diesen Dingen sehr erfahren war. Die Mestizin ließ ohne zu zögern ihre Arbeit liegen, trocknete ihre Hände an der Schürze, und ging zu Nr. 12. Sie betatschte die kleine Mulattin nochmal, fragte sie und die Mutter ein paar Dinge und sagte dann, ohne jede Anteilnahme:
"Sie ist schwanger."
Mit diesen Worten entfernte sie sich, ohne ein Zeichen der Verwunderung oder der Missbilligung.
Marciana, bebend vor Wut, schloss die Tür,
Marciana, trêmula de raiva, fechou a porta da casa, steckte den Schlüssesl zwischen ihre Brüste und fiel wütend mit den Fäusten über ihre Tochter her. Diese versuchte vergeblich zu flüchten, schrie wie eine Verrückte.
Sofort wurden alle Zuber des Hofes und einige Gästetische verlassen und das Volk, neugierig und aufgewühlt, rannte zur Nr. 12, schlug an die Tür und drohte über das Fenster einzusteigen.
Drinnen fragte die Alte immer wieder, über ihre Tochter gebeugt schreiend:
"Wer war es?! Wer war es?!"
Und jedes mal gab sie ihr einen Schlag auf die Nasenflügel.
"Wer war es?!"
Die Kleine schrie, aber antwortete nicht.
"So! Du willst es mir also nicht sagen? Warte!"
Sie richtete sich auf um den Besen in der Ecke des Raumes zu holen.
Florinda, die das drohende Unheil sah, sprang auf und erreichte das Fenster und mit einem Satz war sie draußen, inmitten der herbeigelaufenen Menge. So ungefähr 1,70 Meter.
Die Wäscherinnen fingen sie auf, bestrebt sie vor der Mutter zu verteidigen, die sofort zur Tür herauskam, drohte der Gruppe, schrecklich und mit einem Stock bewaffnet.
Alle versuchten, sie zur Vernunft zu bringen.
"Nun, was ist das Tante Marciano?! Was ist los?!"
"Was los ist?! Diese Durchgeknallte ist schwanger! Das ist los! Sie hatte soviel Zeit für alles mögliche, es war nicht mal nötig, dass sich abmüht und ihr hinterher läuft, wie es nötig ist, wenn es mehr zu arbeiten gibt und man ein bisschen den Körper bewegen muss! Jetzt ist sie da wo sie ist!"
"Gut, gut, sagte Augusta, aber schlag die Arme nicht mehr!
Du machst ihr so ja noch die ganze Haut kaputt."
"Ach was! Ich will nur wissen, wer ihr den Bauch gefüllt hat! Sie soll mir sagen, wer es war, oder ich brech ihr die Knochen!"
"Florinda, sag ihr endlich wer es war. Das ist besser!", riet das Dores.
Ein gieriges Schweigen trat rund um das Mädchen ein, voller Neugierde.
"Seht ihr?", rief die Mutter, "der Teufel antwortet nicht! Aber wartet, ich werde euch zeigen, ob sie spricht!"
Die Wäscherinnene mussten sie an den Armen festhalten und ihr den Stock entreissen, weil die Alte sich wieder auf die Tochter stürzen wollte.
Um sie herum nahm die Neugierde immer weiter zu. Alle gierten danach zu erfahren, wer sie geschwängert hatte. "Wer war es?! Wer war es?!", wurde sie immer wieder bedrängt. Schließlich gab es keinen Ausweg mehr.
"Domingo war es", sagte sie, weinend und bedeckte ihr Gesicht mit dem Rockteil ihres Kleides, das während des Kampfes zerrissen worden war.
"Domingos!"
"Der Mensch an der Theke der Kneipe!"
"Der also, der Typ mit dem Gesicht eines Idioten?", schrie Marciana. Komm!
Sie packte die Tochter bei der Hand und schleppte sie zur Kneipe.
Die Herumstehenden begleitet sie geräuschvoll und hastig.
Die Kneipe wie auch die Kantine war gut besucht.
An deren Theke bedienten Domingos und Manuel ohne Unterlass die Kunden. Viele Frauen und Männer mit schwarzer Hautfarbe waren da. Der Krach war enorrm. Leonor war da, immer auf dem Sprung, sich mal dem einen mal dem anderen zuwendend, die doppelte Reihe ihrer weißen und großen Zähne zeigend, erwehrte sich den Klapsen grober, lederner Hände auf ihre mageren und wohlgeformten Pobacken einer jungfräulichen, schwarzhäuigen Frau. Drei englische Matrosen tranken Ingwer Bier und sangen dabei Tabak kauend Lieder in ihrer Sprache.
Marciana, an vorderster Front der Gruppe und ohne den Arm der Tochter, die ihr folgte wie ein an der Leine gezogenes Tier, schrie, als sie die Seitentür der Kneipe erreicht hatte:
"João Romão soll kommen!"
"Was gibt's?" fragte der Kneipenwirt, in seine Arbeit vertieft.
Bertoleza, ein großes Zinkhalsband um den Hals und wabbernd vor Fettleibigkeit, erschien, die Kleidung voller Fettflecken und schwarz von der Kohle, in der Tür. Als sie so viele Leute in der Tür sah, rief sie nach ihrem Mann.
"Komm her João, ich weiß nicht, was hier los ist!"
Schließlich kam er.
Was zum Teufel ist hier los?
"Ich übergebe Ihnen diese verlorene! Ihr Mann an der Bar hat sie gedeckt, jetzt muss er sich um sie kümmern!"
João Romão war verdattert.
"Was! Was ist los?!"
"Domingos war es!", schrien viele Stimmen.
"Ihr Domingos!"
Domingos antwortete: "Herr...", mit schuldbewusster Stimme.
"Komm her!"
"Der Verbrecher kam heran, leichenblass.
"Was hast du mit der kleinen angestellt?"
"Ich habe nichts gemacht, Herr!"
"Doch, er war es!", widersprach Florinda. Domingos wendete den Blick ab, um ihr nicht in die Augen zu schauen. "Eines Morgens, um vier Uhr, auf der Wiese, unter den Mangobäumen..."
Die versammelten Weiber empfing diese Worte mit schallendem Gelächter.
"Der Herr macht mir hier also Eroberungen, was?!", sagte der Patron und schüttelte den Kopf, "sehr gut! Dann soll er sich jetzt darum kümmern und da ich niemanden an der Theke haben will, der in wilder Ehe lebt, kannst du dir einen anderen Job suchen!"
Domingo antwortete nichts, senkte den Kopf und zog sich langsam zurück.
Die Gruppe der Wäscherinnen und der Neugierigen verteilte sich dann in der Kneipe, am Tor derselben, am Ausschank, überall, die in kleinen Gruppen über das Vorgefallene diskutierten. Man fing an, den Vorfall zu kommentieren, Argument für und gegen Domingos vorzutragen, Prophezeiungen zu machen.
Unterdessen stürmte Marciana, ohne die Hand ihrer Tochter loszulassen, in das Haus von João Romão und verfolgte Domingos der schon sein Bündel schnürrte.
"Und nun?", fragte sie, "was gedenkst du zu tun?"
Er gab keine Antwort.
"Los! Los! Sprich! Äußere dich!!
"Nun beruhigen Sie sich mal!", brummte Domingos, der jetzt vor Wut rot angelaufen war, "beruhigen Sie sich! Weniger hitzig!"
"Sie müssen sie heiraten, sie ist minderjährig!"
Domingos fluchte, was die Alte wütend werden ließ.
"Ach so?!", geiferte sie, "wir werden sehen!"
Damit verließ sie die Kneipe, allen zurufend:
"Wisst ihr! Das Gesicht von einem Idioten sagt, dass er nicht heiraten wird!"
Dieser Satz war Anlass für ein Kriegsgeschrei zwischen den Wäscherinnen, die sich wieder versammelten, aufgewühlt vor Entrüstung.
"Wie, er heiratet nicht?!"
"Das fehlte gerade noch!"
"Das wird ja immer besser!"
"Dann kann ja niemand mehr auf die Ehre der Tochter bauen?"
"Wenn er sie nicht heiraten will, warum hat er ihr das angetan?"
"Der will hier wohl ganz neue Sitten einführen!"
"Entweder er heiratet sie, oder wir machen Fleischbrühe aus seinen Knochen!"
"Täusche nicht etwas vor, was du nicht bist!"
Wer am meisten auf diese Wiedergutmachung bestand war Machona und die, die sich am meisten entrüstete,war Dona Isabel. Erstere rannte zur Vorderseite der Kneipe, bereit den Beschuldigten festzuhalten, sollte dieser versuchen zu fliehen. Ihrem Beispiel folgend dauerte es nicht lange, bis sich an jeder Tür, durch die man hätte flüchten können, sich andere, in Gruppen in Dreier- und Vierergruppen als Wächterinnen positionierten. Inmitten des zunehmenden Geschreis hörte man schreckliche Flüche und Drohungen.
"Das Dores! Pass auf, dass der Schurke nicht entwischt!"
"João Romão, wenn der Kerl nicht heiratet, schick ihn her! Wir haben noch eine paar Kleine die ihm gut bekommen!"
"Wo ist der Kerl?!"
"Raus mit der Kanaille!"
"Der spielt das Unschuldslamm!"
"Der will flüchten!"
"Lasst ihn nicht entwischen!"
"Ruft die Polizei!"
"Wo ist Alexandre?"
Niemand verstand noch irgendwas. Im Angesichts dieser Unruhe, ging der Kneipenwirt zu Domingos.
"Geh jetzt nicht raus", befahl er ihm. Bleib erstmal. Später werde ich dir sagen, was du machen sollst."
Als er eine der Türen, die zur Mietskaserne führte, erreichte, schrie er:
"Schluss mit dem Krach! So was will ich hier nicht! Aufhören!"
"Dann soll der Typ heiraten!", schallte es zurück.
"Oder liefer und den Schurken aus!"
"Aus keinen Fall darf er entkommen!"
"Dass er ja nicht entwischt! Lass ihn nicht entkommen!"
Als Marciana ihn beleidigte, ihm mit der Faust drohte, schwor der Kneipenwirt, dass wenn sie sich weiterhin so benehme, dann lässt er sie, zusammen mit der Tochter, von der Polizei hinauswerfen.
"Los! Los! Jedere wieder an seine Arbeit, ich kann keine Zeit verlieren!"
"Dann liefer uns den Mann aus!", verlangte die Alte.
"Der soll herkommen!", wiederholte der Chor.
"Man muss ihm eine Lektion verabreichen!"
"Der Junge heiratet!", sagte der Kneipenwirt mit seriöser Miene. "Ich werde mit ihm sprechen. Er ist dazu bereit! Und wenn er nicht heiratet, dann bekommt sie Alimente! Seid beruhigt. Ich bürge für das Geld!"
Diese Worte besänftigten die Gemüter. Die Gruppe der Wäscherinnen beruhigte sich. João Romão zog sich zurück und rief Domingos, um ihm mitzuteilen, dass er keinen Tür vor die Tür setzt, bevor es dunkel ist.
"Ab jetzt", fügte er hinzu, "kannst du ein neues Leben beginnen! Hier hält dich nichts. Wir sind quitt."
"Wie? Machen wir keine Endabrechnung ?!"
"Endabrechnung? Welche Endabrechnung? Der Saldo reicht nicht mal um die Alimente für das Mädchen zu bezahlen!"
"Ich soll also Alimente bezahlen?!"
"Oder heiraten. So laufen die Geschäfte nun mal mein Freund! Sie kosten Geld! Wenn Sie wollen, können Sie sich bei der Polizei beschweren. Das ist Ihr Recht! Ich werde mich dann vor Gericht erklären!"
"Ich bekomme also nichts?"
"Und du fängst auch mit sehr wenig wieder an, ich knall Ihnen die Tür vor der Nase zu und lass Sie das draußen von den wild Gewordenen da draußen verprügeln! Sie haben ja gesehen, wie die zu Ihnen stehen! Dass die Ihnen nicht die Leber rausgerissen haben, haben Sie mir zu verdanken! Man musste Geld versprechen und daran muss ich mich ohne Zweifel halten, aber es ist nicht gerecht und das akzeptiere ich auch nicht, dass ich es von meinem Geldbeutel bezahle, weil ich nicht für den Leichtsinn anderer bezahle und noch viel weniger, wenn es sich dabei einen meiner Angestellten handelt!"
"Aber..."
"Es reicht! Wenn Sie wollen, das ist das größte Zugeständnis, können Sie hier bleiben, bis es nacht ist, ohne einen Mucks von sich zu geben. Wenn nicht, raus!"
Und er ging weg.
Marciana beschloss, nicht zu den Behörden zu gehen, ohne zu wissen, welche Vorkehrungen der Kneipenwirt getroffen hatte. Sie würde bis zum nächsten Tag warten und dann schauen! An diesem Tag putzte sie dann das Haus und räumte es gründlich auf, wie sie es gewöhnlich tat, wenn sie verärgert war.
Auch am nächsten Tag drehten sich alle Gespräche um diesen Skandal. Man sprach von nichts anderem. Man sprach von nichts anderem. Als Augusta und Alexandre Besuch von Leonie erhielten, der Taufpatin, war auch dort dies das zentrale Thema der Gespräche.
Léonie war, mit ihren übertriebenen und schrillen Kleidern einer französischen Kokotte, Anlass für Getuschele begleitet von einem Ausdruck des Erstaunens in den Gesichtern. Ihr Kleid aus grauer Seide, mit roten Verzierungen, kurz, frech, mit Schuhen, die der letzte Schrei waren und vier Finger hohe Absätze hatten. Ihre Handschuhe mit zwanzig Knöfen, die ihr bis unter die Achseln reichten, ihre roter Sonnenschirm, der ganz verdeckt wurde durch eine rosa Wolks aus Stickereien und mit einem großen, mit einem extravaganten Ornament verzierten Griff, ihr mächtig gewölbter Hut mit riesigen Hutkrampen mit einem scharlachroten Saum, mit einem ganzen Vogel auf der Hutspitze, ihr ungewöhnlicher Schmuck, funkelnd von Edelsteinen, ihre karminrot bemalten Lippen, ihr violetter Lidschatten, ihr blond gefärbten Haare, waren so vollkommen anders als die Kleider, Bräuche und Gewohnheiten dieser armen Leute, dass überall durch die Tür von Alexandre neugierige Blicke sie beäugten. Als Augusta ihre Kleine sah, Juju, so puppig und süß, war sie den Tränen nahe.
Léonie achtete sehr auff die Schuhe und Kleidung ihres Taufkindes, wenn sie kam. Ihre Laune ging so weit, dass sie ihre Kleider nach dem selben Muster und von derselben Schneiderin machen ließ, wie ihre eigenen. Sie ließ dieselben Aufsehen erregenden Hüte für sie machen, die sie auch selber trug und sie kaufte ihr Schmuck. An jenem Tag allerdings war die große Neuheit, dass Juju blondes Haar hatte, denn normalerweise waren sie braun. Das löste einen Aufruhr in der Mietskaserne aus. Die Nachricht ging sofort von Tür zu Tür und viele Bewohner eilten zur Wohnung, um das Töchterchen von Augusta mit Haaren "wie von einer Französin" zu sehen.
Dieser Erfolg ließ Léonie strahlen vor Glück. Jenes Patenkind war ihr Luxus, ihr ein und alles, ein Lichtblick in ihrem Leben voller millieubedingter Mühsal. Sie glaubte, dass sie allein sie davor bewahrte, sich vollkommen in der berufsbedingten Verderblichkeit zu verlieren. Sie arbeitet als Prostituierte in einem offnenen Bordell, achtete aber sorgfältig und respektvoll auf ihre Ehrenhaftigkeit als Patentante. Sie fühlte sich durch die Wertschätzung, die sie ihr entgegenbrachte geehrt. Sie überhäufte sie mit Geschenken aller Art. Während sie dort unter ihren bodenständigen Freunden war, welche sie überall sonst verachtet hätten, schien sie nicht mehr dieselbe zu sein, selbst ihre Augen veränderten ihren Ausdruck. Sie wollte auch keine Vorzugsbehandlung: Sie setzte sich auf die erstbeste Bank, trank Wasser aus einem Blechbecher, nahm ihr Patenkind in die Arme und zog sich manchmal die Schuhe aus umd in alte Schlappen zu schlüpfen, die sie unter dem Bett findet.
Dessen ungeachtet kannte die Verehrung die Alexandre und die Frau ihr entgegenbrachten keine Grenzen, für sie waren sie der größten Opfer fähig. Sie bewunderten sie. Für sie hatte sie ein Herrz wie ein Engel, wunderschön in ihrem zur Schau gestellten Pomp, mit ihrem runden Gesichtchen, schalkhaft und frech, mit den Zähnen weißer noch als Elfenbein.
Juju, eine Tüte Bonbons in beiden Händen, wurde von einem Haus zum anderen getragen, von einem Mund zum anderen gereicht, wie ein wundersames Idol, das alle küssen wollten.
Die Bewunderung nahm kein Ende.
"Was für eine hübsche Kleine!"
"Wie süß sie ist, wenn sie einen anschaut!"
"Was für ein hübsches Kind!"
"Wie ein Engel!"
"Eine französische Puppe!"
"Ein Kind des Jesus!"
Der Vater begleitete sie gerührt, wenn auch so prätentiös wie immer, immer innehaltend, wie bei einer Prozession, bis jede ihre Begeisterung für das Kind kund getan hatte. Innerlich lächelnd, mit feuchten Augen, sein Gesicht eines Mulatten mit dem Schnauzer, der wie angeklebt wirkte, in seiner herablassenden und dummen Art strahlend von einer tiefen Begeisterung ob des Glückes, dass Gott ihm die Tochter gegeben hat, ein vom Himmel geschicktes Ideal jeder Patin.
Während Juju durch durch die Mietskaserne ging, wie in einem Triumphzug, dozierte Léonie, ganz Patentante, umgeben von einer Gruppe Wäscherinnen, über ernste Dinge, verurteilte leidenschaftlich, gespickt Einsichten aus der Praxis und wohlinformiert, den Verfall der Sitten und Verwerfungen, pries die Moral und die Tugend. Die Frauen, die normalerweise so fröhlich und lebendig waren, waren still in ihrer Gegenwart und wagten nicht zu lachen oder die Stimme zu erheben, sprachen nur im Flüsterton, mit der Hand vor dem Mund, geblendet durch den Respekt vor der Kokotte, die sie in ihrer Überlegenheit einer in Seide gekleideten und mit Diamanten bedeckten Blondine überragte. Das Duas fühlte sich geehrt, also sie ihr gepflegtes Händchen, das in dem Handschuh steckte, auf ihre Schulter legte und nach ihrem Mann fragte. Sie konnten sich nicht an ihr satt sehen, sie bewundern. Sie kamen, um ihre Kleider zu bewundern. Sie kamen um ihre Kleidung zu betrachten, sich ihren Rock näher anzuschauen, ihre Strümpfe zu berühren, hoben ihr Kleid, erstaunt über soviel Luxus und Saum aus Spitzen. Der Besuch, ihrerseits gerührt, lächelte. Für Piedade war das weiße Kleid von Madame so kostbar wie das von Nossa Senhora da Penha. Nenen sagte voller Begeisterung, dass sie sie auch ganzem Herzen beneide, worauf ihre Mutter sie anhielt, nicht so ein Zeug zu erzählen. Albino betrachtete sie wie im Rausch, mit dem Kinn in der Hand, die Ellbogen in der Luft. Rita Baiana brachte ihr einen Strauß Rosen. Diese machte sich keine Illusionen über die Stellung der Blondine, aber vielleicht schätzte sie sie gerade deswegen, teilweise fand sie sich aber auch wirklich hübsch. "Man wirklich Erfahrung haben und geschickt, um aus reichen Männern diese Menge an Schmuck rauszupressen und die ganzen eleganten Kleider und Unterwäsche."
"Ich weiß nicht!", sagte die Mulattin später im Hof zu einer Freundin, "sei dem wie dem sei, Tatsache ist, dass es ihr gut geht, es fehlt ihr an nichts. Sie hat ein schönes Haus, ein Auto um Nachmittags spazieren zu fahren, jeden Abend Theater, kann tanzen, wann immer sie Lust dazu hat, sonntags Pferdrennen, Regatten, Feiern auf dem Land und jede Menge Geld um es mit vollen Händen auzugeben! Auf jeden Fall bin ich mir sicher, dass sie von niemandem abhängig ist, wie Leocádia und andere, ausgeliefert den Tritten und Schlägen eines Tölpels von Ehemann! Sie ist Herrin ihrer selbst! Frei wie die schöne Liebe! Herrin ihres Körpers, den sie nur demjenigen gibt, der sie ordentlich dafür bezahlt.!"
"Und Pombinha?", fragte der Besuch. Ich habe sie noch nicht gesehen!"
"Die ist nicht hier, die ist mit der Mutter zu einer Tanzgesellschaft gegangen", sagte Augusta.
Da die andere ein Gesicht machte, als ob sie nicht verstanden hätte, erklärte sie, dass die Tochter von Dona Isabel immer Dienstags, Donnerstag und Samstags für zweitausend Réis den Abend in einer Gesellschaft, wo die Angestellten tanzen lernten, die Dame spielte.
"Da hat sie Costa kennen gelernt", fügte sie hinzu.
"Welchen Costa?"
"Ihren Verlobten! Hat noch niemand um ihre Hand angehalten?"
"Du weißt doch..."
Die Kokotte fragte dann mit leiser Stimme:
"Und was ist damit? Ist es jetzt endlich mal gekommen?"
"Noch nicht! Am Willen fehlt es den beiden sicherlich nicht! Gerade jetzt macht die Alte der Nossa Senhora da Anunciação neue Versprechungen, aber kein Mittel hilft!"
Kurz darauf bot Augusta ihre einen Becher Kaffee an, den Léonie ablehnte, weil wie nichts trinken könne. "Ich habe Medikamente eingenommen", sagte sie, jedoch nicht für was noch gegen welche Krankheit.
"Ich hätte lieber ein Glas Bier", sagte sie.
Ohne ihnen Zeit zu lassen, sich zu widersetzen, zog sie einen zehntausend Réis Schein aus dem Geldbeutel, den sie Agostinho gab, damit er drei Flaschen Carls Berg kaufe.
Beim Anblick der Gläser, bis an den Rand gefüllt, bildete sich ein zärtliches Schweigen. Die Kokotte verteilte sie mit eigenen Händen und behielt eines für sich. Es reichte nicht. Sie wollte noch welche bestellen, was man, darauf verweisend, dass zwei oder drei Personen aus einem Glas trinken könnten, nicht zuließ.
"Warum so viel Geld ausgeben? Was für eine Großzügigkeit!"
Das Wechselgeld wurde, absichtlich, auf der Komode, zwischen einer Unmenge Kitsch an alten und sorgsam gehüteten Sachen, vergessen.
"Wann, darf ich wieder mit einem Auftrag von Ihnen rechnen?", wollte Leonie wissen.
"Bestimmt nächste Woche. Ich bringe die ganze Wäsche zu ihnen. Wenn Sie schon vorher irgendwas... Sie können sich auch früher bereithalten."
"Dann wäre es gut, wenn sie mir Hand- und Betttücher schicken würden...Nachthemden, das wäre gut. Ich habe wenige."
"Übermorgen ist alles da."
Der Abend verging. Es wurde zehn Uhr. Léonie, schon ungeduldig wegen des Jungen, der auf sie wartete, schickte jemanden um nachzuschauen, ob er schon am Tor wartet."
"Derselbe den ich kürzlich mit Ihnen gesehen habe?"
"Nein. Er ist größer. Mit weißem Zylinderhut."
Viele Leute liefen auf die Straße. Der Junge war noch nicht angekommen. Léonie war verärgert.
"Tagdieb!", brummte sie, "er lässt mich alleine hierher kommen oder belästigt jemand, damit der mich begleitet, anstatt es selber zu tun."
"Warum schlafen Sie nicht einfach hier?", schlug Augusta vor, "wenn Sie wollen, bereite ich alles vor! Das ist nicht so bequem, wie bei Ihnen zu Hause, aber eine Nacht ist schnell rum!"
Nein! Das ist nicht möglich. Sie musste diese Nacht zu Hause sein. Am nächsten Tag würde sie sehr früh abgeholt werden.
Unterdessen kam Pombinha mit Dona Isabel. Man ihnen, gleich nachdem sie eingetreten waren, dass Léonie bei Alexandre sei, worauf das Mädchen mit ihrer Mutter kurz zu Nr. 15 ging und dann, vor Freude strahlend, dahin. Die zwei mochten sich. Die Kokotte empfing sie herzlich, küsste sie mehere Male auf den Mund und auf die Augen.
"So, mein Blume, wie geht es der Schönheit!", fragte sie sie und betrachtete sie von oben nach unten.
"Wie nett Sie grüßen", antwortete das Mädchen und lachte mit ihrem noch reinen Mund.
Angeregt unterhielten sie sich, voller Interesse für den anderen, und vergaßen die anderen. Léoniei gab Pombinha eine Silbermünze, die sie für sie mitgebracht hatte, ein Spielzeug, dass nur einen Wert hatte, weil es speziell war. Es zeigte eine Käsescheibe mit einer Maus darauf. Es ging dann von Hand zu Hand und löste Schrecken und Gelächter aus.
"Fast hättest du mich nicht mehr angetroffen", setzte die Kokotte das Gespräch mit dem Mädchen fort. Wenn derjenige, der mich abolen soll schon gekommen wäre, wäre ich jetzt schon weg." Dann, in einem anderen Tonfall und ihr die Haare streichelnd: "Warum kommst du nicht mal zu mir! Du brauchst keine Angst haben. Mein Haus ist sehr ruhig. Schon ganze Familien waren da!"
"Ich gehe nie in die Stadt. Ganz selten", seufzte Pombinha.
"Komm morgen mit deiner Mutter, wir können zusammen Abend essen."
"Wenn Mama das zulässt. Schau! Sie kommt. Frag sie."
Dona Isabel versprach zu kommen. Nicht am nächsten Tag, sondern an dem darauf, was ein Sonntag war. Dann ging das Gespräch munter weiter, bis, nach einer Viertelstunde, der junge Mann kam, auf den Léonie wartete. Es war ein junger Mann etwas älter als zwanzig, ohne Anstellung und ohne Vermögen, aber sorgfältig gekleidet und gut aussehend. Die Kokotte, als sie ihn herankommen sah, flüsterte dem Mädchen zu:
"Es ist nicht nötig, dass er weiß, dass du am Sonntag kommst, hörst du?"
Juju schlief. Man beschloss, sie nicht zu wecken. Sie würde am nächsten Tag kommen.
Als Léonie am Arm des Geliebten weg ging, bis zum Tor von einem Gefolge von Wäscherinnene begleitet, kniff Rita Jerônimo in die Hüfte und raunte ihm zu:
"Dass dir ja das Kinn nicht runtefällt!"
Der Bergmann reagierte mit einem verächtlichen Schulterzucken.
"Die nicht mal angemalt!"
Und um seine Präferenzen zu zeigen, drehte er den Fuß zur Seite und klopfte mit dem Schuh an die Wade der Mulattin.
"Lass das, Tölpel!", beklagte sich diese und berührte mit der Hand, den Ort des Hiebes,"du musst wohl immer den Portugiesen raus hängen lassen!" |
X
No outro dia a casa do Miranda estava em preparos de festa. Lia-se no
“Jornal do Comércio” que Sua Excelência fora agraciado pelo governo
português com o titulo de Barão do Freixal; e como os seus amigos se achassem
prevenidos para ir cumprimentá-lo no domingo, o negociante dispunha-se a
recebê-los condignamente.
Do cortiço, onde esta novidade causou sensação, via-se nas janelas do
sobrado, abertas de par em par, surgir de vez em quando Leonor ou Isaura, a
sacudirem tapetes e capachos, batendo-lhes em cima com um pau, os olhos
fechados, a cabeça torcida para dentro por causa da poeira que a cada pancada se
levantava, como fumaça de um tiro de peça. Chamaram-se novos criados para
aqueles dias. No salão da frente, pretos lavavam o soalho, e na cozinha havia
rebuliço. Dona Estela, de penteador de cambraia enfeitado de laços cor-de-rosa,
era lobrigada de relance, ora de um lado, ora de outro, a dar as suas ordens,
abanando-se com um grande leque; ou aparecia no patamar da escada do fundo,
preocupada em soerguer as saias contra as águas sujas da lavagem, que
escorriam para o quintal. Zulmira também ia e vinha, com a sua palidez fria e
úmida de menina sem sangue. Henrique, de paletó branco, ajudava o Botelho
nos arranjos da casa e, de instante a instante, chegava à janela, para namoriscar
Pombinha, que fingia não dar por isso, toda embebida na sua costura, à porta do
número 15, numa cadeira de vime, uma perna dobrada sobre a outra, mostrando
a meia de seda azul e um sapatinho preto de entrada baixa; só de longo em longo
espaço, ela desviava os olhos do serviço e erguia-os para o sobrado. Entretanto,
a figura gorda e encanecida do novo Barão, sobre-casacado, com o chapéu alto
derreado para trás na cabeça e sem largar o guarda-chuva, entrava da rua e
atravessava a sala de jantar, seguia até a despensa, diligente esbaforido,
indagando se já tinha vindo isto e mais aquilo, provando dos vinhos que
chegavam em garrafões, examinando tudo, voltando-se para a direita e para a
esquerda, dando ordens, ralhando, exigindo atividade, e depois tornava a sair,
sempre apressado, e metia-se no carro que o esperava à porta da rua.
— Toca! toca! Vamos ver se o fogueteiro aprontou os fogos!
E viam-se chegar, quase sem intermitência, homens carregados de gigos de
champanha, caixas de Porto e Bordéus, barricas de cerveja, cestos e cestos de
mantimentos, latas e latas de conserva; e outros traziam perus e leitões, canastras
d’ovos, quartos de carneiro e de porco. E as janelas do sobrado iam-se enchendo
de compoteiras de doce ainda quente, saído do fogo, e travessões, de barro e de
ferro, com grandes peças de carne em vinha d’alhos, prontos para entrar no
forno. À porta da cozinha penduraram pelo pescoço um cabrito esfolado, que
tinha as pernas abertas, lembrando sinistramente uma criança a quem
enforcassem depois de tirar-lhe a pele.
Todavia, cá embaixo, um caso palpitante agitava a estalagem: Domingos, o
sedutor da Florinda, desaparecera durante a noite e um novo caixeiro o
substituía ao balcão.
O vendeiro retorquia atravessado a quem lhe perguntava pelo evadido:
— Sei cá! Creio que não podia trazê-lo pendurado ao pescoço!...
— Mas você disse que respondia por ele! repontou Marciana, que parecia
ter envelhecido dez anos naquelas últimas vinte e quatro horas.
— De acordo, mas o tratante cegou-me! Que havemos de fazer?... É ter
paciência!
— Pois então ande com o dote!
— Que dote? Você está bêbeda?
— Bêbeda, hein? Ah, corja! tão bom é um como o outro! Mas eu hei de
mostrar!
— Ora, não me amole!
E João Romão virou-lhe as costas, para falar à Bertoleza que se chegara.
— Deixa estar, malvado, que Deus é quem há de punir por mim e por minha
filha! exclamou a desgraçada.
Mas o vendeiro afastou-se, indiferente às frases que uma ou outra lavadeira
imprecava contra ele. Elas, porém, já se não mostravam tão indignadas como na
véspera; uma só noite rolada por cima do escândalo bastava para tirar-lhe o
mérito de novidade.
Marciana foi com a pequena à procura do subdelegado e voltou aborrecida,
porque lhe disseram que nada se poderia fazer enquanto não aparecesse o
delinqüente. Mãe e filha passaram todo esse sábado na rua, numa roda-viva, da
secretaria e das estações de polícia para o escritório de advogados que, um por
um, lhes perguntavam de quanto dispunham para gastar com o processo,
despachando-as, sem mais considerações, logo que se inteiravam da escassez de
recursos de ambas as partes.
Quando as duas, prostradas de cansaço, esbraseadas de calor, tornaram à
tarde para a estalagem, na hora em que os homens do mercado, que ali
moravam, recolhiam-se já com os balaios vazios ou com o resto da fruta que não
conseguiram vender na cidade, Marciana vinha tão furiosa que, sem dar palavra
à filha e com os braços moídos de esbordoá-la, abriu toda a casa e correu a
buscar água para baldear o chão. Estava possessa.
Vê a vassoura! Anda! Lava! lava, que está isto uma porcaria! Parece que
nunca se limpa o diabo desta casa! É deixá-la fechada uma hora e morre-se de
fedor! Apre! isto faz peste!
E notando que a pequena chorava:
— Agora deste para chorar, hein? mas na ocasião do relaxamento havias de
estar bem disposta!
A filha soluçou.
— Cala-te, coisa-ruim! Não ouviste?
Florinda soluçou mais forte.
— Ah! choras sem motivo?... Espera, que te faço chorar com razão.
E precipitou-se sobre ela com uma acha de lenha.
Mas a mulatinha, de um salto, pinchou pela porta e atravessou de uma só
carreira o pátio da estalagem, fugindo em desfilada pela rua.
Ninguém teve tempo de apanhá-la, e um clamor de galinheiro assustado
levantou-se entre as lavadeiras.
Marciana foi até o portão, como uma doida e, compreendendo que a filha a
abandonava, desatou por sua vez a soluçar, de braços abertos, olhando para o
espaço. As lágrimas saltavam-lhe pelas rugas da cara. E logo, sem transição,
disparou da cólera, que a convulsionava desde a manhã da véspera, para cair
numa dor humilde enternecida de mãe que perdeu o filho.
— Para onde iria ela, meu pai do céu?
— Pois você desd’ontem que bate na rapariga!... disse-lhe a Rita. Fugiu-lhe,
é bem feito! Que diabo! ela é de carne, não é de ferro!
— Minha filha!
— É bem feito! Agora chore na cama que é lugar quente!
— Minha filha! Minha filha! Minha filha!
Ninguém quis tomar o partido da infeliz, à exceção da cabocla velha, que foi
colocar-se perto dela, fitando-a imóvel, com o seu desvairado olhar de bruxa
feiticeira.
Marciana arrancou-se da abstração plangente em que caíra, para arvorar-se
terrível defronte da venda, apostrofando com a mão no ar e a carapinha
desgrenhada:
— Este galego e que teve a culpa de tudo! Maldito sejas tu, ladrão! Se não
me deres conta de minha filha, malvado, pego-te fogo na casa.
A bruxa sorriu sinistramente ao ouvir estas últimas palavras.
O vendeiro chegou à porta e ordenou em tom seco à Marciana que
despejasse o número 12.
— É andar! É andar! Não quero esta berraria aqui! Bico, ou chamo um
urbano! Dou-lhe uma noite! amanhã pela manhã — rua!
Ah! ele esse dia estava intolerante com tudo e com todos; por mais de uma
vez mandara Bertoleza à coisa mais imunda, apenas porque esta lhe fizera
algumas perguntas concernentes ao serviço. Nunca o tinha visto assim, tão fora
de si, tão cheio de repelões; nem parecia aquele mesmo homem inalterável,
sempre calmo e metódico.
E ninguém seria capaz de acreditar que a causa de tudo isso era o fato de ter
sido o Miranda agraciado com o titulo de Barão.
Sim, senhor! aquele taverneiro, na aparência tão humilde e tão miserável;
aquele sovina que nunca saíra dos seus tamancos e da sua camisa de riscadinho
de Angola; aquele animal que se alimentava pior que os cães, para pôr de parte
tudo, tudo, que ganhava ou extorquia; aquele ente atrofiado pela cobiça e que
parecia ter abdicado dos seus privilégios e sentimentos de homem; aquele
desgraçado, que nunca jamais amara senão o dinheiro, invejava agora o
Miranda, invejava-o deveras, com dobrada amargura do que sofrera o marido de
Dona Estela, quando, por sua vez, o invejara a ele. Acompanhara-o desde que o
Miranda viera habitar o sobrado com a família; vira-o nas felizes ocasiões da
vida, cheio de importância, cercado de amigos e rodeado de aduladores; vira-o
dar festas e receber em sua casa as figuras mais salientes da praça e da política;
vira-o luzir, como um grosso pião de ouro, girando por entre damas da melhor e
mais fina sociedade fluminense; vira-o meter-se em altas especulações
comerciais e sair-se bem; vira seu nome figurar em várias corporações de gente
escolhida e em subscrições, assinando belas quantias; vira-o fazer parte de festas
de caridade e festas de regozijo nacional; vira-o elogiado pela imprensa e
aclamado como homem de vistas largas e grande talento financeiro; vira-o enfim
em todas as suas prosperidades, e nunca lhe tivera inveja. Mas agora, estranho
deslumbramento! quando o vendeiro leu no “Jornal do Comércio” que o vizinho
estava barão — Barão! — sentiu tamanho calafrio em todo o corpo, que a vista
por um instante se lhe apagou dos olhos.
— Barão!
E durante todo o santo dia não pensou noutra coisa. “Barão!... Com esta é
que ele não contava!...” E, defronte da sua preocupação, tudo se convertia em
comendas e crachás; até os modestos dois vinténs de manteiga, que media sobre
um pedaço de papel de embrulho para dar ao freguês, transformava-se, de
simples mancha amarela, em opulenta insígnia de ouro cravejada de brilhantes.
À noite, quando se estirou na cama, ao lado da Bertoleza, para dormir, não
pôde conciliar o sono. Por toda a miséria daquele quarto sórdido; pelas paredes
imundas, pelo chão enlameado de poeira e sebo, nos tetos funebremente velados
pelas teias de aranha, estrelavam pontos luminosos que se iam transformando
em grã-cruzes, em hábitos e veneras de toda a ordem e espécie. E em volta do
seu espírito, pela primeira vez alucinado, um turbilhão de grandezas que ele mal
conhecia e mal podia imaginar, perpassou vertiginosamente, em ondas de seda e
rendas, velado e pérolas, colos e braços de mulheres seminuas, num fremir de
risos e espumar aljofrado de vinhos cor-de-ouro. E nuvens de caudas de vestidos
e abas de casaca lá iam, rodando deliciosamente, ao som de langorosas valsas e
à luz de candelabros de mil velas de todas as cores. E carruagens desfilavam
reluzentes, com uma coroa à portinhola, o cocheiro teso, de libré, sopeando
parelhas de cavalos grandes. E intermináveis mesas estendiam-se, serpenteando
a perder de vista, acumuladas de iguarias, numa encantadora confusão de flores,
luzes, baixelas e cristais, cercadas de um e de outro lado por luxuoso renque de
convivas, de taça em punho, brindando o anfitrião.
E, porque nada disso o vendeiro conhecia de perto, mas apenas pelo ruído
namorador e fátuo, ficava deslumbrado com o seu próprio sonho. Tudo aquilo,
que agora lhe deparava o delírio, até ai só lhe passara pelos olhos ou lhe chegara
aos ouvidos como o eco e reflexo de um mundo inatingível e longínquo; um
mundo habitado por seres superiores; um paraíso de gozos excelentes e
delicados, que os seus grosseiros sentidos repeliam; um conjunto harmonioso e
discreto de sons e cores mal definidas e vaporosas; um quadro de manchas
pálidas, sussurrantes, sem firmezas de tintas, nem contornos, em que se não
determinava o que era pétala de rosa ou asa de borboleta, murmúrio de brisa ou
ciciar de beijos.
Não obstante, ao lado dele a crioula roncava, de papo para o ar, gorda,
estrompada de serviço, tresandando a uma mistura de suor com cebola crua e
gordura podre.
Mas João Romão nem dava por ela; só o que ele via e sentia era todo aquele
voluptuoso mundo inacessível vir descendo para a terra, chegando-se para o seu
alcance, lentamente, acentuando-se. E as dúbias sombras tomavam forma, e as
vozes duvidosas e confusas transformavam-se em falas distintas, e as linhas
desenhavam-se nítidas, e tudo se ia esclarecendo e tudo se aclarava, num reviver
de natureza ao raiar do sol. Os tênues murmúrios suspirosos desdobravam-se em
orquestra de baile, onde se distinguiam instrumentos, e os surdos rumores
indefinidos eram já animadas conversas, em que damas e cavalheiros discutiam
política, artes, literatura e ciência. E uma vida inteira, completa, real,
descortinou-se amplamente defronte dos seus olhos fascinados; uma vida
fidalga, de muito luxo, de muito dinheiro; uma vida de palácio, entre mobílias
preciosas e objetos esplêndidos, onde ele se via cercado de titulares milionários,
e homens de farda bordada, a quem tratava por tu, de igual para igual,
pondo-lhes a mão no ombro. E ali ele não era, nunca fora, o dono de um cortiço,
de tamancos e em mangas de camisa; ali era o Sr. Barão! O Barão do ouro! o
Barão das grandezas! o Barão dos milhões! Vendeiro! Qual! era o famoso, o
enorme capitalista! o proprietário sem igual! o incomparável banqueiro, em
cujos capitais se equilibrava a terra, como imenso globo em cima de colunas
feitas de moedas de ouro. E viu-se logo montado a cavaleiras sobre o mundo,
pretendendo abarcá-lo com as suas pernas curtas; na cabeça uma coroa de rei e
na mão um cetro. E logo, de todos os cantos do quarto, começaram a jorrar
cascatas de libras esterlinas, e a seus pés principiou a formar-se um formigueiro
de pigmeus em grande movimento comercial; e navios descarregavam pilhas e
pilhas de fardos e caixões marcados com as iniciais do seu nome; e telegramas
faiscavam eletricamente em volta da sua cabeça; e paquetes de todas as
nacionalidades giravam vertiginosamente em torno do seu corpo de colosso,
arfando e apitando sem trégua; e rápidos comboios a vapor atravessam-no todo,
de um lado a outro, como se o cosessem com uma cadeia de vagões.
Mas, de repente, tudo desapareceu com a seguinte frase:
— Acorda, seu João, para ir à praia. São horas!
Bertoleza chamava-o aquele domingo, como todas as manhãs, para ir buscar
o peixe, que ela tinha de preparar para os seus fregueses. João Romão, com
medo de ser iludido, não confiava nunca aos empregados a menor compra a
dinheiro; nesse dia, porém, não se achou com animo de deixar a cama e disse à
amiga que mandasse o Manuel.
Seriam quatro da madrugada. Ele conseguiu então passar pelo sono.
Às seis estava de pé. Defronte, a casa do Miranda resplandecia já. Içaram-se
bandeiras nas janelas da frente; mudaram-se as cortinas, armaram-se florões de
murta à entrada e recamaram-se de folhas de mangueira o corredor e a calçada.
Dona Estela mandou soltar foguetes e queimar bombas ao romper da alvorada.
Uma banda de música, em frente à porta do sobrado, tocava desde essa hora. O
Barão madrugara com a família; todo de branco, com uma gravata de rendas,
brilhantes no peito da camisa, chegava de vez em quando a uma das janelas, ao
lado da mulher ou da filha, agradecendo para a rua; e limpava a testa com o
lenço; acendia charutos, risonho, feliz, resplandecente.
João Romão via tudo isto com o coração moído. Certas dúvidas aborrecidas
entravam-lhe agora a roer por dentro: qual seria o melhor e o mais acertado: —
ter vivido como ele vivera até ali, curtindo privações, em tamancos e mangas de
camisa; ou ter feito como o Miranda, comendo boas coisas e gozando à farta?...
Estaria ele, João Romão, habilitado a possuir e desfrutar tratamento igual ao do
vizinho?... Dinheiro não lhe faltava para isso... Sim, de acordo! mas teria animo
de gastá-lo assim, sem mais nem menos?... sacrificar uma boa porção de contos
de réis, tão penosamente acumulados, em troca de uma tetéia para o peito?...
Teria animo de dividir o que era seu, tomando esposa, fazendo família; e
cercando-se de amigos?... Teria animo de encher de finas iguarias e vinhos
preciosos a barriga dos outros, quando até ali fora tão pouco condescendente
para com a própria?... E, caso resolvesse mudar de vida radicalmente, unir-se a
uma senhora bem-educada e distinta de maneiras, montar um sobrado como o do
Miranda e volver-se titular, estaria apto para o fazer?... Poderia dar conta do
recado?... Dependeria tudo isso somente da sua vontade?... “Sem nunca ter
vestido um paletó, como vestiria uma casaca?... Com aqueles pés, deformados
pelo diabo dos tamancos, criados à solta, sem meias, como calçaria sapatos de
baile?... E suas mãos, calosas e maltratadas, duras como as de um cavouqueiro,
como se ajeitariam com a luva?... E isso ainda não era tudo! O mais difícil seria
o que tivesse de dizer aos seus convidados!... Como deveria tratar as damas e
cavalheiros, em meio de um grande salão cheio de espelhos e cadeiras
douradas?... Como se arranjaria para conversar, sem dizer barbaridades?...”
E um desgosto negro e profundo assoberbou-lhe o coração, um desejo forte
de querer saltar e um medo invencível de cair e quebrar as pernas. Afinal, a
dolorosa desconfiança de si mesmo e a terrível convicção da sua impotência
para pretender outra coisa que não fosse ajuntar dinheiro, e mais dinheiro, e
mais ainda, sem saber para que e com que fim, acabaram azedando-lhe de todo a
alma e tingindo de fel a sua ambição e despolindo o seu ouro.
“Fora uma besta!... pensou de si próprio, amargurado: Uma grande besta!...
Pois não! por que em tempo não tratara de habituar-se logo a certo modo de
viver, como faziam tantos outros seus patrícios e colegas de profissão?... Por
que, como eles, não aprendera a dançar? e não freqüentar sociedades
carnavalescas? e não fora de vez em quando à Rua do Ouvidor e aos teatros e
bailes, e corridas e a passeios?... Por que se não habituara com as roupas finas, e
com o calçado justo, e com a bengala, e com o lenço, e com o charuto, e com o
chapéu, e com a cerveja, e com tudo que os outros usavam naturalmente, sem
precisar de privilégio para isso?... Maldita economia!”
— Teria gasto mais, é verdade!... Não estaria tão bem!... mas, ora adeus!
estaria habilitado a fazer do meu dinheiro o que bem quisesse!... Seria um
homem civilizado!...
— Você deu hoje para conversar com as almas, seu João?... perguntou-lhe
Bertoleza, notando que ele falava sozinho, distraído do serviço.
— Deixe! Não me amole você também. Não estou bom hoje!
— Ó gentes! não falei por mal!... Credo!
— ’Stá bem! Basta!
E o seu mau humor agravou-se pelo correr do dia. Começou a implicar com
tudo. Arranjou logo uma pega, à entrada da venda, com o fiscal da rua: “Pois ele
era lá algum parvo, que tivesse medo de ameaças de multas?... Se o bolas do
fiscal esperava comê-lo por uma perna, como costumava fazer com os outros,
que experimentasse, para ver só quanto lhe custaria a festa!... E que lhe não
rosnasse muito, que ele não gostava de cães à porta!... Era andar!” Pegou-se
depois com a Machona, por causa de um gato desta, que, a semana passada, lhe
fora ao tabuleiro do peixe frito. Parava defronte das tinas vazias, encolerizado,
procurando pretextos para ralhar. Mandava, com um berro, saírem as crianças de
seu caminho: “Que praga de piolhos! Arre, demônio! Nunca vira gente tão
danada para parir! Pareciam ratas!” Deu um encontrão no velho Libório.
— Sai tu também do caminho, fona de uma figa! Não sei que diabo fica
fazendo cá no mundo um caco velho como este, que já não presta pra nada!
Protestou contra os galos de um alfaiate, que se divertia a fazê-los brigar, no
meio de grande roda entusiasmada e barulhenta. Vituperou os italianos, porque
estes, na alegre independência do domingo, tinham à porta da casa uma
esterqueira de cascas de melancia e laranja, que eles comiam tagarelando,
assentados sobre a janela e a calçada.
— Quero isto limpo! bramava furioso. Está pior que um chiqueiro de
porcos! Apre! Tomara que a febre amarela os lamba a todos! maldita raça de
carcamanos! Hão de trazer-me isto asseado ou vai tudo para o olho da rua! Aqui
mando eu!
Com a pobre velha Marciana, que não tratara de despejar o número 12,
conforme a intimação da véspera, a sua fúria tocou ao delírio. A infeliz, desde
que Florinda lhe fugira, levava a choramingar e maldizer-se, monologando com
persistência maníaca. Não pregou olho durante toda a noite; saíra e entrara na
estalagem mais de vinte vezes, irrequieta, ululando, como uma cadela a quem
roubaram o cachorrinho.
Estava apatetada; não respondia às perguntas que lhe dirigiam. João Romão
falou-lhe; ela nem sequer se voltou para ouvir. E o vendeiro, cada vez mais
excitado, foi buscar dois homens e ordenou que esvaziassem o numero 12.
— Os tarecos fora! e já! Aqui mando eu! Aqui sou eu o monarca!
E tinha gestos inflexíveis de déspota.
Principiou o despejo.
— Não! aqui dentro não! Tudo lá fora! na rua! gritou ele, quando os
carregadores quiseram depor no pátio os trens de Marciana. Lá fora do portão!
Lá fora do portão!
E a mísera, sem opor uma palavra, assistia ao despejo acocorada na rua, com
os joelhos juntos, as mãos cruzadas sobre as canelas, resmungando. Transeuntes
paravam a olhá-la. Formava-se já um grupo de curiosos. Mas ninguém entendia
o que ela rosnava; era um rabujar confuso, interminável, acompanhado de um
único gesto de cabeça, triste e automático. Ali perto, o colchão velho, já roto e
destripado, os móveis desconjuntados e sem verniz, as trouxas de molambos
úteis, as louças ordinárias e sujas do uso, tinham, tudo amontoado e sem ordem,
um ar indecoroso de interior de quarto de dormir, devassado em flagrante
intimidade. E veio o homem dos cinco instrumentos, que, aos domingos,
aparecia sempre; e fez-se o entra-e-sai dos mercadores; e lavadeiras ganharam a
rua em trajos de passeio, e os tabuleiros de roupa engomada, que saiam,
cruzaram-se com os sacos de roupa suja, que entravam; e Marciana não se
movia do seu lugar, monologando. João Romão percorreu o número 12,
escancarando as portas, a dar arres e empurrando para fora, com o pé, algum
trapo ou algum frasco vazio que lá ficara abandonado; e a enxotada, indiferente
a tudo, continuava a sussurrar funebremente. Já não chorava, mas os olhos
tinha-os ainda relentados na sua muda fixidez. Algumas mulheres da estalagem
iam ter com ela de vez em quando, agora de novo compungidas, e faziam-lhe
oferecimentos, Marciana não respondia. Quiseram obrigá-la a comer; não houve
meio. A desgraçada não prestava atenção a coisa alguma, parecia não dar pela
presença de ninguém. Chamaram-na pelo nome repetidas vezes; ela persistia no
seu ininteligível monólogo, sem tirar a vista de um ponto.
— Cruzes! parece que lhe deu alguma!
— A Augusta chegara-se também.
— Teria ensandecido?... perguntou à Rita, que, a seu lado, olhava para a
infeliz, com um prato de comida na mão. Coitada!
— Tia Marciana! dizia a mulata. Não fique assim!! Levante-se! Meta os
seus trens pra dentro! Vá lá pra casa até encontrar arrumação!...
Nada! O monólogo continuava.
— Olhe que vai chover! Não tarda a cair água! Já senti dois pingos na cara.
Qual!
A Bruxa, a certa distancia, fitava-a com estranheza, igualmente imóvel,
como um efeito de sugestão.
Rita afastou-se, porque acabava de chegar o Firmo, acompanhado pelo
Porfiro, trazendo ambos embrulhos para o jantar. O amigo da das Dores também
veio. Deram três horas da tarde. A casa do Miranda continuava em festa
animada cada vez mais cheia de visitas; lá dentro a música quase que não
tomava fôlego, enfiando quadrilhas e valsas; moças e meninas dançavam na sala
da frente, com muito riso; desarrolhavam-se garrafas a todo instante; os criados
iam e vinham, de carreira, da sala de jantar à despensa e à cozinha, carregados
de copos em salvas; Henrique, suado e vermelho, aparecia de quando em quando
à janela, impaciente por não ver Pombinha, que estava esse dia de passeio com a
mãe em casa de Léonie.
João Romão, depois de serrazinar na venda com os caixeiros e com a
Bertoleza, tornou ao pátio da estalagem queixando-se de que tudo ali ia muito
mal. Censurou os trabalhadores da pedreira, nomeando o próprio Jerônimo, cuja
força física aliás o intimidara sempre. “Era um relaxamento aquela porcaria de
serviço! Havia três semanas que estava com uma broca à-toa, sem atar, nem
desatar; afinal ai chegara o domingo e não se havia ainda lascado fogo! Uma
verdadeira calaçaria! O tal seu Jerônimo, dantes tão apurado, era agora o
primeiro a dar o mau exemplo! perdia noites no samba! não largava os rastros da
Rita Baiana e parecia embeiçado por ela! Não tinha jeito!” Piedade, ouvindo o
vendeiro dizer mal do seu homem, saltou em defesa deste com duas pedras na
mão, e uma contenda travou-se, assanhando todos os ânimos. Felizmente, a
chuva, caindo em cheio, veio dispersar o ajuntamento que se tornava sério. Cada
um correu para o seu buraco, num alvoroço exagerado; as crianças despiram-se
e vieram cá fora tomar banho debaixo das goteiras, por pagode, gritando, rindo,
saltando e atirando-se ao chão, a espernearem; fingindo que nadavam. E lá
defronte, no sobrado, ferviam brindes, enquanto a água jorrava copiosamente,
alagando o pátio.
Quando João Romão entrou na venda, recolhendo-se da chuva, um caixeiro
entregou-lhe um cartão de Miranda. Era um convite para lá ir à noite tomar uma
chávena de chá.
O vendeiro, a principio, ficou lisonjeado com o obséquio, primeiro desse
gênero que em sua vida recebia; mas logo depois voltou-lhe a cólera com mais
ímpeto ainda. Aquele convite irritava-o como um ultraje, uma provocação. “Por
que o pulha o convidara, devendo saber que ele decerto lá não ia?... Para que, se
não para o enfrenesiar ainda mais do que já estava?!... Seu Miranda que fosse à
tábua com a sua festa e com os seus títulos!”
— Não preciso dele para nada!... exclamou o vendeiro. Não preciso, nem
dependo de nenhum safardana! Se gostasse de festas, dava-as eu!
No entanto, começou a imaginar como seria, no caso que estivesse
prevenido de roupa e aceitasse o convite: figurou-se bem vestido, de pano fino,
com uma boa cadeia de relógio, uma gravata com alfinete de brilhantes; e viu-se
lá em cima, no meio da sala, a sorrir para os lados, prestando atenção a um,
prestando atenção a outro, discretamente silencioso e afável, sentindo que o
citavam dos lados em voz mortiça e respeitosa como um homem rico, cheio de
independência. E adivinhava os olhares aprobativos das pessoas sérias; os
óculos curiosos das velhas assestados sobre ele, procurando ver se estaria ali um
bom arranjo para uma das filhas de menor cotação.
Nesse dia serviu mal e porcamente aos fregueses; tratou aos repelões a
Bertoleza e, quando, já as cinco horas, deu com a Marciana, que, uns negros por
compaixão haviam arrastado para dentro da venda, disparatou:
— Ora bolas! pra que diabo me metem em casa este estupor?! Gosto de ver
tais caridades com o que é dos outros! Isto aqui não é acoito de vagabundos!...
E, como um polícia, todo encharcado de chuva, entrasse para beber um gole
de parati, João Romão voltou-se para ele e disse-lhe:
— Camarada, esta mulher é gira! não tem domicilio, e eu não hei de,
quando fechar a porta, ficar com ela aqui dentro da venda!
O soldado saiu e, daí a coisa de uma hora, Marciana era carregada para o
xadrez, sem o menor protesto e sem interromper o seu monólogo de demente.
Os cacaréus foram recolhidos ao depósito público por ordem do inspetor do
quarteirão. E a Bruxa era a única que parecia deveras impressionada com tudo
aquilo.
Entretanto, a chuva cessou completamente, o sol reapareceu, como para
despedir-se: andorinhas esgaivotaram no ar; e o cortiço palpitou inteiro na
trêfega alegria do domingo. Nas salas do barão a festa engrossava, cada vez
mais estrepitosa; de vez em quando vinha de lá uma taça quebrar-se no pátio da
estalagem, levantando protestos e surriadas.
A noite chegou muito bonita, com um belo luar de lua cheia, que começou
ainda com o crepúsculo; e o samba rompeu mais forte e mais cedo que de
costume, incitado pela grande animação que havia em casa do Miranda.
Foi um forrobodó valente. A Rita Baiana essa noite estava de veia para a
coisa; estava inspirada; divina! Nunca dançara com tanta graça e tamanha
lubricidade!
Também cantou. E cada verso que vinha da sua boca de mulata era um
arrulhar choroso de pomba no cio. E o Firmo, bêbedo de volúpia, enroscava-se
todo ao violão; e o violão e ele gemiam com o mesmo gosto, grunhindo,
ganindo, miando, com todas as vozes de bichos sensuais, num desespero de
luxúria que penetrava até ao tutano com línguas finíssimas de cobra.
Jerônimo não pôde conter-se: no momento em que a baiana, ofegante de
cansaço, caiu exausta, assentando-se ao lado dele, o português segredou-lhe com
a voz estrangulada de paixão:
— Meu bem! se você quiser estar comigo, dou uma perna ao demo!
O mulato não ouviu, mas notou o cochicho e ficou, de má cara, a rondar
disfarçadamente o rival.
O canto e a dança continuavam todavia, sem afrouxar. Entrou a das Dores.
Nenen, mais uma amiga sua, que fora passar o dia com ela, rodavam de mãos
nas cadeiras, rebolando em meio de uma volta de palmas cadenciadas, no
acompanhamento do ritmo requebrado da musica.
Quando o marido de Piedade disse um segundo cochicho à Rita, Firmo
precisou empregar grande esforço para não ir logo às do cabo.
Mas, lá pelo meio do pagode, a baiana caíra na imprudência de derrear-se
toda sobre o português e soprar-lhe um segredo, requebrando os olhos. Firmo,
de um salto, aprumou-se então defronte dele, medindo-o de alto a baixo com um
olhar provocador e atrevido. Jerônimo, também posto de pé, respondeu altivo
com um gesto igual. Os instrumentos calaram-se logo. Fez-se um profundo
silêncio. Ninguém se mexeu do lugar em que estava. E, no meio da grande roda,
iluminados amplamente pelo capitoso luar de abril, os dois homens, perfilados
defronte um do outro, olhavam-se em desafio.
Jerônimo era alto, espadaúdo, construção de touro, pescoço de Hércules,
punho de quebrar um coco com um murro: era a força tranqüila, o pulso de
chumbo. O outro, franzino, um palmo mais baixo que o português, pernas e
braços secos, agilidade de maracajá: era a força nervosa; era o arrebatamento
que tudo desbarata no sobressalto do primeiro instante. Um, sólido e resistente;
o outro, ligeiro e destemido, mas ambos corajosos.
— Senta! Senta!
— Nada de rolo!
— Segue a dança, gritaram em volta.
Piedade erguera-se para arredar o seu homem dali.
O cavouqueiro afastou-a com um empurrão, sem tirar a vista de cima do
mulato.
— Deixa-me ver o que quer de mim este cabra!... rosnou ele.
— Dar-te um banho de fumaça, galego ordinário! respondeu Firmo, frente a
frente; agora avançando e recuando, sempre com um dos pés no ar, e
bamboleando todo o corpo e meneando os braços, como preparado para
agarrá-lo.
Jerônimo, esbravecido pelo insulto, cresceu para o adversário com um soco
armado; o cabra, porém, deixou-se cair de costas, rapidamente, firmando-se nas
mãos o corpo suspenso, a perna direita levantada; e o soco passou por cima,
varando o espaço, enquanto o português apanhava no ventre um pontapé
inesperado.
— Canalha! berrou possesso; e ia precipitar-se em cheio sobre o mulato,
quando uma cabeçada o atirou no chão.
— Levanta-se, que não dou em defuntos! exclamou o Firmo, de pé,
repetindo a sua dança de todo o corpo.
O outro erguera-se logo e, mal se tinha equilibrado, já uma rasteira o
tombava para a direita, enquanto da esquerda ele recebia uma tapona na orelha.
Furioso, desferiu novo soco, mas o capoeira deu para trás um salto de gato e o
português sentiu um pontapé nos queixos.
Espirrou-lhe sangue da boca e das ventas. Então fez-se um clamor medonho.
As mulheres quiseram meter-se de permeio, porém o cabra as emborcava com
rasteiras rápidas, cujo movimento de pernas apenas se percebia. Um horrível
sarilho se formava. João Romão fechou às pressas as portas da venda e trancou o
portão da estalagem, correndo depois para o lugar da briga. O Bruno, os
mascates, os trabalhadores da pedreira, e todos os outros que tentaram segurar o
mulato, tinham rolado em torno dele, formando-se uma roda limpa, no meio da
qual o terrível capoeira, fora de si, doido, reinava, saltando a um tempo para
todos os lados, sem consentir que ninguém se aproximasse. O terror arrancava
gritos agudos. Estavam já todos assustados, menos a Rita que, a certa distancia,
via, de braços cruzados, aqueles dois homens a se baterem por causa dela; um
ligeiro sorriso encrespava-lhe os lábios. A lua escondera-se: mudara o tempo; o
céu, de limpo que estava, fizera-se cor de lousa; sentia-se um vento úmido de
chuva. Piedade berrava reclamando polícia; tinha levado um troca-queixos do
marido, porque insistia em tirá-lo da luta. As janelas do Miranda acumulavam-se
de gente. Ouviam-se apitos, soprados com desespero.
Nisto, ecoou na estalagem um bramido de fera enraivecida: Firmo acabava
de receber, sem esperar, uma formidável cacetada na cabeça. É que Jerônimo
havia corrido à casa e armara-se com o seu varapau minhoto. E então o mulato,
com o rosto banhado de sangue, refilando as presas e espumando de cólera,
erguera o braço direito, onde se viu cintilar a lamina de uma navalha.
Fez-se uma debandada em volta dos dois adversários, estrepitosa, cheia de
pavor. Mulheres e homens atropelavam-se, caindo uns por cima dos outros.
Albino perdera os sentidos; Piedade clamava, estarrecida e em soluços, que lhe
iam matar o homem; a das Dores soltava censuras e maldições contra aquela
estupidez de se destriparem por causa de entrepernas de mulher; a Machona,
armada com um ferro de engomar, jurava abrir as fuças a quem lhe desse um
segundo coice como acabava ela de receber um nas ancas; Augusta enfiara pela
porta do fundo da estalagem, para atravessar o capinzal e ir à rua ver se
descobria o marido, que talvez estivesse de serviço no quarteirão. Por esse lado
acudiam curiosos e o pátio enchia-se de gente de fora. Dona Isabel e Pombinha,
de volta da casa de Léonie, tiveram dificuldade em chegar ao número 15, onde,
mal entraram, fecharam-se por dentro, praguejando a velha contra a desordem e
lamentando-se da sorte que as lançou naquele inferno. Entanto, no meio de uma
nova roda, encintada pelo povo, o português e o brasileiro batiam-se.
Agora a luta era regular: havia igualdade de partidos, porque o cavouqueiro
jogava o pau admiravelmente; jogava-o tão bem quanto o outro jogava a sua
capoeiragem. Embalde Firmo tentava alcançá-lo; Jerônimo, sopesando ao meio
a grossa vara na mão direita, girava-a com tal perícia e ligeireza em torno do
corpo, que parecia embastilhado por uma teia impenetrável e sibilante. Não se
lhe via a arma; só se ouvia um zunido do ar simultaneamente cortado em todas
as direções.
E, ao mesmo tempo que se defendia, atacava. O brasileiro tinha já recebido
pauladas na testa, no pescoço, nos ombros, nos braços, no peito, nos rins e nas
pernas. O sangue inundava-o inteiro; ele rugia e arfava, iroso e cansado,
investindo ora com os pés, ora com a cabeça, e livrando-se daqui, livrando-se
dali, aos pulos e às cambalhotas.
A vitória pendia para o lado do português. Os espectadores aclamavam-no
já com entusiasmo; mas, de súbito, o capoeira mergulhou, num relance, até as
canelas do adversário e surgiu-lhe rente dos pés, grupado nele, rasgando-lhe o
ventre com uma navalhada.
Jerônimo soltou um mugido e caiu de borco, segurando os intestinos.
— Matou! Matou! Matou! exclamaram todos com assombro.
Os apitos esfuziaram mais assanhados.
Firmo varou pelos fundos do cortiço e desapareceu no capinzal.
— Pega! Pega!
— Ai, o meu rico homem! ululou Piedade, atirando-se de joelhos sobre o
corpo ensangüentado do marido. Rita viera também de carreira lançar-se ao chão
junto dele, para lhe afagar as barbas e os cabelos.
— É preciso o doutor! suplicou aquela, olhando para os lados à procura de
uma alma caridosa que lhe valesse.
Mas nisto um estardalhaço de formidáveis pranchadas estrugiu no portão da
estalagem. O portão abalou com estrondo e gemeu.
— Abre! Abre! reclamavam de fora.
João Romão atravessou o pátio, como um general em perigo, gritando a
todos:
— Não entra a polícia! Não deixa entrar! Agüenta! Agüenta!
— Não entra! Não entra! repercutiu a multidão em coro.
E todo o cortiço ferveu que nem uma panela ao fogo.
— Agüenta! Agüenta!
Jerônimo foi carregado para o quarto, a gemer, nos braços da mulher e da
mulata.
— Agüenta! Agüenta!
De cada casulo espipavam homens armados de pau, achas de lenha, varais
de ferro. Um empenho coletivo os agitava agora, a todos, numa solidariedade
briosa, como se ficassem desonrados para sempre se a polícia entrasse ali pela
primeira vez. Enquanto se tratava de uma simples luta entre dois rivais, estava
direito! “Jogassem lá as cristas, que o mais homem ficaria com a mulher!” mas
agora tratava-se de defender a estalagem, a comuna, onde cada um tinha a zelar
por alguém ou alguma coisa querida.
— Não entra! Não entra!
E berros atroadores respondiam às pranchadas, que lá fora se repetiam
ferozes.
A polícia era o grande terror daquela gente, porque, sempre que penetrava
em qualquer estalagem, havia grande estropício; à capa de evitar e punir o jogo e
a bebedeira, os urbanos invadiam os quartos, quebravam o que lá estava,
punham tudo em polvorosa. Era uma questão de ódio velho.
E, enquanto os homens guardavam a entrada do capinzal e sustentavam de
costas o portão da frente, as mulheres, em desordem, rolavam as tinas,
arrancavam jiraus, arrastavam carroças, restos de colchões e sacos de cal,
formando às pressas uma barricada.
As pranchadas multiplicavam-se. O portão rangia, estalava, começava a
abrir-se; ia ceder. Mas a barricada estava feita e todos entrincheirados atrás dela.
Os que entravam de fora por curiosidade não puderam sair e viam-se metidos no
surumbamba. As cercas das hortas voaram A Machona terrível fungara as saias
e empunhava na mão o seu ferro de engomar. A das Dores, que ninguém dava
nada por ela, era uma das mais duras e que parecia mais empenhada na defesa.
Afinal o portão lascou; um grande rombo abriu-se logo; caíram tábuas; e os
quatro primeiros urbanos que se precipitaram dentro foram recebidos a pedradas
e garrafas vazias. Seguiram-se outros. Havia uns vinte. Um saco de cal,
despejado sobre eles, desnorteou-os.
Principiou então o salseiro grosso. Os sabres não podiam alcançar ninguém
por entre a trincheira; ao passo que os projetis, arremessados lá de dentro,
desbaratavam o inimigo. Já o sargento tinha a cabeça partida e duas praças
abandonavam o campo, à falta de ar.
Era impossível invadir aquele baluarte com tão poucos elementos, mas a
polícia teimava, não mais por obrigação que por necessidade pessoal de
desforço. Semelhante resistência os humilhava. Se tivessem espingardas fariam
fogo. O único deles que conseguiu trepar à barricada rolou de lá abaixo sob uma
carga de pau que teve de ser carregado para a rua pelos companheiros. O Bruno,
todo sujo de sangue, estava agora armado de um refle e o Porfiro, mestre na
capoeiragem, tinha na cabeça uma barretina de urbano.
— Fora os morcegos!
— Fora! Fora!
E, a cada exclamação, tome pedra! tome lenha! tome cal! tome fundo de
garrafa!
Os apitos estridulavam mais e mais fortes.
Nessa ocasião, porém, Nenen gritou, correndo na direção da barricada.
— Acudam aqui! Acudam aqui! Há fogo no número 12. Está saindo
fumaça!
— Fogo!
A esse grito um pânico geral apoderou-se dos moradores do cortiço. Um
incêndio lamberia aquelas cem casinhas enquanto o diabo esfrega um olho!
Fez-se logo medonha confusão. Cada qual pensou em salvar o que era seu.
E os policiais, aproveitando o terror dos adversários, avançaram com ímpeto,
levando na frente o que encontravam e penetrando enfim no infernal reduto, a
dar espadeiradas para a direita e para a esquerda, como quem destroça uma
boiada. A multidão atropelava-se, desembestando num alarido. Uns fugiam à
prisão; outros cuidavam em defender a casa. Mas as praças, loucas de cólera,
metiam dentro as portas e iam invadindo e quebrando tudo, sequiosas de
vingança.
Nisto, roncou no espaço a trovoada. O vento do norte zuniu mais estridente e um
grande pé-d’água desabou cerrado. |
X
Anderntags wurden im Haus von Miranda Vorbereitungen für ein Fest getroffen. Man las im Jornal do Comércio, dass seine Exzellenz von der portugiesischen Regierung der Titel Baron von Freixal vergeben wurde. Da seine Freunde sich für den Sonntag angekündigt hatten um ihm zu gratulieren, bereite sich der Kaufmann darauf vor sie würdevoll zu empfangen.
Von der Mietskaserne aus, wo diese Nachricht eine Sensation war, sah man in den weit geöffneten Fenstern des Hauses, manchmal Leonor oder Isaura auftauchen, die die Teppiche und die Fußabtreter auschüttelten indem sie, mit geschlossenen Augen und den Kopf wegen dem Staub, im Haus haltend mit einem Stock darauf schlugen, so dass mit jedem Schlag Staub aufgewirbelt wurde, wie Rauch bei einem Schuss. Für diese Tage wurden extra neue Angestellte eingestellt. Angestelle mit dunkler Haut schrubbten das Parkett und in der Küche ging es hoch her. Dona Estela, gekleidet mit einem Morgenmantel auch Batist verziert mir rosa Schleifen, konnte immer mal wieder erspäht werden, einmal auf der einen Seite, einmal auf der anderen, wie sie, mit einem großen Fächer wedelnd, Anordnungen gab. Einmal erschien sie auf dem Absatz der hinteren Treppe, den Rock leicht anhebend, damit er nicht vom Waschwasser, das durch den Garten lief, beschmutzt würde. Zulmira kam und ging ebenfalls, mit der üblichen kalten Blässe eines blutarmen Mädchens. Henrique, im weißen Mantel, half Botelho dabei, das Haus herzurichten und trat von Zeit zu Zeit ans Fenster um Pombinha, die vor Nr. 15 ganz vertieft in ihre Näharbeit war, ein Bein über das andere geschlagen, ihre Seidenstrümpe zeigend und einen schwarzen Halbschuh, die so tat als bemerke sie das nicht. Nur von Zeit zu Zeit wendeten sich ihr Augen von der Arbeit ab und erhoben sich zu dem Haus. Unterdessen betrat die dicke Gestalt fortgeschrittenen Alters es neuen Baron mit einem Übermantel, einem nach hinten geschobenen hohen Hut ohne den Regenschirm aus der Hand zu geben, von der Straße in das Haus und durchschritt den Speisesaal, ging bis, eilig und außer Atem zur Speisekammer, schaute nach ob dieses oder jenes schon geliefert worden war, probierte die Weine, die in Bauchflaschen kamen, wandte sich alles untersuchend hier- und dahin, gab Befehle, tadelte und forderte mehr Eile, ging dann, auch das im Laufschritt, wieder weg und setzte sich in den Wagen, der vor der Tür auf ihn wartete.
"Los! Los! Ich will nachschauen, ob die Feuerwerker das Feuerwerk vorbereitet haben!"
Fast ohne Unterbrechung kamen Leute beladen mit Körben von Champagner, Kästen mit Portwein und Bordeau, Bierfässern, Körber und immer mehr Körbe mit Speisen, Dosen über Dosen mit Konserven. Andere brachten kiloweise Ferkelfleisch, Ladungen an Eiern, Viertel vom Rind und vom Schwein. In den Fenstern des Hauses stappelten sich Gläser mit Kompott, frisch vom Herd und noch heiß, irdene Töpfe und aus Eisen, mit großen Fleischstücken in Knoblauch Marinade, bereit in den Ofen geschoben zu werden. In der Tür der Küche hing am Hals aufgehängt eine enthäutete Ziege, mit weit gespreizten Beinen, die unheilvoll an ein Mädchen erinnerte, das man aufgehängt hatte, nachdem man ihr die Haut abgezogen hatte.
Unten jedoch beschäftigte ein aufregender Fall die Mietskaserne: Domingos, der Verführer von Florinda, war in der Nacht verschwunden und ein neuer Verkäufer bediente an seiner statt an der Theke.
Fragte man den Kneipenwirt, wo er abgeblieben ist, antwortete dieser nervös:
"Was fragst du mich! Ich glaube kau, dass ich am Nacken packen und herschleppen kann!"
"Aber Sie haben gesagt, dass sie für ihn bürgen!", antwortete Marciana, die in den letzten 24 Stunden um 10 Jahre gealtert zu sein schien.
"Einverstanden, aber der Bengel hat mich hintergangen! Was sollen wir machen? Man muss Geduld haben!"
"Nun dann, raus mit den Alimenten!"
"Welche Alimente? Sind Sie besoffen?"
"Besoffen? Noch so eine Kanaille! Einer vom gleichen Schlag wie der andee! Aber ich werde es ihnen zeigen!"
"Gehen Sie mir nicht auf die Nerven!"
Mit diesen Worten drehte João Romão ihr den Rücken zu, um mit Bertolzea zu sprechen, die gerade hinzukam.
"Warte nur du Ausgeburt der Hölle, Gott ist es, der dich an meiner und meiner Tochter statt strafen wird", rief die Unglückliche.
Doch der Kneipenwirt ging weg, machte sich nichts aus dem Geschrei, mit dem die Wäscherinnen ihn verfluchten. Die jedoch zeigten sich jetzt schon weniger entrüstet als am Vortag. Die eine Nacht, die seit dem Skandal vergangen war, reichte aus, damit der Skandal seinen Charakter der Neuheit verliert.
Marciana ging mit der Kleinen zum Polizeirevier und kam verärgert zurück, da man ihr gesagt hatte, dass man nichts machen könne, solange der Delinquent nicht wieder auftauche. Mutter und Tochter verbrachten den ganzen Samstag auf der Straße, waren den ganzen Tag auf den Beinen, von den Ämtern und den Polizeistationen zu Rechtsanwälten, die erstmal fragten, wieviel Geld ihnen für den Prozess zur Verfügung stehen würde und sie sofort verabschiedeten als sie erfuhren, dass bei beiden nur gereinge Mittel zur Verfügung stehen.
Als die zwei, erdrückt vor Müdigkeit, ermattet von der Hitze, am Nachmittag wieder zur Mietskaserne zurückkamen, zu der Stunde, als die Obsthändler, die dort wohnten, sich mit ihren leeren Körben oder mit dem Rest an Obst, das sie in der Stadt nicht haben verkaufen können, ausruhten, war Marciana so erzürnt, dass sie ohne ein Wort zu ihrer Tochter zu sagen und wegen der zahlreichen Schläge, die sie ihrer Tochter verabreicht hatte, müden Armen, das ganze Haus öffnete, Wasser holte um den Boden zu schrubben. Sie war wie besessen.
Komm Besen! Los! Kehre! Kehre, weil das ist eine einzige große Sauerei! Es scheint, dass man dieses Haus nie vom Teufel säubern kann! Wenn man es nur eine Stunde geschlossen hält dann bringt einen der Gestank um! Aufmachen! Das stinkt!
Als sie sah, dass die Kleine weinte:
"Jetzt weinst du, was? Aber als du dich hingegeben hast, warst du bereit!"
Die Tochter schluchzte.
"Sei still, elende Göre! Hast du nicht gehört?"
Florinda schluchzte noch stärker.
"Ah! Du weinst ohne Grund? Warte, ich sorge dafür, dass du einen Grund hast zu weinen."
Und sie stürzte sich auf sie wie ein Holzbeil.
Die kleine Mulattin jedoch, sprang mit einem Satz zur Tür, überquerte mit ein paar Sätzen den Hof der Mietskaserne und flüchtete dann auf die Straße.
Keine hatte die Zeit sie zu fangen und ein Gekackere wie in einem aufgeschreckten Hühnerstall erhob sich unter den Wäscherinnen.
Marciana ging bis zur Tür, wie eine Kranke, und als sie sah, dass die Tochter sie verlassen hatte, fing sie nun ihrerseits an zu schluchzen, mit offenem Armen ins Leere starrend. Die Tränen flossen ihr über die Falten ihres Gesichts. Plötzlich, ohne Übergang, explodierte sie vor Wut, die schon seit dem Vormittag des vorigen Tages in ihr brodelte, um dann in den tiefen Schmerz der liebenden Mutter zu fallen, die ihren Sohn verloren hat.
"Wohin wird sie, himmlischer Vater, gehen?"
"Du hast das Mädchen doch seit gestern geprügelt!", sagte Rita, "sie ist vor dir abgehauen und das ist gut so! Was zum Teufel hast du dir gedacht, sie ist aus Fleisch und nicht aus Eisen!"
"Meine Tochter!"
"Gut gemacht! Geh und weine jetzt im Bett, da ist es schön warm!"
"Meine Tochter! Meine Tochter! Meine Tochter!"
Niemand, außer der alten Mestizin, die sich neben sie stellte und sie mit ihrem Blick einer Hexe, die den Verstand verloren hat, bewegungslos anstarrte, wollte für die Unglückliche Partei ergreifen.
Marciana erwachte aus der jammernden Bewußtlosigkeit, in die sie gefallen war, um sich furchteinflössend vor der Kneipe aufzubauen, die Faust gen Himmel schleudernd, den Kraukopf zerzaust.
"Der Portugiese ist an allem Schuld! Sei verflucht, du Dieb! Wenn du nicht für meine Tochter bürgst, du Ruchloser, dann fackel ich dein Haus ab."
Die Hexe lachte düster, als sie diese letzten Worte hörte.
Der Kneipenwirt trat in die Tür und befahl Marciana in trockenem Ton, dass sie die Nummer 12 verlasse.
"Raus! Raus! Ich will dieses Geschrei hier nicht! Ruhe, oder ich rufe die Polizei! Ich gebe dir eine Nacht! Morgen auf Straße!"
An diesem Tag war er allen gegenüber unwirsch. Mehr als einmal beleidigte er Bertoleza auf das Heftigste nur weil sie ihm ein paar Fragen bezüglich der Arbeit stellte. Noch nie hatte sie ihn so gesehen, so außer sich, so voller Gehäßigkeit. Er schien nicht mehr derselbe ausgeglichene und immer ruhig und methodisch vorgehende Mann zu sein.
Niemand hätte vermuten können, dass der Grund hierfür die Tatsache war, dass Miranda der Titel eines Barons verliehen wurde.
So war das! Jener Kneipenwirt, der so bescheiden und elend aussah, dieser Geizhals der nie aus seinen Hosen und seinem Hemd aus angolanischer Baumwolle stieg, dieses Tier, das sich schlechter als die Hunde ernährte, um alles was er verdiente und rausquetschte sparen zu können, der durch die Gier verstümmelt war und der auf alle Priviligien und Gefühle als Mensch verzichtet zu haben, dieser Unglückliche, der niemals etwas anderes als Geld würde lieben können, beneidete jetzt Miranda, beneidete ihn wirklich, sein Neid war zweimal so intensiv wie wie das Leiden des Mannes von Dona Estela, als dieser noch ihn beneidete. Er begleitete ihn seit Miranda mit seiner Familie in dieses Haus eingezogen war. Er sah ihn in den glücklichen Momenten seines Lebens, bedeutungsvoll, von Freunden und Schmeichlern umgeben. Er sah, wie er Feste gab und in seinem Haus die herausragendsten Figuren der Wirtschaft und der Politik empfing. Er sah, dass er glänzte wie ein Kreisel aus Gold, kreisend unter den besten und feinsten Damen der Gesellschaft von Rio de Janeiro. Er sah, wie er sich in riskante Spekulationsgeschäfte einließ und gut dabei weg kam. Er sah seinen Namen gelistet in mehreren Körperschaften ausgewählter Persönlichkeiten und Gala Veranstaltunggen, wo eine schöne Summe Spenden eingesammelt wurden. Er sah ihn Veranstaltungen organisieren, wo Spenden gesammelt wurden und Veranstaltungen organisieren, zum Vergnügen der Nation. Er sah, wie er von der Presse gelobt wurde und wie man dem weitsichtigen Mann mit dem großen Talent in Finanzdingen Beifall klatschte. Er sah wie er prosperierte und beneidete ihn nie. Aber jetzt, völlig unverständlich, als er im Jornal de Comerico las, dass der Nachbar Baron geworden war - Baron -, bekam er einen solchen Schüttelfrost, dass er einen Moment lang die Sehkraft seiner Augen verlor.
"Baron!"
Den ganzen geheiligten Tag dachte er an nichts anderes. "Baron! Damit hatte niemand gerechnet!" So sehr beschäftigte ihn das, dass alles sich in Auszeichnungen und Insignien verwandelte. Selbst die bescheidenen zwei zwanziger der Butter, die er auf einem Stück Packpapier für Kunden abwog, verwandelte sich von einem einfachen gelben Fleck zu einer Auszeichnng aus Gold verziert mit Diamanten.
Streckte er sich des Nachts, neben Bertoleza, im Bett aus um zu schlafen, dann fand er keinen Schlaf. In dem ganzen heruntergekommenen Zimmer, den kargen Wänden, dem mit Staub und Fett bedeckten Boden, der mit Spinnweben bedeckten Decke, schienen leuchtete Punkte, die sich in Orden, in Ehrenuniformen unterschiedlichen Typs und Gattung verwandelten. Sein Geist ließ, zum ersten Mal von einer Phantasie befeuert, einen Wirbel an edlen Frauen vorüberziehen, die er kaum gekannt und sich kaum vorstellen konnte, gekleidet in Seidenstickereien, Schleier, Perlen, Hälse und Arme halbnackter Frauen, in einem sanft rauschenden Gelächter, perlenden, schäumenden Wein von goldener Farbe schlürfend. Wolken Kleidern mit Schleifen, Fräcke zogen vorbei, elegant kreisend zu schmachtenden Walsern im Licht von Kandelabern mit Tausend Kerzen und Farben. Glänzende Kutschen fuhren vorbei, mit einer Krone über der Tür, mit einem aufrecht sitzenden Kutscher, der ein paar große Pferde antrieb. Eine unermessliche Anzahl an Tischen schlängelt aneinandergereiht soweit der Blick reichte, beladen mit Köstlichkeiten inmitten einer Mischung aus einer Blumenpracht, Licht, Geschirr, auf beiden Seiten umrahmt von einer Reihe prachtvoll gekleideter Gäste, die mit einem Glas in der Hand dem Gastgeber zuprosteten.
Da der Kneipenwirt, mal abgesehen von dem lockenden und flüchtigem Lärm, nichts von alldem näher kannte, war er von seinem eigenen Traum wie geblendet. All das, was ihn jetzt delirieren ließ, hatte ihn bislang nur durch die Augen oder durch die Ohren erreicht, wie das Echo und der Reflex einer unerreichbar und weit entfernten Welt. Eine Welt bewohnt von höheren Wesen, ein Paradies exquisiter und delikater Genüsse, die seine groben Sinne nicht erfassen konnte. Ein harmonisches und diskretes Ensemble aus Tönen und Farben, kaum fassbar und neblig, ein Bild aus blassen Tönen, flüsterrnd, ohne scharfe Umrisse, wo man nicht wusste, ob es ein Rosenblatt war oder der Flügel eines Schmetterlings, das Summen des Windes oder das Lispeln von Küssen.
Neben ihm jedoch schnarchte die Kreolin, den Bauch nach oben, dick, von der Arbeit erschöpft, einen Geruch von rohen Zwiebeln und verdorbenem Speck.
Aber João Romão achtete nicht auf sie. Das einzige, was er sah und spürte, war diese sinnliche und unerreichbare Welt, die auf die Erde herabgestiegen war, nun in seiner Reichweite, langsam, immer deutlichere Konturen annehmend. Die verschwommenen Schatten begannen Form anzunehmen, die schemenhaften und konfusen Stimmen wurden unterscheidbar, die Linien klarer, alles wurde klarer und klärte sich als die Natur mit den Strahlen der Sonne wieder erwachte. Das schwache, seufzende Murmeln schwoll zu einem Tanzorchester an, wo man Instrumente unterscheiden konnte und die stummen, undefinierbaren Geräusche wurden zu lebhaften Gesprächen, geführt von Damen und Herrenn, die über Politik, Kunst, Literatur und Wissenschaft diskutierten. Ein erflülltes, komplettes, reales Leben zeichnete sich detailliert vor seinen faszinierten Augen ab. Ein Leben als Edelmann, im Luxus, mit viel Geld. Eine Leben in einem Palast, mit wertvollen Möbeln und luxuriöser Ausstattung, wo er von millionenschweren Würdenträgern und Männern mit verzierten Uniformen, die er duzte und denen er gleichrangig war, denen er die Hand auf die Schulter legte, besucht wurde. Er war dort der Besitzer einer Mietskaserne, mit billigen Hosen und in in Hemdsärmeln, und war dies auch nie gewesen. Dort war er Herr Baron! Der Goldbaron! Ein herrschaftlicher Baron! Ein Baron, der über Millionen verfügte! Kneipenwirt! Niemals! Er war der berühmte und mächtige Kapitalist! Jemand der über mehr Eigentum verfügte, als jeder andere! Der überragende Bankier, auf dessen Kapital die Welt ruht, wie ein immenser Globus, der auf Säulen von Goldstücken steht. Er sah sich hoch zu Ross über der Welt, bestrebt es mit seinen kurzen Beinen zu bändigen, auf dem Kopf eine Königskrone und in der Hand ein Zepter. Dann fielen aus allen Ecken des Zimmers ganze Kaskaden von Silbermünzen und zu seinen Füßen bildete sich ein Ameisenhaufen aus Pygmäen, die ihren Geschäften nachgingen. Schiffe entluden stapelweise Güter und Kisten gekennzeichnet mit seinen Initialien. Telegramme kreisten elektrisch um seinen Kopf. Pakete aus der ganzen Welt wirbelten ohne Unterlass um seinen keuchenden, pfeifenden und kolosalen Körper. Schnelle dampfgetriebene Züge fuhren durch ihn hindurch, von einer Seite auf die andere, als ob man eine Kette aus Wagons aneinandergenäht hätte.
Doch plötzlich, mit einem Satz, verschwand alles:
"Wach auf João, du musst zum Strand. Es ist Zeit!"
Bertoleza weckte ihn an diesem Sonntag, wie jeden Morgen, damit er den Fisch besorge, den sie für ihre Kunden zubereiten solle. João Romão, aus Angst betrogen zu werden, vertraute seinen Angestellten nie auch nur den geringsten Einkauf gegen Bargeld an. An diesem Tag jedoch hatte er keine Lust aus dem Bett zu steigen und sagte seiner Freundin, dass sie Manuel schicken möge.
Es war wohl vier Uhr morgens. Er konnte also weiter schlafen.
Um sechs stand er auf. Gegenüber leuchtete schon das Haus von Miranda. Man hisste Fahnen an den Fenstern gegenüber. Die Vorhänge wurden zurückgezogen, Blumentöpfe mit Mythengewächsen am Eingang aufgestellt, die Flure und wege mit Mangoblättern geschmückt. Dona Estela ließ bei Tagesanbruch Feuerwerksköper gen Himmel steigen und Böller krachen. Gegenüber der Tür des Hauses spielte seit dieser Stunde eine Musikkapelle. Der Baron mit der ganzen Familie stand auf, in weiß gekleidet, mit einer Fliege, Brillianten an der Brust des Hemdes, zeigte sich manchmal am Fenster, an der Seite seiner Frau oder der Tochter, bedankte sich bei den Leuten auf der Straße, säuberte sich mit einem Tuch den Kopf, zündete Zigarren an, lächelnd, glücklich, strahlend.
João Romão sah das alles mit betrübtem Herzen. Hässliche Zweifel fingen nun an in seinem Inneren zu nagen. Was ist besser und angebrachter. So zu leben wie er bislang gelegt hatte, voller Entbehrungen, Schuhen mit einer Holzsohle und in Hemden mit kurzen Ärmeln oder wie Mirando, gut zu speisen und aus dem vollen genießen?
Würde er, João Romão, fähig sein so angesehen zu sein und so behandelt zu werden wie der Nachbar? An Geld hierfür fehlte es ihm nicht. Das stimmt. Aber wollte er es wirklich so ausgeben, ohne wenn und aber. Ein ordentliche Menge Réis auf dem Konto, die er so mühsam zusammengespart hatte, für ein Spielzeug an der Brust? Wollte er wirklich das was er hatte teilen indem er sich eine Frau nahm, eine Familie gründete, sich einen Freundeskreis schuf? Wollte er wirklich mit feinen Speisen und teuren Weinen die Mägen der anderen füllen, obwohl er bislang so wenig spendabel zu seinem eigenen war? Und wenn er sich entschlösse sein Leben radikal zu ändern, sich mit einer gebildeten Frau mit distinguierten Manieren zusammen zu tun, ein Haus wie das des Mirandas bauen würde und einen Titel bekommen würde, wäre er in der Lage es zu tun? Würde er das Versprechen einlösen können? Würde das alles nur von seinem Willen abhängen? "Ohne jemals einen Mantel getragen zu haben, wie soll ich da eine Weste tragen? Mit diesen von den verfluchten Holzschuhen deformierten Füßen, ohne Socken, die einfach so geformt wurden, wie soll ich da Tanzschuhe anziehen? Und seine Hände, schwielig und ungepflegt, hart wie die eines Bergarbeiters, wie würden sie in Samthandschuhe passen? Und das war noch nicht alles! Wie soll er die Damen und Herren behandeln inmitten eines großen Salons voller Spiegel und vergoldeter Stühle? Wie soll er eine Konversation führen, ohne Monstruositäten von sich zu geben?
Eine schwarze Stimmung legte sich über sein Herz, eine heftige Sehnsucht springen zu wollen und eine unüberwindliche Angst zu fallen und sich die Beine zu brechen. Schließlich drückte das Misstrauen sich selbst gegenüber, die schreckliche Überzeugung nicht mehr verlangen zu können als immer mehr Geld anzuhäufen, ohne zu wissen wozu und mit welchem Ziel, mehr und mehr Geld, auf seine Seele und färbten seine Ambitionen schwarz, ließen sein Gold allen Glanz verlieren.
"Ich war ein Idiot gewesen!", dachte er bei sich brummend, "ein riesiger Idiot." Alles nichts! Warum hatte er nicht bei Zeiten versucht, sich an einen gewissen Lebensstil zu gewöhnen wie das seine Landsleute oder seine Berufskollegen gemacht haben? Warum hatte er nich wie sie tanzen gelernt? Warum hatte er keine Karnevalsgesellschaften besucht? Warum ist er nicht von Zeit zu Zeit in die Rua do Ouvidor gegangen und in die Theater und Tanzveranstaltungen, die Pferderennen und die Promenaden? Warum hatte er nicht gelernt feine Wäsche zu tragen mit dazu passenden Schuhen, einem Spazierstock, einem Taschentuch, einer Zigarre, einem Hut, einem Glas Bier und all das, was die anderen machten und wofür man keine besondere Berechtigung brauchte? Verfluchte Sparsamkeit!"
"Das wären mehr Ausgaben, das ist wahr! Das wäre nicht so gut! Aber jetzt, adios zu all dem! Er würde in der Lage sein, mit seinem Geld zu machen, was er wollte! Er wäre ein zivilisierter Mensch!"
"Sprichst du heute mit den Seelen, João?", fragte ihn Bertoleza, als sie merkte, dass er mit sich selber sprach, von der Arbeit abgelenkt war."
"Hör auf! Ärger du mich nicht auch noch. Ich bin schlecht gelaunt!"
"Meine Güte! Ich habe es nicht so gemeint! Glaub mir!"
"Ist gut! Es reicht!"
Und seine schlechte Laune nahm im Verlaufe des Tages noch zu. Er fing an, sich mit allen anzulegen. Er fing einen Streit mit einem Straßenpolizisten an. "Ist er etwas ein Idiot, der Angst hat vor einem Bussgeld? Wenn er glaubt, dass ein Bussgeld ihn ruiniere, wie das bei anderen der Fall ist, dann soll er es probieren, dann wird er schon sehen, was die Feier ihn kostet! Er wird ihn schon nicht so schwer beleidigen, weil er keine Hunde vor der Tür haben will! Weg!" Dann legte er, wegen einer ihrer Katzen, die letzte Woche wegen fritiertem Fisch in die Kneipe gekommen war, mit Machona an. Er hielt von den leeren Zubern an, wütend, suchte nach irgendeinem Grund, um herumzuschreien. Brüllend befahl er den Kindern, ihm aus dem Weg zu gehen. "Verdammte Flohplage! Zum Teufel, trollt euch! Noch nie hab ich ein Volk gesehen, dass sich derartig vermehrt! Wie die Ratten!" Dann stieß er auf Libório. "Geh mir auch aus dem Weg, du Totgeburt! Keine Ahnung was zum Teufel ein so altes Stück wie dieses, das zu nichts gut ist hier macht!"
Er beschwerte sich über die Gockel eines Schneiders, der sich damit vergnügte, sie inmitten einer begeisterten und tobenden Menge, gegeneinander antreten zu lassen. Er tadelte die Italiener, weil diese, in der Ungezwungenheit eines Sonntags, weil diese an der Haustür einen Haufen von Melonen- und Orangenschulen aufgehäuft hatten, schwatzten auf den Fensterbänken undn auf dem Boden sitzend.
"Ich will, dass das hier sauber ist!", brüllte er wütend, "das ist schlimmer als ein Schweinestall! Sauber machen! Möge euch das Gelbfieber wegraffen, verfluchte Spaghettifresser! Ihr macht mir das jetzt sauber oder ihr landet alle in der Gosse! Hier befehle ich!"
Bei der armen Marciana, die keine Anstalten machte, die Nummer 12, wie am Vortag angedroht, zu räumen, erreichte seine Wut ihren Höhepunkt. Die Unglückliche, jammerte und verfluchte sich unentwegt, hielt wie in Trance Monologe, seit ihre Tochter sie verlassen hatte. Sie hatte die ganze Nacht kein Auge zugetan. Sie betrat und verließ die Mietskaserne mehr als zwanzig Mal, unruhig, heulend wie eine Hündin, deren Welpen man gestohlen hat.
Sie war apathisch. Antwortete nicht auf die Fragen, die man an sie richtete. João Romão sprach sie an, sie drehte sich aber nicht mal um, um ihm zuzuhören. Daraufhin rief der Kneipenwirt, immer mehr erzürnt, zwei Männer rufen, damit dieses sie aus der Nummer 12 werfen.
"Raus mit den Unruhestiftern! Hier befehle ich! Hier bin ich König!"
Das alles mit einem Ausdruck der Unnachgiebigkeit.
Es begann das Aufräumen.
"Nein! Hier rein kommt nichts! Alles raus! Auf die Straße! Auf die Straße!", schrie er, als die Lastenträger alle Habseligkeiten von Marciana im Hof absetzen wollten, "vor die Tür! Vor die Tür!"
Und die Unglückliche schaute zu, ohne ein Wort hervorzubringen, wie ihre Sachen weggeräumt wurden, auf die Erde gekauert, mit geschlossenen Knien, die Händer über die Schienbeine, brummend. Die Vorübergehenden blieben stehen, um sie zu betrachten. Schon bildete sich eine Gruppe Neugieriger. Aber niemand verstand, was sie knurrte. Es war ein konfuses Jammern, ohne Ende, das von eine einzigen Kopfbewegung begleitet wurde, traurig und automatisch. So aus der Nähe sahen die alte, schon kaputte und zerschlissene Matraze, die kaputten Möbel, von denen der Lack abgesplittert war, die Putzlappen, das gewöhnliche und schmutzige Alltagsgeschirr, chaotisch aufgehäuft aus, wie ein schlampig aufgeräumtes Schlafzimmer, die ganze Intimität bloßgestellt. Dann kam der Mann mit den fünf Instrumente, der Sonntags immer erschien. Die Händler gingen ein und aus. Die Wäscherinnen traten, angezogen für einen Spaziergang, auf die Straße. Die Lasträger, die mit gebügelter Wäsche herauskammen trafen auf die, die mit Bündeln von dreckiger Wäsche hereinkamen. Marciana bewegte sich nicht weg von ihrem Platz, immer weiter ihren Monolog haltend. João Romão lief durch die Nummer 12, stieß die Türen auf um zu lüften, und schubste mit dem Fuß einen Lappen oder ein leeres Gefäß nach draußen, das noch übrig geblieben war. Er weinte nicht mehr, aber seine Augen waren noch feucht in seinem starren Blick. Einige Frauen der Mietskaserne gingen von Zeit zu Zeit, jetzt wieder betrübt, zu ihr und versuchten sie zu trösten. Marciana antwortete nicht. Sie wollten, dass sie etwas esse, was sie unter keinen Umständen tat. Die Unglückliche achtete auf nichts mehr, sie nahm niemanden mehr wahr. Sie riefen immer wieder ihren Namen, aber sie verharrte in ihrem unverständlichen Monolog, starr auf einen bestimmten Punkt starrend.
"Barmherziger! Es scheint, sie ist verrückt geworden!"
"Auch Augusta soll kommen."
"Ist sie verrückt geworden?", fragte Rita, die, mit einem Teller Essen in der Hand neben ihr stand? Die Ärmste!"
"Tante Marciana!", sagte die Mulattin. Bleib nicht hier! Steh auf! Bring deine Sachen rein! Geh nach Hause, bis du eine Unterkunft gefunden hast!"
Nichts! Der Monolog ging weiter.
"Es wird gleich regnen! Warte nicht, bis ddas Wasser runterkommt! Ich habe schon zwei Tropfen auf dem Gesicht gespürt."
Nichts!
Die Hexe starrte sie aus einer gewissen Entfernung an merkwürdig an, unbeweglich, als ob sie etwas sagen wollte.
Rita entfernte sich, weil Firmo, begleitet von Porfiro,gekommen war und ging mit den zwei Mannsbildern Abend essen. Dann kam der Freund von das Dores. Im Haus von Mianda wurde weiter gefeiert und es kamen immer mehr Gäste, reihten eine Quadrille und einen Walser an den nächsten. Junge Frauen und Mädchen tanzten, mit viel Gelächter, im Saale gegenüber. Ständig wurden Flaschen gereicht, die Angestellten kamen und gingen, im Laufschritt, vom Speisesaal in die Speisekamme und die Küche, mit Gläsern auf silbernen Tabletts. Henrique, verschwitzt und rot,erschien von Zeit zu Zeit am Fenster, sehnsüchtig nach Pombinha Ausschau haltend, die an diesem Tag mit ihrer Mutter einen Ausflug zu Léonie machte.
Nachdem João Romão seine Wut an den Angestellten und an Bertoleza ausgelassen hatte, ging er in den Hof der Mietskaserne zurück und beklagte sich, dass alles in einem schlechten Zustand sei. Er tadelte die Arbeiter des Steinbruchs, nannte dabei auch Jerônimo, dessen physische Kraft mit jedem Tag abnahm. "So völlig ohne Hirn ausgefüht, war es reine Stümperarbeit! Seit drei Wochen hängt er nutzlos am Bohrer, weder bringt er was zustande, noch lässt er es, dann kam schließlich der Sonntag und man hatte immer noch gesprengt! Eine einzige Faulenzerei! Der schöne Jerônimo, der ehemals so emsig war, ist jetzt der erste, der ein schlichtes Vorbild abgibt! Ganze Nächte verbringt er mit Samba! Er lässt Rita Baiana nicht aus den Auggen, scheint wie verhext von ihr zu sein! Das geht so nicht!" Als Piedade hörte, wie der Kneipenwirt ihren Mann verunglimpfte, brachtet sie sich mit zwei Steinen in der Hand in Stellung, um ihn zu verteidigen, worauf ein Streit entbannte der die Gemüter erhitzte. Glücklicher fing es an zu regnen, so dass die Ansammlung wieder friedlicher wurde. Jeder rannte, in übertriebener Erregung, zu seinem Loch. Die Kinder entledigten sich ihrer Kleider und kamen heraus um unter den Regenrinnen aus Spaß, schreiend, lachend, springend, sich auf den Boden werfend, mit den Füßen strampelnd ein Bad zu nehmen. Dabei taten sie so, als ob sie schwimmen würden. Gegenüber, im Haus des Miranda, sprühte es vor Trinksprüchen, während das Wasser reichlich strömte und den Hofer überspülte.
Als João Romão, vor dem Regen flüchtend, in die Kneipe trat, übergab ihm ein Angestellter eine Karte von Miranda. Es war eine Einladung für den Abend auf eine Tasse Tee.
Zu Beginn war der Kneipenwirt von dieser Einladung, die erste dieser Art, die er in seinem ganzen Leben erhalten hatte, geschmeichelt. Doch dann stieg, stärker noch zu fuhr, die Wut in ihm empor. Diese Einladung erzürnte ihn wie eine Beleidigung, eine Provokation. "Warum hat die Kanaille mich eingeladen, wohl wissend, dass ich mit Sicherheit nicht hingehen werde? Warum wenn nicht ihn noch mehr in Rage zu bringen, als er es ohnehin schon war?! Soll er dahin gehen, wo der Pfeffer wächst mit seiner Feier und den ganzen Titeln!"
"Ich brauch ihn für gar nichts!", rief der Kneipenwirt. Ich brauche keine Ganoven und ich hänge auch von keinen Ganoven ab! Wenn mir Feieren gefallen würden, dann würde ich sie organisieren!"
Unterdessen jedoch begann er sich vorzustellen, wie es wäre, gesetzt den Fall er wäre mit der entsprechenden Kleidung ausgestattet und er würde die Einladung akzeptieren. Er stellte sich gut gekleidet vor, in feine Linnen, mit einer schönen Uhrkette, eine Krawatte mit einer Diament besetzten Krawattennadel. Er sah sich dort oben sitzen, mitten im Saal, nach allen Seiten lächelnd, sich einmal diesem, ein andermal jenem zuwendend, so geistreich schweigend wie gesprächig, er hörte wie man leise überall respektvoll seinen Namen nannte, völlig unabhängig. Er ahnte die wohlwollenden Blicke angesehener Leute. Die neugierig auf ihm ruhenden Brillen der Herumsitzenden, die zu ergründen versuchen, ob dort eine gute Partie für eine der Töchter zu einem niedrigeren Kurs ist.
An diesem Tag bediente er die Gäste schlecht und schlampig. Er schimpfte mit Bertoleza und als er um fünf Uhr auf Marciana stieß, die ein paar Leute mit schwarzer Haut aus Mitleid ins Innere gezogen hatten, schimpfte er.
"Was soll das! Warum zum Teufel schleppt ihr mir dieses Schreckgespenst ins Haus?! Es würde mir gefallen, wenn ihr mir euer Mitleid für andere aufheben würdet! Dass hier ist kein Heim für Vagabunden!"
Und als ein Polizist hereinkam, völlig durchnässt vom Regen, um eine Schluck Zuckerrohrschnaps zu trinken, wandte João Romão sich ihm zu und sagte:
"Kamerad, diese Frau ist verrückt! Sie hat kein Heim, ich muss nicht, wenn ich die Tür schließe, mit ihr im Inneren der Kneipe bleiben!"
Der Soldat ging weg und schon nach einer Stunde wurde Marciana, ohne zu protestieren und ohne ihren Monolog einer Verrückten zu unterbrechen, in ein Gefängnis abgeführt. Ihre Habseligkeiten wurden zusammengesammelt und auf Anordnung eines Inspektors des Bezirks in ein öffentliches Lager gebracht. Die einzige, die von den ganzen Vorgängen wirklich beeindruckt war, war die Hexe.
Unterdessen hatte es aufgehört zu regnen, die Sonne erschien, wie um sich zu verabschieden, wieder. Schwalben schwebten in der Luft. Die Mietkaserne pulsierte in der launischen Fröhlickeit eines Sonntags. In den Sälen des Barons gewann die Feier immer mehr an Fahrt, wurde immer lauter. Von Zeit zu Zeit kam von dort eine Tasse, die im Hof der Mietskaserne zerschellte, was Proteste und Rauschen hervorrief.
Eine wunderschöne Nacht brach an, mit einem schönen Mondschein eines vollen Mondes, der schon in der Dämmerung sichtbar war. Der Samba ertönte stärker und früher als gewöhnlich, getrieben von der Stimmung in Hause des Miranda.
Es ging hoch her auf dieser Party. Rita Baina war diese Nacht ganz bei der Sache. Sie war inspiriert, göttlich! Noch nie hatte sie so anmutig getanzt, so sinnlich!
Sie sang auch. Und jeder Vers, der aus ihrem Mund einer Mulattin strömte war ein klagendes Gurren einer erregten Taube. Firmo, besoffen von Sinnlichkeit, wurde ganz eins mit seiner Guitarre. Die Guitarre und er schluchzten im selben Stil, grunzten, knurrten, miauten, mit allen Geräuschen sinnlich Würmer, voller Verlangen nach Befriedigung ihrer Lust, die mit feinen Zungen aus feinem Kupfer noch bis ins Mark eindrangen.
Jerônimo konnte sich nicht beherrschen. In dem Moment, als die Baianerin, keuchend vor Erschöpfung, sich erschöpft neben ihnen fallen ließ, flüsterte er der Portuguiese mit einer von Leidenschaft gepressten Stimme zu.
"Meine Liebe! Wenn sie mit mir gehen wollen, geb ich dem Dämon ein Bein!"
Der Mulatte hörte nicht, aber er bemerkte, dass geflüstert wurde und umkreiste heimlich, mit verzogenem Gesicht, seinen Rivalen.
Der Gesang und der Tanz gingen jedoch weiter, ohne nachzulassen. Das Dores kam herein. Nenen und eine Freundin, die einen Tag bei ihr verbrachte, drehten mit den Händen an den Hüften hin und her, kreisend inmitten von rhytmischen klatschenden Händen, im Rhythmus der schmachtenden Musik.
Als der Mann von Piedade Rita zum zweiten Mal etwas zuflüsterte, konnte Firmo nur mit großer Mühe an sich halten um ihm nicht zu drohen.
Doch inmitten der Feier, war die Baianerin so leichtsinnig sich über den Portugiesen zu bücken und ihm, mit schmachtenden Augen, ein Geheimnis zuzuflüstern. Firmo sprang auf, baute sich vor ihm auf, maß ihn von oben bis unten mit einem provozierenden und frechen Blick. Jerônimo, ebenfalls stehend, antwortete mit der gleichen Arroganz und der gleichen Geste. Die Instrumentet verstummten sofort. Eine tiefe Stille trat ein. Niemand bewegte sich von dem Ort wo er gerade stand fort und inmitten der großen Versammlung, breit ausgeleuchtet von dem starken Licht des Mondes im April, standen sich die zwei Männer gegenüber, einer dem anderen gegenüber gestellt, sich herausfordernd betachtend.
Jerônimo war groß, breitschultrig, wie ein Stier, ein Nacken wie Herkules, eine Faust um eine Kokusnuss mit einem Schlag zu zertrümmern. Es war eine ruhige Kraft, schwer wie Blei. Der andere, hager, eine Hand kleiner als der Portugiese, mit drahtigen Beinen, flink wie ein Ozelot, sehnig. Es war eine Kraft, die alles mit dem ersten Angriff zerstört. Der eine fest und widerstandsfähig, der andere leicht und furchtlos, beide mutig.
"Setz dich! Setz dich!"
"Keinen Ärger!"
"Lasst uns weiter tanzen", schrieen einige.
Piedade erhob sich, um ihren Mann von dort wegzubringen.
Der Bergmann entfernte sich mit einer Geste, die seine Missachtung ausdrückte, ohnen den Mulatten aus den Augen zu verlieren.
"Lass mich sehen, was diese Ziege von mir will!", zischte er.
"Dir eine Abreibung verpassen, verdammter Portugiese!", antwortete Firmo, in Angesicht zu Angesicht. Er brachte sich in Angriffstellung, vor- und rückwärtsspringend, immer die Beine in der Luft, hin- und herwiegend, die Arme schwenkend.
Jerônimo, erzürnt wegen der Beleidigung, ging mir geschlossener Faust auf ihn los, die Ziege jedoch ließ sich flink auf den Rücken fallen, stützte dabei mit den Händen den Körper ab, das rechte Bein in der Luft. Der Fausthieb ging oben vorbei, gleitete durch die Luft, während der Portugiese eine unerwarteten Fußtritt in den Bauch erhielt.
"Kanaille!", schrie er wie bessessen und war im Begriff, sich ganz auf den Mulatten zu stürzen, als eine Kopfnuss ihn zu Boden schickte.
"Steh auf, mit Toten geb ich mich nicht ab!", rief Firmo, jetzt wieder stehend, und wieder mit dem ganzen Körper tänzelnd.
Der andere stand wieder auf, konnte kaum das Gleichgewicht halten, als er rechts von einem Schlag getroffen wurde und links einen Schlag auf das Ohr bekam. Wütend holte er zu einem neuen Faustschlag aus, aber der Capoeiraa machte einen Sprung nach hinten wie eine Katze und der Portugiese fühlte einen Fußtritt am Kinn.
Blut floß aus seinem Mund und seiner Nase. Ein schreckliches Geschrei erhob sich. Die Frauen wollten dazwischen gehen, die jedoch hielt sie mit schnellen Tritten in Schach, wobei man kaum die Bewegung der Beine sehen konnte. Nun war das Chaos perfekt. João Romão schloss in aller Eile die Türen der Kneipe und verriegelte das Tor zur Mietskaserne, um dann zu der Stelle des Tumultes zu eilen. Bruno, die fliegenden Händler, die Arbeiter vom Steinbruch und alle die anderen versuchten den Mulatten festzuhalten, hatten ihn umzingelt, wodurch sich ein sauberer Kreis bildete, in dessen Mitte der schreckliche Capoeira, zornig und außer sich, die Leute in Schach hielt und niemandem erlaubte, sich zu nähern. Vor Entsetzen wurden laute Schreie ausgestoßen. Aller, bis auf Rita, die aus sicherer Entfernung, mit gekreuztem Armen, zusah wie die zwei Männer sich ihretwegen prügelten, waren entsetzt. Ihre Lippen kräuselten sich zu einem leichten Lächeln. Der Mond war verschwunden, das Wetter änderte sich, der Himmel, bislang so sauber, war wieder grau geworden. Ein feuchter Wind, der Regen ankündigte, kam auf. Piedade schrie und verlangte nach der Polizei. Sie hatte schon eine Ohrfeige von ihrem Mann bekommen, weil sie darauf beharrte ihn von dort wegzuzerren. An den Fenstern von Miranda versammelten sich Leute. Man hörte Pfiffe, mit denen nach Hilfe gerufen wurde.
Unterdessen ertönte in der Mietskaserne ein Schrei wie von einem wilden Tier. Firmo hatte, ohne darauf vorbereitet zu sein, eine heftigen Schlag auf den Kopf bekommen. Jerônimo war zu seiner Wohnung gerannt und hatte sich mit seinem Spazierstock bewaffnet. Daraufhin zog der Mulatte, das Gesicht in Blut gebadet, mit den Zähnen fletschend und schäumend vor Wut, den rechten Arm, wo man die Klinge eines Messers blitzen sah.
Der Kreis um die zwei Gegner leerte sich unter Geschrei, ergriffen von Entsetzen. Frauen und Männer stolperten überenander, fielen einer auf dene anderen. Albino hatte das Bewußtsein verloren. Piedade schrie, von entsetzt und schluchzend, dass man im Begriff sei, ihren Mann umzubringen. Das Dores fluchte und schimpfte gegen die Dummheit, dass man sie sich die Eingeweide ausreisst wegen dem, was eine Frau zwischen den Beinen hat. Machona, bewaffnet mit einem Bügeleisen, schwor jedem die Fresse einzuschlagen, der ihr noch einen Schlag auf den Po gab, wie den, den sie gerade erhalten hatte. Augusta entwischte durch die Hintertür der Mietskaserne und die Wiese zu durchqueren und auf die Straße zu gelangen und zu sehen, ob sie ihren Mann ausfindig macht, der vielleicht im Bezirk gearde Dienst hatte. Von dieser Seite kamen Neugierige herbeigelaufen und der Hof begann sich mit Leuten von außerhalb zu füllen. Dona Isabel und Pombinha, die von ihrem Ausflug zu Léonie zurückgekommen waren, hatten Schwierigkeiten zu Nr. 15 zu gelangen, wo sie, kaum dass sie angekommen waren, sich von innen einschlossen, wobei die Alte den Aufruhr verfluchte und das Schicksal, dass sie in diese Hölle gebracht hatte beklagte. Unterdessen, inmitten eines neuen Kreises, umzingelt von dem Volk, droschen der Portugiese und der Brasilianer aufeinander ein.
Jetzt war der Kampf ausgeglichen. Die Gegner waren gleich stark, denn der Bergmann wusste den Stock bewundernswert zu nutzen. Er war in der Führung des Stocks so geschickt, wie der andere in Capoeira. Vergeblich versuchte Firmo ihn zu erreichen. Jerônimo griff den Stab in der Mitte mit der rechten Hand und drehte ihn mit solchem Geschick und Leichtigkeit um den Körper, dass er eingehüllt schien in einem undurchdringlichen und pfeifenden Netz. Man sah die Waffe nicht, hörte nur das Summen, der gleichzeitig in allen Richtungen zerschnittenen Luft.
Verteidigung und Angriff geschahen gleichzeitig. Der Brasilianer hatte schon Schläge am Kopf, Nacken, an den Schultern, den Armen, der Brust, den Nieren und an den Beinen bekommen. Das Blut strömte über seinen ganzen Körper. Er röchelte und keuchte, wütend und erschöpft, griff mal mit den Beinen, mal mit dem Kopf an, wich hier aus, wich dort aus, mit Sprüngen und indem er abtauchte.
Es sah aus, als ob der Portugiese siegen würde. Die Zuschauer klatschen ihm schon begeistert Beifall. Plötzlich jedoch tauchte der Capoeira behend ab bis vor die Schienbeine des Gegners und tauchte zwischen seinen Beinen wieder auf, wie an ihn geklebt, und schlitzte ihm mit dem Messer den Bauch auf.
Jerônimo schrie einen Schrei aus und stürzte mit dem Gesicht zuerst zu Boden, sich die Gedärme haltend.
"Er hat ihn umgebracht! Er hat ihn umgebracht! Er hat ihn umgebracht", schrieen alle überrascht.
Die Pfiffe wurden immer hitziger.
Firmo floh in den Hinteren Teil der Mietskaserne und verschwand über die Wiese.
"Schnappt ihn! Schnappt ihn!"
"Mein lieber Mann!", heulte Piedade und warf sich über dem von Blut überströmten Körper ihres Mannes auf die Knie. Rita kam herbeigelaufen und war sich neben ihm auf den Boden, um ihm den Bart und die Haare zurückzustreichen.
"Man braucht einen Doktor!", schrie jene, nach allen Seiten Umschau haltend auf der Suche nach jemandem der ihr helfen kann.
Unterdessen verursachten gewaltige Schläge die auf das Hauptor der Mietskaserne einschlugen einen heftigen Radau. Das Tor wankte und krächzte.
"Aufmachen! Aufmachen!", wurde von draußen befohlen.
João Romão durchschritte den Hof, wie ein General in Gefahr und schrie.
"Die Polizei kommt hier nicht rein! Lasst sie nicht hereinkommen! Halt! Halt!"
"Sie sollen draußen bleiben! Sie sollen draußen bleiben!" wiederholte die Menge im Chor.
Die ganze Mietskaserne kochte wie das nicht mal eine Pfanne auf dem Herd tun würde.
"Halt! Halt!"
Aus jedem Loch spähten mit Stöcken, Holzächsen, Metallstäben bewaffnete Männer. Eine gemeinsame Anstrengung schweiste sie jetzt zusammen, in einer lautstarken Solidarität, als ob sie für immer entehrt würden, wenn die Polizei dort zum ersten Mal hereinkäme. Solange es sich nur um einen einfachen Kampf zwischen zwei Rivalen handelte, war das richtig! "Sie sollen den Streit austragen und der, der mehr Mann ist, bekommt die Frau!". Jetzt aber ging es darum, die Mietskaserne zu verteidigen, die Gemeinschaft, wo jeder über jemanden oder etwas wachen muss, an dem sein Herz hängt.
"Lasst sie nicht durch! Lasst sie nicht durch!"
Und ein schreckliches Gebrüll antwortet auf die Schläge, die draußen sich regelmäßig wiederholten.
Die Polizei war das große Schreckgespenst dieser Leute, denn wie immer wenn sie in irgendeine Mietskaserne eindrang, brachte sie alles durcheinander. Unter dem Vorwand Glückspiel und Trunksucht zu verhindern und zu bestrafen, durchsuchten die Polizisten die Zimmer, zerstörten, was sich dort befand und machten aus allem Kleinholz. Der Hass bestand schon seit langer Zeit.
Während die Männer den Eingang zur Wiese bewachten und sich mit dem Rücken gegen das Tor vorne stemmten, rollten dei Frauen, in wildem Durcheinander, die Zuber heran, rissen die Gitter raus, zogen die Karren, alte Matrazen, Kalksäcke dahin und formten eine Barrikade.
In immer kürzeren Abständen wurde an die Tür gestoßen. Das Tor wackelte, wankte, fing an sich zu öffnen, nachzugeben. Die Barrikade aber stand und alle Verteidiger dahinter. Die, die von außen hereinkamen, kamen nicht mehr heraus und fanden sich plötzlich inmitten der Schlacht. Die Umzäunung des Obstgartens flog auseinander. Die schreckliche Machona zog den Rock hoch und ergriff das Bügeleisen. Das Doras, der niemand das zugetraut hätte, war die härteste von allen und erschien die Entschlossenste von allen in der Verteidigung.
Schließlich gab die Tür nach. Sofort öffnete sich ein großer Spalt, es flogen Bretter und die ersten vier Polizisten, die hereinstürzten wurden mit Steinen und Flaschen empfangen. Es folgten andere. Es waren in etwa zwanzig. Ein Sack Kalk der über ihnen ausgeschüttet wurde, ließ sie die Orientierung verlieren.
Das war der Beginn eines Donnerwetters. Die Säbel erreichten niemanden in den Schützengräben, wohingegen die Projektile, die dort im Inneren abgeschossen wurden, den Feind auseineinder trieben. Der Kopf eines Sargent war schon gespalten und zwei einfache Soldaten hatten schon das Feld aus Mangel an Luft verlassen.
Es war unmöglich diese Festung mit sowenig Mann zu erstürmen, die Polizei jedoch fürchtete, weniger aus Notwendigkeit als aus verletztem Stolz, den Abzug. Ein solcher Widerstand demütigte sie. Hätten Sie Gewehre gehabt, hätten sie geschossen. Der einzige, der es geschafft hatte, die Barikade zu erklimmen, rollte unter einer Ladung Holz wieder herunter, so dass er von seinen Kameraden auf die Straße gebracht werden musste. Bruno, völlig blutverschmiert, hatte jetzt eine Gewehr in der Hand und Porfiro, Meister des Capoeirra, trug auf dem Kopf einen den Helm des Polizisten.
"Raus mit den Fledermäusen!"
"Raus! Raus!"
Und auf jeden Schlachtruf folgte, nimm den Stein, nimm den Holzklotz, nimm den Kalk, nimm die Glasflasche!.
Immer stärker schwoll das Pfeiifkonzert an.
In diesem Moment jedoch schrie Nenen, in Richtung der Barrikade laufend.
"Kommt hier her! Kommt hier her! In Nummer 12 ist ein Feuer ausgebrochen. Da kommt Rauch raus!"
"Feuer!"
Bei diesem Schrei breitete sich Panik unter den Bewohnern der Mietskaserne aus. Ein Feuer würde Feuer würde diese 100 Häuser weglecken, während der Teufel sich die Augen reibt!
Es enstand ein wirres Chaos. Jeder dachte nur noch daran, das zu retten, was ihm gehörte.
Die Polizisten nutzen die Verwirrung des Feindes um mit Macht vorzudringen, auf alles einschlagend, was sich vor ihnen befand um schließlich in das teuflische Widerstandsnest einzudringen, schlugen mit ihren Schwertern nach rechts und nach links, wie jemand der eine Ochsenherde zerstört. Einige ergaben sich, andere verteidigten das Haus. Die Polizisten jedoch, verrückt vor Wut, schlugen die Türen ein und und drangen in die Häuser, zertörten alles, durstig nach Rache.
Unterdessen ging ein Donnern durch den Raum. Der Wind aus dem Norden pfiff stärker und ein heftiger Regenschauer entlud sich.
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XI
A Bruxa, por influência sugestiva da loucura de Marciana, piorou do juízo e
tentou incendiar o cortiço.
Enquanto os companheiros o defendiam a unhas e dentes, ela, com todo o
disfarce, carregava palha e sarrafos para o número 12 e preparava uma fogueira.
Felizmente acudiram a tempo; mas as conseqüências foram do mesmo modo
desastrosas, porque muitas outras casinhas, escapando como aquela ao fogo, não
escaparam à devastação da polícia. Algumas ficaram completamente assoladas.
E a coisa seria ainda mais feia, se não viera o providencial aguaceiro apagar
também o outro incêndio ainda pior, que, de parte a parte, lavrava nos ânimos. A
polícia retirou-se sem levar nenhum preso. “A ir um iriam todos à estação! Deus
te livre! Demais, para quê? o que ela queria fazer, fez! Estava satisfeita!”
Apesar do empenho do João Romão, ninguém conseguiu descobrir o autor
da sinistra tentativa, e só muito tarde cada qual cuidou de pregar olho, depois de
reacomodar, entre plangentes lamentações, o que se salvou do destroço. O
tempo levantou de novo à meia-noite. Ao romper da aurora já muita gente estava
de pé e o vendeiro passava uma revista minuciosa no pátio, avaliando e
carpindo, inconsolável e furioso, o seu prejuízo. De vez em quando soltava uma
praga. Além do que escangalharam os urbanos dentro das casas, havia muita tina
partida, muito jirau quebrado, lampiões em fanicos, hortas e cercas arrasadas; o
portão da frente e a tabuleta foram reduzidos a lenha. João Romão meditava,
para cobrir o dano, carregar um imposto sobre os moradores da estalagem,
aumentando-lhes o aluguel dos cômodos e o preço dos gêneros. Viu-se numa
dobadoura durante o dia inteiro; desde pela manhã dera logo as providências
para que tudo voltasse aos seus eixos o mais depressa possível: mandou buscar
novas tinas; fabricar novos jiraus e consertar os quebrados; pôs gente a remendar
o portão e a tabuleta. Ao meio-dia teve de comparecer à presença do
subdelegado na secretaria da polícia. Foi mesmo em mangas de camisa e sem
meias; muitos do cortiço o acompanharam, quer por espírito de camaradagem,
quer por simples curiosidade.
Uma verdadeira patuscada esse passeio à cidade! Parecia uma romaria;
algumas mulheres levaram os seus pequenitos ao colo; um magote de italianos ia
à frente, macarroneando, a fumar cachimbo; alguns cantavam. Ninguém tomou
bonde; e por toda a viagem discutiram e altercaram em grande troça,
comentando com gargalhadas e chalaças gordas o que iam encontrando, a
chamar a atenção das ruas por onde desfilava a ruidosa farândola.
A sala da polícia encheu-se.
O interrogatório, exclusivamente dirigido a João Romão, era respondido por
todos a um só tempo, a despeito dos protestos e das ameaças da autoridade, que
se viu tonta. Nenhum deles nada esclarecia e todos se queixavam da polícia,
exagerando as perdas recebidas na véspera.
A respeito de como se travara o conflito e quem o provocara, o taverneiro
declarou que nada podia saber ao certo, porque na ocasião se achava ausente da
estalagem. De que tinha certeza era de que as praças lhe invadiram a
propriedade e puseram em cacos tudo o que encontraram, como se aquilo lá
fosse roupa de francês!
— Bem feito! bradou o subdelegado. Não resistissem!
Um coro de respostas assanhadas levantou-se para justificar a resistência.
“Ah! Estavam mais que fartos de ver o que pintavam os morcegos, quando lhes
não saia alguém pela frente! Esbodegavam até à última, só pelo gostinho de
fazer mal! Pois então uma criatura, porque estava a divertir-se um bocado com
os amigos, havia de ser aperreada que nem boi ladrão?... Tinha lá jeito? Os rolos
era sempre a polícia quem os levantava com as suas fúrias! Não se metesse ela
na vida de quem vivia sossegado no seu canto, e não seria tanto barulho!...”
Como de costume, o espírito de coletividade, que unia aquela gente em circulo
de ferro, impediu que transpirasse o menor vislumbre de denúncia. O
subdelegado, depois de dirigir-se inutilmente a um por um, despachou o bando,
que fez logo a sua retirada, no meio de uma alacridade mais quente ainda que a
da ida.
Lá no cortiço, de portas adentro, podiam esfaquear-se à vontade, que
nenhum deles, e muito menos a vitima, seria capaz de apontar o criminoso; tanto
que o médico, que, logo depois da invasão da polícia, desceu da casa do
Miranda à estalagem, para socorrer Jerônimo, não conseguiu arrancar deste o
menor esclarecimento sobre o motivo da navalhada. “Não fora nada!... Não fora
de propósito!... Estavam a brincar e sucedera aquilo!... Ninguém tivera a menor
intenção de fazer-lhe mossa!...”
Rita mostrou-se de uma incansável solicitude para com o ferido. Foi ela
quem correu a buscar os remédios, quem serviu de ajudante ao medico e quem
serviu de enfermeira ao doente. Muitos lá iam, demorando-se um instante, para
dar fé; ela, porém, desde que Jerônimo se achou operado, não lhe abandonou a
cabeceira; ao passo que Piedade, aflita e atarantada, não fazia senão chorar e
arreliar-se.
A mulata, essa não chorava; mas a sua fisionomia tinha uma profunda
expressão de mágoa enternecida. Agora toda ela se sentia apegar-se àquele
homem bom e forte; àquele gigante inofensivo, àquele Hércules tranqüilo que
mataria o Firmo com uma punhada, mas que, na sua boa-fé, se deixara navalhar
pelo facínora. “E tudo por causa dela! só por ela!” Seu coração de mulher
rendia-se cativo a semelhante dedicação ensangüentada e dolorosa. E ele, o
mísero, interrompia as contrações do rosto para sorrir defronte dos olhos
enamorados da baiana, feliz naquela desgraça que lhe permitia gozar dos seus
carinhos. E tomava-lhe as mãos, e cingia-lhe a cintura, resignado e comovido,
sem uma palavra, sem um gesto, mas a dizer bem claro, na sua dor silenciosa e
quieta de animal ferido, que a amava muito, que a amava loucamente.
Rita afagava-o, já sem a menor sombra de escrúpulo, tratando-o por tu,
ameigando-lhe os cabelos sujos de sangue com a polpa macia da sua mão
feminil. E ali mesmo em presença da mulher, dele, só faltava beijá-lo com a
boca, que com os olhos o devorava de beijos ardentes e sequiosos.
Depois da meia-noite dada, ela e Piedade ficaram sozinhas velando o
enfermo. Deliberou-se que este iria pela manhã para a Ordem de Santo Antônio,
de que era irmão. E, com efeito, no dia imediato, enquanto o vendeiro e seu
bando andavam lá às voltas com a polícia, e o resto do cortiço formigava,
tagarelando em volta do conserto das tinas e jiraus, Jerônimo, ao lado da mulher
e da Rita, seguia dentro de um carro para o hospital.
As duas só voltaram de lá à noite, caindo de fadiga. De resto, toda a
estalagem estava igualmente prostrada e morrendo pela cama, se bem que nesse
dia as lavadeiras em geral gazeassem o trabalho; as que tinham roupa com mais
pressa foram lavar fora ou arrastaram bacias de banho para debaixo das bicas, à
falta de melhor vasilha para o serviço. Discutiu-se a campanha da véspera sem
variar o assunto. Aqui era um que lembrava as suas proezas com os urbanos,
descrevendo entusiasmado os pormenores da luta; ali, outro repetia, cheio de
empáfia, os desaforos que dissera depois nas bochechas da autoridade; mais
adiante trocavam-se queixas e recriminações; cada qual, mulheres e homens,
sofrera o seu prejuízo. ou a sua arranhadura, e mostravam entre si, numa febre
de indignação, os objetos partidos ou a parte do corpo escoriada.
Mas às nove da noite já não havia viva alma no pátio da estalagem. A venda
fechou-se um pouco mais cedo que de costume. Bertoleza atirou-se ao colchão,
estrompada; João Romão recolheu-se junto dela, porem não conseguiu dormir;
sentia calafrios e pontadas na cabeça. Chamou pela amiga, a gemer, e pediu-lhe
que lhe desse alguma coisa para suar. Supunha estar com febre.
A crioula só descansou quando, muitas horas adiante, depois de mudar-lhe a
roupa, o viu pegar no sono; e daí a pouco, às quatro da madrugada, erguia-se ela,
com estalos de juntas, a bocejar, fungando no seu estremunhamento pesadão, e
pigarreando forte. Acordou o caixeiro para ir ao mercado; gargarejou um pouco
d’água à torneira da cozinha e foi fazer fogo para o café dos trabalhadores,
riscando fósforos e acendendo cavacos num fogareiro, donde começaram a
borbotar grossos novelos de fumo espesso.
Lá fora clareava já, e a vida renascia no cortiço. A luta de todos os dias
continuava, como se não houvera interrupção. Principiava o burburinho. Aquela
noite bem dormida punha-os a todos de bom humor.
Pombinha, entretanto, nessa manhã acordara abatida e nervosa, sem animo
de sair dos lençóis. Pediu café à mãe, bebeu, e tornou a abraçar-se nos
travesseiros, escondendo o rosto.
— Não te sentes melhor hoje, minha filha?... perguntou-lhe Dona Isabel,
apalpando-lhe a testa. Febre não tens.
— Ainda sinto o corpo mole... mas não é nada... isto passa!...
— Foi de tanto gelo, que tomaste em casa de madama!... Não te dizia?...
Agora, o melhor é dar-te um escalda-pés!...
— Não, não, por amor de Deus! Daqui a pouco estou em pé!
Às oito horas, com efeito, levantava-se e fazia, indolentemente, o alinho da
cabeça, defronte do seu modesto lavatório de ferro. Dir-se-ia sem forças para a
menor coisa; toda ela transpirava uma contemplativa melancolia de
convalescente; havia uma doce expressão dolorosa na limpidez cristalina de seus
olhos de moça enferma; um pobre sorriso pálido a entreabrir-lhe as pétalas da
boca, sem lhe alegrar os lábios, que pareciam ressequidos à mingua de beijos de
amor; assim delicada planta murcha, languesce e morre, se carinhosa borboleta
não vai sacudir sobre ela as asas prenhes de fecundo e dourado pólen.
O passeio à casa de Léonie fizera-lhe muito mal. Trouxe de lá impressões de
íntimos vexames, que nunca mais se apagariam por toda a sua vida.
A cocote recebeu-a de braços abertos, radiante com apanhá-la junto de si,
naqueles divãs fofos e traidores, entre todo aquele luxo extravagante e
requintado próprio para os vícios grandes. Ordenou à criada que não deixasse
entrar ninguém, ninguém, nem mesmo o Bebê, e assentou-se ao lado da menina,
bem juntinho uma da outra, tomando-lhe as mãos, fazendo-lhe uma infinidade
de perguntas, e pedindo-lhe beijos, que saboreava gemendo, de olhos fechados.
Dona Isabel suspirava também, mas de outro modo; na sua parva
compreensão do conforto, aqueles impertinentes espelhos, aqueles móveis
casquilhos e aquelas cortinas escandalosas arrancavam-lhe saudosas recordações
do bom tempo e avivavam a sua impaciência por melhor futuro.
Ai! assim Deus quisesse ajudá-la!...
Às duas da tarde, Léonie, por sua própria mão serviu às visitas um pequeno
lanche de foie-gras, presunto e queijo, acompanhado de champanha, gelo e água
de Seltz, e, sem se descuidar um instante da rapariga, tinha para ela extremas
solicitudes de namorado; levava-lhe a comida à boca, bebia do seu copo,
apertava-lhe os dedos por debaixo da mesa.
Depois da refeição, Dona Isabel, que não estava habituada a tomar vinho,
sentiu vontade de descansar o corpo; Léonie franqueou-lhe um bom quarto, com
boa cama, e, mal percebeu que a velha dormia, fechou a porta pelo lado de fora,
para melhor ficar em liberdade com a pequena.
Bem! Agora estavam perfeitamente a sós!
— Vem cá, minha flor!... disse-lhe, puxando-a contra si e deixando-se cair
sobre um divã. Sabes? Eu te quero cada vez mais!... Estou louca por ti!
E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que sufocavam a
menina, enchendo-a de espanto e de um instintivo temor, cuja origem a
pobrezinha, na sua simplicidade, não podia saber qual era.
A cocote percebeu o seu enleio e ergueu-se, sem largar-lhe a mão.
— Descansemos nós também um pouco... propôs, arrastando-a para a
alcova.
Pombinha assentou-se, constrangida, no rebordo da cama e, toda perplexa,
com vontade de afastar-se, mas sem animo de protestar, por acanhamento,
tentou reatar o fio da conversa, que elas sustentavam um pouco antes, à mesa,
em presença de Dona Isabel. Léonie fingia prestar-lhe atenção e nada mais fazia
do que afagar-lhe a cintura, as coxas e o colo. Depois, como que distraidamente,
começou a desabotoar-lhe o corpinho do vestido.
— Não! Para quê!... Não quero despir-me...
— Mas faz tanto calor... Põe-te a gosto...
— Estou bem assim. Não quero!
— Que tolice a tua...! Não vês que sou mulher, tolinha?... De que tens
medo?... Olha! Vou dar exemplo!
E, num relance, desfez-se da roupa, e prosseguiu na campanha.
A menina, vendo-se descomposta, cruzou os braços sobre o seio, vermelha
de pudor.
— Deixa! segredou-lhe a outra, com os olhos envesgados, a pupila trêmula.
E, apesar dos protestos, das súplicas e até das lágrimas da infeliz,
arrancou-lhe a última vestimenta, e precipitou-se contra ela, a beijar-lhe todo o
corpo, a empolgar-lhe com os lábios o róseo bico do peito.
— Oh! Oh! Deixa disso! Deixa disso! reclamava Pombinha estorcendo-se
em cócegas, e deixando ver preciosidades de nudez fresca e virginal, que
enlouqueciam a prostituta.
— Que mal faz?... Estamos brincando...
— Não! Não! balbuciou a vitima, repelindo-a.
— Sim! Sim! insistiu Léonie, fechando-a entre os braços, como entre duas
colunas; e pondo em contacto com o dela todo o seu corpo nu.
Pombinha arfava, relutando; mas o atrito daquelas duas grossas pomas
irrequietas sobre seu mesquinho peito de donzela impúbere e o rogar vertiginoso
daqueles cabelos ásperos e crespos nas estações mais sensitivas da sua
feminilidade, acabaram por foguear-lhe a pólvora do sangue, desertando-lhe a
razão ao rebate dos sentidos.
Agora, espolinhava-se toda, cerrando os dentes, fremindo-lhe a carne em
crispações de espasmo; ao passo que a outra, por cima, doida de luxúria,
irracional, feroz, revoluteava, em corcovos de égua, bufando e relinchando.
E metia-lhe a língua tesa pela boca e pelas orelhas, e esmagava-lhe os olhos
debaixo dos seus beijos lubrificados de espuma, e mordia-lhe o lóbulo dos
ombros, e agarrava-lhe convulsivamente o cabelo, como se quisesse arrancá-lo
aos punhados. Até que, com um assomo mais forte, devorou-a num abraço de
todo o corpo, ganindo ligeiros gritos, secos, curtos, muito agudos, e afinal
desabou para o lado, exânime, inerte, os membros atirados num abandono de
bêbedo, soltando de instante a instante um soluço estrangulado.
A menina voltara a si e torcera-se logo em sentido contrário à adversária,
cingindo-se rente aos travesseiros e abafando o seu pranto, envergonhada e
corrida.
A impudica, mal orientada ainda e sem conseguir abrir os olhos, procurou
animá-la, ameigando-lhe a nuca e as espáduas. Mas Pombinha parecia
inconsolável, e a outra teve de erguer-se a meio e puxá-la como uma criança
para o seu colo, onde ela foi ocultando o rosto, a soluçar baixinho.
— Não chores assim, meu amor!...
Pombinha continuou a soluçar.
— Vamos! Não quero ver-te deste modo!... Estás zangada comigo?...
— Não volto mais aqui! nunca mais! exclamou por fim a donzela,
desgalgando o leito para vestir-se.
— Vem cá! Não sejas ruim! Ficarei muito triste se estiveres mal com a tua
negrinha!... Anda! Não me feches a cara!...
— Deixe-me!
— Vem cá, Pombinha!
— Não vou! Já disse!
E vestia-se com movimentos de raiva. Léonie saltara para junto dela e
pôs-se a beijar-lhe, à força. os ouvidos e o pescoço, fazendo se muito humilde,
adulando-a, comprometendo-se a ser sua escrava, e obedecer-lhe como um
cachorrinho, contanto que aquela tirana não se fosse assim zangada.
— Faço tudo! tudo! mas não fiques mel comigo! Ah! se soubesse como eu
te adoro!...
— Não sei! Largue-me!...
— Espera!
— Que amolação! Oh!
— Deixa de tolice!... Escuta, por amor de Deus!
Pombinha acabava de encasar o último botão do corpinho, e repuxava o
pescoço e sacudia os braços, ajustando bem a sua roupa ao corpo. Mas Léonie
caíra-lhe aos pés, enleando-a pelas pernas e beijando-lhe as saias.
— Olha!... Ouve!... — Deixa-me sair!
— Não! não hás de ir zangada, ou faço aqui um escândalo dos diabos! — E
que mamãe já acordou com certeza!...
— Que acordasse!
Agora a meretriz defendia a porta da alcova.
— Oh! meu Deus! Deixe-me sair!
— Não deixo, sem fazermos as pazes...
— Que aborrecimento!
— Dá-me um beijo!
— Não dou!
— Pois então não sais!
— Eu grito!
— Pois grita! Que me importa!
— Arrede-se daí, por favor!...
— Faz as pazes...
— Não estou zangada, creia! Estou é indisposta... Não me sinto boa!
— Mas eu faço questão do beijo!
— Pois bem! Está ai!
E beijou-a.
— Não quero assim! Foi dado de má vontade!...
Pombinha deu-lhe outro.
— Ah! Agora bem! Espera um nada! Deixa arranjar-me! É um instante!
Em três tempos, lavou-se ligeiramente no bidê, endireitou o penteado
defronte do espelho, num movimento rápido de dedos, e empoou-se,
perfumou-se, e enfiou camisa, anágua e penteador, tudo com uma expedição de
quem está habituada a vestir-se muitas vezes por dia. E, pronta, correu uma vista
de olhos pela menina, desenrugou-lhe a saia, consertou-lhe melhor os cabelos e,
readquirindo o seu ar tranqüilo de mulher ajuizada, tomou-a pela cintura e
levou-a vagarosamente até à sala de jantar, para tomarem vermute com gasosa.
O jantar foi às seis e meia. Correu frio, não tanto por parte de Pombinha,
que aliás se mostrava bem incomodada, como porque Dona Isabel, dormindo até
o momento de a chamarem para mesa, sentia-se aziada com o foie-gras. A dona
da casa, todavia, não se forrou a desvelos e fez por alegrá-las rindo e contando
anedotas burlescas. Ao café apareceu Juju, que a criada levara a passear desde
logo depois do almoço, e uma afetação de agrados levantou-se em torno da
pequerrucha. Léonie pôs-se a conversar com ela, falando como criança,
dizendo-lhe que mostrasse a Dona Isabel “o seu papatinho novo!”
Mais tarde, no terraço, enquanto fumava um cigarro, tomou a mão de
Pombinha e meteu-lhe no dedo um anel com um diamante cercado de pérolas. A
menina recusou o mimo, formalmente. Foi preciso a intervenção da velha para
que ela consentisse em aceitá-lo.
Às oito horas retiraram-se as visitas, seguindo direitinho para a estalagem.
Durante toda a viagem Pombinha parecia preocupada e triste.
— Que tens tu?... perguntou-lhe a mãe duas vezes.
E de ambas a filha respondeu:
— Nada! Aborrecimento...
No pouco que dormiu essa noite, que foi a do baralho com a polícia, teve
sonhos agitados e passou mal todo o dia seguinte, com molezas de febre e dores
no útero. Não arredou pé de casa, nem para ver os destroços do conflito. A
noticia do defloramento e da fuga de Florinda, como a da loucura da velha
Marciana, produziu-lhe grande abalo nos nervos.
Na manhã imediata, a despeito de fazer-se forte, torceu o nariz ao pobre
almoço que Dona Isabel lhe apresentou carinhosa. Persistiam-lhe as dores
uterinas, não vivas, mas constantes. Não teve animo de pegar na costura, e um
livro que ela tentou ler, foi por várias vezes repelido.
As onze para o meio-dia era tal o seu constrangimento e era tal o seu
desassossego entre as apertadas paredes do número 15, que, malgrado os
protestos da velha, saiu a dar uma volta por detrás do cortiço, à sombra dos
bambus e das mangueiras.
Uma irresistível necessidade de estar só, completamente só, uma aflição de
conversar consigo mesma, a apartava no seu estreito quarto sufocante, tão
tristonho e tão pouco amigo. Pungia-lhe na brancura da alma virgem um
arrependimento incisivo e negro das torpezas da antevéspera; mas, lubrificada
por essa recordação, toda a sua carne ria e rejubilava-se, pressentindo delicias
que lhe pareciam reservadas para mais tarde, junto de um homem amado, dentro
dela balbuciavam desejos, até ai mudos e adormecidos; e mistérios
desvendavam-se no segredo do seu corpo, enchendo-a de surpresa e
mergulhando-a em fundas concentrações de êxtase. Um inefável quebranto
afrouxava-lhe a energia e distendia-lhe os músculos com uma embriaguez de
flores traiçoeiras.
Não pôde resistir: assentou-se debaixo das árvores, um cotovelo em terra, a
cabeça reclinada contra a palma da mão.
Na doce tranqüilidade daquela sombra morna, ouvia-se retinir distante a
picareta dos homens da pedreira e o martelo dos ferreiros na forja. E o canto dos
trabalhadores ora mais claro, ora mais duvidoso, acompanhando o marulhar dos
ventos, ondeava no espaço, melancólico e sentido, como um coro religioso de
penitentes.
O calor tirava do capim um cheiro sensual.
A moça fechou as pálpebras, vencida pelo seu delicioso entorpecimento, e
estendeu-se de todo no chão, de barriga para o ar, braços e pernas abertas.
Adormeceu.
Começou logo a sonhar que em redor ia tudo se fazendo de um cor-de-rosa,
a princípio muito leve e transparente, depois mais carregado, e mais, e mais, até
formar-se em torno dela uma floresta vermelha, cor de sangue, onde largos
tinhorões rubros se agitavam lentamente.
E viu-se nua, toda nua, exposta ao céu, sob a tépida luz de um sol
embriagador, que lhe batia de chapa sobre os seios.
Mas, pouco a pouco, seus olhos, posto que bem abertos, nada mais
enxergavam do que uma grande claridade palpitante, onde o sol, feito de uma só
mancha reluzente, oscilava como um pêndulo fantástico.
Entretanto, notava que, em volta da sua nudez alourada pela luz, iam-se
formando ondulantes camadas sangüíneas, que se agitavam, desprendendo
aromas de flor. E, rodando o olhar, percebeu, cheia de encantos, que se achava
deitada entre pétalas gigantescas, no regaço de uma rosa interminável, em que
seu corpo se atufava como em ninho de veludo carmesim, bordado de ouro, fofo,
macio, trescalante e morno.
E suspirando, espreguiçou-se toda num enleio de volúpia ascética.
Lá do alto o sol a fitava obstinadamente, enamorado das suas mimosas
formas de menina.
Ela sorriu para ele, requebrando os olhos, e então o fogoso astro tremeu e
agitou-se, e, desdobrando-se, abriu-se de par em par em duas asas e principiou a
fremir, atraído e perplexo. Mas de repente, nem que se de improviso lhe
inflamassem os desejos, precipitou-se lá de cima agitando as asas, e veio,
enorme borboleta de fogo, adejar luxuriosamente em torno da imensa rosa, em
cujo regaço a virgem permanecia com os peitos franqueados.
E a donzela, sempre que a borboleta se aproximava da rosa, sentia-se
penetrar de um calor estranho, que lhe acendia, gota a gota, todo o seu sangue de
moça.
E a borboleta, sem parar nunca, doidejava em todas as direções ora fugindo
rápida, ora se chegando lentamente, medrosa de tocar com as suas antenas de
brasa a pele delicada e pura da menina.
Esta, delirante de desejos, ardia por ser alcançada e empinava o colo. Mas a
borboleta fugia.
Uma sofreguidão lúbrica, desensofrida, apoderou-se da moça; queria a todo
custo que a borboleta pousasse nela, ao menos um instante, um só instante, e a
fechasse num rápido abraço dentro das suas asas ardentes. Mas a borboleta,
sempre doida, não conseguia deter-se; mal se adiantava, fugia logo, irrequieta,
desvairada de volúpia.
— Vem! Vem! suplicava a donzela, apresentando o corpo. Pousa um
instante em mim! Queima-me a carne no calor das tuas asas!
E a rosa, que tinha ao colo, é que parecia falar e não ela. De cada vez que a
borboleta se avizinhava com as suas negaças, a flor arregaçava-se toda,
dilatando as pétalas, abrindo o seu pistilo vermelho e ávido daquele contato com
a luz.
— Não fujas! Não fujas! Pousa um instante!
A borboleta não pousou; mas, num delírio, convulsa de amor, sacudiu as
asas com mais ímpeto e uma nuvem de poeira dourada desprendeu-se sobre a
rosa, fazendo a donzela soltar gemidos e suspiros, tonta de gosto sob aquele
eflúvio luminoso e fecundante.
Nisto, Pombinha soltou um ai formidável e despertou sobressaltada, levando
logo ambas as mãos ao meio do corpo. E feliz, e cheia de susto ao mesmo
tempo, a rir e a chorar, sentiu o grito da puberdade sair-lhe afinal das entranhas,
em uma onda vermelha e quente.
A natureza sorriu-se comovida. Um sino, ao longe, batia alegre as doze
badaladas do meio-dia. O sol, vitorioso, estava a pino e, por entre a copagem
negra da mangueira, um dos seus raios descia em fio de ouro sobre o ventre da
rapariga, abençoando a nova mulher que se formava para o mundo. |
XI
Die Hexe, auf der Wahnsinn von Marciana einen starken Eindruck gemacht hatte, hatte den Verstand verloren und versucht, die Mietskaserne anzuzünden.
Während die Mitbewohner dies mit Krallen und Zähnen zu verhindern suchten, schleppte sie heimlich Stroh und Holzlatten zur Nummer 12 und türmte es auf zu einem leicht entfammbaren Haufen. Glücklicherweise kamen sie noch rechtzeitig. Die Konsequenzen jedoch waren trotzdem schrecklich, denn viele Häuschen, die wie dieses vom Feuer verschont worden waren, entkamen nicht der Zerstörung durch die Polizei. Manche wurden komplett zerstört. Die Sache wäre noch hässlicher ausgegangen, wenn nicht von der Vorsehung geschickt Regenschauer nicht auch den anderen, noch schlimmeren Brand gelöscht hätte, der, auf beiden Seiten, in den Gemütern nagte. Die Polizei zog sich zurück, ohne einen Gefangenen zu machen. "Hätten sie einen festgesetzt, wären alle ins Gefängnis gegangen. Gott bewahre! Im übrigen, für was? Was sie machen wollte, hatte sie gemacht! Sie war zufrieden!"
Trotz der Anstrengungen die João Romão unternahm, konnte niemand den Urheber der unheilbringenden Versuches ausfindig machen und nur sehr viel später versuchte jeder zu schlafen, nachdem man unter weinerlichen Klagen sich mit dem was man aus der Verwüstung retten konnte sich wieder eingerichtet hatte. Um Mitternacht klärte der Himmel wieder auf. Beim Anbruch der Morgendämmerung waren viele auf den Beinen und der Kneipenwirt macht ihm Hof eine detaillierte Bestandsaufnahme, bewertete und beklagte, untröstlich und wütend, seinen Schaden. Hin und wieder stieß er einen Fluch aus. Mal abgesehen von dem Schaden, den die Polizisten im Inneren der Häuser angerichtet hatten, gab es noch viele zerbrochene Zuber, viele zerbrochene Ständer, zersplitterte Lampen, verwüstete Obstgärten und Zäune. Das Eingangstor mit Schild war nur noch Brennholz. João Romão dachte darüber nach, den Bewohnern der Mietskaserne einen Zuschlag auferlegen sollte, um so den Schaden zu decken, indem er die Miete der Wohnungen und den Preis der Waren erhöhte. Man sah ihn den ganzen Tag beschäftigt. Gleich am Morgen traf er Vorkehrungen damit alle so früh wie möglich wieder eingerichtet wird. Er bestellte neue Zuber, ließ neue Gatter bauen und die alten reparieren, beauftragte Leute, das Tor und das Schild zu reparieren. Mittags hatte er vor dem stellvertretenden Leiter der Polizei zu erscheinen. Er ging in Hemdsärmeln und ohne Socken hin. Viele Bewohner der Mietskaserne begleiteten ihn, entweder aus Solidarität oder aus Neugier.
Dieser Spaziergang in die Stadt ware eine richtige Festagsgesellschaft! Erschien wie eine Pilgereise. Einige Frauen hatten ihre kleinen am Hals. Eine Gruppe Italiener ging voran, sprachen einen Mischmasch aus Italienisch und Portugiesisch, rauchten Pfeife. Manche sangen. Keiner nahm die Straßenbahn. Während der ganzen Reise disktuierten und stritten sich zum Scherz. Kommentierten was ihn begegnete mit Gelächter und Zoten, erregten in allen Straßen, die die lärmende Gruppe von Clowns durchquerte Aufmerksamkeit.
Der Saal der Polizei füllte sich.
Das Verhör, das sich nur an João Romão richtete, wurde, trotz des Protestes und der Verwarnungen der Autoritäten, die sich taub stellte, von allen gleichzeitig beantwortet. Niemand trug Erhellendes bei und alle beklagten sich über die Polizei, wobei die am Vorabend erlittenen Verlust übertrieben wurden.
Was die Frage anging, wie der Konflikt entstand und wer ihn provoziert hat, sagte der Kneipenwirt, dass er das nicht wissen könne, weil er in diesem Moment nicht in der Mietskaserne anwesend war. Was er mitt Sicherheit wisse ist, dass die Polizisten sein Grundstrück betraten und alles kurz und klein schlugen, was sie fanden, als ob das alles nur Plunder wäre.
"Gut gemacht!", schrie der verhörende Polizist, "ihr sollt keinen Widerstand leisten!"
Ein Chor erzürnter Antworten erhob sich, um den Widerstand zu rechtfertigen. "Ah! Sie waren mehr als überdrüssig, wegem dem, was diese Fledermäuse anstellten, wenn sie niemanden zu fassen bekamen! Sie verwüsten alles, aus reiner Freude an der Zerstörung! Warum muss jemand, weil er sich ein bisschen mit seinen Freunden amüsiert, wie ein schlimmer Gauner behandelt werden? Macht das Sinn? Der Aufruhr lag immer an der Polizei, die ihn mit ihrem Jähzorn hervorrief! Wenn sie sich nicht in das Leben derjenigen einmischen würde, die ruhig in ihrer Ecke leben, dann hätte man den ganzen Krach nicht!"
Wie üblich bewirkte das Gemeinschaftsgefühl, dass diese Leute mit eisernen Banden zusammenschloss, dass auch nur der Hauch einer Anzeige durchdrang. Der Verhörer, nachdem er sich ohne Erfolg einen nach dem anderen vorgenommen hatte, verabschiedete die Bande, die sich dann, mit einer noch heißeren Ausgelassenheit als beim Hinweg, zurückzog.
Im Inneren der Mietskaserne, hinter den Türen, konnten sie sich ganz nach Lust und Laune Messerstechereien liefern, niemand von ihnen, und vor allem nicht das Opfer, wäre bereit den Schuldigen zu nennen. Selbst der Arzt, der nach der Invasion der Polizei vom Haus des Miranda zur Mietskaserne kam, um Jerônimo zu behandeln, schaffte es nicht diesem auch nur den leisesten Hinweis bezüglich der Ursache des Messerstichs zu entlocken. "Nein, es war nichts! Es geschah ohne Absicht! Sie haben gespielt und da ist es passiert! Niemand hatte auch nur die geringste Absicht ihm einen Stich zu versetzen!"
Rita zeigte sich von einem unermüdlichen Eifer für den Verwundeten. Sie war es, die lief um die Medizin zu suchen, die dem Arzt assistierte und die dem Kranken als Krankenschwester diente. Viele gingen dahin, blieben da einen Augenblick um gute Besserung zu wünschen. Seit Jerônimo operiert worden war, wich sie nicht von seinem Bett. Unterdessen machte Piedade, betrübt und verstört, nichts anderes mehr als zu weinen und zu streiten.
Die Mulattin weinte nicht, doch auf ihrem Gesicht konnte man einen Ausdruck zärtlicher Traurigkeit lesen. Sie fühlte jetzt eine Zuneigung für jenen guten und starken Mann. Für diesen harmlosen Giganten, diesen friedlichen Herkules der Firmo mit einem Faustschlag hätte töten können, der aber in seiner Gutmütigkeit sich von dem Unhold hatte niederstechen lassen. "Alles nur wegen ihr! Nur wegen ihr!" Ihr Herz fühlte sich angezogen von dieser blutigen und schmerzlichen Hingabe. Und er, der Kranke, unterbrach die Zuckungen seines Gesichts, um vor den verliebten Augen der Baianerin zu lächeln, glücklich in diesem Unglück, das es ihm erlaubte, ihre Liebkosungen zu spüren. Er nahm ihre Hände, umfasste ihre Lenden, hingebungsvoll und gerührt, ohne ein Wort, ohne eine Geste, aber dennoch sagte er ihr vollkommen klara,in seinem schweigenden und ruhigen Schmerz einens verletzten Tieres, dass er sie liebte, dass er sie liebte wie verrückt.
Rita liebkoste ihn, jetzt schon völlig ohne den leisesten Schatten von Skrupel, duzte ihn, streichelte ihm die blutverschmierten Haare mit dem weichen Handballen ihrer weiblichen Hand. Es fehlte nur noch, dass sie ihn in der Gegenwart seiner Frau auf den Mund geküsst hätte, denn mit den Augen verschlang sie ihn in heißen und durstigen Küssen.
Nach Mitternacht blieben sie und Piedade allein zurück und wachten bei dem Kranken. Man hatte beschlossen, dass dieser am Morgen in den Orden von Santo Antônio gebracht würde, dem er angehörte. Und tatsächlich war Jerônimo am nächsten Tag, während der Kneipenwirt und seine Bande sich in Richtung der Polizei bewegten und der Rest der Mietskaserne herumwimmelte, über die Reparatur der Zuber und der Gitter schwadronierte, in einem Wagen, an der Seite seiner Frau und Rita, auf dem Weg ins Krankenhaus.
Die zwei kehrten erst nachts zurück, fielen vor Müdigkeit um. Der Rest der Mietskaserne war ebenfalls platt und sehnte sich nach dem Bett, obwohl die Wäscherinnen im allgemeinen an diesem Tag nichts getan hatten. Die, die dringlichere Wäsche hatten, wuschen sie außerhalb oder schlepppten, Ermangelung besseren für diesen Zweck geeigneten Geschirres, Schüsseln aus dem Bad unter die Wasserhähne. Man diskutierte die Vorgänge vom Vorabend ohne das Thema zu wechseln. Der eine erinnerte sich an seine Heldentaten mit den Polizisen, beschrieb begeistert die Details des Kampfes. Ein anderer wiederholte voller Stolz, die Unverschämtheiten die man danach dem Polizisten ins Gesicht gesagt hatte. Später tauschten sie sich über die Schäden aus und klagten an. Jeder, Frau wie Mann, hatte einen Schaden zu beklagen oder eine Verletzung. Sie zeigten sich gegenseitig, glühend vor Entrüstung, die zerbrochenen Gegenstände oder die Schürfwunden am Körper.
Doch um neun Uhr nachts war keine lebende Seele mehr im Hof der Mietskaserne. Die Kneipe schloss etwas früher als norrmal. Bertoleza ließ sich erschöpft auf die Matraze fallen. João Romão ließ sich neben ihr nieder, konnte jedoch nicht einschhlafen. Schüttelfrost und Stiche im Kopf plagten ihn. Bittend rief er die Freundin und bat sie, ihm irgendwas zum schwitzen zu geben. Er nahm an Fieber zu haben.
Die Kreolin ging erst sehr viel später zu Bett, nachdem sie ihm diei Wäsche gewechselt hatte und er eingeschlafen war. Doch schon wenig später, um vier Uhr morgens, erhob sie sich, mit knackenden Gelenken, gähnend, schnaubend bei ihrem schwerfälligen Erwachen, sich heftig schnäuzend. Sie weckte den Angestellten, damit er zum Markt gehe.Sei gurgelte ein bisschen mit Wasser aus dem Hahn der Küche und macht dann Feuer für den Kaffee der Arbeiter, indem sie ein Streichholz anzündete, damit das Holz in einem Ofen zum brennen brachte, aus dem dann dicke Schwaden dichten Rauches sprudelten.
Draußen wurde es schon heller und das Leben erwachte wieder in der Mietskaserne. Der tägliche Kampf fing wieder an, als ob es keine Unterbrechung gegeben hätte. Die Hintegrundgeräusche fingen wieder an. Die Nacht, in der sie alle geschlafen hatten, sorgte für gute Laune.
Pombinha unterdessen war diesen Morgen erschöpft und nervös aufgewacht, ohne Lust, die Laken zu verlassen. Sie bat die Mutter Mutter um einen Kaffee, und umarmte wieder die Kopfkissen, das Gesicht darin vergraben.
"Fühlst du dich heute nicht besser, mein Kind?", fragte sie Dona Isabel, und streichelte ihre Kofp, "Fieber hast du nicht."
"Ich fühle mich noch schwach. Aber es ist nichts, das geht vorüüber!"
"Das kam vom vielen Eis, das du bei Madame gegessen hast! Hab ich es Dir nicht gesagt? Das Beste ist jetzt du nimmst ein heißes Fußbad!"
"Nein, nein, um Gottes Willen! Ich bin bald wieder auf den Beinen!"
Um acht Uhr stand sie tatsächlich, etwas träge, auf und machte sich, vor ihrem bescheidenen Frisiertisch aus Eisen zurecht. Man könnte sagen ohne Kraft für auch nur die geringste Anstrengung. Ihr ganzes Wesen verströmte eine nachdenkliche Melancholie einer Genesenden. In der hellen Klarheit ihrer Augen eines Kranken Mädchens war ein süßer Ausdruck. Öffnete sie die Blütenblätter des Mundes zu einem armen, blassen Lächeln, so erreichte dieses nicht ihre Lippen, die wie ausgetrocknet schienen durch den Mangel an Küssen der Liebe. Auch eine zierliche Pflanze verblüht, verwelkt und stirbt, wenn nicht ein zärtlicher Schmetterling seine mit fruchtbarem und goldenen Polen beladenen Flügel über ihr ausschütten würde.
Der Ausflug zu Léonie hatte ihr überhaupt nicht gut getan. Sie brachte von dort Eindrücke intimer Demütigungen mit, die in ihrem ganzen Leben niemals wieder ausgelöscht werden.
Die Kokotte empfing sie mit offenem Armen, entzückt sie bei sich zu empfangen, auf diesen weichen und verräterischen Sofas, zwischen all dem extravaganten Luxus, der durch die großen Laster noch verfeinert wurde. Sie befahl der Hausangestellten, dass sie niemanden hereinlasse, niemandem, nicht einmal das Baby, und setzte sich neben das Mädchen, dicht an dicht eine an der anderen, nahm ihre Hände, machte ihr eine unzählige Anzahl an Fragen, bat sie um Küsse, die sie schnurrend genoss, mit geschlossenen Augen.
Auch Dona Isabel seufzte, aber auf eine andere Art und Weise. Bei ihrer eingeschränkten Kentniss von Luxus, ließen diese aufdringlichen Spiegel, diese zierlichen Möbel, die skandalösen Vorhänge sehnsüchtige Erinnerungen einer guten Zeit wach werden und Ungeduld für eine bessere Zukunft.
Wenn ihr Gott doch nur dabei helfen wollte!
Um zwei Uhr nachmittags servierte Léonie ihre Gästen mit eigener Hand eine kleine Mahlzeit mit Foir-gras, Schinken und Käse, begleitet mit Champagner, Eis und Seltz Wasser und ohne das Mädchen auch nur einen Augenblick zu vernachlässigen, überhäufte sie sie mit extremen Liebesbekundungen. Sie führte ihr das Essen an den Mund, trank aus ihrem Glas, drückte ihr unter dem Tisch die Hände.
Nach diesem Vesper, hatte Dona Isabel, die an Wein nicht gewohnt war, das Bedürfnis sich auzuruhen. Léonie führte sie zu einem hübschen Zimmer, mit einem hübschen Bett und, schloss, kaum dass sie festgestellt hatte, dass die Alte schlief, die Tür von außen, um sich ganz ungehindert der Kleinen zuwenden zu können.
Gut! Jetzt sind wir ganz alleine!
"Komm her, meine Blume!", sagte sie, und drückte sie an sich, während sie sich aufu einen Divan falles ließ. Weißt du? Ich liebe dich immer mehr! Ich bin verrückt nach dir!
Sie verschlang sie mit heftigen Küssen, immer wieder, heiß, die das Mädchen erstickten, sie mit Schrecken und mit instinktiver Angst füllten, der Ursprung die Arme, in ihrer Einfalt, nicht kannte.
Die Kokotte nahm ihre Verwirrung war, ohne ihre Hand loszulassen.
"Lass uns auch ein wenig ausruhen", schlug sie vor, und schleifte sie zum Himmelbett.
Pombinha setzte sich, verkrampft, auf die Kanta des Bettes und wollte, völlig verwirrt, abrücken, hatte aber den Mut nicht zu protestieren, aus Liebenswürdigkeit versuchte sie den Faden des Gespräches, das sie nur wenig vorrher, bei Tisch in Gegenwart von Mutter Isabel, geführt hatten. Léonie tat so, also ob sie zuhören würde und umfasste lediglich ihre Taille, die Lenden und den Hals. Dann, so als ob es rein zufällig geschehe, begann sie das Oberteil des Kleides aufzuknöpfen.
"Nein! Warum? Ich will mich nicht ausziehen."
"Aber es ist so heiß. Mach es dir bequem."
"So wie es ist, ist es gut. Ich will nicht!"
"Wie einfältig du doch bist! Siehst du nicht, dass ich eine Frau bin, Dummerchen? Vor was hast du Angst? Schau! Ich gebe dir ein Beispiel!"
Und mit einem Satz entledigte sie sich ihrer Kleidung und machte weiter.
Das Mädchen, kreuzte die Arme über der Brust, rot vor Scham, als ihr Oberteil nur noch lose herunterhing.
"Lass mich!", flüsterte sie der anderen zu, die Augen abgewendet, mit zitternder Pupille.
Und trotz ihres Protestes, ihrem Flehen und sogar trotz der Tränen der Unglücklichen, riss sie ihr das letzte Kleidungsstück vom Leib, stürzte sich auf sie, küsste ihren ganzen Körper, bemächtigte sich mit den Lippen der rosa Spitze ihres Busens.
"Nein! Nein! Lass das! Lass das!", widersetzte sich Pombinha sich windend unter ihren Händen, wobei die Köstlichkeiten ihrer frischen und jungfräulichen Nacktheit sichtbar wurden, die die Prostitutierte verrückt werden ließen.
"Was ist schlimm daran? Wir spielen."
"Nein! Nein!" stotterte das Opfer und stieß sie zurück.
"Doch! doch!", beharrte Léonie, umschloss sie mit ihren Armen wie zwischen zwei Säulen und drückte ihren Körper so an sie, dass er sie überall berührte.
Pombinha keuchte, widerstrebte. Die Reibung dieser zwei unruhigen Brüste auf ihrer kleinen, kindlichen Brust einer Jungfrau und das schwindelerregende Flehen dieser rauhen und kräuseligen Haare an den sensibelsten Stellen ihrer Weiblichkeit brachten das Pulver ihres Blutes zum glühen und die Vernunft kapitulierte unter dem Angriff der Sinne.
Sie gab sich jetzt ganz hin, biss sich auf die Zähne, ihr Fleisch zitterte in den Zuckungen der Krämpfe, in dem Maße wie die andere, über ihr, vor Sinnlichkeit wie bewusstlos, zu keinem klaren Gedanken mehr fähig, sich wand, sich aufbäumend wie eine Stute, schnaubend und wiehernd.
Sie stopfte ihr die Zunge in den Mund und in die Ohren, zerdrückte ihre Augen mit ihren von Schaum feuchten Küssen, biss ihr in das Schlüsselbein, ergriff von Krämpfen erfasst ihr Haar, also ob sie es ihr büschelweise ausreissen wollte. Schließlich, verschlang sie, in einem noch stärkeren Anfall, ihren ganzen Körper in einer Umarmung, leichte Schreie jaulend, trocken, kurz, sehr schrill, ließ´sich schließlich auf die Seite fallen, kraftlos, träge, die Glieder ausgestreckt und leblos wie bei einem Betrunkenen, nur noch von Zeit zu Zeit ein gepresstes Schluchzend von sich gebend.
Das Mädchen drehte sich in zur Gegnerin entgegengesetzten Richtung, drückte sich fest in die Kissen, unterdrückt ihr Weinen, beschämt und bestraft.
Die Schamlose, noch verloren und ohne die Augen öffnen zu können, versuchte sie zu beleben, liebkoste ihren Nacken und ihren Rücken. Pombinha jedoch schien untröstlich und die andere musste sich halb aufrichten und sie wie ein Kind empor zu ihrem Hals ziehen, wo sie ihr Gesicht verbarg und leise schluchzte.
"Wein nicht, meine Liebe!"
Pombinha schluchzte weiter.
"Komm! Ich will dich nicht so sehen! Bist du böse auf mich?"
"Ich komme nie mehr hier zurück! Nie mehr!", rief die junge Frau schließlich, und stieg eilig vom Bett herab um sich anzuziehen.
"Komm! Sei nicht böse! Ich werde traurig, wenn du böse bist auf deine kleine Schwarze! Geh! Wende das Gesicht nicht ab!"
"Lass mich!"
"Komm her, Pombinha!"
"Ich komme nicht! Das hab ich schon gesagt!"
Sie zog sich an, wobei ihre Bewegungen ihre Wut ausrückte. Léonie sprang neben sie um sie zu küssen, gewaltsam, die Ohren und den Nacken, machte sich ganz klein und demütig, schmeichelte ihr, versprach ihre Sklavin zu sein, ihr zu folgen wie ein Hündchen, vorausgesetzt die Tyranin wäre nicht so verärgert.
"Ich mache alles! Alles! Aber sei mir nicht böse! Ah! Wenn du nur wüsstest, wie ich dich bewundere!"
"Das weiß ich nicht! Lass mich!"
"Warte!"
"Wie aufdringlich!"
"Lass den Blödsinn! Hör mir um Gottes willen zu!"
Pombinha hatte den letzten Knopf ihre Oberteiles zugeknöpft, hatte den Kragen hochgezogenn und schüttelte die Arme, damit die Kleidung eng am Körper sitzt. Doch Léonie fiel ihr zu Füßen, umarmte ihre Beine und küsste ihren Rock."
"Schau! Hör!",
"Lass mich gehen!"
"Nein! Du darfst nicht zornig weggehen oder ich mache hier einen Höllenrabatz!"
"Mit Sicherheit ist Mama schon aufgewacht!"
"Dann soll sie aufwachen!"
Jetzt versperrte die Prostituierte den Ausgang der Alkove.
"Oh mein Gott! Lass mich raus!"
"Ich lass dich nicht gehen, ohne dass wir Frieden geschlossen haben."
"Wie widerlich!"
"Gib mir einen Kuss!"
"Tu ich nicht!"
"Dann gehst du nicht!"
"Dann schreie ich!"
"Dann schrei doch! Was geht mich das an!"
"Geh da bitte weg!"
"Schließ Frieden."
"Ich bin nicht verärgert, glaub mir! Ich bin unpässlich. Ich fühle mich nicht gut!"
"Aber ich verlange einen Kuss!"
"Also gut! Da ist er."
Und sie küsste sie.
"So will ich ihn nicht! Er wurde nur widerwillig gegeben!"
Pombinha gab ihr noch einen.
"Ah! Jetzt ist es gut! Warte einen Augenblick! Ich muss mich herrichten! Nur einen Augenblick!
In aller Eile wusch sie sich kurz am Bidet, machte vor dem Spiegel, mit einer Bewegung der Finger ihr Haare zurecht, puderte sich, parfümierte sich und zog sich ein Hemd, einen Unterrock und einen Umhang an, alle mit der Geschwindigkeit von jemandem, der daran gewöhnt ist, sich mehrere Male am Tage anzuziehen. Nun bereit, warf sie einen Blick auf das Mädchen, glättete ihren Rock, ordnete ihre Frisur und gab sich wieder den ruhigen Anschein der vernünftigen Frau, umfasste sie an der Taille und führte sie gemächlich in das Esszimmer, um dort Wermut mit Kohlensäure zu trinken.
Um halb sieben gab es essen. Das Essen blieb kalt. Weniger wegen Pombinha, die sich ohnehin als sehr abweisend zeigte, als wegen Dona Isabel, die bis zu dem Zeitpunkt, als man sie zum Essen rief geschlafen hatte und noch von der Leberpastete gesättigt war. Die Hausherrin jedoch gab sich unbekümmert, lachte und erzählte burleske Anekdoten um sie aufzuheitern. Beim Kaffee erschien Juju, den das Hausmädchen gleich nach dem Mittagessen ausgeführt hatte und sofort erhob sich eine Welle an Sympathiebekundungen für die süße Kleine. Léonie fing an mit ihr zu plaudern, mimte die Sprechweise eines Kindes, sagte ihr sie solle Dona Isabel ihre neuen Schuhe zeigen.
Später, auf der Terrasse, während sie eine Zigarette rauchte, nahm sie die Hand von Pombinha und steckt ihr einen Diamentring mit Perlen an den Finger. Das Mädchen lehnte das Geschenk höflich ab. Die Alte musstet intervenieren, damit sie sich bereit zeigte, es anzunehmen.
Um acht zogen sich die Gäste zurück und gingen direkt zur Mietskaserne. Während der ganzen Fahrt schien Pombinha besorgt und traurig.
"Was hast du?", fragte sie die Mutter zwei Mal.
Und beides Mal antwortete die Tochter:
"Nichts! Ich langweile mich."
Wegen des Aufstandes gegen die Polizei schlief sie schlecht in jener Nacht, träumte wild und war am nächsten Tag unpässlich, mit Fieberanfällen und Schmerzen im Uterus. Sie setzte, auch ncht um sich die Verwüstungen des Konfliktes anzusehen, keinen Fuß aus dem Haus. Die Nachricht von der Entjungferung und der Flucht Florindas, so wie der Wahnsinn der alten Marciana belasteten ihr Nevernkostüm.
An diesem Morgen, obwohl sie sich zusammen reissen wollte, rümpfte sie die Nase bei dem spärlichen Mittagessen, dass Dona Isabel ihr liebevoll vorsetzte. Sie hatte immer noch Unterleibsschmerzen, nicht sehr starke, aber anhaltend. Sie hatte keine Lust, sich der Schneiderei zu widmen und ein Buch, das sie zu lesen versuchte, legte sie immer wieder aus der Hand.
Zwischen elf und Mittag nahmen ihre Gefühle der Beklemmung und ihre Unruhe zwischen den engen Wänden der Nummer 15 so zu, dass sie trotz der Proteste der Alten, um hinter dem Hof, im Schatten der Bambussträuche und der Mangobäume einen Spaziergang zu machen.
Ein unwiderstehliches Bedürfnis allein zu sein, völlig alleine, der Zwang mit sich selber zu sprechen trieb sie aus ihre engen stickigen Zimmer, so trist und so unfreundlich. In ihrer weißen, jungfräulichen Seele stach ein heftiges und schwarzes Bedauern der Verfehlungen des Vortages. Aber, durch diese Erinnerung in Sinnlichkeit entflammt, lachte ihr Fleisch, bekam sie eine Ahnung der Lust, die ihr für später reserviert schien, zusammen mit einem geliebten Mann, stotterten in ihrr Sehnsüchte, die bis jetzt stumm und schlafend gewesen waren. Sie entdeckte Geheimnisse ihres Körpers, die sie mit Überraschungen füllten und ihn sie eintauchen ließen in Zuckungen der Extase. Eine unerklärliche Schwäche nahm ihr alle Energie und entspannte ihre Muskeln mit einem Rausch trügerischer Pflanzen.
Sie konnte nicht widerstehen. Sie setzte sich unter die Bäume, einen Ellbogen auf der Erde, den Kopf aufgestützt auf der Handfläche.
In der süßen Ruhe dieses lauen Morgens hörte man in der Ferne die Pickel der Männer im Steinbruch und den Hammer der Schmiede. Man konnte, mal stärker mal weniger gut warnehmbar, begleitet vom Rauschen des Windes, den Gesang der Arbeiter vernehmen, melancholisch und traurig, wie ein religiöser Chor von Büßern.
Die Hitze trug von der Wiese einen sinnlichen Geruch herüber.
Das Mädchen schloss die Lider, von ihrer köstlichen Benommenheit übermanntt und streckte sich ganz auf dem Boden aus, Arme und Beine gespreizt.
Sie schlief ein.
Sie fing an zu träumen, dass um sie herum alles rosa eingefärbt würde, zuerst nur ganz schwach und transparent, dann dunkler, immer mehr und mehr, bis um sie herum ein roter Wald wäre, mit einer Farbe wie von Blut, wo große Kaladien langsam schaukelten.
Sie sah sich nackt, ganz nackt, vor dem Himmel ausgebreitet, unter dem warmen Licht einer berauschenden Sonne, die ihren ganzen Busen beschien.
Doch Stück für Stück, nahmen ihre Augen, da sie weit geöffnet waren, nur noch eine pochende große Klarheit wahr, wo die Sonne, die nur ein ein glänzender Fleck war, wie ein fantastischer Pendel oszillierte.
Unterdessen gewahrte sie, dass rund um ihre vom Licht beschiene Nacktheit sich wellenförmige blutfarbene Schichten bildeten, die sich bewegten und den Duft von Blumen versprühten. Und als sie den Blick zur Seite streifen ließ, sah sie voller Freuden, dass sie zwischen rießengroßen Blütenblätter lag, im Schoße einer gewaltigen Rose, in der ihr Körper eingebettet war rwie in einem haarigen, karminroten Nest, verziert mit Gold, weich, sanft, wohlriechend und warm.
Seufzend streckte sie sich, hingegeben einer keuschen Sinnlichkeit.
Oben im Himmel ließ die Sonne sie nicht aus den Augen, verliebt in ihre zarten Formen eines Mädchens.
Sie lächelte ihr zu, schmachtete sie mit den Augen an; und dann zitterte der feurige Stern und bewegte sich, verdoppelte sich, öffnete sich vollkommen und wurde zu zwei Flügeln, begann zu zittern, angezogen und verwirrt. Doch auf einmal, als ob plötzlich die Begierden ihn ihr entflammt wären, stürzte er sich von da oben herab, flatterte mit den Flügeln und kam, wie ein mächtiger Schmetterling aus Feuer, um sinnlich rund um die Rose mit seinen Flügeln zu schlagen, in deren Schoß die Jungfrau lag mit entblößten Brüsten.
Und die Jungfrau, in dem Maße, wie der Schmetterling sich ihr näherte, fühlte sich durchdringen von einer merkwürdigen Hitze, dass, Tropfen für Tropfen, ihr ganzes Mädchenblut entzündete.
Der Schmetterling, schwankte ohne Unterlass in alle Richtungen, manchmal floh er, manchmal näherte er sich, seine Antennen aus Glut schreckten vor dem Kontakt mit der feinen und reinen Haut des Mädchens zurück.
Diese, mit vor Verlangen entrücktem Bewusstsein, brannte darauf berührt zu werden und streckt ihm ihren Hals entgegebn, doch der Schmetterling floh.
Eine sinnliche, ungeduldige Gier, bemächtigte sich des Mädchen. Sie wollte um jeden Preis dass der Schmetterling sich auf ihr niederlasse, zumindest einen Augenblick, einen einzigen Augenblick, seine glühenden Flügel sie in einer schnellen Umarmug umfassen. Der Schmetterling aber, immer noch benommen, konnte nicht anhalten, kaum hatte er sich genähert, flüchtete er auch schon wieder, unruhig, vor Sinnlichkeit orientierungslos.
"Komm! Komm!", flehte das Mädchen, und bot ihren Körper an. Setz dich einen Moment auf mich! Brenne mein Fleisch mit der Hitze deiner Flügel.
Und es schien, als sei es die Rose, in deren Schoß sie sich befand, die sprach und nicht sie. Jedes Mal wenn der Schmetterling sich in seiner Pracht näherte, öffnete sie sich weit, breitete ihre Blumenblätter aus, öffete seinen roten Stempel, der nach dem Kontakt mit jenem Licht begehrte.
"Fliehe nicht! Fliehe nicht! Setz dich einen Moment."
Der Schmetterling setzte sich nicht, aber wie von Sinnenn, von Liebe betört, schlug er noch stärker mit den Flügeln und ein Wolke goldenen Staubes senkte sich über der Rose, ließ das Mädchen Schreie und Seufzer austoßen, wie benommen vor Lust unter diesem leuchtenden und befruchtenden Ausfluss.
In diesem Moment ließ Pombinha ein oh vernehmen und erwachte überrascht, fuhr sich dann mit Händen in die Mitte des Körpers. Glücklich und gleichzeitig von Erstaunen erfüllt, lachend und weinend, fühlte sie, wie der Schrei der Pubertät schließlich ihre Eingeweide in einer roten und heißen Welle verlassen hatte.
Die Natur lachte sie gerührt an. In der Ferne schlug eine Glocke fröhlich die die zwölf Glockenschläge des Mittags. Die Sonne, siegreich, stand im Zenith und durch das schwarze Laubwerk des Mangobaumes, fiel ein goldener Strahl auf den Bauch des Mädchen segnete die neue Frau, die sich für die Welt formte. |
XII
Pombinha ergueu-se de um pulo e abriu de carreira para casa.
No lugar em que estivera deitada o capim verde ficou matizado de pontos
vermelhos. A mãe lavava à tina, ela chamou-a com instância, enfiando cheia de
alvoroço pelo número 15. E ai, sem uma palavra, ergueu as saias do vestido e
expôs a Dona Isabel as suas fraldas ensangüentadas.
— Veio?! perguntou a velha com um grito arrancado do fundo d’alma.
A rapariga meneou a cabeça afirmativamente, sorrindo feliz e enrubescida.
As lágrimas saltaram dos olhos da lavadeira.
— Bendito e louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! exclamou ela, caindo
de joelhos defronte da menina e erguendo para Deus o rosto e as mãos trêmulas.
Depois abraçou-se às pernas da filha e, no arrebatamento de sua comoção,
beijou-lhe repetidas vezes a barriga e parecia querer beijar também aquele
sangue abençoado, que lhes abria os horizontes da vida, que lhes garantia o
futuro; aquele sangue bom, que descia do céu, como a chuva benfazeja sobre
uma pobre terra esterilizada pela seca.
Não se pôde conter: enquanto Pombinha mudava de roupa, saiu ela ao pátio,
apregoando aos quatro ventos a linda noticia. E, se não fora a formal oposição
da menina, teria passeado em triunfo a camisa ensangüentada, para que todos a
vissem bem e para que todos a adorassem, entre hinos de amor, que nem a uma
verônica sagrada de um Cristo.
— Minha filha é mulher! Minha filha é mulher!
O fato abalou o coração do cortiço, as duas receberam parabéns e
felicitações. Dona Isabel acendeu velas de cera à frente do seu oratório, e nesse
dia não pegou mais no trabalho, ficou estonteada, sem saber o que fazia, a entrar
e a sair de casa, radiante de ventura. De cada vez que passava junto da filha
dava-lhe um beijo na cabeça e em segredo recomendava-lhe todo o cuidado.
“Que não apanhasse umidade! que não bebesse coisas frias! que se agasalhasse o
melhor possível: e, no caso de sentir o corpo mole, que se metesse logo na
cama! Qualquer imprudência poderia ser fatal!...” O seu empenho era pôr o João
da Costa, no mesmo instante, ao corrente da grande novidade e pedir-lhe que
marcasse logo o dia do casamento; a menina entendia que não, que era feio, mas
a mãe arranjou um portador e mandou chamar o rapaz com urgência. Ele
apareceu à tarde. A velha convidara gente para jantar; matou duas galinhas,
comprou garrafas de vinho, e, à noite, serviu, às nove horas, um chá com
biscoitos. Nenen e a das Dores apresentaram-se em trajos de festa; fez-se muita
cerimônia; conversou-se em voz baixa, formando todos em volta de Pombinha
uma solicita cadeia de agrados, uma respeitosa preocupação de bons desejos, a
que ela respondia sorrindo comovida, como que exalando da frescura da sua
virgindade um vitorioso aroma de flor que desabrocha.
E a partir desse dia Dona Isabel mudou completamente. As suas rugas
alegraram-se; ouviam-na cantarolar pela manhã, enquanto varria a casa e
espanava os móveis.
Não obstante, depois do tremendo conflito que acabou em navalhada, uma
tristeza ia minando uma grande parte da estalagem. Já se não faziam as quentes
noitadas de violão e dança ao relento. A Rita andava aborrecida e concentrada,
desde que Jerônimo partiu para a Ordem; Firmo fora intimado pelo vendeiro a
que lhe não pusesse, nunca mais, os pés em casa, sob pena de ser entregue à
polícia; Piedade, que vivia a dar ais, carpindo a ausência do. marido, ainda ficou
mais consumida com a primeira visita que lhe fez ao hospital; encontrou-o frio e
sem uma palavra de ternura para ela, deixando até perceber a sua impaciência
para ouvir falar da outra, daquela maldita mulata dos diabos, que, no fim de
contas, era a única culpada de tudo aquilo e havia de ser a sua perdição e mais
do seu homem! Quando voltou de lá atirou-se à cama, a soluçar sem alívio, e
nessa noite não pôde pregar olho, senão já pela madrugada. Um negro desgosto
comia-a por dentro, como tubérculos de tísica, e tirava-lhe a vontade para tudo
que não fosse chorar.
Outro que também, coitado! arrastava a vida muito triste, era o Bruno. A
mulher, que a principio não lhe fizera grande falta, agora o torturava com a sua
distancia; um mês depois da separação, o desgraçado já não podia esconder o
seu sofrimento e ralava-se de saudades. A Bruxa, a pedido dele, tirou a sorte nas
cartas e disse-lhe misteriosamente que Leocádia ainda o amava.
Só Dona Isabel e a filha andavam deveras satisfeitas. Essas sim! nunca
tinham tido uma época tão boa e tão esperançosa. Pombinha abandonara o curso
de dança; o noivo ia agora visitá-la, invariavelmente, todas as noites; chegava
sempre às sete horas e demorava-se até às dez; davam-lhe café numa xícara
especial, de porcelana; às vezes jogavam a bisca, e ele mandava buscar, de sua
algibeira, uma garrafa de cerveja alemã, e ficavam a conversar os três, cada qual
defronte do seu copo, a respeito dos projetos de felicidade comum; outras vezes
o Costa, sempre muito respeitador, muito bom rapaz, acendia o seu charuto da
Bahia e deixava-se cair numa pasmaceira, a olhar para a moça, todo embebido
nela. Pombinha punha alegrias naqueles serões com as suas garrulices de pomba
que prepara o ninho. Depois do seu idílio com o sol fazia-se muito amiga da
existência, sorvendo a vida em haustos largos, como quem acaba de sair de uma
prisão e saboreia o ar livre. Volvia-se carnuda e cheia, sazonava que nem uma
fruta que nos provoca o apetite de morder. Dona Isabel, ao lado deles,
toscanejava do meio para o fim da visita, traçando cruzes na boca e afugentando
os bocejos com voluptuosas pitadas da sua insigne tabaqueira.
Fixado o dia do casamento, o assunto inalterável da conversa era o enxoval
da noiva e a casinha que o Costa preparava para a lua-de-mel. Iriam todos três
morar juntos; teriam cozinheiro e uma criada que lavasse e engomasse. O rapaz
trouxera peças de linho e de algodão, e ali, à luz amarela do velho candeeiro de
querosene, enquanto a mãe talhava camisas e lençóis, a filha cosia valentemente
numa máquina que lhe oferecera o noivo.
Uma vez, eram duas da tarde, ela pregava rendas numa fronha de almofada,
quando o Bruno, cheio de hesitações, a coçar os cabelos da nuca, pálido e mal
asseado, disse-lhe, encostando-se à ombreira da porta:
— Ora, Nhã Pombinha... tinha-lhe um servicinho a pedir... mas
vosmecezinha anda agora tão tomada com o seu enxoval e não há de querer
dar-se a maços...
— Que queres tu, Bruno?
— N’é nada, é que precisava que vosmecezinha me fizesse uma carta
p’raquele diabo... mas já se vê que não tem cabimento... Fica pr’ao depois!
— Uma carta para tua mulher, não é?
— Coitada! É mais doida do que ruim! Pois se a gente até dos brutos tem
pena!...
— Pois estás servido. Queres para já?
— Não vale estorvar! Continue seu servicinho! Eu volto pr’outra vez!...
— Não! anda cá, entra! O que se tem de fazer, faz-se logo!
— Deus lhe pague! Vosmecezinha é mesmo um anjo! Não sei a quem se
chegue a gente ao depois que já lhe não tivermos cá!...
E continuou a louvar a bondade da rapariga, enquanto esta, toda serviçal,
preparava numa mesinha redonda os seus apetrechos de escrita.
— Vamos lá, Bruno! que queres tu mandar dizer à Leocádia?
— Diga-lhe, antes de mais nada, que aquilo que quebrei dela, que dou
outro! Que ela fez mal em quebrar também o que era meu, mas que fecho os
olhos! Águas passadas não movem moinho! Que sei que ela agora está
desempregada e aos paus; que está a dever para mais de mês na estalagem; mas
que não precisa dar cabeçadas: que me mande cá o senhorio, que me entendo
com ele. Que acho bom que ela deixe a casa da crioula onde come, porque a
mulher já se queixou e já disse, a quem quis ouvir, que aquilo lá não era ponto
de vadios e mulheres de má vida! Que ela, se tivesse um pouco de tino, nem
precisava estar às migalhas dos outros, que eu na forja fazia para a trazer de
barriga cheia e mais aos filhos que Deus mandasse... — Principiava a tomar
calor. — Que a culpada de tudo isto é só ela e mais ninguém! tivesse um bocado
de juízo e não precisava envergonhar a cara por ai...
— Isso já está dito, Bruno!
— Pois arrame-lhe outra vez a ver se ela toma brio!
— E que mais?
— Que lhe não quero mal, nem lhe rogo pragas, mas que é bem feito que ela
amargue um pouco do pão do diabo, pra ficar sabendo que uma mulher direita
não deve olhar se não pra seu marido; e que, se ela não fosse tão maluca...
— Já aí vai você repetir inda uma vez a mesma cantiga!...
— Mas diga-lhe sempre, tenha paciência, Nhã Pombinha!... Que ainda
estaria aqui, comigo, como dantes, sem agüentar repelões de estranhos!...
— Adiante, Bruno!
— Diga-lhe...
E interrompeu-se.
Ora, que mais ele tinha a dizer?...
Coçou a cabeça.
— Veja, Bruno, você é quem sabe o que precisa escrever a sua mulher...
— Diga-lhe...
Não se animava.
— Que...
— Diga-lhe... Não! não lhe diga mais nada!...
— Posso então fechar a carta?...
— Está bom... resmungou o ferreiro, decidindo-se. Vá lá! Diga-lhe que...
— Que...
Houve um silêncio, no qual o desgraçado parecia arrancar de dentro uma
frase que, no entanto, era a única idéia que o levava a dirigir-se à mulher. Afinal,
depois de coçar mais vivamente a cabeça, gaguejou com a voz estrangulada de
soluços:
— Diga-lhe que... se ela quiser tornar pra minha companhia... que pode
vir... Eu esqueço tudo!
Pombinha, impressionada pela transformação da voz dele, levantou o rosto e
viu que as lágrimas lhe desfilavam duas a duas, três a três, pela cara, indo
afogar-se-lhe na moita cerdosa das barbas. E, coisa estranha, ela, que escrevera
tantas cartas naquelas mesmas condições; que tantas vezes presenciara o choro
rude de outros muitos trabalhadores do cortiço, sobressaltava-se agora com os
desalentados soluços do ferreiro.
Porque, só depois que o sol lhe abençoou o ventre; depois que nas suas
entranhas ela sentiu o primeiro grito de sangue de mulher, teve olhos para essas
violentas misérias dolorosas, a que os poetas davam o bonito nome de amor. A
sua intelectualidade, tal como seu corpo, desabrochara inesperadamente,
atingindo de súbito, em pleno desenvolvimento, uma lucidez que a deliciava e
surpreendia. Não a comovera tanto a revolução física Como que naquele instante
o mundo inteiro se despia à sua vista, de improviso esclarecida, patenteando-lhe
todos os segredos das suas paixões. Agora, encarando as lágrimas do Bruno, ela
compreendeu e avaliou a fraqueza dos homens, a fragilidade desses animais
fortes, de músculos valentes, de patas esmagadoras, mas que se deixavam
encabrestar e conduzir humildes pela soberana e delicada mão da fêmea.
Aquela pobre flor de cortiço, escapando à estupidez do meio em que
desabotoou, tinha de ser fatalmente vitima da própria inteligência. À mingua de
educação, seu espírito trabalhou à revelia, e atraiçoou-a, obrigando-a a tirar da
substância caprichosa da sua fantasia de moça ignorante e viva a explicação de
tudo que lhe não ensinaram a ver e sentir.
Bruno retirou-se com a carta. Pombinha pousou os cotovelos na mesa e
tulipou as mãos contra o rosto, a cismar nos homens.
Que estranho poder era esse, que a mulher exercia sobre eles, a tal ponto,
que os infelizes, carregados de desonra e de ludibrio, ainda vinham covardes e
suplicantes mendigar-lhe o perdão pelo mal que ela lhes fizera?...
E surgiu-lhe então uma idéia bem clara da sua própria força e do seu próprio
valor.
Sorriu.
E no seu sorriso já havia garras.
Uma aluvião de cenas, que ela jamais tentara explicar e que até ai jaziam
esquecidas nos meandros do seu passado, apresentavam-se agora nítidas e
transparentes. Compreendeu como era que certos velhos respeitáveis, cujas
fotografias Léonie lhe mostrara no dia que passaram juntas, deixavam-se
vilmente cavalgar pela loureira, cativos e submissos, pagando a escravidão com
a honra, os bens, e até com a própria vida, se a prostituta, depois de os ter
esgotado, fechava-lhes o corpo. E continuou a sorrir, desvanecida na sua
superioridade sobre esse outro sexo, vaidoso e fanfarrão, que se julgava senhor e
que no entanto fora posto no mundo simplesmente para servir ao feminino;
escravo ridículo que, para gozar um pouco, precisava tirar da sua mesma ilusão
a substância do seu gozo; ao passo que a mulher, a senhora, a dona dele, ia
tranqüilamente desfrutando o seu império, endeusada e querida, prodigalizando
martírios que os miseráveis aceitavam contritos, a beijar os pés que os
deprimiam e as implacáveis mãos que os estrangulavam.
— Ah! homens! homens!... sussurrou ela de envolta com um suspiro.
E pegou de novo na costura, deixando que o pensamento vadiasse à solta,
enquanto os dedos iam maquinalmente pregando as rendas naquela almofada,
em que a sua cabeça teria de repousar para receber o primeiro beijo genital.
Num só lance de vista, como quem apanha uma esfera entre as pontas de um
compasso, mediu com as antenas da sua perspicácia mulheril toda aquela
esterqueira, onde ela, depois de se arrastar por muito tempo como larva, um belo
dia acordou borboleta à luz do sol. E sentiu diante dos olhos aquela massa
informe de machos e fêmeas, a comichar, a fremir concupiscente, sufocando-se
uns aos outros. E viu o Firmo e o Jerônimo atassalharem-se, como dois cães que
disputam uma cadela da rua; e viu o Miranda, li defronte, subalterno ao lado da
esposa infiel, que se divertia a fazê-lo dançar a seus pés seguro pelos chifres; e
viu o Domingos, que fora da venda, furtando horas ao sono, depois de um
trabalho de barro, e perdendo o seu emprego e as economias ajuntadas com
sacrifício, para ter um instante de luxúria entre as pernas de uma desgraçadinha
irresponsável e tola; e tornou a ver o Bruno a soluçar pela mulher; e outros
ferreiros e hortelões, e cavouqueiros, e trabalhadores de toda a espécie, um
exército de bestas sensuais, cujos segredos ela possuía, cujas íntimas
correspondências escrevera dia a dia, cujos corações conhecia como as palmas
das mãos, porque a sua escrivaninha era um pequeno confessionário, onde toda a
salsugem e todas as fezes daquela praia de despejo foram arremessadas
espumantes de dor e aljofradas de lágrimas.
E na sua alma enfermiça e aleijada, no seu espírito rebelde de flor mimosa e
peregrina criada num monturo, violeta infeliz, que um estrume forte demais para
ela atrofiara, a moça pressentiu bem claro que nunca daria de si ao marido que ia
ter uma companheira amiga, leal e dedicada; pressentiu que nunca o respeitaria
sinceramente como a um ser superior por quem damos a vida; que nunca lhe
votaria entusiasmo, e por conseguinte nunca lhe teria amor; desse de que ela se
sentia capaz de amar alguém, se na terra houvera homens dignos disso. Ah! não
o amaria decerto, porque o Costa era como os outros, passivo e resignado,
aceitando a existência que lhe impunham as circunstâncias, sem ideais próprios,
sem temeridades de revolta, sem atrevimentos de ambição, sem vícios trágicos,
sem capacidade para grandes crimes; era mais um animal que viera ao mundo
para propagar a espécie; um pobre-diabo enfim que já a adorava cegamente e
que mais tarde, com ou sem razão, derramaria aquelas mesmas lágrimas,
ridículas e vergonhosas, que ela vira decorrendo em quentes camarinhas pelas
ásperas e maltratadas barbas do marido de Leocádia.
E não obstante, até então, aquele matrimônio era o seu sonho dourado. Pois
agora, nas vésperas de obtê-lo, sentia repugnância em dar-se ao noivo, e, se não
fora a mãe, seria muito capaz de dissolver o ajuste.
Mas, daí a uma semana, a estalagem era toda em rebuliço desde logo pela
manhã. Só se falava em casamento; havia em cada olhar um sangüíneo reflexo
de noites nupciais. Desfolharam-se rosas à porta da Pombinha. Às onze horas
parou um carro à entrada do cortiço com uma senhora gorda, vestida de seda cor
de pérola. Era a madrinha que vinha buscar a noiva para a igreja de São João
Batista. A cerimônia estava marcada para o meio-dia. Toda esta formalidade
embatucava os circunstantes, que se alinhavam imóveis defronte do número 15,
com as mãos cruzadas atrás, o rosto paralisado por uma comoção respeitosa;
alguns sorriam enternecidos; quase todos tinham os olhos ressumbrados d’água.
Pombinha surgiu à porta de casa, já pronta para desferir o grande vôo; de
véu e grinalda, toda de branco, vaporosa, linda. Parecia comovida; despedia-se
dos companheiros atirando-lhes beijos com o seu ramalhete de flores artificiais.
Dona Isabel chorava como criança, abraçando as amigas, uma por uma.
— Deus lhe ponha virtude! exclamou a Machona. E que lhe dê um bom
parto, quando vier a primeira barriga.
A noiva sorria, de olhos baixas. Uma fímbria de desdém toldava-lhe a
rosada candura de seus lábios. Encaminhou-se para o portão, cercada pela
bênção de toda aquela gente, cujas lágrimas rebentaram afinal, feliz cada um por
vê-la feliz e em caminho da posição que lhe competia na sociedade.
— Não! aquela não nascera para isto!... sentenciou o Alexandre, retorcendo
o reluzente bigode. Seria lástima se a deixassem ficar aqui!
O velho Libório, cascalhando uma risada decrépita, queixou-se de que o
maganão do Costa lhe passara a perna roubando-lhe a namorada.
Ingrata! Ele que estava disposto a fazer uma asneira!
Nenen deu uma corrida até à noiva, na ocasião em que esta chegava à
carruagem e, estalando-lhe um beijo na boca, pediu-lhe com empenho que se
não esquecesse de mandar-lhe um botão da sua grinalda de flores de laranjeira.
— Diz que é muito bom para quem deseja casar!... e eu tenho tanto medo de
ficar solteira!... É todo o meu susto! | XII
Pombinha erhob sich mit einem Satz und rannte nach Hause.
An dem Platz, wo sie gelegen hatte, war die Wiese gesprenkelt mit roten Punkten. Die Mutter war am Zuber mit waschen beschäftigt, sie rief laut nach ihr, während sie ungestüm in die Nummer 15 schlüpfte. Und dort, ohne ein Wort zu sagen, hob sie den Rock des Kleides und zeigte Dona Isabel ihr mit Blut getränkte Unterwäsche.
"Ist es gekommen?!", fragte die Alte mit einem Schrei, der sich tief im Innern ihrer Seele gelöst hatte.
Das Mädchen nichte zustimmend mit dem Kopf, lächelte glücklich und errötet.
Der Wäscherin schossen Tränen in die Augen.
"Gesegnet und gepriesen sei unser Herr Jesus Christus!", rief sie, und fiel vor dem Mädchen auf die Knie, aufblicken zu Gott und mit zitternden Händen.
Dann umarmte sie die Beine des Mädchens und küsste in der Verzückung ihrer Gerührtheit mehrere Male den Bauch, ganz so, als ob sie auch jenes gesegnete Blut küssen wolle, das in ihrem Leben neue Horizonte öffnete, ihr die Zukunft sicherte. Dieses gute Blut, das vom Himmel herab gestiegen war, wie der wohltuende Regen auf das durch Trockenheit steril gewordene Land.
Sie konnte nicht an sich halten. Während Pombinha die Kleider wechselte, ging sie auf den Hof und verkündete die frohe Botschaft in alle vier Himmelsrichtungen. Wenn sich das Mädchen nicht höflich widersetzt hätte, hätte sie triumphierend das in Blut getränkte Hemd geschwenkt, damit alle es sehen und bewundern können, zwischen Liebeshymnen, wie sie nicht mal das Schweißtuch der Veronika bewundern würden.
"Meine Tochter ist eine Frau! Meine Tochter ist eine Frau!"
Das Herz der Mietskaserne war von dieser Nachricht tief beeindruckt, man beglückwünschte die zwei und wünschte ihnen alles Gute. Dona Isabel entzündete Kerzen vor ihrem Hausaltar und machte sich an diesem Tag nicht mehr an die Arbeit, war außer sich, wusste nicht mehr, was sie tat, ging in das Haus hinein und wieder hinaus, strahlend vor Glück. Jedes Mal, wenn sie an ihrer Tochter vorbeikam, gab sie ihr einen Kuss auf den Kopf und empfahl ihr leise, sich in Acht zu nehmen.
"Sie solle sich gut gegen Feuchtigkeit schützen! Sie möge keine kalten Sachen trinken! Sie möge sich so gut wie möglich schützen und wenn sie sich schwach fühle, soll sie sofort ins Bett! Jede Unachtsamkeit könne gefährliche Folgen haben!" Sie war bestrebt João da Costa sofort über die große Neuigkeit in Kenntnis zu setzen und ihn zu bitten, sofort den Tag der Heirat festzulegen. Das Mädchen machte Einwände, sagte, dass dies schlecht sei, aber die Mutter besorgte sofort einen Boten und ließ den Jungen umgehend rufen. Er erschien am Nachmittag. Die Alte lud Leute zum Abendessen ein, tötete zwei Hühner, kaufte Weinflaschen und nachts, um neun Uhr, servierte sie einen Tee mit Keksen. Nenen und das Dores erschienen in Festtagskleidung. Man gab sich festlich. Man unterhielt sich leise, formte rund um Pombinha eine Kette von Lobpreisungen, wünschte ihr in respektvoller Anteilnahme alles Gute, worauf sie gerührt antwortete, also ob von der Frische ihrer Jungfräulichkeit ein siegreiches Aroma einer Blume die sich öffnet ausströmen würde.
Ab diesem Tag änderte sich Dona Isabel vollkommen. Ihre Falten hellten sich auf. Man hörte sie des Morgens trällern, wenn sie das Haus fegte oder die Möbel entstaubte.
Dessen ungeachtet lastete nach der schrecklichen Auseinandersetzung, die in einer Messerstecherei endete, eine große Traurigkeit auf der Mietskaserne. Es gab keine durchgefeierten Nächte unter freiem Himmel mit Guitarre und Tanz mehr. Rita war missgestimmt und in sich gekehrt, seit Jerônimo ins Kloster gegangen war. Was Firmo anging, so hatte der Kneipenwirt ihm damit gedroht, ihn der Polizei zu übergeben, sollte er es jemals wieder wagen, einen Fuss in das Haus zu setzen. Das Leben Piedades war geprägt von Schmerz, sie litt unter der Abwesenheit ihres Mannes, war aber nach ihrem ersten Besucht im Hospiz noch betrübter. Er zeigte sich ihr gegenüber abweisend, ohne ein zärtliches Wort, ließ sie sogar spüren, wie sehr er verlangte, dass sie ihm von der anderen etwas erzähle, von dieser verdammten Mulattin des Teufels, die schlussendlich die einzige Schuldige an all dem war und die ihr Verderben sein würde und die ihres Mannes! Als sie von dort zurückkam, legte sie dich ins Bett und schluchzte, ohne dass sie das tröstete. Eine schwarzer Kummer fraß sie von innen auf, wie die Tuberkulose den Schwindsüchtigen, und nahm ihr alle Kraft für alles außer zu weinen.
Noch einer war tief betrübt, lebte ein trauriges Leben und das war Bruno. Die Frau, die er anfangs nicht sonderlich vermisste, quälte ihn jetzt mit ihrer Abwesenheit. Einen Monat nach der Trennung, konnte der Unglückliche sein Leiden nicht mehr verbergen und die Sehnsucht verzehrte ihn. Die Hexe, von ihm darum gebeten, las in den Karten die Zukunft und sagte ihm in Andeutungen, dass Leocádia ihn immer noch liebe.
Nur Dona Isabel und die Tochter waren wirklich zufrieden. Diese zwei hatten wirklich noch nie eine so schöne und hoffnungsvolle Zeit gehabt. Pombinha hatte den Tanzkurs aufgebeben. Der Verlobt kam jetzt ohne Ausnahme jede Nacht. Er kam um sieben und blieb bis um zehn. Sie gaben ihm Kaffee in eine speziellen Becher aus Porzellan, manchmal spielten sie Karten und sie ließ aus ihrem Schrank eine Flasche deutsches Bier holen. Dann sprachen die drei, jeder vor seinem Glas, über Projekte gemeinsamen Glückes. Manchmal zündete Costa, immer sehr zuvorkommend, immer guter Junge, sich eine Bahia Zigarre an gab sich ganz der Bewunderung hin, schaute das Mädchen an, ganz von ihr gefesselt. Pombinha fand gefallen an jenen nächtlichen Feiern und dem Gurren der Turteltaube, das der Knabe hervorbrachte. Nach ihrem Idyll mit der Sonne hatte sie sich mit der Existenz angefreundet, genoss das Leben in vollen Zügen, wie jemand der aus Gefängnis kommt und die frische Luft genießt. Sie fraulicher und voller, schmeckte noch intensiver noch als eine Frucht, in die wir hineinzubeißen begehren. Dona Isabel, neben ihnen und am Ende des Besuches schon fast schlummernd, lobte schweigend den Herrn und unterdrückte ihr Gähnen mit mit genussvollen Prisen aus ihrer Tabakdose.
Nachdem der Tag der Heirat einmal festgelegt war, war der Haushalt und das Häuschen, das Costa für Flitterwochen vorbereitete das einzige Thema der Gespräche. Sie würden alle drei gemeinsam wohnen. Sie würden einen Koch haben und eine Angestellte, die wäscht und bügelt. Der Junge hatte Stoff aus Leinen und Baumwolle mitgebracht und während die Mutter Hemden und Laken zuschnitt, nähte die Tochter im gelben Licht der alten Kersosenlampe tüchtig auf einer Maschine die der Verlobte besorgt hatte.
Einmal, um zwei Uhr Nachmittags, nähte sie Spitzen an den Bezug eines Kopfkissens, als Bruno, sichtlich zögernd, sich die Haare am Nacken kratzend, blass und schlampig, an den Türrahmen gelehnt sie fragte:
"Frau Pombinha, ich müsste sie um einen kleinen Gefallen bitten, aber Sie sind jetzt so beschäftigt mit dem Hausstand, dass sie darauf sicher keine Lust haben."
"Was willst du Bruno?"
"Es ist nichts, es ist so, dass ich sie brauche um einen Brief an diesen Teufel zu schreiben, aber ich sehe, dass es gerade nicht passt. Ich komme später nochmal!"
"Einen Brief an deine Frau alos?"
"Lassen Sie sich nicht stören! Was man machen muss, kann man auch später machen!"
"Nein! Los, komm herein! Was man machen muss, macht man gleich!"
"Möge Gott es Ihnen vergelten! Sie sind ein Engel! Ich weiß nicht, an wen die Leute sich wenden sollen, wenn sie einmal nicht mehr da sind!"
Er fuhr fort die Güte des Mädchens zu loben, während diese, diensteifrig, auf einem kleinen, runden Tisch ihre Schreibutensilien ausbreitete.
"Fangen wir an, Bruno! Was willst Leocádia schreiben?"
"Sag ihr vor allem, dass ihr das, was ich von ihren Sachen zerbrochen habe, ersetzen werden! Dass es auch nicht richtig von ihr war, dass zu zerbrechen, was mir gehörte, aber dass ich darüber hinwegsehe! Vorübergeflossenes Wasser bewegt keine Mühle! Ich weiß, dass sie jetzt keine Arbeit hat und pleite ist, dass sie der Mietskaserne mehr als einen Monat Geld schuldet. Sie brauchte sich darüber aber keinen Kopf machen. Sie soll den Besitzer zu mir schicken, dann regle ich das mit ihm. Dass ich es besser fände, wenn sie nicht mehr in dem Haus der Kreolin essen gehe, weil die Frau sich schon beschwert hat und jedem der es hören wollte gesagt hat, dass dies kein Ort für Vagabunden und für Frauen mit schlechtem Ruf! Dass sie, wenn sie nur ein bisschen vernünftig wäre, auch nicht von den Brosamen anderer abhängig wäre, weil ich in der Schmiede so viel verdiene, um ihren und den Bauch der Kinder die Gott schicken möge fülle kann. " Dann wurde er hitzig. "Die Schuld an dem allen hat nur sie und sonst niemand! Wenn sie nur ein bisschen Verstand hätte, müsste sie da nicht rot anlaufen vor Scham."
"Das ist schon gesagt, Bruno!"
"Dann bleu es ihr nochmal ein, vielleicht nimmt sie sich dann zusammen!"
"Was noch?"
"Dass ich ihr nicht böse bin und ihr nicht böse bin, aber das es richtig ist, dass sie ein bisschen kostet vom bitteren Brot des Teufels, damit sie lernt, dass eine ordentliche Frau nur Augen für ihren Ehemann hat und dass wenn sich nich so böse wäre..."
"Da erzählen Sie ja die ganze Litanei nochmal!"
"Sagen Sie es immer, haben Sie Geduld, Frau Pombinha! Sie wäre noch hier, mit mir, ohne die Zurückweisungen von Fremden ertragen zu müssen!"
"Weiter, Bruno!"
"Sag ihr..."
Und er unterbroch sich.
Was sollte er ihr noch sagen?
Er kratzte sich am Kopf.
"Nun, Bruno, Sie sind es, der weiß, was man Ihrer Frau sagen soll."
"Sag ihr.."
Er traute sich nicht.
"Dass..."
"Sagen Sie ihr... Nein! Sagen Sie ihr nichts mehr!"
"Kann ich also den Brief schließen?"
"Es ist gut", brummte der Schmied und fasste einen Entschluss. "Also dann! Sagen Sie ihr, dass..."
"Dass..."
Es herrschte Schweigen, in welcher es schien, also ob der Unglückliche sich aus seinem Inneren einen Satz entreissen wolle, der jedoch der einzige Inhalt war, der ihn dazu brachte, sich an seine Frau zu richten. Schlussendlich, nachdem er sich noch intensiver den Kopf gekrazt hatte, stammelnde er mit von Schluchzern erstickter Stimme:
"Sag ihr, dass wenn sie wieder mit mir zusammen leben will, dass sie kommen kann. Ich vergesse alles!"
Pombinha, beeindruckt von der Veränderung in seiner Stimme, hob das Gesicht und sah, wie die Tränen paarweise oder zu dritt über sein Gesicht flossen, bis sie sich im harten Gestrüpp des Bartes verloren. Und, was merkwürdig war, sie, die so viele Briefe in ähnlichen Situationen geschrieben hatte, die schon so oft dem rüden Chor vieler Arbeiter der Miestskaserne beigewohnt hatte, sie die verzweifelten Schluchzer des Schmiedes überraschten.
Denn erst seit die Sonne ihren Bauch gesegnet hatte, erst nachdem sie in ihren Gedärmen den ersten Schrei des Blutes der Frau gespürt hatte, hatte sie Augen für die schmerzlichen Leiden, denen die Dichter den schönen Name Liebe gaben. Ihr Geist wie auch ihr Körper öffnete sich plötzlich, errreichte plötzlich, nun ganz entwickelt, eine Klarheit, die sie erfreute und überraschte. Nicht die physische Veränderung rührte sie, sondern die Tatsache, dass in diesem Moment die ganze Welt nackt vor ihrem Blick lag, plötzlich angestrahlt, ihre alle Geheimnisse ihrer Leidenschaften offenbarte. Im Angesicht der Tränen von Bruno verstand und bewertete sie die Schwäche der Männer, die Zerbrechlichkeit dieser starken Tiere, mit kräftigen Muskeln, Pfoten, die zerquetschten, die sich aber zähmen und demütig durch die souveräne und zarte Hand einer Frau führen ließen.
Diese arme Blume der Mietskaserne, die der Stumpfsinnigkeit der Mietskaserne, in der sie emporgewachsen war, entronnen war, musste unaufhaltsam ein Opfer ihrer eigenen Intelligenz werden. Durch dene Mangel an Bildung neigte ihr Geist zur Rebellion und verriet sie, ließ sie in der Substanz ihrer Phantasie eines unwissenden und lebhaften Mädchens eine Erklärung für all das finden, was man sie weder zu sehen noch zu fühlen gelehrt hatte.
Bruno zog sich mit der Karte zurück. Pombinha stützte sich mit den Ellbogen auf dem Tisch auf und bedeckte mit den Händen ihr Gesicht, um über die Männer nachzudenken.
Was für eine merkwürdige Macht war das, die die Frauen über die Männer hatten, so dass es sogar möglich war, dass die unglücklichen, die entehrt und betrogen worden waren, noch reumütig und flehend angelaufen kommen, um Verbegung für das zu betteln, was jene ihnen angetan hatte.
So entstand in ihr eine klare Vorstellung ihrer eigenen Kraft und ihres eigenen Wertes.
Sie lächelte.
Und in ihrem Lächeln waren schon Krallen.
Eine ganze Schwemme an Szenen, die sie noch zu intepretieren versucht hatte und die bislang vergessen in den Winkeln ihrer Vergangenheit begraben lagen, stiegen nun klar und deutlich nach oben. Sie verstand, wie es möglich war, dass respektable alte Männer, deren Photographien Léonie ihr an einem Tag, den sie zusammen verbrachten, zeigte, sich willig von der Blondine reiten ließen, böse und demütig, die die Sklaverei mit der Ehre, dem Vermögen und sogar mit dem Leben bezahlten, wenn die Prostituierte, nachdem sie sie aufgebraucht hatte, in Ketten legte. Sie lächelte weiter, hochmütig in ihrer Überlegenheit über dieses andere Geschlecht, eitel und angeberisch, das sich Herr der Welt glaubte und das dessen ungeachtet nur in die Welt gesetzt wurde, um dem Weib zu dienen. Lächerlicher Sklave, der für ein bisschen Lust, der aus der Illusion die Substanz seiner Lust ziehen musste. In dem Maße wie die Fau, ihre Herrin, ruhig ihre Herrschaft genoss, vergöttert und geliebt, ihnen üppig Schmerzen verabreichte, die die Elenden zerknirscht akzeptierten, die Füße, die sie unterwarfen, küssten und die unbarmherzigen Hände, die sie erwürgten.
"Ach Männer! Männer!", flüsterte sie immer wieder mit einem Seufzer.
Dann fuhr sie fort mit ihren Näharbeiten, ließ ihre Gedanken schweifen, während ihre Finger die Spitzen an das Kopfkissen nähten, wo ihr Kopf liegen wird, um den ersten Kuss auf ihre Scham zu empfangen.
Mit einem Blick, wie jemand, der den Abstand misst zwischen zwei Punkten eines Zirkels, maß sie mit den Antennen ihres weiblichen Scharfsinns den ganzen Misthaufen aus, wo sie, nachdem sie sich lange Zeit als Larve dahingeschleppt hatte, eines Tages als Schmetterling im Sonnenlicht erwachte. Sie fühlte vor ihren Augen diese unformige Masse aus Männern und Weibern, die es juckte, die lüstern zitterten, die übereinander herfielen. Sie sah Firmo und Jerônimo, die sich wie zwei Hunde, die sich auf der Straße um eine Hündin rauften, aufeinander einprügeln. Sie sah Miranda, dort gegenüber, unterwürfig an der Seite dieser untreuen Frau, die sich einen Spaß daraus machte ihn gehörnt vor ihren Füßen tanzen zu lassen. Sie sah Domingos, der in der Kneipe gewesen war, dem Schlaf Stunden gestohlen hatte nach seiner stumpfsinnigen Arbeit und der dann seine Arbeit und seine Ersparnisse, die er so mühsam zusammengerafft hatte, v erlor, nur um einen Moment der Lust zwischen den Beinen einer unverantwortlichen und beschränkten Undankbaren zu verbringen. Sie sah Bruno wieder, der wegen seiner Frau schluchzte und andere Schmiede, Gärtner, Bergarbeiter und Arbeiter aller Art, ein Heer von lüsternen Bestien, deren Geheimnis sie besaß, deren intimsten Schriftverkehr sie jeden Tag niederschrieb, deren Herzen sie kannte wie die Handinnenflächen ihrer Hand, weil ihr Schreibtisch ein kleiner Beichtstuhl war, wo der ganze Eiter und aller Schimmel dieser Ablagerung von Müll sich schäumend vor Schmerz und tränenübertrömt zusammenzogen.
Und in ihrer kranken und begrenzten Seele, in ihrem rebellischen Geist einer schnell beleidigten und unsteten Pflanze, aufgewachsen im Müll, ein unglückliches Veilchen, die in eine übermäßige Düngung wuchern ließ, ahnte das Mädchen in aller Deutlichkeit, dass sie nie einem Ehemannn eine treue und hingebungsvolle Freundin und Kameradin sein werde. Sie fühlte, dass sie ihn nie wie einen über ihr Stehenden, für den wir unser Leben geben, respektieren werde. Dass sie ihm nie Zuneigung entgegen bringen werde und ihn deshalb auch nie lieben würde. Sie war sich sicher, dass sie jemanden lieben könne, wenn es auf der Erde Männer gäbe, die desse würdig wären. Sie würde nicht lieben, denn Costa war wie die anderen, leidenschaftslos und gleichgültig, akzeptierte die Existenz, die die Umstände ihm aufzwangen, ohne eigene Ideen, ohne die Kühnheit, aufzubegehren, ohne mutige Ambitionen, ohne tragische Laster, ohne die Fähigkeit, große Verbrechen begehen zu können. Er war ein Tier, das zur Fortpflanzung der Gattung auf die Erde gekommen war. Ein armer Teufel, der schon blind bewunderte und der später, mit oder ohne Grund, dieselben lächerlichen und beschämenden Tränen vergießen würde, die sie schon in heißen Tropfen durch den rauhen und ungepflegten Bart des Gatten von Leocádia hatte fließen sehen.
Nichtsdestotrotz war diese Hochzeit bislang ihr goldener Traum. Jetzt aber, am Abend bevor sie ihn erreichte, erfüllte sie Ekel bei der Vorstellung, sich ihrem Ehemann hinzugeben und wenn die Mutter nicht gewesen wäre, wäre sie in der Lage gewesen, die Vereinbarung aufzukündigen.
Von diesem Moment an bis zur folgende Woche war die ganze Mietskaserne schon morgens in Aufruhr. Man sprach nur noch von der Heirat. In jedem Blick war ein blutiger Ausdruck einer Hochzeitsnacht. Vor der Tür von Pombinha wurden Rosenblätter ausgestreut. Um elf hielt ein Wagen am Eingang der Mietskaserne mit einer dicken, in perlenfarbener Seide gekleideten Frau. Es war die kirchlich bestellte Trauzeugin, die gekommen war, die Braut in die Kirche São João Batista zu führen. Die Zeremonie war für Mittag vorgesehen. Diese Zeremonie lied die Umherstehenden, die sich unbeweglich, mit den Händen hinter dem Rücken gekreuzt, das Gesicht wie versteinert durch die respektvolle Empfindung, verstummen. Manche lächelten, fast allen standen Tränen in den Augen.
Pombinha erschien in der Tür des Hauses, schon bereit, schon bereit abzuheben für den großen Flug. Mit Schleier und Guirlande, ganz in weiß, leicht, schön. Sie schien gerührt. Sie verabschiedete sich, warf ihnen mit ihrem Strauß künstlicher Blumen Küsse zu. Dona Isabel weinte wie Kind, umarmte eine nach der anderen ihre Freundinnen.
"Gott möge ihr Tugend geben!", rief Machona, "und eine gute Geburt, wenn sich zum ersten Mal der Bauch füllt.
Die Braut lächelte, mit gesenktem Blick. Eine Leiste der Verachtung zog sich entlang der rötlichen Reinheit ihrer Lippen. Umringt von den Segnungen all dieser Leute, die schließlich in Tränen ausbrachen und glücklich waren über ihr Glück, bewegte sie sich Richtung Portal und in die Richtung der gesellschaftlichen Stellung, die ihr zukam.
"Nein! Sie war hierfür nicht geboren worden!", urteilte Alexandre und drehte den glänzenden Schnurrbart, "es wäre ein Unglück, wenn sie hier geblieben wäre!".
Der alte Libório ließ ein gebrechliches Gelächter hören, beklagte sich dass der Gauner Costa ihn betrüge und ihm die Geliebte raube.
Nenem rannte zur Braut, als diese an der Kutsche ankam, gab ihr einen Kuss auf den Mund und bat sie inständig, nicht zu vergessen ihr eine Knospe von ihrer Guirlande aus Orangenblüten zu schicken.
"Man sagt, dass das gut für jeden ist, der heiraten wolle und ich habe so große Angst, ledig zu bleiben! Die Vorstellung erschreck mich!" |
XIII
À proporção que alguns locatários abandonavam a estalagem, muitos
pretendentes surgiam disputando os cômodos desalugados. Delporto e Pompeo
foram varridos pela febre amarela e três outros italianos estiveram em risco de
vida. O número dos hóspedes crescia; os casulos subdividiam-se em cubículos
do tamanho de sepulturas; e as mulheres iam despejando crianças com uma
regularidade de gado procriador. Uma família; composta de mãe viúva e cinco
filhas solteiras, das quais destas a mais velha tinha trinta anos e a mais moça
quinze, veio ocupar a casa que Dona Isabel esvaziou poucos dias depois do
casamento de Pombinha.
Agora, na mesma rua, germinava outro cortiço ali perto, o
“Cabeça-de-Gato”. Figurava como seu dono um português que também tinha
venda, mas o legitimo proprietário era um abastado conselheiro, homem de
gravata lavada, a quem não convinha, por decoro social, aparecer em semelhante
gênero de especulações. E João Romão, estalando de raiva, viu que aquela nova
república da miséria prometia ir adiante e ameaçava fazer-lhe à sua, perigosa
concorrência. Pôs-se logo em campo, disposto à luta, e começou a perseguir o
rival por todos os modos, peitando fiscais e guardas municipais, para que o não
deixassem respirar um instante com multas e exigências vexatórias; enquanto
pela sorrelfa plantava no espírito dos seus inquilinos um verdadeiro ódio de
partido, que os incompatibilizava com a gente do “Cabeça-de-Gato”. Aquele que
não estivesse disposto a isso ia direitinho para a rua, “que ali se não admitiam
meias medidas a tal respeito! Ali: ou bem peixe ou bem carne! Nada de
embrulho!” É inútil dizer que a parte contrária lançou mão igualmente de todos
os meios para guerrear o inimigo, não tardando que entre os moradores da duas
estalagens rebentasse uma tremenda rivalidade, dia a dia agravada por pequenas
brigas e rezingas, em que as lavadeiras se destacavam sempre com questões de
freguesia de roupa. No fim de pouco tempo os dois partidos estavam já
perfeitamente determinados; os habitantes do “Cabeça-de-Gato” tomaram por
alcunha o titulo do seu cortiço, e os de “São Romão”, tirando o nome do peixe
que a Bertoleza mais vendia à porta da taverna, foram batizados por
“Carapicus”. Quem se desse com um carapicu não podia entreter a mais ligeira
amizade com um cabeça-de-gato; mudar-se alguém de uma estalagem para outra
era renegar idéias e princípios e ficava apontado a dedo; denunciar a um
contrário o que se passava, fosse o que fosse, dentro do circulo oposto, era
cometer traição tamanha, que os companheiros a puniam a pau. Um vendedor de
peixe, que caiu na asneira de falar a um cabeça-de-gato a respeito de uma briga
entre a Machona e sua filha, a das Dores, foi encontrado quase morto perto do
cemitério de São João Batista. Alexandre, esse então não cochilava com os
adversários: nas suas partes policiais figurava sempre o nome de um deles pelo
menos, mas entre os próprios polícias havia adeptos de um e de outro partido; o
urbano que entrava na venda do João Romão tinha escrúpulo de tomar qualquer
coisa ao balcão da outra venda. Em meio do pátio do “Cabeça-de-Gato”
arvorara-se uma bandeira amarela; os carapicus responderam logo levantando
um pavilhão vermelho. E as duas cores olhavam-se no ar como um desafio de
guerra.
A batalha era inevitável. Questão de tempo.
Firmo, assim que se instaurara a nova estalagem, abandonou o quarto na
oficina e meteu-se lá de súcia com o Porfiro, apesar da oposição de Rita, que
mais depressa o deixaria a ele do que aos seus velhos camaradas de cortiço. Daí
nasceu certa ponta de discórdia entre os dois amantes; as suas entrevistas
tornavam-se agora mais raras e mais difíceis. A baiana, por coisa alguma desta
vida, poria os pés no “Cabeça-de-Gato” e o Firmo achava-se, como nunca,
incompatibilizado com os carapicus. Para estarem juntos tinham encontros
misteriosos num caloji de uma velha miserável da Rua de São João Batista, que
lhe cedia a cama mediante esmolas. O capoeira fazia questão de ficar no
“Cabeça-de-Gato”, porque ai se sentia resguardado contra qualquer perseguição
que o seu delito motivasse; de resto, Jerônimo não estava morto e, uma vez bem
curado, podia vir sobre ele com gana. No “Cabeça-de-Gato”, o Firmo
conquistara rápidas simpatias e constituíra-se chefe de malta. Era querido e
venerado; os companheiros tinham entusiasmo pela sua destreza e pela sua
coragem; sabiam-lhe de cor a legenda rica de façanhas e vitórias. O Porfiro
secundava-o sem lhe disputar a primazia, e estes dois, só por si, impunham
respeito aos carapicus, entre os quais, não obstante, havia muito boa gente para o
que desse e viesse.
Mas ao cabo de três meses, João Romão, notando que os seus interesses
nada sofriam com a existência da nova estalagem e, até pelo contrário, lucravam
com o progressivo movimento de povo que se ia fazendo no bairro, retornou à
sua primitiva preocupação com o Miranda, única rivalidade que
verdadeiramente o estimulava.
Desde que o vizinho surgiu com o baronato, o vendeiro transformava-se por
dentro e por fora a causar pasmo. Mandou fazer boas roupas e aos domingos
refestelava-se de casaco branco e de meias, assentado defronte da venda, a ler
jornais. Depois deu para sair a passeio, vestido de casimira, calçado e de
gravata. Deixou de tosquiar o cabelo à escovinha; pôs a barba abaixo,
conservando apenas o bigode, que ele agora tratava com brilhantina todas as
vezes que ia ao barbeiro. Já não era o mesmo lambuzão! E não parou aí: fez-se
sócio de um clube de dança e, duas noites por semana, ia aprender a dançar;
começou a usar relógio e cadeia de ouro; correu uma limpeza no seu quarto de
dormir, mandou soalhá-lo, forrou-o e pintou-o; comprou alguns móveis em
segunda mão; arranjou um chuveiro ao lado da retrete; principiou a comer com
guardanapo e a ter toalha e copos sobre a mesa; entrou a tomar vinho, não do
ordinário que vendia aos trabalhadores, mas de um especial que guardava para
seu gasto. Nos dias de folga atirava-se para o Passeio Público depois do jantar
ou ia ao teatro São Pedro de Alcântara assistir aos espetáculos da tarde; do
“Jornal do Comércio”, que era o único que ele assinava havia já três anos e
tanto, passou a receber mais dois outros e a tomar fascículos de romances
franceses traduzidos, que o ambicioso lia de cabo a rabo, com uma paciência de
santo, na doce convicção de que se instruía.
Admitiu mais três caixeiros; já não se prestava muito a servir pessoalmente
à negralhada da vizinhança, agora até mal chegava ao balcão. E em breve o seu
tipo começou a ser visto com freqüência na Rua Direita, na praça do comércio e
nos bancos, o chapéu alto derreado para a nuca e o guarda-chuva debaixo do
braço. Principiava a meter-se em altas especulações, aceitava ações de
companhias de títulos ingleses e só emprestava dinheiro com garantias de boas
hipotecas.
O Miranda tratava-o já de outro modo, tirava-lhe o chapéu, parava risonho
para lhe falar quando se encontravam na rua, e às vezes trocava com ele dois
dedos de palestra à porta da venda. Acabou por oferecer-lhe a casa e convidá-lo
para o dia de anos da mulher, que era daí a pouco tempo. João Romão agradeceu
o obséquio, desfazendo-se em demonstrações de reconhecimento, mas não foi
lá.
Bertoleza é que continuava na cepa torta, sempre a mesma crioula suja,
sempre atrapalhada de serviço, sem domingo nem dia santo; essa, em nada, em
nada absolutamente, participava das novas regalias do amigo; pelo contrário, à
medida que ele galgava posição social, a desgraçada fazia-se mais e mais
escrava e rasteira. João Romão subia e ela ficava cá embaixo, abandonada como
uma cavalgadura de que já não precisamos para continuar a viagem. Começou a
cair em tristeza.
O velho Botelho chegava-se também para o vendeiro, e ainda mais do que o
próprio Miranda. O parasita não saia agora depois do almoço para a sua prosa na
charutaria, nem voltava à tarde para o jantar, sem deter-se um instante à porta do
vizinho ou, pelo menos, sem lhe gritar lá de dentro: “Então, seu João, isso vai ou
não vai?...” E tinha sempre uma frase amigável para lhe atirar cá de fora. Em
geral o taverneiro acudia a apertar-lhe a mão, de cara alegre, e propunha-lhe que
bebesse alguma coisa.
Sim, João Romão já convidava para beber alguma coisa. Mas não era à loa
que o fazia, que aquele mesmo não metia prego sem estopa! Tanto assim que
uma vez, em que os dois saíram à tardinha para dar um giro até à praia, Botelho,
depois de falar com o costumado entusiasmo do seu belo amigo Barão e da
virtuosíssima família deste, acrescentou com o olhar fito:
— Aquela pequena é que lhe estava a calhar, seu João!...
— Como? Que pequena?
— Ora morda aqui! Pensa que já não dei pelo namoro?... Maganão! O
vendeiro quis negar, mas o outro atalhou:
— É um bom partido, é! Excelente menina... tem um gênio de pomba... uma
educação de princesa: até o francês sabe! Toca piano como você tem ouvido...
canta o seu bocado... aprendeu desenho... muito boa mão de agulha!... e...
Abaixou a voz e segredou grosso no ouvido do interlocutor:
— Ali, tudo aquilo é sólido!... Prédios e ações do banco!...
— Você tem certeza disso? Já viu?
— Já! Palavra d’honra!
Calaram-se um instante.
Botelho continuou depois:
— O Miranda é bom homem, coitado! tem lá as suas fumaças de grandeza,
mas não o podemos criminar... são coisas pegadas da mulher; no entanto acho-o
com boas disposições a seu respeito... e, se você souber levá-lo, apanha-lhe a
filha...
— Ela talvez não queira...
— Qual o quê! Pois uma menina daquelas, criada a obedecer aos pais, sabe
lá o que é não querer? Tenha você uma pessoa, de intimidade com a família; que
de dentro empurre o negócio e verá se consegue ou não! Eu, por exemplo!
— Ah! se você se metesse nisso, que dúvida! Dizem que o Miranda só faz o
que você quer...
— Dizem com razão.
— E você está resolvido a... ?
— A protegê -lo?... Sim, decerto: neste mundo estamos nós para servir uns
aos outros!... apenas, como não sou rico...
— Ah! Isso é dos livros! Arranje-me você o negócio e não se arrependerá...
— Conforme, conforme...
— Creio que não me supõe um velhaco!...
— Pelo amor de Deus! Sou incapaz de semelhante sacrilégio!
— Então!...
— Sim, sim... em todo o caso falaremos depois, com mais vagar... Não é
sangria desatada!
E desde então, com efeito, sempre que os dois se pilhavam a sós discutiam o
seu plano de ataque à filha do Miranda. Botelho queria vinte contos de réis, e
com papel passado a prazo de casamento; o outro oferecia dez.
— Bom! então não temos nada feito... resumiu o velho. Trate você do
negócio só por si; mas já lhe vou prevenindo de que não conte comigo
absolutamente... Compreende?
— Quer dizer que me fará guerra...
— Valha-me Deus, criatura! não faço guerra a ninguém! guerra está você a
fazer-me, que não me quer deixar comer uma migalha da bela fatia que lhe vou
meter no papo!... O Miranda hoje tem para mais de mil contos de réis! Agora,
fique sabendo que a coisa não é assim também tão fácil, como lhe parece
talvez...
— Paciência!
— O Barão há de sonhar com um genro de certa ordem!... Ai algum
deputado... algum homem que faça figura na política aqui da terra!
— Não! melhor seria um príncipe!...
— E mesmo a pequena tem um doutorzinho de boa família; que lhe ronda
muito a porta... E ela, ao que parece, não lhe faz má cara...
— Ah! nesse caso é deixá-los lá arranjar a vida!
— É melhor, é! Creio até que com ele será mais fácil qualquer transação...
— Então não falemos mais nisso! Está acabado!
— Pois não falemos!
Mas no dia seguinte voltaram à questão:
— Homem! disse o vendeiro; para decidir, dou-lhe quinze!
— Vinte!
— Vinte, não!
— Por menos não me serve!
— E eu vinte não dou!
— Nem ninguém o obriga... Adeuzinho!
— Até mais ver.
Quando se encontraram de novo, João Romão riu-se para o outro, sem dizer
palavra. O Botelho, em resposta, fez um gesto de quem não quer intrometer-se
com o que não é da sua conta.
— Você é o diabo!... faceteou aquele, dando-lhe no ombro uma palmada
amigável. Então não há meio de chegarmos a um acordo?...
— Vinte!
— E, caso esteja eu pelos vinte, posso contar que...?
— Caso o meu nobre amigo se decida pelos vinte, receberá do Barão um
chamado para lá ir jantar ao primeiro domingo; aceita o convite, vai, e
encontrará o terreno preparado.
— Pois seja lá como você quer! mais vale um gosto do que quatro vinténs!
O Botelho não faltou ao prometido: dias depois do contrato selado e
assinado, João Romão recebeu uma carta do vizinho, solicitando-lhe a fineza de
ir jantar com ele mais a família;
Ah! que revolução não se feriu no espírito do vendeiro! passou dias a
estudar aquela visita; ensaiou o que tinha que dizer, conversando sozinho
defronte do espelho do seu lavatório; afinal, no dia marcado, banhou-se em
varias águas, areou os dentes até fazê-los bem limpos, perfumou-se todo dos pés
à cabeça, escanhoou-se com esmero, aparou e bruniu as unhas, vestiu-se de
roupa nova em folha, e às quatro e meia da tarde apresentou-se, risonho e cheio
de timidez, no espelhado e pretensioso salão de Sua Excelência.
Aos primeiros passos que dera sobre o tapete, onde seus grandes pés, afeitos
por toda vida à independência do chinelo e do tamanco, se destacavam como um
par de tartarugas, sentiu logo o suor dos grandes apuros inundar-lhe o corpo e
correr-lhe em bagada pela fronte e pelo pescoço, nem que se o desgraçado
acabasse de vencer naquele instante uma légua de carreira ao sol. As suas mãos
vermelhas e redondas gotejavam, e ele não sabia o que fazer delas, depois que o
Barão, muito solicito, lhe tomou o chapéu e o guarda-chuva.
Arrependia-se já de ter lá ido.
— Fique a gosto, homem! bradou-lhe o dono da casa. Se tem calor venha
antes aqui para a janela. Não faça cerimônia! Ó Leonor! traz o vermute! Ou o
amigo prefere tomar um copinho de cerveja?
João Romão aceitava tudo, com sorrisos de acanhamento, sem animo de
arriscar palavra. A cerveja fê-lo suar ainda mais e, quando apareceram na sala
Dona Estela e a filha, o pobre-diabo chegava a causar dó de tão atrapalhado que
se via Por duas vezes escorregou, e numa delas foi apoiar-se a uma cadeira que
tinha rodízios; a cadeira afastou-se e ele quase vai ao chão.
Zulmira riu-se, mas disfarçou logo a sua hilaridade pondo-se a conversar
com a mãe em voz baixa. Agora, refeita nos seus dezessete anos, não parecia tão
anêmica e deslavada; vieram-lhe os seios e engrossara-lhe o quadril. Estava
melhor assim. Dona Estela, coitada! é que se precipitava, a passos de granadeiro,
para a velhice, a despeito da resistência com que se rendia; tinha já dois dentes
postiços, pintava o cabelo, e dos cantos da boca duas rugas serpenteavam-lhe
pelo queixo abaixo, desfazendo-lhe a primitiva graça maliciosa dos lábios; ainda
assim, porém, conservava o pescoço branco, liso e grosso, e os seus braços não
desmereciam dos antigos créditos.
À mesa, a visita comeu tão pouco e tão pouco bebeu, que os donos da casa a
censuraram jovialmente, fingindo aceitar o fato como prova segura de que o
jantar não prestava; o obsequiado pedia por amor de Deus que não acreditassem
em tal e jurava sob palavra de honra que se sentia satisfeito e que nunca outra
comida lhe soubera tão bem. Botelho lá estava, ao lado de um velhote
fazendeiro, que por essa ocasião hospedava-se com o Miranda. Henrique,
aprovado no seu primeiro ano de Medicina, fora visitar a família; em Minas.
Isaura e Leonor serviam aos comensais, rindo ambas à socapa por verem ali o
João da venda engravatado e com piegas de visita.
Depois do jantar apareceu uma família; conhecida, trazendo um rancho de
moças; vieram também alguns rapazes; formaram-se jogos de prendas, e João
Romão, pela primeira vez em sua vida, viu-se metido em tais funduras. Não se
saiu mal todavia.
O chá das dez e meia correu sem novidade; e, quando enfim o neófito se
pilhou na rua, respirou com independência, remexendo o pescoço dentro do
colarinho engomado e soprando com alívio. Uma alegria de vitória
transbordava-lhe do coração e fazia-o feliz nesse momento. Bebeu o ar fresco da
noite com uma volúpia nova para ele e, muito satisfeito consigo mesmo, entrou
em casa e recolheu-se, rejubilando com a idéia de que ia descalçar aquelas botas,
desfazer-se de toda aquela roupa e atirar-se à cama, para pensar mais à vontade
no seu futuro, cujos horizontes se rasgavam agora iluminados de esperança.
Mas a bolha do seu desvanecimento engelhou logo à vista de Bertoleza que,
estendida na cama, roncava, de papo para o ar, com a boca aberta, a camisa
soerguida sobre o ventre, deixando ver o negrume das pernas gordas e lustrosas.
E tinha de estirar-se ali, ao lado daquela preta fedorenta a cozinha e bodum
de peixe! Pois, tão cheiroso e radiante como se sentia, havia de pôr a cabeça
naquele mesmo travesseiro sujo em que se enterrava a hedionda carapinha da
crioula?...
— Ai! ai! gemeu o vendeiro, resignando-se.
E despiu-se.
Uma vez deitado, sem animo de afastar-se da beira da cama, para não se
encostar com a amiga, surgiu-lhe nítida ao espírito a compreensão do estorvo
que o diabo daquela negra seria para o seu casamento.
E ele que até aí não pensara nisso!... Ora o demo!
Não pôde dormir; pôs-se a malucar:
Ainda bem que não tinham filhos! Abençoadas drogas que a Bruxa dera à
Bertoleza nas duas vezes em que esta se sentiu grávida! Mas, afinal, de que
modo se veria livre daquele trambolho? E não se ter lembrado disso há mais
tempo!... parecia incrível!
João Romão, com efeito, tão ligado vivera com a crioula e tanto se habituara
a vê-la ao seu lado, que nos seus devaneios de ambição pensou em tudo, menos
nela.
E agora?
E malucou no caso até às duas da madrugada, sem achar furo. Só no dia
seguinte, a contemplá-la de cócoras à porta da venda, abrindo e destripando
peixe, foi que, por associação de idéias, lhe acudiu esta hipótese:
— E se ela morresse?... |
XIII
In dem Maße, wie einige Mieter die Mietskaserne verließen, gab es viele Anwärter, die sich dann frei werdenden Wohnungen stritten. Delporto und Pompeo wurden vom Gelbfieber hinweggerafft und drei Italiener kämpften um ihr Leben. Die Anzahl an Mietern stieg. Die Häuschen wurden aufgeteilt in kleinere Einheiten von der Größe eines Grabes. Die Frauen setzten mit der Regelmäßigkeit einer Zuchtherde Kinder an die Luft. Nachdem Dona Isabel wenige Tage nach der Heirat von Pombinha ausgezogen war, zog eine Familie, die sich aus der Mutter und fünf ledigen Töchtern zusammensetzte, wovon die älteste dreißig Jahre alt war und die jüngste 15, ein.
Jetzt wimmelte eine andere Mietskaserne in derselben Straße ganz in der Nähe, das Haus "Kopf-der-Katze". Sein Besitzer war ein Portugiese, der auch eine Kneipe hatte, doch der eigentliche Besitzer war ein reicher Edelmann, mit gewaschener Krawatte, dem es nicht anstand, aus Gründen der sozialen Stellung, an dieser Art von Spekulationen beteiligt zu sein. João Romão kochte vor Wut und sah, dass diese neuen Republik des Elends lukrativ zu sein versprach und seiner eigenen eine gefährliche Konkurrenz sein konnte. Er setzte zur Verteidigung an, bereit zu kämpfen und begann den Rivalen mit allen Mitteln zu verfolgen, bestach die Polizei und die Ordnungshüter, damit sie ihn nicht einen Moment einem Moment atment lassen vor lauter Bußgeldern und erniedrigenden Auflagen. Durch das Streuen von Gerüchten pflanzte er in die Gemüter seiner Mieter einen wahren parteiischen Hass ein, der diese am Umgang mit den Leuten aus "Kopf-der-Katze" hinderte. Wer da nicht mitspielen wollte, wurde direkt auf die Straße gesetzt, "weil man dort keine halben Sachen in dieser Angelegenheit dulde! Dort: Entweder Fisch oder Fleisch! Keine Vermischung!" Unnötig zu sagen, dass die Gegenseite ebenfalls zu jedem Mittel griff, um den Feind zu bekämpfen, so dass es nicht lange dauerte, bis zwischen den Bewohnern der zwei Mietskasernen eine schreckliche Konkurrenz entstand, die von Tag zu Tag durch kleine Streitereien und Auseinandersetzungen verschlimmert wurde, wobei dei Wäscherinnen sich mit Fragen die Kundschaft der Wäsche betreffend sich hervortaten. Schon nach kurzer Zeit waren die zwei Parteien voll entschlossen. Die Bewohner des "Kopf-der-Katze" bekamen den Spitznamen ihrer Mietskaserne und die von “São Romão” wurden "Silberlinge" getauft, nach dem von Bertoleza an der Tür meist verkauften Fisch. Wer sich mit einem Silberling abgab konnte nicht einmal eine flüchtige Freundschaft mit einem "Kopf-der-Katze" haben. Von einer Mietskaserne in die andere zu ziehen bedeutete den Verrat an Ideen und Prinzipien und auf ihn wurde mit dem Finger gezeigt. Dem Gegner des gegnerischen Feldes zu verraten was vor sich ging, was auch immer, war ein großer Verrat, der mit Prügel bestraft wurde. Ein Fischverkäufer, der die Dummheit begangen hatte einem "Kopf-der-Katze" etwas von dem Streit zwischen Machona und ihrer Tochter, das Dores, zu erzählen, wurde halbtot in der Nähe des Friedhofes São João Batista aufgefunden. Alexandre jedoch sympathisierte mit keinen von beiden. In seiner Funktion als Ordnungshüter handelte er zumindest immer im Namen der einen oder anderen Partei, aber unter den Polizisten gab es Anhänger der einen oder anderen Partei. Der Polizist, der in der Kneipe von João Romão verkehrte, hatte Skrupel irgendetwas an der Theke der anderen Kneipe zu nehmen. Inmitten des Hofes der "Kopf-der-Katze" wurde eine gelbe Fahne gehisst. Die Silberlinge antworteten sofort indem sie sich zu rot bekannten und die zwei Farben sah man in der Luft wie ein Herauforderung zum Krieg.
Die Schlacht war unvermeindlich. Eine Frage der Zeit.
Firmo gab, kaum war die neue Mietskaserne fertig gestellt, sein Zimmer an seinem Arbeitsplatz auf und zog, in schlechter Gesellschaft mit Porfiro, trotz der Einwände von Rita, die eher ihn als ihre alten Kameraden der Mietskaserne verlassen würde, dort ein. Das führte zu einer gewissen Zwietracht zwischen dem Liebespaar. Seine Besuche waren jetzt seltener und schwieriger. Die Baianerin würde um keinen Preis der Welt ihre Füße in den "Kopf der Katze" stecken und Firmo fand mehr noch als früher, dass die Silberlinge nicht zu ihm passten. Um zusammen zu sein hatten sie mysteriöse Treffen in dem Liebesnest einer elenden Alten in der São João Batista, die ihnen gegen ein Almosen ihr Bett überließ. Der Capoeira bestand darauf im "Kopf der Katze" zu bleiben, weil er sich dort sicher vor jeder Verfolgung fühlte, zu der sein Delikt Anlass geben könnte. Im übrigen war Jerônimo nicht tot und wenn er erstmal wieder gesund wäre, könnte er ihm nach Belieben dominieren. Im "Kopf der Katze" hatte Firmo schnell Sympathien gewonnen und sich zum Chef dieses Pöbels emporgeschwungen. Er war beliebt und wurde verehrt. Seine Kameraden waren von seiner Geschicklichkeit und seinem Mut begeistert. Sie kannten seine Legende reich an Heldentaten und Siegen auswendig. Porfiro unterstützte ihn ohne ihm den Vorrang streitig zu machen und diese zwei alleine reichten, um den Silberlingen Respekt einzuflößen, obwohl dort gute Leute für alles mögliche waren.
Doch nach einiger Zeit stellte João Romão fest, dass seine Interessen durch die Existenz der Mietskaserne nicht tangiert wurden, und dass sie sogar im Gegenteil von dem Zustrom neuen Volkes in das Viertel begünstigt wurden, so dass seine alte Beschäftigung mit Miranda wieder in den Vordergrund rückte, die einzige Rivalität, die ihn wirklich antrieb.
Seit der Nachbar Baron geworden war, veränderte sich der Kneipenwirt innerlich und äußerlich in erstaunlicher Art und Weise. Er ließ sich schöne Kleidung machen und sonntags erfreute er sich, vor seiner Kneipe sitzend, an seiner weißen Jacke und seinen Socken während er Zeitung las. Danach machte er einen Spaziergang, gekleidet in feines Tuch, mit Lederschuhen und Krawatte. Er ließ sich das Haar nicht mehr kurz scheren. Er nahm den Bart ab und ließ nur noch den Schnauzer, den er jetzt mit Bartwichse behandeln ließ, wenn er zum Friseur ging. Er war nicht mehr derselbe Schlamper! Doch das war noch nicht alles: Er wurde Mitglied in einem Tanzclub und zweimal die Woche lernte er tanzen. Er begann eine Uhr zu benutzen und eine Goldkette. Er ließ sein Schlafzimmer reinigen, ließ Parkett verlegen, tapezierte es und ließ es streichen. Er kaufte einige Möbel aus zweiter Hand und installierte eine Dusche neben dem Abort. Er begann mit Serviette zu essen und ein Handtuch und Gläser auf dem Tisch zu haben. Er begann Wein zu trinken und zwar nicht den gewöhnlichen, den er an die Arbeiter verkaufte, sondern einen speziellen, den er für sich aufbewahrte. An den arbeitsfreien Tagen ging er nach dem Essen zu den Flaniermeilen oder ins Theater São Pedro de Alcântara um die Nachmittagsvorstellungen zu sehen. Zu dem “Jornal do Comércio”, die einzige Zeitung, die er vor drei Jahren abonniert hatte, bekam er jetzt noch zwei andere und bezog noch Fortsetzungsromane, die aus dem Französischen übersetzt worden waren, die der Ehrgeizige von Anfang bis Ende mit der Geduld eines Heiligen las in der süßen Überzeugung, dass er sich weiterbilde.
Er stellte drei weitere Angestellte ein. Er bediente jetzt seltener selbst den Pöbel der Umgebung, war sogar selten am Tresen. Binnen kurzem fing man an in öfter in der Rua Direita zu sehen, auf dem Platz der Wirtschaft und der Banken, mit hohem, verziertem Hut im Nacken und den Regenschirm unterm Arm. Er fing an, in riskante Spekulationsgeschäfte zu investieren, kaufte Aktien englischer Unternehmen und lieh nur Geld gegen gut gesicherte Hypotheken.
Miranda fing schon an, ihn anders zu behandeln, zog den Hut vor ihm, hielt lächelnd an um mit ihm zu plaudern, wenn sie sich auf der Straße trafen und trank manchmal mit ihm zwei Finger Zuckerrohrschnaps in der Kneipe. Schließlich lud er ihn zum Geburtstag seiner Frau ein, der sich näherte. João Romão bedankte sich für die Einladung und zeigte sich erkenntlich, ging aber nicht hin.
Was Bertoleza anging, so fuhr sie mit ihrem elenden Leben fort, war immer noch die schmutzigen Kreolin, völlig von ihrer Arbeit in Anspruch genommen, ohne Sonn- und Feiertage. Sie profitierte in nichts, in absolut nichts von den neuen Beziehungen ihres Freundes. Ganz im Gegenteil, in dem Maße, wie er die soziale Leiter emporstieg, wurde sie immer mehr zur Sklavin und sank hinunter. João Romão stieg und sie blieb da unten, verlassen wie ein Eselsgespann, das für den Fortgang der Reise nicht mehr gebraucht wird. Sie verfiel in Depressionen.
Der alte Botelho bändelte auch mit dem Kneipenwirt an und sogar noch inniger als Miranda selbst. Der Parasit verließ jetzt nicht mehr nach dem Mittagessen um im Zigarrenladen ein Schwätzchen zu halten und kam nicht nachmittags zum Abendessen zurück ohne einen Moment an der Tür des Nachbarn vorbeizuschauen oder ohne ihm zumindest zuzurufen: "Was ist João, läuft alles?" Er hatte immer einen freundlichen Spruch parat, den er ihm von draußen zuwarf. Für gewöhnlich komm der Kneipenwirt dann heraus um im, mit freundlichem Gesicht, die Hand zu drücken und lud ihn ein, etwas zu trinken.
Ja, es war schon so weit gekommen, dass João Romão in einlud etwas zu trinken. Das war aber nicht die Nettigkeit, die ihn veranlasste das zu tun, denn er tat nie etwas, ohne dabei ein Ziel zu verfolgen! Als die beiden also eines Nachmittags einen Spaziergang zum Strandn machten, fügte Botelho, nachdem er mit der üblichen Begeisterung von seinem guten Freund dem Baron gesprochen hatte mit einem aufmerksamen Blick hinzu:
"Diese Kleine gefällt Ihnen Herr João!"
"Wie? Welche Kleine?"
"Verstellen Sie sich nicht! Glauben Sie ich war noch nicht in sie verliebt? Schelm!". Der Kneipenwirt wollt verneinen, aber der andere ließ nicht locker.
"Das ist eine hervorragende Partie! Ein hervorragendes Mädchen, ein ganz heller Kopf, erzogen wie eine Prinzessin, sie kann sogar Französisch! Sie spielt Klavier, wie sie ja ständig hören, sie singt Volkslieder, hat zeichnen gelernt, hat eine gute Hand für die Nadel!"
Er senkte die Stimme und flüsterte laut in das Ohr des Gesprächspartner:
"Da, all das ist solide! Gebäude und Aktien auf der Bank!"
"Wissen Sie das sicher! Haben sie es schon gesehen?"
"Klar! Ehrenwort!"
Sie schwiegen einen Augenblick.
Dann fuhr Botelho fort.
"Miranda ist ein guter Mann, hat aber leider Allüren von Größe, doch dafür können wir ihn nicht verurteilen..., das sind Spuren von seiner Frau. Trotzdem glaub ich, dass er was sie angeht offen ist und wenn Sie ihn zu nehmen wissen, können Sie die Tochter kriegen.
"Vielleicht will sie nicht."
"Ach was! Ein Mädchen wie sie, dass gewohnt ist ihren Eltern zu gehorchen, weiß sie was sie will oder nicht? Wenn Sie jemanden in der Familie haben, im Innersten der Familie, der von Innen das Geschäft vorantreibt, dann wird man sehen ob es gelingt oder nicht! Ich zum Beispiel! "
"Also! Wenn Sie sich einmischen, vielleicht! Man sagt, dass Miranda das macht, was Sie wollen."
"Und das ist so."
"Und Sie sind bereit..."
"Sie zu protegieren? Natürlich. Auf dieser Welt sind wir, damit den anderen helfen und da ich nicht reich bin..."
"Ah! Da kann man Abhilfe schaffen! Machen Sie das Geschäft für mich klar und sie werden es nicht bereuen."
"Einverstanden, einverstanden..."
"Ich nehme nicht an, dass Sie mich für einen Schurken halten!"
"Um Gottes willen! Zu so einem Sakrileg bin ich unfähig!"
"Dann!..."
"Alles klar, wir besprechen die Details dann später, ausführlicher. Da braucht man nichts überstürzen!"
Und von da an, immer wenn die zwei sich alleine trafen, diskutierten sie über den Plan, wie die Tochter des Miranda angegriffen werden konnte. Botelho wollte 20000 Réis, zu zahlen, wenn die Hochzeit stattgefunden hat. Der andere bot 10 000 Réis.
"Gut! Dann kommen wir zu keiner Einigung", brummte der Alte, "dann versuchen Sie das Geschäft alleine abzuschließen, aber ich kann Ihnen schon vorab sagen, dass sie mit mir nicht rechnen können. Verstehen Sie?"
"Sie wollen sagen, dass Sie gegen mich arbeiten werden..."
"Gott bewahr, was für eine Gestalt! Ich bin im Krieg mit niemandem! Sie sind es, der mir den Krieg erklärt, ich will nicht einen Brosamen der schönen Scheibe, die ich Ihnen in den Kropf stecke! Miranda hat heute mehr als 1 Million Réis! Sie müssen nur wissen, dass die Angelegenheit nicht so einfach ist, wie es Ihnen vielleicht vorkommt."
"Geduld!"
"Der Baron träumt sicher von einem Schwiegersohn einer gewissen Kategorie! Ein Abgeordneter, jemand, der in der Politik dieses Landes eine Rolle spielt!"
"Nein! Besser wäre ein Prinz!"
"Die Kleine hat auch schon einen kleinen Doktor aus gutem Hause, der um ihr Haus schleicht und es scheint, dass sie ihm nicht abgeneigt ist."
"Ah! Dann ist es besser, dass sie sich einig werden im Leben!"
"Das ist besser! Ich glaube sogar, dass man mit dem besser ins Geschäft kommt..."
"Dann sprechen wir besser nicht mehr darüber! Das hat sich erledigt!"
"Dann sprechen wir nicht mehr darüber!"
Doch am nächsten Tag kamen sie auf die Frage zurück.
"Guter Mann", sagte der Kneipenwirt, "um die Sache zum Abschluss zu bringen, ich Ihnen 15 000!"
"20 000"
"20 000 nicht!"
"Mit weniger ist mir nicht geholfen!"
"Und 20 000 gebe ich nicht!"
"Niemand zwingt Sie dazu. Tschüss!"
"Auf Wiedersehen."
Als sie sich wiedersahen, lachte João Romão innerlich, ohne ein Wort zu sagen. Botelho machte als Antwort eine Geste, die besagen sollte, dass er sich nicht die Angelegenheiten anderer Leute einmischen werde.
"Sie sind ein Teufel!", spottete dieser und gab ihm einen freundschaftlichen Klaps auf die Schulter. Es gibt also kein Mittel, dass wir zu einer Einigung kommen?"
"20 000"
"Und gesetzt den Fall, es seien 20 000, mit was kann ich rechnen?"
"Gesetzt den Fall Sie entscheiden sich für die 20 000 mein nobler Freund, werden Sie von dem Baron einen Anruf bekommen, mit der sie dort zum Essen eingeladen werden. Sie werden die Einladung akzeptieren, dahin gehen und das Feld vorbereitet finden."
"Ich werde dann also da sein, ganz so wie sie wollen, aber besser den Zucker selber essen also 4000 Réis verdienen!"
Botelho hatte nicht zuviel versprochen. Einige Tage nachdem der Vertrag beglaubigt und unterschrieben war, bekam João Romão einen Brief des Nachbarn, indem er gebeten wurde, ihm die Ehre zu erweisen mit ihm und seine Familie zu Abend zu essen.
Welche Revolution spielte sich nun im Gehirn des Kneipenwirtes ab! Er verbrachte Tage damit, sich auf diesen Besuch vorzubereiten. Er übte vor dem Spiegel, was er zu sagen hatte, unterhielt sich alleine vor dem Spiegel seines Waschbeckens. Am Tag der Einladung wusch er sich in verschiedenen Wassern, putzte sich die Zähne, bis sie richtig sauber waren, parfümierte sich von den Beinen bis zum Kopf, rasierte sich gründlich, schnitt und feilte sich die Fingernägel, kleidete sich in neuer noch nie zuvor benutzter Wäsche und erschien um Mittag, lächelnd und eingeschüchtert, im blitzblanken und herrschaftlichen Salon seiner Exzellenz.
Die ersten Schritte, die er auf dem Teppich machte, wo seine großen Füße, die Zeit seines Lebens an die Freiheit der Sandalen und groben Hosen gewohnt waren, sich abhoben wie zwei Schildgrüßen, spürte er sofort wie der Angstschweiß über seinen Körper strömte und in Tropfen über die Stirn und den Nacken floss, als ob der Unglückliche in diesem Moment im Laufschritt 4 km in der praallen Sonne zurückgelegt hätte. Seine roten und runden Hände tropften und er wusste nicht, was er mit ihnen machen sollte, nachdem der Baron, sehr zuvorkommend, ihm den Hut und den Regenschirm abgenommen hatte.
Er bereute schon, gekommen zu sein.
João Romão akzeptierte alles mit schüchternem Lächeln, ohne den Mut ein Wort zu riskieren. Das Bier brachte ihn noch mehr zum schwitzen und als Dona Estela und die Tochter den Raum betraten, war der arme Teufel mitleiderregend, als er so angespannt war, dass er fast zwei Mal ausgerutscht wäre, wobei er das eine Mal sich auf einen Stuhl mit Rädern stützte. Der Stuhl rutschte weg und er wäre fast hingefallen.
Zulmira lachte, unterdrückte ihr Lachen und sprach flüsternd mit ihrer Mutter. Jetzt, robuster mit 17 Jahren, schien sie nicht mehr so anämisch und farblos. Man sah ihren Busen und ihre Lenden. So war sie hübscher. Dona Estela, die Arme näherte sich, obwohl sie Widerstand leistete, mit der Geschwindigkeit eines Grenadiers dem Alter. Sie hatte schon zwei künstliche Zähne, färbte sich die Haare und von den Mundwinkeln schlängelten sich zwei Falten zum Kinn hinunter, wodurch die bösartige Anmut der Lippen zerstört wurde. Doch auch so bewahrte sie immer noch ihren weißen, glatten und voluminösen Nacken und ihre Arme, die ihren alten Ruf nicht in Frage stellten.
Zu Tisch aß der Besuch so wenig und so wenig trank er, dass die Hausherren ihn freundlich tadelten und so taten, als ob damit bewießen wäre, dass das Essen ihm nicht munde. Der Umschmeichelte bat sie um der Liebe des Herrn willen dies nicht zu glauben und schwor bei seiner Ehre, dass er zufrieden sei, und dass ihm noch nie ein Essen so geschmeckt habe. Botelho war auch da, an der Seite eines alten Grundbesitzers, der zu diesem Zeitpunkg bei Miranda wohnte. Henrique, der sein erstes Jahr in Medizin abgeschlossen hatte, war bei seiner Familie in Minas. Isaura und Leonor bedienten die Tischgesellschaft, lachten heimlich als sie den João der Kneipe mit Krawatte und festlich gekleidet sahen.
Nach dem Essen erschien eine befreundete Familie mit einer Gruppe von Mädchen und einigen Jungs. Man spielte die Spiele, wo jeder Teilnehmer ein Pfand abgeben muss und João Romão begab sich zum ersten Mal auf so glattes Terrain, machte sich aber nicht schlecht.
Der Tee um halb elf ging ohne besondere Vorkommnisse vorüber und als der Novize sich schließlich auf der Straße befand, atmete er frei, den Nacken in dem gebügelten Hemdkragen schüttelnd, vor Erleichterung aufatmend. Eine Freude wie von einem Sieg strömte durch sein Herz und machte ihn für diesen Moment glücklich. Er trank die frische Nachtluft mit einer Wollust, die ihm neu war, sehr zufrieden mit sich,ging nach Hause, entspannte sich, war glücklich bei der Vorstellung, dass er diese Stiefel jetzt ausziehen wird, sich dieser Kleidung entledigen kann und sich im Bett ausstrecken werde um ganz nach Lust und Laune an seine Zukunft zu denken, deren Horizonte sich jetzt leuchtend vor Hoffnung am Horizont abzeichneten.
Die Blase seiner Hochgefühle verschwand jedoch beim Anblick von Bertoleza, die rücklings mit offenem Mund, das Hemd über den Bauch gezogen, ihre schwarzen, dicken und glänzenden Beine sehen ließ.
Er musste sich dort hinlegen, neben dieser nach Küche und stinkendem Fisch riechenden Schwarzen! So wohlriechend und strahlend wie er sich fühlte, musste er den Kopf auf dasselbe schmutzige Kissen legen, wo sich auch das Kraushaar der Kreolin niederließ.
"So ein Pech!", stöhnte der Kneipenwirt resignierend.
Er zog sich aus.
Nachdem er ausgezogen war, ohne den Wunsch zu verspüren, sich vom Rand des Bettes zu entfernen und dann die Freundin zu berühren, gelangte sein Geist zu der klaren Erkenntnis, dass dieser Teufel einer Schwarzen ein Hindernis für seine Heirat ist.
Daran hatte er bislang gar nicht gedacht! Verflucht!
Er konnte nicht schlafen und fing an zu grübeln.
Wie gut, dass sie keine Kinder hatten! Gesegnet seien die Drogen, die die Hexe ihr die zweimal gegeben hatte, als sie schwanger war! Aber wie konnte er von diesem Klotz befreit werden? Dass er daran nicht schon früher gedacht hatte! Es schien unmöglich!
João Romão hatte tatsächlich so eng mit der Kreolin zusammengelebt und hatte sich so sehr daran gewöhnt, sie an ihrer Seite zu haben, dass er in seinen träumerischen Ambitionen an alles gedacht hatte, außer an sie.
Und nun?
Er grübelte bis um zwei Uhr nachts darüber nach, ohne eine Lösung zu finden. Erst am nächsten Tag, als er sie an der Tür beobachtete wie sie, in der Hocke, die Fische aufschnitt und sie ausweidete, war es, als er, weil die Situation ihm diese Assoziation suggerierte, als ihm die Idee kam:
"Was wäre, wenn sie stürbe?" |
XIV
Iam-se assim os dias, e assim mais de três meses se passaram depois da
noite da navalhada. Firmo continuava a encontrar-se com a baiana na Rua de
São João Batista, mas a mulata já não era a mesma para ele: apresentava-se fria,
distraída, às vezes impertinente, puxando questão por dá cá aquela palha.
— Hum! hum! temos mouro na costa! rosnava o capadócio com ciúmes.
Ora queira Deus que eu me engane!
Nas entrevistas apresentava-se ela agora sempre um pouco depois da hora
marcada, e sua primeira frase era para dizer que tinha pressa e não podia
demorar-se.
— Estou muito apertada de serviço! acrescentava à réplica do amante. Uma
roupa de uma família que embarca amanhã para o Norte! Tem de ficar pronta
esta noite! Já ontem fiz serão!
— Agora estás sempre apertada de serviço!... resmungava o Firmo.
— E que é preciso puxar por ele, filho! Ponha-me eu a dormir e quero ver
do que como e com que pago a casa! Não há de ser com o que levo daqui!
— Or’essa! Tens coragem de dizer que não te dou nada? E quem foi que te
deu esse vestido que tens no corpo?!
— Não disse que nunca me desse nada, mas com o que você me dá não
pago a casa e não ponho a panela no fogo! Também não lhe estou pedindo coisa
alguma! Oh!
Azedavam-se deste modo as suas entrevistas, esfriando as poucas horas que
os dois tinham para o amor. Um domingo, Firmo esperou bastante tempo e Rita
não apareceu. O quarto era acanhado e sombrio, sem janelas, com um cheiro
mau de bafio e umidade. Ele havia levado um embrulho de peixe frito, pão e
vinho, para almoçarem juntos. Deu meio-dia e Firmo esperou ainda, passeando
na estreiteza da miserável alcova, como um onça enjaulada, rosnando pragas
obscenas; o sobrolho intumescido, os dentes cerrados. “Se aquela safada lhe
aparecesse naquele momento, ele seria capaz de torcê-la nas mãos!”
À vista do embrulho da comida estourou-lhe a raiva. Deu um pontapé numa
bacia de louça que havia no chão, perto da cama, e soltou um marro na cabeça.
— Diabo!
Depois assentou-se no leito, esperou ainda algum tempo, fungando forte,
sacudindo as pernas cruzadas, e afinal saiu, atirando para dentro do quarto uma
palavra porca.
Pela rua, durante o caminho, jurava que “aquela caro pagaria a mulata!” Um
sôfrego desejo de castigá-la, no mesmo instante, o atraía ao cortiço de São
Romão, mas não se sentiu com animo de lá ir, e contentou-se em rondar a
estalagem. Não conseguiu vê-la; resolveu esperar até à noite para lhe mandar um
recado. E vagou aborrecido pelo bairro, arrastando o seu desgosto por aquele
domingo sem pagode. Às duas horas da tarde entrou no botequim do Garnisé,
uma espelunca, perto da praia, onde ele costumava beber de súcia com o Porfiro.
O amigo não estava lá. Firmo atirou-se numa cadeira, pediu um martelo de
parati e acendeu um charuto, a pensar. Um mulatinho, morador no
“Cabeça-de-Gato”, veio assentar-se na mesma mesa e, sem rodeios, deu-lhe a
noticia de que na véspera o Jerônimo, tivera alta do hospital.
Firmo acordou com um sobressalto.
— O Jerônimo?!
— Apresentou-se hoje pela manhã na estalagem.
— Como soubeste?
— Disse-me o Pataca.
— Ora ai está o que é! exclamou o capoeira, soltando um murro na mesa.
— Que é o quê? interrogou o outro.
— Nada! É cá comigo. Toma alguma coisa?
Veio novo copo, e Firmo resmungou no fim de uma pausa:
— É! não há dúvida! Por isto é que a perua ultimamente me anda de vento
mudado!...
E um ciúme doido, um desespero feroz rebentou-lhe por dentro e cresceu
logo como a sede de um ferido. “Oh! precisava vingar-se dela! dela e dele! O
amaldiçoado resistiu à primeira, mas não lhe escaparia da segunda!”
— Veja mais um martelo de parati! gritou para o portuguesinho da
espelunca. E acrescentou, batendo com toda a força o seu petrópolis no chão:
— E não passa de hoje mesmo!
Com o chapéu à ré, a gaforina mais assanhada que de costume, os olhos
vermelhos, a boca espumando pelos cantos, todo ele respirava uma febre de
vingança e de ódio.
— Olha! disse ao companheiro de mesa. Disto, nem pio lá com os
carapicus! Se abrires o bico dou-te cabo da pele! Já me conheces!
— Tenho nada que falar! Pra quê?
— Bom!
E ficaram ainda a beber.
Jerônimo, com efeito, tivera alta e tornara aquele domingo ao cortiço, pela
primeira vez depois da doença. Vinha magro, pálido, desfigurado, apoiando-se a
um pedaço de bambu. Crescera-lhe a barba e o cabelo, que ele não queria cortar
sem ter cumprido certo juramento feito aos seus brios. A mulher fora buscá-lo
ao hospital e caminhava ao seu lado, igualmente abatida com a moléstia do
marido e com as causas que a determinaram. Os companheiros receberam-no
compungidos, tomados de uma tristeza respeitosa; um silêncio fez-se em torno
do convalescente; ninguém falava senão a meia voz; a Rita Baiana tinha os
olhos arrasados d’água.
Piedade levou o seu homem para o quarto.
— Queres tomar um caldinho? perguntou-lhe. Creio que ainda não estás de
todo pronto...
— Estou! contrapôs ele. Diz o doutor que preciso é de andar, para ir
chamando força às pernas. Também estive tanto tempo preso à cama! Só de uma
semana pra cá é que encostei os pés no chão!
Deu alguns passos na sua pequena sala e disse depois, tornando junto da
mulher:
— O que me saberia bem agora era uma xicrinha de café, mas queria-o bom
como o faz a Rita... Olha! pede-lhe que o arranje.
Piedade soltou um suspiro e saiu vagarosamente, para ir pedir o obséquio à
mulata. Aquela preferência pelo café da outra doía-lhe duro que nem uma
infidelidade.
— Lá o meu homem quer do seu café e torceu nariz ao de casa... Manda
pedir-lhe que lhe faça uma xícara. Pode ser? perguntou a portuguesa à baiana.
— Não custa nada! respondeu esta. Com poucas está lá!
Mas não foi preciso que o levasse, porque daí a um instante, Jerônimo, com
o seu ar tranqüilo e passivo de quem ainda se não refez de todo depois de uma
longa moléstia, surgiu-lhe à porta.
— Não vale a pena estorvar-se em lá ir... Se me dá licença, bebo o cafezinho
aqui mesmo...
— Entra, seu Jerônimo.
— Aqui ele sabe melhor...
— Você pega já com partes! Olha, sua mulher anda de pé atrás comigo! E
eu não quero histórias!...
Jerônimo sacudiu os ombros com desdém.
— Coitada!... resmungou depois. Muito boa criatura, mas...
— Cala a boca, diabo! Toma o café e deixa de maldizência! É mesmo vicio
de Portugal: comendo e dizendo mal!
O português sorveu com delícia um gole de café.
— Não digo mal, mas confesso que não encontro nela umas tantas coisas
que desejava...
E chupou os bigodes.
— Vocês são tudo a mesma súcia! Bem tola é quem vai atrás de lábia de
homem! Eu cá não quero mais saber disso... Ao outro despachei já!
O cavouqueiro teve um tremor de todo o corpo.
— Outro quem?! O Firmo?
Rita arrependeu-se do que dissera, e gaguejou:
— É um coisa-ruim! Não quero saber mais dele!... Um traste!
— Ele ainda vem cá? perguntou o cavouqueiro.
— Aqui? Qual! Nessa não caio! E se vier não lhe abro a porta! Ah! quando
embirro com uma pessoa é que embirro mesmo!
— Isso é verdade, Rit a?
— Quê? Que não quero saber mais dele? Esta que aqui está nunca mais fará
vida com semelhante cábula! Juro por esta luz!
— Ele fez-lhe alguma?
— Não sei! não quero! acabou-se!
— É que então você tem outro agora...
— Que esperança! Não tenho, nem quero mais ter homem!
— Por que, Rita?
— Ora! não paga a pena!
— E... se você encontrasse um... que a quisesse deveras... para sempre?...
— Não é com essas!...
— Pois sei de um que a quer como Deus aos seus!...
— Pois diga-lhe que siga outro oficio!
Ela se chegou para recolher a xícara, e ele apalpou-lhe a cintura.
— Olha! Escuta!
Rita fugiu com uma rabanada, e disse rápido, muito a sério:
— Deixa disso. Pode tua mulher ver!
— Vem cá!
— Logo.
— Quando?
— Logo mais.
— Onde?
— Não sei.
— Preciso muito te falar...
— Pois sim, mas aqui fica feio.
— Onde nos encontramos então?
— Sei cá!
E, vendo que Piedade entrava, ela disfarçou, dizendo sem transição:
— Os banhos frios é que são bons para isso. Põem duro o corpo!
A outra, embesourada, atravessou em silêncio a pequena sala, foi ter com o
marido e comunicou-lhe que o Zé Carlos queria falar-lhe, junto com o Pataca.
— Ah! fez Jerônimo. Já sei o que é. Até logo, Nhá Rita. Obrigado. Quando
quiser qualquer coisa de nós, lá estamos.
Ao sair no pátio, aqueles dois vieram ao seu encontro. O cavouqueiro
levou-os para casa, onde a mulher havia posto já a mesa do almoço, e com um
sinal preveniu-os de que não falassem por enquanto sobre o assunto que os
trouxera ali. Jerônimo comeu às pressas e convidou as visitas a darem um giro lá
fora.
Na rua, perguntou-lhes em tom misterioso:
— Onde poderemos falar à vontade?
O Pataca lembrou a venda do Manuel Pepé, defronte do cemitério. — Bem
achado! confirmou Zé Carlos. Há lá bons fundos para se conversar.
E os três puseram-se a caminho, sem trocar mais palavras até à esquina.
— Então está de pé o que dissemos?... indagou afinal aquele último. — De
pedra e cal! respondeu o cavouqueiro.
— E o que é que se faz?
— Ainda não sei... Preciso antes de tudo saber onde o cabra é encontrado à
noite.
— No Garnisé, afirmou o Pataca.
— Garnisé?
— Aquele botequim ali ao entrar da Rua da Passagem, onde está um galo à
tabuleta.
— Ah! Defronte da farmácia nova...
— Justo! Ele vai lá agora todas as noites, e lá esteve ontem, que o vi, por
sinal que num gole...
— Muito bêbado, hein?
— Como um gambá! Aquilo foi alguma, que a Rita Baiana lhe pregou de
fresco!
Tinham chegado à venda. Entraram pelos fundos e assentaram-se sobre
caixas de sabão vazias, em volta de uma mesa de pinho. Pediram parati com
açúcar.
— Onde é que eles se encontravam?... informou-se Jerônimo, afetando que
fazia esta pergunta sem interesse especial. Lá mesmo no São Romão?...
— Quem? A Rita mais ele? Ora o quê! Pois se ele agora é todo
cabeça-de-gato!...
— Ela ia lá?
— Duvido! Então logo aquela! Aquela é carapicu até o sabugo das unhas!
— Nem sei como ainda não romperam! interveio Zé Carlos, que continuou
a falar a respeito da mulata, enquanto Jerônimo o escutava abstrato, sem tirar os
olhos de um ponto.
O Pataca, como se acompanhasse o pensamento do cavouqueiro, disse-lhe
emborcando o resto do copo:
— Talvez o melhor fosse liquidar a coisa hoje mesmo!...
— Ainda estou muito fraco... observou lastimoso o convalescente.
— Mas o teu pau está forte! E além disso cá estamos nós dois. Tu podes até
ficar em casa, se quiseres...
— Isso é que não! atalhou aquele. Não dou o meu quinhão pelos dentes da
boca!
— Eu cá também vou que o melhor seria pespegar-lhe hoje mesmo a sova...
declarou o outro. Pão de um dia para outro fica duro!
— E eu estou-lhe com uma gana!... acrescentou o Pataca.
— Pois seja hoje mesmo! resolveu Jerônimo. E o dinheiro lá está em casa,
quarenta pra cada um! Em seguida à mela corre logo o cobre! E ao depois vai a
gente tomar uma fartadela de vinho fino!
— A que horas nos juntamos? perguntou Zé Carlos.
— Logo ao cair da noite, aqui mesmo. Está dito?
— E será feito, se Deus quiser!
O Pataca acendeu o cachimbo, e os três puseram-se a cavaquear
animadamente sobre o efeito que aquela sova havia de produzir; a cara que o
cabra faria entre três bons cacetes. “Então é que queriam ver até onde ia a
impostura da navalha! Diabo de um calhorda que, por um — vai tu, irei eu —
arrancava logo pelo ferro!...”
Dois trabalhadores, em camisa de meia, entraram na tasca e o grupo
calou-se. Jerônimo fogueou um cigarro no cachimbo do Pataca e despediu-se,
relembrando aos companheiros a hora da entrevista e atirando sobre a mesa um
níquel de duzentos réis.
Foi direito para o cortiço.
— Fazes mal em andar por ai com este sol!... repreendeu Piedade, ao vê-lo
entrar.
— Pois se o doutor me disse que andasse quanto pudesse...
Mas recolheu-se à casa, estirou-se na cama e ferrou logo no sono. A mulher,
que o acompanhara até lá, assim que o viu dormindo, enxotou as moscas de
junto dele, cobriu-lhe a cara com uma cambraia que servia para os tabuleiros de
roupa engomada, e saiu na ponta dos pés, deixando a porta encostada.
Jantaram daí a duas horas. Jerônimo comeu com apetite, bebeu uma garrafa
de vinho, e a tarde passaram-na os dois de palestra, assentados à frente de casa,
formando grupo com a Rita e a gente da Machona. Em torno deles a liberdade
feliz do domingo punha alegrias naquela tarde. Mulheres amamentavam o
filhinho ali mesmo, ao ar livre, mostrando a uberdade das tetas cheias. Havia
muito riso, muito parolar de papagaios; pequenos travessavam, tão depressa
rindo como chorando; os italianos faziam a ruidosa digestão dos seus jantares de
festa; ouviam-se cantigas e pragas entre gargalhadas. A Augusta, que estava
grávida de sete meses, passeava solenemente o seu bandulho, levando um outro
filho ao colo. O Albino, instalado defronte de uma mesinha em frente à sua
porta, fazia, à força de paciência, um quadro, composto de figurinhas de caixa
de fósforos, recortadas a tesoura e grudadas em papelão com goma-arábica. E lá
em cima, numa das janelas do Miranda, João Romão, vestido de casimira clara,
uma gravata à moda, já familiarizado com a roupa e com a gente fina,
conversava com Zulmira que, ao lado dele, sorrindo de olhos baixos, atirava
migalhas de pão para as galinhas do cortiço; ao passo que o vendeiro lançava
para baixo olhares de desprezo sobre aquela gentalha sensual, que o enriquecera,
e que continuava a mourejar estupidamente, de sol a sol, sem outro ideal senão
comer, dormir e procriar.
Ao cair da noite, Jerônimo foi, como ficara combinado, à venda do Pepé. Os
outros dois já lá estavam. Infelizmente, havia mais alguém na tasca. Tomaram
juntos, pelo mesmo copo, um martelo de parati e conversaram em voz surda
numa conspiração sombria em que as suas barbas roçavam umas com as outras.
— Os paus onde estão?... perguntou o cavouqueiro.
— Ali, junto às pipas... segredou o Pataca, apontando com disfarce para
uma esteira velha enrolada. Preparei-os ainda há pouco... Não os quis muito
grandes... Deste tamanho.
E abriu a mão contra a terra no lugar do peito.
— Estiveram de molho até agora... acrescentou, piscando o olho.
— Bom! aprovou Jerônimo, esgotando o copo com um último gole. Agora
onde vamos nós! Parece-me ainda cedo para o Garnisé.
— Ainda! confirmou o Pataca. Deixemo-nos ficar por aqui mais um pouco e
ao depois então seguiremos. Eu entro no botequim e vocês me esperam fora no
lugar que marcamos... Se o cabra não estiver lá, volto logo a dizer-lhes, e, caso
esteja, fico... chego-me para ele, procuro entrar em conversa, puxo discussão e
afinal desafio-o pra rua; ele cai na esparrela, e então vocês dois surgem e
metem-se na dança, como quem não quer a coisa! Que acham?
— Perfeito! aplaudiu Jerônimo, e gritou para dentro: — Olha mais um
martelo de parati!
Em seguida enterrou a mão no bolso da calça e sacou um rolo grosso de
notas.
— Podem enxugar à vontade! disse. Aqui ainda há muito com quê!
E, ordenando as notas, separou oitenta mil-réis, em cédulas de vinte.
— Isto é o do ajuste! Este é sagrado! acrescentou, guardando-as na algibeira
do lado esquerdo.
Depois separou ainda vinte mil-réis, que atirou sobre a mesa.
— Esse aí é para festejarmos a nossa vitória!
E fazendo do resto do seu dinheiro um bolo, que ele, um pouco ébrio,
apertava nos dedos, agora, claros e quase descalejados, socou-o na algibeira do
lado direito explicando entre dentes que ali ficava ainda bastante para o que
desse e viesse, no caso de algum contratempo.
— Bravo! exclamou Zé Carlos. Isto é o que se chama fazer as coisas à
fidalga! Haja contar comigo pra vida e pra morte!
O Pataca entendia que podiam tomar agora um pouco de cerveja.
— Cá por mim não quero, mas bebam-na vocês, acudiu Jerônimo.
— Preferia um trago de vinho branco, contraveio o terceiro.
— Tudo o que quiserem! franqueou aquele. Eu tomo também um pouco de
vinho. Não! que o que estamos a beber não é dinheiro de navalhista, foi ganho
ao sol e à chuva com o suor do meu rosto! É entornar pra baixo sem caretas, que
este não pesa na consciência de ninguém!
— Então, à sua! brindou Zé Carlos, logo que veio o novo reforço. Pra que
não torne você a dar que fazer à má casta dos boticários!
— À sua, mestre Jerônimo! concorreu o outro.
Jerônimo agradeceu e disse, depois de mandar encher os copos:
— Aos amigos e patrícios com quem me achei para o meu desforço!
E bebeu.
— À da S’ora Piedade de Jesus! reclamou o Pataca.
— Obrigado! respondeu o cavouqueiro, erguendo-se. Bem! Não nos
deixemos agora ficar aqui toda a noite; mãos a obra! São quase oito horas.
Os outros dois esvaziaram de um trago o que ainda havia no fundo dos
copos e levantaram-se também.
— É muito cedo ainda... obtemperou Zé Carlos, cuspindo de esguelha e
limpando o bigode nas costas da mão.
— Mas talvez tenhamos alguma demora pelo caminho, advertiu o
companheiro, indo buscar junto às pipas o embrulho dos cacetes.
— Em todo o caso vamos seguindo, resolveu Jerônimo, impaciente, nem se
temesse que a noite lhe fugisse de súbito.
Pagou a despesa, e os três saíram, não cambaleando, mas como que
empurrados por um vento forte, que os fazia de vez em quando dar para a frente
alguns passos mais rápidos. Seguiram pela Rua de Sorocaba e tomaram depois a
direção da praia, conversando em voz baixa, muito excitados. Só pararam perto
do Garnisé.
— Vais tu então, não é? perguntou o cavouqueiro ao Pataca.
Este respondeu entregando-lhe o embrulho dos paus e afastando-se de mãos
nas algibeiras, a olhar para os pés, fingindo-se mais bêbedo do que realmente
estava. | XIV
So verstrichen die Tage und so waren schon drei Monate seit der Nacht mit der Messerstecherei vergangen. Firmo traf sich weiterhin mit der Baianerin in der Rua de
São João Batista, aber die Mulattin war jetzt nicht mehr dieselbe für ihn. Sie war kalt, zerstreutt, manchmal frech, fingen wegen Kleinigkeiten an zu streiten.
"Das ist also noch wer!", brummte der aus Capadócia hinzugezogene eifersüchtig, "möge Gott, dass ich mich irre!"
Trafen sie sich, so kam sie immer etwas später als vereinbart und erste Satz war, dass sie es eilig habe und nicht bleiben kann.
"Ich habe viel Arbeit!", fügte sie auf Nachfrage des Geliebten hinzu. Die Wäsche einer Familie die sich morgen in Richtung Norden einschifft! Sie muss noch heute nacht fertig werden und kann nicht warten."
"Du bist aber immer sehr beschäftigt!", brummte Firmo.
"Da muss man hinterher sein, mein Schatz! Wenn eihc mich zum schlafen hinlege, dann will sich sehen, von was ich mir was zu essen kaufen soll und das Haus bezahlen soll! Das wird wohl nicht von dem sein, was ich hier bekomme!"
"Nun mach halblang! Du hast den Mut mir zu sagen, dass ich dir nichts gebe? Und wer war es, der dir das Kleid gab, dass du am Körper trägst!?"
"Ich habe nicht gesagt, dass du mir nichts gibst, aber mit dem, was du mir bezahlst, bezahle ich das Haus nicht und stelle keinen Topf auf den Ofen."
Dadurch herrschte während ihrer Treffen eine gereizte Stimmung, die wenigen Stunden, die sie für die Liebe hatten, waren unterkühlt. Eines Sonntags wartete Firmo ziemlich lange auf Rita, doch sie erschien nicht. Das Zimmer war eng und dunkel, ohne Fenster, mit einem schlechten, muffigen Geruch von Feuchtigkeit. Er hatte ein Paket mit fritiertem Fisch, Brot und Wein mitgebracht, damit sie zusammen essen. Eine halbe Stunde verging und Firmo wartete noch immer, lief durch die Beengtheit des elenden Zimmers wie ein Panther im Käfig, obszöne Flücke knurrend, die Augenbrauen gerunzelt, die Zähne geschlossen. "Wenn das schamlose Weib jetzt auftauchen würde, dann wäre er in der Lage ihr die Arme zu verdrehen!"
Beim Anblick des Essenspaket explodierte er vor Wut. Er gab einer Tonschüssel, die in der Nähe des Bettes auf dem Fußboden stand einen Tritt und schlug mit der Han an den Kopf.
"Teufel!"
Dann setzte er sich auf das Bett, wartete noch, stark schnaubend, noch eine Weile, schüttelte die gekreuzten Beine und ging schließlich in dem er in das Innere des Raumes einen Fluch warf, hinaus.
Auf der Straße, währen der ging, schwörte er, dass die Mulattin ihm das teuer bezahlen wird. Das gierige Verlangen sie zu bestrafen, jetzt sofort, trieb ihn zur Mietskaserne São Romão. Es war ihm nicht möglich, zu ihr zu gelangen. Er beschloss, bis nachts zu warten um ihr dann eine Botschaft zukommen zu lassen. Verärgert lief er durch das Viertel, schleppte seinen Verdruss über diesen Sonntag ohne Vergnügungen hinter sich her. Um zwei ging er in das Wirtshaus des Garnisé, einen Spelunke in der Nähe des Strandes, wo er öfter in Gemeinschaft mit Porfiro einen trank. Der Freund war nicht da. Firmo setzte sich auf einen Stuhl, bestellte ein Gläschen Zuckerrohrschnaps, zündete eine Zigarre an und dachte nach. Ein kleiner Mulatte, ein Bewohner der "Kopf der Katze", kam um sich an seinen Tisch zu setzen und setzte ihn ohne Umschweife davon in Kenntnis, dass Jerônimo am Vortag aus dem Krankenhaus entlasse worden war.
Firmo wachte mit einem Ruck auf.
"Jerônimo?!"
"Er ist heute morgen in der Mietskaserne aufgetraucht."
"Wie hast du davon erfahren?"
"Pataca hat es mir gesagt."
"Das ist es also!", rief der Capoeira und ließ die Faust auf den Tisch fallen.
"Was ist was?", fragte der andere.
"Nichts! Mir ist was eingefallen. Willst du was trinken?"
Es kam ein neues Glas und Firmo brummte nach einer Pause.
"Die Sache ist also klar! Deshalb ist das Luder in letzter Zeit so abweisend mir gegenüber!"
Und eine tiefe Eifersucht, eine schreckliche Verzweiflung machte sich in seinem Inneren breit und wuchs dann wie der Durst eines Verletzten. Man musste sich an ihr rächen! An ihr und an ihm! Der Verfluchte hat das erste Mal überstanden, beim zweiten Mal wird er ihm nicht entwischen!
"Bring noch ein Gläschen Schnaps!", rief er dem kleinen Portugiesen der Spelunke zu. Dann fuhr er fort, während er mit seinem Stock auf den Boden schlug:
"Und das passiert noch heute!"
Den Hut nach hinten geschoben, die Frisur noch mehr durcheinander als normal, die Augen rot, mit Schaum in den Mundwinkeln, war sein ganzer Körper von einem Fieber aus Rachdedurst und Hass erfasst.
"Hör", sagte er zu dem Tischgenossen. Davon keinen Laut zu den Silberlingen! Wenn du den Schnabel öffnest, dann zieh ich dir die Haut ab! Du kennst mich!"
"Ich sage nichts! Warum sollte ich?"
"Gut!"
Dann blieben sie noch auf einen Schluck.
Jerônimo war tatsächlich an diesem Sonntag entlassen worden und kehrte, zum ersten Mal seit seiner Krankheit, in die Mietskaserne zurück. Er war abgemagert, blass, stützte sich auf einen Bambusstab. Der Bart und das Haar war ihm gewachsen, das er nicht schneiden wollte, ohne vorher einen Schwur erfüllt zu haben, zu dem ihn sein Ehrgefühl verpflichtete. Die Frau war ins Krankenhaus gegangen um ihn abzuholen und ging an seiner Seite, gleichermaßen betrübt ob der Schmerzen ihres Mannes und der wegen der Gründe, die diese verursacht hatten. Die Kameraden empfingen ihn betrübt, ergriffen von einer respektvollen Traurigkeit. Schweigen breitete sich rings um den Genesenden aus, alle sprachen nur noch mit leiser Stimme. Rita Baiana stand das Wasser in den Augen.
Piedade brachte ihren Mann auf das Zimmer.
"Willst du etwas Warmes zu trinken?", fragte sie, "ich glaube du bist noch nicht ganz wieder hergestellt..."
"Doch, bin ich", entgegnete er, "der Doktor sagt, dass ich laufen muss, damit ich wieder Kraft in die Beine bekomme. Ich war so lange ans Bett gefesselt! Es ist erst eine Woche her, dass ich die Füße auf den Boden setzte!"
Er machte einige Schritte in dem kleinen Raum und sagte dann, sich wieder seiner Frau zuwendend:
"Was mir jetzt gut täte ist ein Tässchen Kaffee, aber ich will den guten, wie ihn Rita macht. Los, bitte sie mir einen zu machen."
Piedade seufzte auf und verließ langsam das Zimmer um die Mulattin um den Gefallen zu bitten. Diese Präferenz für den Kaffee der anderen schmerzte sie mehr als Untreue.
"Mein Mann will von deinem Kaffee und rümpft die Nase bei dem, den ich mache. Er lässt bitten dass du ihm eine Tasse machst. Geht das?", fragte die Portugiesin die baiana.
"Das ist schnell gemacht!", antwortete diese, "ist gleich da!"
Es war aber nicht nötig, dass sie ihn hinbringe, weil gleich darauf Jerônimo mit der Ruhe und Behäbigkeit von jemandem, der sich von einer lang andauernden Unpässlichkeit noch nicht ganz erholt hatte, in der Tür erschien.
"Es ist nicht nötig, dass sie sich die Mühe machen, rüber zu kommen. Wenn Sie es erlauben, dann trinke ich das Gläschen Kaffee gleich hier..."
"Komm herein Jerônimo."
"Hier schmeckt er besser..."
"Sie verlangen zu viel! Hören Sie, Ihre Frau ist schon hinter mir her! Und ich will keine Geschichten!"
Jerônimo zuckte verachtungsvoll die Schultern.
"Die Arme!", brummte er, "ein guter Mensch, aber..."
"Seien Sie still, Sie Teufel! Trinken Sie Ihren Kaffee und hören Sie schlecht über sie zu reden! Das ist das typische Laster der Portugiesen: Essen und verleumdnen!"
Der Portugiese nahm genussvoll einen Schluck Kaffee.
"Ich rede nicht schlecht über sie, aber ich finde bei ihr nicht das, wonach ich mich sehnte."
Er saugte an seinem Schnauzbart.
"Ihr seid alle derselbe Müll! Ziemlich dämlich muss eine Frau sein, um auf das Geschwätz der Männer reinzufallen! Ich will davon nichts mehr wissen. Dem anderen hab ich schon den Laufpass gegeben!"
Durch den ganzen Körper des Bergmanns ging ein Schauder.
"Den anderen?! Firmo?"
Rita bereute, was sie gesagt hatte und stotterte.
"Das ist ein Elend! Ich will nichts mehr von ihm wissen! Ein Taugenichts!"
"Kommt er hierher?", fragte der Bergmann.
"Hierher? Was für eine Vorstellung! Auf keinen Fall! Und wenn er kommt, mache ich ihm die Tür nicht auf! Wenn ich jemanden nicht ausstehen kann, dann kann ich ihn wirklich nicht ausstehen!"
"Ist das wahr Rita?"
"Was? Dass ich nichts mehr von ihm wissen will? So wahr ich hier stehe, will ich mit einem solchen Taugenichts nichts mehr zu tun haben. Das schwöre ich bei diesem Licht!"
"Hat er dir was angetan?"
"Ich weiß nicht! Ich will nicht! Es ist zu Ende!"
"Und du hast jetzt einen anderen...."
"Was für eine Hoffnung! Ich habe keinen und ich will auch keinen Mann mehr haben!"
"Warum Rita?"
"Darum! Das ist nicht der Mühe wert!"
"Und wenn du jemanden finden würdest, der dich wirklich liebt, für immer?"
"So was gibt es nicht!"
"Ich kenne jemanden, der dich liebt wie Gott die Seinigen!"
"Dann sag ihm, er soll sich mit was anderem beschäftigen!"
Sie kam um ihm die Tasse abzunehmen und er griff sie an der Taille.
"Gibt acht! Lass das!"
Rita flüchtete mit einem Hüftschwung und sagte schnell, sehr ernst:
"Lass das. Deine Frau kann das sehen!"
"Komm her!"
"Später."
"Wann?"
"Viel später."
"Wo?"
"Ich weiß nicht."
"Ich habe viel mit dir zu besprechen."
"Nun, hier bin ich."
"Wo treffen wir uns dann?"
"Was weiß ich!"
Als sie sah, dass Piedade hereinkam, sagte sie, ohne Übergang und also ob nichts vorgefallen wäre:
"Kalte Bäder sind gut in diesem Fall. Sie stärken den Körper!"
Die andere, durchquerte mürrisch und schweigend den kleinen Raum, wendete sich an ihren Mann und sagte ihm, dass Zé Carlos und Pataca mit ihm sprechen wollten.
"Ach ja", sagte Jerônimo, " ich weiß schon, um was es sich handelt. Bis später Rita. Vielen Dank. Wenn du etwas von mir willst, wir sind da."
Als sie den Hof verließen, kamen ihm die zwei schon entgegen. Der Bergmann führte sie ins Haus, wo die Frau schon den Mittagstisch gedeckt hatte und mit einem Zeichen gab sie ihnen zu verstehen, dass sie nicht über das Thema sprechen sollten, wegen dem sie gekommen waren. Jerônimo aß eilig und bat den Besuch ihn zu einem Spaziergang draußen zu begleiten.
Auf der Straße fragte er im Flüsterton:
"Wo können wir frei sprechen?"
Pataca empfahl die Kneipe von Manuel Pepé, gegenüber dem Friedhof. "Gute Idee!", bestätigte Zé Carlos, "da kann man sich zurückziehen und reden."
Die drei machten sich auf den Weg, ohne bis zur Ecke nochmal ein Wort zu wechseln.
"Dann ist also alles bereit?", fragte schließlich letzerer. "Aus Stein und Kalk!", antwortete der Bergmann.
"Und was macht er?"
"Das weiß ich noch nicht. Ich muss erst wissen, wo die Ziege nachts gefunden werden kann."
"Bei Garnisé", behauptete Pataca.
"Garnisé?"
"Die Kneipe am Anfang der Rua da Passagem, wo ein Hahn auf dem Schild ist."
"Ah! Gegenüber der neuen Apotheke..."
"Genau! Da geht er jeden Abend hin, gestern war er da, ich habe ihn gesehen, ziemlich abgefüllt..."
"Also betrunken, was?"
"Wie ein Stinktier! Da war was, was Rita Baina ihm frisch verabreicht hatte!"
Sie waren an der Kneipe angekommen und betraten sie durch die Hintertür, setzten sich auf Seifenkisten um einen Tisch aus Tannenholz. Sie bestellten Schnaps mit Zucker.
"Wo haben sie sich getroffen?", fragte Jerônimo und tat so, als ob diese Frage einfach nur so stellen würde, "in São Romão?"
"Wer? Rita und er? Ach was! Er ist doch jetzt ganz ein Anhänger von Kopf der Katze!"
"Sie ist da hingegangen?"
"Das bezweifle ich! Die doch nicht! Die ist Silberling bis zum Bett der Fingernägel!"
"Ich weiß nicht mal, warum sie nicht schon auseinander gegangen sind!", mischte sich Zé Carlos ein, der immer noch von der Mulattin sprach, während Jerônimo ihm geistesabwesend zuhörte, die Augen auf einen Punkt fixiert.
Pataca, also ob er die Gedanken des Bergmanns erraten hätte, sagte ihm, während er den Rest des Glases runterspülte:
"Es wäre vielleicht am besten, die ganze Angelegenheit noch heute zu erledigen!"
"Ich bin noch sehr schwach", bemerkte bedauernd der Genesende.
"Aber dein Stock ist stark! Dann sind noch wir zwei da. Du könntest sogar zu Hause bleiben, wenn du willst."
"Das auf keinen Fall", unterbrach ihn jener, "ich werde mein Schicksal nicht von Versprechungen abhängig sein lassen!"
"Ich bin auch dafür, dass man ihm die Tracht Prügel heute verabreicht", sagte der andere, "das Brot des einen Tages wird hart am anderen!"
"Und ich habe Lust dazu!", fügte Pataca an.
"Dann gleich heute!", entschied Jerônimo, "das Geld ist im Haus, vierzig für jeden! Nach der Tracht Prügel, fließt das Kupfer! Und danach gibt es für die Leute einen ordentlichen Schluck exquisiten Weines!"
"Um wieviel Uhr treffen wir uns?", fragt Zé Carlos.
"Wenn es Nacht geworden ist. Einverstanden?"
"Und es wird erledigt, so Gott will!"
Pataca zündete sich eine Pfeife an und die drei begannen lebhaft über den Effekt den die Tracht Prügel machen wird zu quatschen, über das Gesicht, dass die Ziege zwischen den drei guten Stöcken machen wird. "Ihr werdet dann sehen, bis wohin der Betrug mit dem Messer reicht! Teufel einer Kanaille der nach dem Motto zuerst du, dann ich auf einmal das Eisen zieht!"
Zwei Arbeiter in Hemdsärmeln kamen in die Beitz und die Gruppe schwieg. Jerônimo zündete sich eine Zigarette an der Pfeife von Pataca an und, nachdem er seine Kameraden nochmal eingeschärft hatte, wann sie sich treffen und nachdem ein paar zweihundert Réis Münzen auf den Tisch geworfen hatte, verabschiedete sich.
Er ging direkt zurück zur Mietskaserne.
"Es ist nicht gut, dass du bei dieser Hitze spazieren gehst!", tadelte ihn Piedade, als sie ihn hereinkommen sah.
"Aber der Doktor hat mir gesagt, dass ich soviel gehen soll wie möglich ist."
Er zog sich jedoch ins Haus zurück, streckte sich auf dem Bett aus und fiel sofort in den Schlaf. Die Frau, die ihn bis jetzt begleitet hatte, scheuchte die Fliegen von ihm weg, bedeckte sein Gesicht mit einem geklöppelten Tuch, das dazu diente die Tabletts mit der gebügelten Wäsche zu bedecken und ging, die Tür angelehnt lassend, auf Zehenspitzen hinaus.
Zwei Stunden später aßen sie. Jerônimo aß mit Appetit, trank eine Flasche Wein und den Nachmittag verbrachten die beiden im Freien, vor ihrem Haus sitzend, in einer Gruppe mit Rita und den Leuten von Machona. Um sie herum sorgte die fröhliche Zwanglosikgeit des Sonntags für eine gehobene Stimmung. Frauen gaben gleich dort ihren Kindern die Brust, im Freien, zeigten die Fülle ihrer vollen Brüste. Überall wurde gelacht, ein Gebrabbel wie von Papageien. Kleine Kinder liefen umher, die so schnell lachten wie sie weinten. Die Italianer verdauten gut hörbar ihr Festagsessen. Zwischen dem Gelächter hörte man Volksweisen und Flüche. Augusta, die im siebten Monat schwanger war, trug feierlich ihren Bauch zu Schau, das andere Kind am Hals. Albino, hinter einem Tisch vor seiner Tür sitzend, arbeitete geduldig an einem Bild, zusammengesetzt aus Figuren von Streichholzschachteln, mit der Schere ausgeschnitten und mit Harz aufgeklebt. Und da oben, an einem der Fenster von Miranda, plauderte João Romão, gekleidet in helle Kleidung aus leichter Wolle, mit einer modischen Krawatte, nun schon gewohnt an die feine Kleidung und den Umgang mit feinen Leuten, mit Zulmira, die, lächelnd und mit gesenktem Blick, Brosamen für die Hühner der Mietskaserne verteilte. Der Kneipenwirt warf Blicke der Verachtung auf diesen sinnlichen Pöbel, der ihn reich machte und ohne Unterlass schuftete, von morgens bis abends, ohne irgendein Ideal außer essen, schlafen und sich fortzupflanzen.
Als die Nacht hereinbrach, ging Jerônimo, wie es vereinbart worden war, zur Kneipe von Pepé. Die anderen zwei waren schon da. Unglücklicherweise war noch jemand in der Kneipe. Alle drei nahmen, aus demselben Glas, ein großen Schluck Schnaps und unterhielten sich leise, konspirativ, die Bärte so weit zusammengesteckt, dass sie sich berührten.
"Wo sind die Stöcke?", fragte der Bergmann.
"Dort, neben den Fässernn", flüsterte Pataca, versteckt auf eine zusammengerollte Matte deutend. Ich habe sie noch ein bisschen präpariert. Ich wollte sie nicht allzu groß. Von dieser Größe."
Er öffnete vor der Brust seine Hand, Handfläche nach unten.
"Bis jetzt waren sie noch nass", fügte er augenzwinkernd hinzu.
"Gut", sagte Jerônimo, und leerte das Glas mit einem letzten Schluck. Wo sollen wir jetzt hingehen? Für den Garnisé ist es noch zu früh.
"Noch", bestätigte Pataca, "lasst uns noch ein bisschen hier bleiben und dann gehen wir weiter. Ich gehe in die Kneipe und ihr wartet draußen auf mich am verabreten Platz. Wenn die Ziege nicht da ist, komme ich zurück und sage es euch und wenn sie da ist, spreche ich ihn an, zettele einen Streit an und fordere ihn dann auf, auf die Straße zu kommen. Dann ist er in die Falle getappt, ihr zwei taucht auf und mischt euch in den Tanz ein, das ist das Beste! Was haltet ihr davon?"
"Perfekt!", applaudierte Jerônimo und rief in Richtung des Inneren der Kneipe: "Noch ein Gläschen Schnaps!"
Dann griff er mit der Hand tief in die Jackentasche und holte ein dickes Bündel Geldscheine hervor.
"Ihr könnt ordentlich tanken!", sagte er, "es ist noch genug da!"
Er brachte Ordnung in den Geldstapel und lege achtzigtausend Réis in Scheinen zu zwanzig beiseite.
"Das ist das, was vertraglich vereinbart ist! Das ist heilig!" fügte er hinzu und steckte es in linke Gürteltasche.
Dann legte er noch mal zwanzigtausend Réis beseite, die er auf den Tisch warf.
"Das ist das Geld, mit dem wir unseren Sieg feiern!"
Mit dem Rest des Geldes machte er ein Bündel, das er, schon leicht betrunken, zwischen den nun blassen und fast fleischlosen Fingern zusammendrückte, in die rechte Gürteltasche steckte, wobei er fast ohne den Mund zu öffnen sagte, dass noch genug da sei für die Schicksalschläge, die noch kommen könnten.
"Bravo", rief Zé Carlos, "das nennt man die Dinge auf ehrenwerte Weise machen! Du kannst mit mir rechnen im Leben und im Tod!"
Pataca meinte, dass man jetzt ein bisschen Bier trinken könne.
"Was mich betrifft, ich will nicht, aber trinkt ihr", pflichtete Jerônimo bei.
"Ich würde einen Schluck Weiswein vorziehen", meinte der Dritte.
"Alles was ihr wollt!", erlaubte dieser, "ich nehme auch einen Schluck Wein. Wir vertrinken ja nicht das Geld des Messerstechers. Das Geld wurde in der prallen Sonne und bei Regen verdient, im Schweiße meines Angesichts! Das kann man ruhig ohne Gewissensbisse ausgeben, das beschwert das Gewissen von niemandem!"
"Dann, auf Ihr Wohl!", prostete Zé Carlos, nachdem der Nachschub angekommen war, " damit Sie den Heilkundlern nie mehr Arbeit machen!"
"Auf Ihr Wohl, Meister Jerônimo!", stimmte der andere ein.
Jerônimo bedankte sich, nachdem er die Gläser hatte füllen lassen:
"Auf die Freunde und Kameraden mit denen ich rechne bei meiner Rache!"
Und er trank.
"Auf Frau Piedade de Jesus!", erwidertee Pataca.
"Danke", antwortete der Bergmann und erhob sich, "gut! Wir wollen hier aber nicht die ganze Nacht verbringen. Hände an die Arbeit! Es ist fast acht."
Die anderen leerten mit einem Schluck, was noch auf dem Grunde der Gläser war und erhoben sich ebenfalls.
"Es ist noch sehr früh", wagte Zé Carlos einzuwenden und spuckte auf die Seite, sich den Schnauzer mit dem Handrücken sauber machend.
"Aber vielleicht werden wir auf dem Weg dahin noch aufgehalten", wand sein Kamerad ein und ging zu den Fässern und das Bündel mit den Stöcken zu holen.
"Auf jeden Fall machen wir jetzt los", entschied Jerônimo, der fürchtete, dass die Nacht ihm verstreicht.
Er zahlte die Rechnung und die drei gingen hinaus, nicht wie betrunkene, aber wie angestoßen von einem starken Wind, der sie manchmal ein paar Schritte nach vorne stolpern ließ. Sie gingen weiter auf der Rua de Sorocaba und dann in Richtung des Strandes, flüsterten dabei leise, sehr erregt. Erst vor der Kneipe Garnisé hielten sie an.
"Du gehts also, oder?", fragte der Bergmann Pataca.
Dieser antwortete indem er ihm das Bündel mit den Stöcken gab und die Hände aus den Taschen nahm, während er auf die Füße schaute und tat betrunkener, als er tatsächlich war. |
XV
O Garnisé tinha bastante gente essa noite. Em volta de umas doze mesinhas
toscas, de pau, com uma coberta de folha-de-flandres pintada de branco fingindo
mármore, viam-se grupos de três e quatro homens, quase todos em mangas de
camisa, fumando e bebendo no meio de grande algazarra. Fazia-se largo
consumo de cerveja nacional, vinho virgem, parati e laranjinha. No chão coberto
de areia havia cascas de queijo-de-minas, restos de iscas de fígado, espinhas de
peixe, dando idéia de que ali não só se enxugava como também se comia. Com
efeito, mais para dentro, num engordurado bufete, junto ao balcão e entre as
prateleiras de garrafas cheias e arrolhadas, estava um travessão de assado com
batatas, um osso de presunto e vários pratos de sardinhas fritas. Dois candeeiros
de querosene lumiavam, encarvoando o teto. E de uma porta ao fundo, que
escondia o interior da casa com uma cortina de chita vermelha, vinha de vez em
quando uma baforada de vozes roucas, que parecia morrer em caminho, vencida
por aquela densa atmosfera cor de opala.
O Pataca estacou a entrada, afetando grande bebedeira e procurando, com
disfarce, em todos os grupos, ver se descobria o Firmo. Não o conseguiu; mas
alguém, em certa mesa, lhe chamara a atenção, porque ele se dirigiu para lá. Era
uma mulatinha magra, mal vestida, acompanhada por uma velha quase cega e
mais um homem, inteiramente calvo, que sofria de asma e, de quando em
quando, abalava a mesa com um frouxo de tosse, fazendo dançar os copos.
O Pataca bateu no ombro da rapariga.
— Como vais tu, Florinda?
Ela olhou para ele, rindo; disse que ia bem, e perguntou-lhe como passava.
— Rola-se, filha. Tu que fim levaste? Há um par de quinze dias que te não
vejo!
— E mesmo. Desde que estou com seu Bento não tenho saído quase.
— Ah! disse o Pataca, estás amigada? Bom!...
— Sempre estive!
E ela então, muito expansiva com a sua folga daquele domingo e com o seu
bocado de cerveja, contou que, no dia em que fugiu da estalagem, ficou na rua e
dormiu numas obras de uma casa em construção na Travessa da Passagem, e que
no seguinte oferecendo-se de porta em porta, para alugar-se de criada ou de
ama-seca, encontrou um velho solteiro e agimbado que a tomou ao seu serviço e
meteu-se com ela.
— Bom! muito bom! anuiu Pataca.
Mas o diabo do velho era um safado; dava-lhe muita coisa, dinheiro até,
trazia-a sempre limpa e de barriga cheia, sim senhor! mas queria que ela se
prestasse a tudo! Brigaram. E, como o vendeiro da esquina estava sempre a
chamá-la para casa, um belo dia arribou, levando o que apanhara ao velho.
— Estás então agora com o da venda?
Não! O tratante, a pretexto de que desconfiava dela com o Bento
marceneiro, pô-la na rua, chamando a si o que a pobre de Cristo trouxera da casa
do outro e deixando-a só com a roupa do corpo e ainda por cima doente por
causa de um aborto que tivera logo que se metera com semelhante peste. O
Bento tomara-a então à sua conta, e ela, graças a Deus, por enquanto não tinha
razões de queixa.
O Pataca olhou em torno de si com o ar de quem procura alguém, e
Florinda, supondo que se tratava do seu homem, acrescentou:
— Não está cá, está lá dentro. Ele, quando joga, não gosta que eu fique
perto; diz que encabula.
— E tua mãe?
— Coitada! foi pro hospício...
E passou logo a falar a respeito da velha Marciana; o Pataca, porém, já lhe
não prestava atenção, porque nesse momento acabava de abrir-se a cortina
vermelha, e Firmo surgia muito ébrio, a dar bordos, contando, sem conseguir,
uma massagada de dinheiro, em notas pequenas, que ele afinal entrouxou num
bolo e recolheu na algibeira das calças.
— Ó Porfiro! não vens? gritou lá para dentro, arrastando a voz.
E, depois de esperar inutilmente pela resposta, fez alguns passos na sala.
O Pataca deu à Florinda um “até logo” rápido e, fingindo-se de novo muito
bêbedo, encaminhou-se na direção em que vinha o mulato.
Esbarraram-se.
— Oh! Oh! exclamou o Pataca. Desculpe!
Firmo levantou a cabeça e encarou-o com arrogância; mas desfranziu o
rosto logo que o reconheceu.
— Ah! és tu, seu galego? Como vai isso? A ladroeira corre?
— Ladroeira tinha a avó na cuia! Anda a tomar alguma coisa. Queres?
— Que há de ser?
— Cerveja. Vai?
— Vá lá.
Chegaram-se para o balcão.
— Uma Guarda-Velha, ó pequeno! gritou o Pataca.
Firmo puxou logo dinheiro para pagar.
— Deixa! disse o outro. A lembrança foi minha!
Mas, como Firmo insistisse, consentiu-lhe que fizesse a despesa.
E os níqueis do troco rolaram no chão, fugindo por entre os dedos do
mulato, que os tinha duros na tensão muscular da sua embriaguez.
— Que horas são? perguntou Pataca, olhando quase de olhos fechados o
relógio da parede. Oito e meia. Vamos a outra garrafa, mas agora pago eu!
Beberam de novo, e o coadjutor de Jerônimo observou depois:
— Você hoje ferrou-a deveras! Estás que te não podes lamber!
— Desgostos... resmungou o capoeira, sem conseguir lançar da boca a
saliva que se lhe grudava à língua.
— Limpa o queixo que estás cuspido. Desgostos de quê? Negócios de
mulher, aposto!
— A Rita não me apareceu hoje, sabes? Não foi e eu bem calculo por quê!
— Por quê?
— Porque a peste do Jerônimo voltou hoje à estalagem!
— Ahn! não sabia!... A Rita está então com ele?...
— Não está, nem nunca há de estar, que eu daqui mesmo vou à procura
daquele galego ordinário e ferro-lhe a sardinha no pandulho!
— Vieste armado?
Firmo sacou da camisa uma navalha.
— Esconde! não deves mostrar isso aqui! Aquela gente ali da outra mesa já
não nos tira os olhos de cima!
— Estou-me ninando pra eles! E que não olhem muito, que lhes dou uma de
amostra!
— Entrou um urbano! Passa-me a navalha!
O capadócio fitou o companheiro, estranhando o pedido.
— É que, explicou aquele, se te prenderem não te encontram ferro...
— Prender a quem? a mim? Ora, vai-te catar!
— E ela é boa? Deixa ver!
— Isto não é coisa que se deixe ver!
— Bem sabes que não me entendo com armas de barbeiro!
— Não sei! Esta é que não me sai das unhas, nem para meu pai, que a
pedisse!
— E porque não tens confiança em mim!
— Confio nos meus dentes, e esses mesmo me mordem a língua!
— Sabes quem vi ainda há pouco? Não és capaz de adivinhar!...
— Quem?
— A Rita.
— Onde?
— Ali na Praia da Saudade.
— Com quem?
— Com um tipo que não conheço...
Firmo levantou-se de improviso e cambaleou para o lado da saída.
— Espera! rosnou o outro, detendo-o. Se queres vou contigo; mas é preciso
ir com jeito, porque, se ela nos bispa, foge!
O mulato não fez caso desta observação e saiu a esbarrar-se por todas as
mesas. Pataca alcançou-o já na rua e passou-lhe o braço na cintura,
amigavelmente.
— Vamos devagar... disse; se não o pássaro se arisca!
A praia estava deserta. Caia um chuvisco. Ventos frios sopravam do mar. O
céu era um fundo negro, de uma só tinta; do lado oposto da bala os lampiões
pareciam surgir d’água, como algas de fogo, mergulhando bem fundo as suas
trêmulas raízes luminosas.
— Onde está ela? perguntou o Firmo, sem se agüentar nas pernas.
— Ali mais adiante, perto da pedreira. Caminha, que hás de ver!
E continuaram a andar para as bandas do hospício. Mas dois vultos surdiram
da treva; o Pataca reconheceu-os e abraçou-se de improviso ao mulato.
— Segurem-lhe as pernas! gritou para os outros.
Os dois vultos, pondo o cacete entre os dentes, apoderaram-se de Firmo, que
bracejava seguro pelo tronco.
Deixara-se agarrar — estava perdido.
Quando o Pataca o viu preso pelos sovacos e pela dobra dos joelhos,
sacou-lhe fora a navalha.
— Pronto! Está desarmado!
E tomou também o seu pau.
Soltaram-no então. O capoeira, mal tocou com os pés em terra, desferiu um
golpe com a cabeça, ao mesmo tempo que a primeira cacetada lhe abria a nuca.
Deu um grito e voltou-se cambaleando. Uma nova paulada cantou-lhe nos
ombros, e outra em seguida nos rins, e outra nas coxas, outra mais violenta
quebrou-lhe a clavícula, enquanto outra logo lhe rachava a testa e outra lhe
apanhava a espinha, e outras, cada vez mais rápidas, batiam de novo nos pontos
já espancados, até que se converteram numa carga continua de porretadas, a que
o infeliz não resistiu, rolando no chão, a gotejar sangue de todo o corpo.
A chuva engrossava. Ele agora, assim debaixo daquele bate-bate sem
tréguas, parecia muito menor, minguava como se estivesse ao fogo. Lembrava
um rato morrendo a pau. Um ligeiro tremor convulsivo era apenas o que ainda
lhe denunciava um resto de vida. Os outros três não diziam palavra, arfavam, a
bater sempre, tomados de uma irresistível vertigem de pisar bem a cacete aquela
trouxa de carne mole e ensangüentada, que grunhia frouxamente a seus pés.
Afinal, quando de todo já não tinham forças para bater ainda, arrastaram a
trouxa até a ribanceira da praia e lançaram-na ao mar. Depois, arquejantes,
deitaram a fugir, à toa, para os lados da cidade.
Chovia agora muito forte. Só pararam no Catete, ao pé de um quiosque;
estavam encharcados; pediram parati e beberam como quem bebe água. Passava
já de onze horas. Desceram pela Praia da Lapa; ao chegarem debaixo de um
lampião, Jerônimo parou suando apesar do aguaceiro que cala.
— Aqui têm vocês, disse, tirando do bolso as quatro notas de vinte mil-réis.
Duas para cada um! E agora vamos tomar qualquer coisa quente em lugar seco.
— Ali há um botequim, indicou o Pataca, apontando a Rua da Glória.
Subiram por uma das escadinhas que ligam essa rua à praia, e daí a pouco
instalavam-se em volta de uma mesa de ferro. Pediram de comer e de beber e
puseram-se a conversar em voz soturna, muito cansados.
A uma hora da madrugada o dono do café pô-los fora. Felizmente chovia
menos. Os três tomaram de novo a direção de Botafogo; em caminho Jerônimo
perguntou ao Pataca se ainda tinha consigo a navalha do Firmo e pediu-lha, ao
que o companheiro cedeu sem objeção.
— É para conservar uma lembrança daquele bisbórria! explicou o
cavouqueiro, guardando a arma.
Separaram-se defronte da estalagem. Jerônimo entrou sem ruído; foi até à
casa, espiou pelo buraco da fechadura; havia luz no quarto de dormir;
compreendeu que a mulher estava à sua espera, acordada talvez; pensou sentir,
vindo lá de dentro, o bodum azedo que ela punha de si, fez uma careta de nojo e
encaminhou-se resolutamente para a casa da mulata, em cuja porta bateu
devagarinho.
Rita, essa noite, recolhera-se aflita e assustada. Deixara de ir ter com o
amante e mais tarde admirava-se como fizera semelhante imprudência; como
tivera coragem de pôr em prática, justamente no momento mais perigoso, uma
coisa que ela, até ai, não se sentira com animo de praticar. No intimo respeitava
o capoeira; tinha-lhe medo. Amara-o a principio por afinidade de temperamento,
pela irresistível conexão do instinto luxurioso e canalha que predominava em
ambos, depois continuou a estar com ele por hábito, por uma espécie de vicio
que amaldiçoamos sem poder largá-lo; mas desde que Jerônimo propendeu para
ela, fascinando-a com a sua tranqüila seriedade de animal bom e forte, o sangue
da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o
macho de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo às imposições
mesológicas, enfarava a esposa, sua congênere, e queria a mulata, porque a
mulata era o prazer, era a volúpia, era o fruto dourado e acre destes sertões
americanos, onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias de macaco e onde seu
corpo porejou o cheiro sensual dos bodes.
Amavam-se brutalmente, e ambos sabiam disso. Esse amor irracional e
empírico carregara-se muito mais, de parte a parte, com o trágico incidente da
luta, em que o português fora vitima Jerônimo aureolou-se aos olhos dela com
uma simpatia de mártir sacrificado à mulher que ama; cresceu com aquela
navalhada; iluminou-se com o seu próprio sangue derramado, e, depois, a
ausência no hospital veio a completar a cristalização do seu prestigio, como se o
cavouqueiro houvera baixado a uma sepultura, arrastando atrás de si a saudade
dos que o choravam.
Entretanto, o mesmo fenômeno se operava no espírito de Jerônimo com
relação à Rita: arriscar espontaneamente a vida por alguém é aceitar um
compromisso de ternura, em que empenhamos alma e coração; a mulher por
quem fazemos tamanho sacrifício, sela ela quem for assume de um só vôo em
nossa fantasia as proporções de um ideal. O desterrado, à primeira troca de
olhares com a baiana, amou-a logo, porque sentiu nela o resumo de todos os
quentes mistérios que os enlearam voluptuosamente nestas terras da luxúria;
amou-a muito mais quando teve ocasião de jogar a existência por esse amor, e
amou-a loucamente durante a triste e dolorosa solidão da enfermaria, em que os
seus gemidos e suspiros eram todos para ela.
A mulata bem que o compreendeu, mas não teve animo de confessar-lhe que
também morria de amores por ele; receou prejudicá-lo. Agora, com aquela
loucura de faltar à entrevista justamente no dia em que Jerônimo voltava à
estalagem, a situação parecia-lhe muito melindrosa. Firmo, desesperado com a
ausência dela, embebedava-se naturalmente e vinha ao cortiço provocar o
cavouqueiro; a briga rebentaria de novo, fatal para um dos dois, se é que não
seria para ambos. Do que ela sentira pelo navalhista persistia agora apenas o
medo, não como ele era dantes, indeterminado e frouxo, mas ao contrário,
sobressaltado, nervoso, cheio de apreensões que a punham aflita. Firmo já não
lhe aparecia no espírito como um amante ciumento e perigoso, mas como um
simples facínora, armado de uma velha navalha desleal e homicida. O seu medo
transformava-se em uma mistura de asco e terror. E sem achar sossego na cama,
deixava-se atordoar pelos seus pressentimentos, quando ouviu bater na porta.
— É ele! disse, com o coração a saltar.
E via já defronte de si o Firmo, bêbado, a reclamar o Jerônimo aos berros,
para esfaqueá-lo ali mesmo. Não respondeu ao primeiro chamado; ficou
escutando.
Depois de uma pausa bateram de novo.
Ela estranhou o modo pelo qual batiam. Não era natural que o facínora
procedesse com tanta prudência. Ergueu-se, foi a janela, abriu uma das folhas e
espreitou pelas rótulas.
— Quem está ai?... perguntou a meia voz.
— Sou eu... disse Jerônimo, chegando-se.
Reconheceu-o logo e correu a abrir.
— Como?! É você, Jeromo?
— Chit! fez ele, pondo o dedo na boca. Fala baixo.
Rita começou a tremer: no olhar do português, nas suas mãos encardidas de
sangue, no seu todo de homem ébrio, encharcado e sujo, havia uma terrível
expressão de crime.
— Donde vens tu?... segredou ela.
— De cuidar da nossa vida... Ai tens a navalha com que fui ferido!
E atirou-lhe sobre a mesa a navalha de Firmo, que a mulata conhecia como
as palmas da mão.
— E ele?
— Está morto.
— Quem o matou?
— Eu.
Calaram-se ambos.
— Agora... acrescentou o cavouqueiro, no fim de um silêncio arquejado por
ambos; estou disposto a tudo para ficar contigo. Sairemos os dois daqui para
onde melhor for... Que dizes tu?
— E tua mulher?...
— Deixo-lhe as minhas economias de muito tempo e continuarei a pagar o
colégio à pequena. Sei que não devia abandoná-la, mas podes ter como certo
que, ainda que não queiras vir comigo, não ficarei com ela! Não sei! já não a
posso suportar! Um homem enfara-se! Felizmente minha caixa de roupa está
ainda na Ordem e posso ir buscá-la pela manhã.
— E para onde iremos?
— O que não falta é p’r’onde ir! Em qualquer parte estaremos bem. Tenho
aqui sobre mim uns quinhentos mil-réis, para as primeiras despesas. Posso ficar
cá até às cinco horas; são duas e meia; saio sem ser visto por Piedade; mando-te
ao depois dizer o que arranjei, e tu irás ter comigo... Está dito? Queres?
Rita, em resposta, atirou-se ao pescoço dele e pendurou-se-lhe nos lábios,
devorando-o de beijos.
Aquele novo sacrifício do português; aquela dedicação extrema que o
levava a arremessar para o lado família, dignidade, futuro, tudo, tudo por ela,
entusiasmou-a loucamente. Depois dos sobressaltos desse dia e dessa noite, seus
nervos estavam afiados e toda ela elétrica.
Ah! não se tinha enganado! Aquele homenzarrão hercúleo, de músculos de
touro, era capaz de todas as meiguices do carinho.
— Então? insistiu ele.
— Sim, sim, meu cativeiro! respondeu a baiana, falando-lhe na boca; eu
quero ir contigo; quero ser a tua mulata, o bem do teu coração! Tu és os meus
feitiços! — E apalpando-lhe o corpo:— Mas como estas ensopado! Espera!
espera! o que não falta aqui e roupa de homem pra mudar!... Podias ter uma
recaída, cruzes! Tira tudo isso que está alagado! Eu vou acender o fogareiro e
estende-se em cima o que é casimira, para te poderes vestir às cinco horas. Tira
as botas! Olha o chapéu como está! Tudo isto seca! Tudo isto seca! Mira, toma
já um gole de parati p’r’atalhar a friagem! Depois passa em todo o corpo! Eu
vou fazer café!
Jerônimo bebeu um bom trago de parati, mudou de roupa e deitou-se na
cama de Rita.
— Vem pra cá... disse, um pouco rouco.
— Espera! espera! O café está quase pronto!
E ela só foi ter com ele, levando-lhe a chávena fumegante da perfumosa
bebida que tinha sido a mensageira dos seus amores; assentou-se ao rebordo da
cama e, segurando com uma das mãos o pires, e com a outra a xícara, ajudava-o
a beber, gole por gole, enquanto seus olhos o acarinhavam, cintilantes de
impaciência no antegozo daquele primeiro enlace.
Depois, atirou fora a saia e, só de camisa, lançou-se contra o seu amado,
num frenesi de desejo doido.
Jerônimo, ao senti-la inteira nos seus braços; ao sentir na sua pele a carne
quente daquela brasileira; ao sentir inundar-lhe o rosto e as espáduas, num
eflúvio de baunilha e cumaru, a onda negra e fria da cabeleira da mulata; ao
sentir esmagarem-se no seu largo e pelado colo de cavouqueiro os dois globos
túmidos e macios, e nas suas coxas as coxas dela; sua alma derreteu-se, fervendo
e borbulhando como um metal ao fogo, e saiu-lhe pela boca, pelos olhos, por
todos os poros do corpo, escandescente, em brasa, queimando-lhe as próprias
carnes e arrancando-lhe gemidos surdos, soluços irreprimíveis, que lhe sacudiam
os membros, fibra por fibra, numa agonia extrema, sobrenatural, uma agonia de
anjos violentados por diabos, entre a vermelhidão cruenta das labaredas do
inferno.
E com um arranco de besta-fera caíram ambos prostrados, arquejando. Ela
tinha a boca aberta, a língua fora, os braços duros, os dedos inteiriçados, e o
corpo todo a tremer-lhe da cabeça aos pés, continuamente, como se estivesse
morrendo; ao passo que ele, de súbito arremessado longe da vida por aquela
explosão inesperada dos seus sentidos, deixava-se mergulhar numa embriaguez
deliciosa, através da qual o mundo inteiro e todo o seu passado fugiam como
sombras fátuas. E, sem consciência de nada que o cercava, nem memória de si
próprio, sem olhos, sem tino, sem ouvidos, apenas conservava em todo o seu ser
uma impressão bem clara, viva, inextinguível: o atrito daquela carne quente e
palpitante, que ele em delírio apertou contra o corpo, e que ele ainda sentia
latejar-lhe debaixo das mãos, e que ele continuava a comprimir maquinalmente,
como a criança que, já dormindo, afaga ainda as tetas em que matou ao mesmo
tempo a fome e a sede com que veio ao mundo. |
XV
In dem Garnisé waren an diesem Abend ziemlich viele Leute. Um grobe Tischchen aus Holz, mit einer Tischplatte aus Stahlblech weiß angemalt und Marmor imitierend, sah man drei oder vier Leute, fast alle in Hemdsärmeln, rauchend und trinkend inmitten eines großen Geschrei. Es wurde ordentlicher Bier aus nationaler Produktion konsumiert, Wein, Schnaps und Likör. Auf dem Boden, der mit Sand bedeckt war, gab Schalen von Käse aus Minas, Reste von fritierter Leber, Fischgräten, was einen Eindruck davon gab, dass hier nicht nur gesoffen sondern auch gegessen wurde. Und tatsächlich befand sich weiter innen, auf dem breiten Buffet, in der Nähe der Theke und zwischen den Ständern mit vollen noch verschlossenen Flaschen, war ein Eintopf aus Gegrilltem mit Kartoffeln, ein Schinkenknochen und ein paar Teller mit fritierten Sardinen. Zwei Kerosinlampen erleuchtenden die allmählich verkohlte Decke. Aus einer Tür im hinteren Teil, die das Innere des Hauses mit einem Vorhang aus einem bedruckten roten Baumwolltuch versteckte, kam von Zeit zu Zeit eine Atemwolke rauer Stimmen, die auf dem Weg zu sterben schien, besiegt durch die dichte, opalfarbene Atmosphäre.
Petaca blieb in der Tür stehen, täuschte vor sturzbetrunken zu sein und versuchte heimlich in all den Gruppen Firmo ausfindig zu machen, was ihm nicht gelang. Doch an einem Tisch erregte jemand seine Aufmerksamkeit, so dass er in diese Richtung ging. Es war eine kleine, magere Mulattin, schlecht gekleidet, begleitet von einer fast blinden Alten und einem völlig kahlköpfigen Mann, der an Asthma litte und von Zeit zu Zeit den Tisch in einem Hustenanfall zittern ließ und die Gläser zum tanzen brachte.
Pataca gab dem Mädchen einen Klaps auf die Schulter.
"Wie geht es dir Florinda?"
Sie sah ihn an und lächelte. Sie sagte es gehe ihr gut und fragte ihn, was ihn hergebracht habe.
"Man dreht halt Runden, Kind. Wie ist es dir ergangen? Ich habe dich schon seit zwei Wochen nicht mehr gesehen!"
"So ist es. Seit ich mit Herrn Bento zusammen bin, bin ich fast nicht mehr rausgegangen."
"Ah!", sagte Pataca, du hast einen Freund? Das ist gut!"
"Immer schon gehabt!"
Und sie, auskunftsfreudig was ihre Flucht an jenem Sonntag anging erzählte mit bei einem Schluck Bier erzählte, dass sie an dem Tag, als sie aus der Mietskaserne floh auf der Straße landete und in einem im Bau befindlichen Haus in der Travessa da Passagem geschlafen hatte und am nächsten Tag von Tür zu Tür ging und sich anbot als Dienstmädchen oder Kindermädchen zu arbeiten. Sie fand einen alten, sehr reichen Junggesellen, der sie einstellte und mit ihr zusammenlebte.
"Gut! Sehr gut!", pflichtete Pataca bei.
Der Teufel von einem alten war aber ein Lüstling. Er hat ihr viele Geschenke gemacht, sogar Geld, zog sie immer gut an und füllte ihr den Bauch, wollte aber, dass sie sich für alles hergebe! Sie stritten sich. Da der Kneipenbesitzer um die Ecke sie immer rief, ging sie eines Tages dahin und nahm alles mit, was sie von dem Alten erhalten hatte.
"Und jetzt bist du noch mit dem von der Kneipe zusammen?"
Nein! Der Schurke hat unter dem Vorwand, dass er ihrer Beziehung mit Bento dem Schreiner nicht traue, sie auf die Straße gesetzt und dabei eingesammelt, was die arme Christin vom Haus des anderen mitgebracht hatte, so dass ihr nur noch die Kleidung am Körper blieb und obendrein aufgrund des Schwangerschaftsabruches, wegen der Beziehung zu dieser Pest, auch noch krank. Bento hat sie dann aufgenommen und Gott sei gepriesen hat sie jetzt keinen Grund sich zu beklagen.
Pataca schaute um sich, also ob er nach jemandem suchen würde und Florinda, die vermutete, dass er nach ihrem Mann suche, fügte hinzu.
"Er ist nicht hier, er ist drin. Wenn er spielt, will er nicht, dass ich in der Nähe bin. Er sagt, ich brächte ihm Unglück."
"Und deine Mutter?"
"Die Arme, sie ist im Heim."
Dann erzählte sie von der alten Marciana. Pataca jedoch achtete nicht mehr darauf, was sie sagte, denn in diesem Moment öffnete sich der rote Vorhang und Firmo, völlig betrunken und hin und her wankend, erschien, der, ohne dass er es konnte, ein Bündel Geld in kleinen Scheinen zählte, dass er schließlich zu einem Paket zusammendrückte und in die Jackentasche steckte.
"Porfiro! Kommst du nicht?", rief er in den hinteren Bereich mit schleppender Stimme.
Nachdem er eine Weile vergeblich auf die Antwort gewartet hatte, machte er ein paar Schritte in den Raum.
Pataca verabschiedete sich mit einem "bis später" von Florinda und bewegte sich, wobei er so tat, als ob er betrunken wäre, in die Richtung, von der der Mulatte kam.
Sie stießen zusammen.
"Oh! Oh!", entschuldigte sich Pataca, "entschuldigen Sie!"
Firmo hob den Kopf und baute sich überheblich vor ihm auf. Als er ihn jedoch erkannte, entspannte sich sein Gesicht.
"Ah! Du bist es Herr Portugiese? Wie geht's? Läuft alles in der Räuberhöhle?"
"Bei der Räuberhöhle ist alles in Ordnung! Sollen wir was trinken. Willst du?"
"Was soll es sein?"
"Bier. Kommst du?"
"Gehen wir."
Sie wanden sichi der Theke zu."
"Eine Flasche Guarda-Velha, die Kleine!", rief Pataca.
Firmo grabschte nach Geld um zu bezahlen.
"Lass!", sagte der andere, "der Vorschlag kam von mir!"
Als Firmo aber insistierte, willigte er ein, dass dieser bezahlt.
Die Kupfermünzen des Wechselgeldes rollten auf den Boden, entwischen den Fingern des Mulatten, da deren Muskeln durch die Trunkenheit angespannt waren.
"Wieviel Uhr ist es?", fragte Pataca, und schaute mit fast geschlossenen Augen auf die Uhr an der Wand. Halb neun. Nehmen wir noch eine Flasche, aber jetzt zahle ich!"
Sie tranken wieder und der Gehilfe von Jerônimo merkte dann an.
"Du bist heute wirklich schlecht drauf! Dir ist wohl was über die Leber gelaufen!"
"Ärger", murmelte der Capoeira, ohne den Speichel auspucken zu können, der seine Zunge verklebte.
"Mach das Kinn sauber, du bist ja vollgesabbert. Ärger mit was? Frauenangelegenheiten, nehme ich an!"
"Rita ist heute nicht aufgetaucht, weiß du? Sie kam nicht und ich ahne warum!"
"Warum?"
"Weil dieser verdammte Jerônimo heute zur Mietskaserne zurückgekehrt ist!"
"Ah! Das wusste ich nicht! Rita ist also immer noch mit ihm zusammen?"
"Ist sie nicht und wird es nie sein. Ich werde mich gleich auf die Suche nach diesem ordinären Portugiesen machen und ihm die Sardinen aus dem Bauch prügeln!"
"Bist du bewaffnet?"
Firmo zog ein Messer unter dem Hemd hervor.
"Versteck es, das solltest du hier nicht zeigen! Die Leute da drüben lassen uns jetzt schon nicht aus den Augen!"
"Mit denen wärme ich mich auf! Die sollen bloß nicht übermäßig rüberstarren, sonst gebe ich ihnen eine Probe!"
"Ein Polizist ist reingekommen! Gib mir das Messer!"
Der Capodeiro starrte den Kameraden an, wunderte sich über die Bitte.
"Nur für den Fall", erklärte dieser, "dass sie kein Eisen finden, wenn sie dich filzen."
"Wen filzen? Mich? Lass jetzt!"
"Ist es gut? Lass sehen!"
"Das ist nichts, was man sehen lässt!"
"Du weißt, dass ich mit Barbiermessern nichts anfangen kann!"
"Davon weiß ich nichts! Das geb ich nicht aus der Hand, selbst meinem Vater nicht, wenn er mich darum bitten würde!"
"Warum vertraust du mir nicht!"
"Ich vetraue meinen Zähnen und selbst die, beißen mir auf die Zunge!"
"Weißt du, wenn ich gerade gesehen habe? Du bist nicht fähig, das zu erraten!"
"Wen?"
"Rita"
"Wo?"
"Dort am Strand Saudade."
"Mit wem?"
"Mit jemandem, den ich nicht kenne."
Firmo erhob sich plötzlich und schwankte in Richtung des Ausgangs.
"Warte!", zischte der andere und hielt ihn fest, "wenn du willst, geh ich mit dir. Wir dürfen uns aber nichts anmerken lassen. Wenn er uns erspäht, hau ab!"
Der Mulatte schenkte der Bemerkung keine Beachtung und verließ ging, zwischen den Tischen hin- und her schwankend, hinaus. Pataca holte ihn auf der Straße wieder ein und griff ihm mit dem Arm freundschaftlich um die Taille.
"Langsam", sagte er, "sonst fliegt der Sperling weg!"
Der Strand war menschenleer. Ein Nieselregen ging nieder. Kalte Winde kamen vom Meer her. Der Himmel war tiefschwarz, gleichmäßig schwarz. Am gegenüberliegenden Ufer schienen die Lampions aus dem Wasser zu steigen, wie Algen aus Feuer, die ihre leuchtend zitternden Algen tief versenkten.
"Wo ist sie?", fragte Firmo, ohne sich auf den Beinen halten zu können.
"Weiter vorne, in der Nähe des Steinbruchs. Lauf nur, du wirst sie gleich sehen!"
Und sie gingen weiter die Promenade Do hospício hinauf. Dann erschienen zwei Gestalten in der Dunkelheit. Pataca erkannte sie und umarmte plötzlich den Mulatten."
"Packt ihn an den Beinen", rief dieser den anderen zu.
Die zwei Gestalten packten, mit den Stöcken zwischen den Zähnen, Firmo, der heftig mit den Armen um sich schlug.
Er ließ sich packen, er war verloren.
Als Pataca sah, wie er an den Achseln und an den Kniekehlen festgehalten wurde, nahm er ihm das Messer ab.
"Fertig! Er ist jetzt entwaffnet!"
Dann nahm auch er seinen Stock.
Sie ließen ihn los. Der Capoeira hatte kaum die Füße auf die Erde gestellt, als ihn ein Schlag am Kopf traf, während gleichzeitig eine Stockhieb auf seinen Nacken niederging. Er stieß einen Schrei aus und drehte sich schwankend um. Ein neuer Schlag traf seinen Schultern und gleich darauf einer seine Nieren, ein anderer die Hüfte und ein noch stärkerer brach ihm das Schlüsselbein, während ein anderer ihm den Schädel spaltete und noch einen auf sein Rückrat empfing. Andere schlugen, immer schneller, auf die schon verwundeten Stellen, bis sie schließlich zu einer kontinuierlichen Ladung an Keulenhieben wurde, welcher der Unglückliche nicht, sich auf dem Boden wälzend und am ganzen Körper blutend, wiederstand.
Der Regen nahm zu. Er schien jetzt, unter dem pausenlosen Prügelhagel, sehr viel kleiner, er schien zu schrumpfen wie am Feuer, erinnerte an einen Hund, der an der Stange stirbt. Ein leichtes, krampfartiges Zittern war das einzige, was noch auf einen letzten Rest leben hinwies. Die anderen drei sagten kein Wort, keuchten, schlugen immer weiter, wie besessen von dem unwiderstehlichen Rausch dieses Bündel weichen und blutigen Fleisches, das noch schwach zu ihren Füßen grunzte, mit dem Stock zu treten. Schließlich, als sie keine Kraft mehr hatten weiter zu prügeln, schleppten sie das Bündel an den Rand des Strandes und warfen es ins Meer. Dann flüchteten sie, keuchend, ohne zu überlegen wohin, in Richtung der Stadt.
Es regnete noch stärker. Sie hielten erst im Stadtteil Catete, vor einem Kiosk. Sie waren klatschnass. Sie bestellten Schnaps und tranken ihn wie Wasser. Es war schon 11 Uhr vorrüber. Sie gingen die Strand da Lapa hinunter. Als sie an eine Laterne kamen, hielt Jerônimo an, schwitzend trotz des fallenden Regenschauers.
"Das habt ihr", sagte er und zog aus der Tasche die vier Scheine à 20 000 Réis, "zwei für jeden! Und jetzt essen wir irgendwas Warmes an einem trocknen Ort."
"Da ist ein Kneipe", bemerkte Pataca und zeigte auf Rua da Glória.
Sie stiegen die Stufen hinauf, die diese Straße mit dem Strand verband und kurze Zeit später setzten sie sich rund um einen Eisentisch. Sie bestellten Essen und Trinken und fingen, völlig erschöpft, im Flüsterton miteinander zu sprechen.
Um ein Uhr morgens setzte sie der Besitzer des Cafés vor die Tür. Glücklicherweise regnete es jetzt weniger. Die drei machten sich wieder auf den Weg in den Stadteil Botafogo. Auf dem Weg fragte Jerônimo Pataca ob er noch das Messer von Firmo habe und bat ihn, es ihm zu geben, was dieser ohne weitere Einwände tat.
"Das ist um eine Erinnerung an diesen Gauner zu haben!", erklärte der Bergmann, während er die Waffe betrachtete.
Sie trennten sich vor der Mietskaserne. Jerônimo ging hinein ohne Krach zu machen. Er ging bis zum Haus und schaute durchs Schlüsselock. Im Schlafzimmer war noch Licht. Er verstand, dass seine Frau auf ihn wartete, vielleicht wieder aufgewacht. Er meinte, als er sie da drinnen sah, den sauren Geruch zu riechen, den sie verströmte, er machte eine Grimasse des Ekels und ging entschlossen zum Haus der Mulattin, an deren Tür er leise anklopfte.
Rita hatte sich diese Nacht betrübt und verängstigt zurückgezogen. Sie ging nicht mehr zu ihrem Geliebten und später fragte sie sich, wie sie so leichtsinnig hatte sein können. Wie sie hatte den Mut haben können im gefährlichsten Moment etwas in die Praxis umzusetzen, was sie bis dahin nicht den Mut hatte zu tun. Im Innersten respektierte sie den Capoeira, hatte Angst vor ihm. Anfangs liebte sie ihn, weil sie sich vom Temperament her ähnlich waren, unwiderstehlich verbunden durch den sinnlichen und niederen Instinkt, der in beiden vorherrschend war, dann war sie mit ihm aus Gewohnheit zusammen, aufgrund eines Lasters, das wir verfluchen ohne uns davon lösen zu können. Doch seit Jerônimo ihr seine Neigung gezeigt hatte, sie mit seiner ernsten Ruhe eines guten und starken Tieres faszinierte, verlangte das Blut der Mestizin ihr Recht auf Reinigung und Rita zog in dem Europäer den Mann einer höheren Rasse vor. Der Bergmann wiederum gab den Anforderungen seiner Umgebung nach, distanzierte sich von seiner Frau, seinesgleichen, und wollte die Mulattin, weil die Mulattin die Lust war, die Sinnlichkeit, die goldene Frucht, der Duft jenes wilden amerikanischen Landes, wo die Seele Jerônimos die hingebungsvolle Sinnlichkeit erfuhr und wo aus den Poren seines Körpers der sinnliche Geruch eines Tieres entströmte.
Sie liebten sich schrankenlos und beiden wussten es. Diese Liebe, die die Bande der Vernunft und der Normalität sprengte, wurde, auf beiden Seiten, noch mehr durch die Tragik des Kampfes, dessen Opfer Jerônimo war und der dadurch in ihren Augen geheiligt wurde durch die Zuneigung für einen Märtyrer, der sich opfert für die Frau, die er liebt, aufgeladen. Er wuchs durch diese Messerstecherei. Er glänzte in seinem eigenen Blut, das er vergossen hatte und seine Abwesenheit, während der Zeit, als er im Krankenhaus war, vervollständigte noch, ganz so, als ob der Bergmann ins Grab hinabgestiegen wäre und dabei den Schmerz derjenigen, die um ihn trauerten, hinter sich hergezogen hätte, die Ausformung seines Ansehens.
Unterdessen arbeitete das gleich Phänomen auch im Geiste von Jerônimo in Beziehung zu Rita. Spontan sein Leben zu riskieren für jemanden heißt eine zärtliche Verbindung eingehen, sich mit Seele und Geist auszuliefern. Die Frau, für die wir eine solch großes Opfer bringen, wer immer sie auch sei, setzt voraus, dass unsere Phantasie in einem Flug die Dimensionen eines Ideals erreicht. Der Verbannte liebte sie schon, als er mit der Baianerin zum ersten Mal Blicke austauschte, weil er in ihr alle die Zusammenfassung aller heißen Mysterien sah, die sie in diesen sinnlichen Gefilden der Sinnlichkeit verbanden. Er liebte sie noch viel mehr, als er die Gelegenheit hatte, sein Leben für diese Liebe auf's Spiel zu setzen und er liebte sie wie außer sich in der schmerzhaften Einsamkeit des Hospitals, wo all sein Stöhnen und seine Seufzer nur ihr galten.
Die Mulattin, obwohl sie das vestand, hatte nicht den Mut, ihm zu sagen, dass auch sie sich vor Liebe nach ihm verzehrte. Sie fürchtete, ihm zu schaden. Jetzt, nachdem sie so leichtsinnig gewesen war an dem Tag, an dem Jerônimo in die Mietskaseren zurückkam, das Treffen hatte platzen lassen, erschien ihr die Situation schwierig. Firmo, durch ihre Abwesenheit entäuscht, würde sich natürlich betrinken und würde in die Mietskaserne komme, um den Bergmann zu provozieren. Der Streit würde von neuem beginnen und würde von einen von beiden, wenn nicht für beide, fatale Folgen haben. Von dem, was sie einst für den Messerstecher gefühlt hatte, war nur noch die Angst übrig geblieben und zwar nicht wie früher, vage und schwach, sondern im Gegenteil, voller Schrecken, nervös, voller Befürchtungen, die sie betrübt stimmten. Firma erschien ihr nicht mehr wie der Geist eines eifersüchtigen und gefährlichen Liebhaber, sondern als Perversling mit einem alten, unkontrollierten und mörderischen Messer. Ihre Angst wurde zu einer Mischung aus Ekel und Terror. Und ohne im Bett Ruhe zu finden, wurde sie von Vorahnungene erfasst, als es an der Tür klopfte.
"Er ist es!", dachte sie mit klopfendem Herzen.
Sie schon Firmo schon vor sich, betrugen, Jerônimo zum Streit herausfordernd, ihn gleich dort niederstechend. Auf das erste Klopfen antwortete sie nicht. Sie spitzte die Ohren.
Nach einer Zeit klopfte es wieder.
Sie wunderte sich über die Art, wie geklopft wurde. Es war nicht normal, dass der Perversling mit soviel Umsicht vorging. Sie erhob sich, ging zum Fenster, machte einen Flügel auf und schaute durch eine der Lamellen.
"Wer ist da?", fragte sie mit leiser Stimme.
"Ich bin es", sagte Jerônimo und kam näher.
Sie erkannte ihn sofort und lief, ihm zu öffnen.
"Wie?!. Du bist es Jeromo?"
"Pst!", machte er und legte den Finger auf den Mund, "sprich leise.
Rita begann zu zittern. Im Blick des Portugiesen, in seinen vor Blut roten Händen, im ganzen Anblick eines betrunkenen, klatschnassen, schmutzigen Mannes lag der Ausdruck eines Verbrechens.
"Woher kommst du?!", flüsterte sie.
"Von der Vorsorge für unser Leben. Hier hast du das Messer, mit dem ich verletzt wurde!"
Er warf das Messer von Firmo auf den Tisch, das die Mulattin kannte wie ihr Handfläche.
"Und er?"
"Ist tot."
"Wer hat ihn getötet?"
"Ich."
Beide schwiegen.
"Und jetzt", fügte er am Ende eines Schweigens hinzu, nach dem beide verlangte, bin ich zu allem bereit, um mit dir zusammen zu bleiben. Wir gehen von hier weg und irgendwohin, wo es besser ist."
"Und deine Frau?"
"Ich lasse ihr das in all den Jahren angesammelte Ersparte und werde das Schulgeld für die Kleine bezahlen. Ich weiß, dass ich sie nicht verlassen dürfte, aber du kannst versichert sein, dass selbst dann, wenn du nicht mit mir leben willst, ich nicht bei ihr bleiben werde! Ich weiß nicht, ich kann sie nicht mehr ertragen! Wir haben uns auseinander gelebt! Glücklicherweise ist mein Koffer mit den Kleidern noch im Hospital und ich kann ihn morgen abholen.
"Und wo gehen wir hin?"
"An Orten, wo wir hingehen können, besteht kein Mangel! An jedem Ort werden wir gut aufgehoben sein. Ich habe hier bei mir fünfhunderttausend Réis für die ersten Ausgaben. Ich kann bis um fünf hier sein. Es ist halb drei. Ich gehe, ohne dass mich Piedade sieht. Dann benachrichtige ich dich, was ich organisiert habe und du gehst mit mir. Einverstanden? Willst du?"
Rita warf sich ihm als Antwort an den Hals, hing an seinen Lippen, verschlang ihn mit Küssen.
Dieses neue Opfer des Portugiesen, diese extreme Hingabe,die ihn dazu brachte alles zu verlassen, Familie, Würde, Zukunft, alles, alles für sie, beeindruckte sie über alle Maßen. Nach den zwei Überraschungen dieses Tages und dieser Nacht, waren ihre Nerven gespannt und sie wie elektrisiert.
Es gab keinen Zweifel! Dieser Herkules von einem Mannsbild, mit den Muskeln eines Stieres war fähig zu allen Liebkosungen der Zärtlichkeit.
"Nun?", fragte er.
"Ja, ja, mein Bergmann!", antwortete die Baianerin, ihren Mund dicht an seinem. Ich will mit dir gehen. Ich will deine Mulattin sein, der Schatz deines Herzens! Di bist mein Zauber!". Über seinen Körper streichend sagte sie: "Aber du bist ja ganz durchnässt! Warte! Warte! Hier fehlt es nicht an Wäsche für Männer zum Wechseln! Du könntest wieder krank werden, Gott bewahr! Zieh all das nasse Zeug aus! Ich mache den Ofen an und bereite wir liegen alles darauf, was aus Wolle ist, damit du es um fünf wieder anziehen kannst. Zieh die Stiefel aus! Und schau, wie der Hut aussieht! All das wird trocknen! Nimm einen Schluck Schnaps, damit dir warm wird! Der geht dann durch den ganzne Körper! Ich mache Kaffee!"
Jerônimo trank einen Schluck Schnaps, wechselte die Kleidung und streckte sich auf dem Bett von Rita aus.
"Komm her", sagte er mit rauer Stimme.
"Warte! Warte! Der Kaffee ist fast fertig!"
Sie ging zu ihm, brachte ihm die dampfende Schüssel des aromatischen Getränkes, welches die Botschafterin ihrer Liebe war. Setzte sich an den Rand des Bettes, hielt mit der einen Hand die Untertasse und mit der anderen den Becher, half ihm beim trinken, Schluck für Schluck, während seine Augen sie liebkosten, sprühend vor Ungeduld im Vorgeschmack der ersten Verbindung.
Dann zog sie den Rock aus und schmiegte sich, nur mit Hemd bekleidet, an ihren Geliebten, außer sich vor bewußtlosem Verlangen.
Jerônimo, als er sie ganz in ihren Armen fühlte, als er auf seiner Haut das warme Fleisch dieser Brasilianerin fühlte, als er fühlte wie sein Gesicht und die Schultern von Strom aus Orchideen und Tonkabohnen, von den schwarzen und kalten Wellen der Haare der Mulattin überströmt wurde, als er fühlte, wie sich die zwei hervorspringenden und weichen Kugeln gegen den großen und behaarten Hals des Bergmanns drückten und seine Hüften gegen die ihren, schmolz seine Seele dahin, fiebernd und zuckend wie ein Metall im Feuer. Aus dem Mund, aus den Augen, aus allen Poren seines Körpers glühend, wie Kohle, sein eigenes Fleisch verbrennend und ihm stumme Schreie entreissend kamen Schluchzer, die er nicht unterdrücken konnte, die seine Glieder schüttelten, Faser für Faser, in einer extremen Hingabe, übernatürlich, einer Hingabe wie von Teufeln vergewaltigter Engel, wie die rohe Röte von Feuerzungen der Hölle.
Und mit einem Stoß eines wilden Tieres fielen sie erschöpft zurück, keuchend. Sie hatte den Mund geöffnet, die Zunge draußen, die Finger verkrampft, am ganzen Körper zitternd, vom Kopf bis zu den Füßen, ohne Unterlass, als ob sie stürbe, während er durch diese unerwartete Explosion seiner Sinne, sich weit vom Leben entfernt befand. Er tauchte ein in eine köstliche Benommenheit, in der die ganze Welt und seine ganze Vergangenheit wie nichtige Schatten verschwanden. In seinem Bewußtsein gab es nichts mehr, was ihn beengte, keine Erinnerung mehr an sich selbst, ohne Augen, ohne Klang, ohne Ohren, sein ganzes Sein beherrscht von einem klaren, lebendigen, unauslöschlichen Eindruck: Die Berührung jenes warmen und zitternden Fleisches, das er außer sich gegen den Körper drückte und fühlte, wie es unter seinen Händen keuchte und das er ohne Unterlass, ohne zu überlegen, drückte, wie ein Kind, dass schon im Schlaf noch die Brüste liebkost, an denen sie gleichzeitig den Hunger und den Durst gestillt hat, mit dem es auf die Welt kam. |
XVI
A essas horas Piedade de Jesus ainda esperava pelo marido.
Ouvira, assentada impaciente à porta de sua casa, darem oito horas, oito e
meia; nove, nove e meia. "Que teria acontecido, Mãe Santíssima?... Pois o
homem ainda não estava pronto de todo e punha-se ao fresco, mal engolira o
jantar, para demorar-se daquele modo?... Ele que nunca fora capaz de
semelhantes tonteiras!..."
— Dez horas! Valha-me Nosso Senhor Jesus Cristo!
Foi até o portão da estalagem, perguntou a conhecidos que passavam se
tinham visto Jerônimo; ninguém dava noticias dele. Saiu, correu à esquina da
rua; um silêncio de cansaço bocejava naquele resto de domingo; às dez e meia
recolheu-se sobressaltada, com o coração a sair-lhe pela garganta, o ouvido
alerta, para que ela acudisse ao primeiro toque na porta; deitou-se sem tirar a
saia, nem apagar de todo o candeeiro. A ceia frugal de leite fervido e queijo
assado com açúcar e manteiga ficou intacta sobre a mesa.
Não conseguiu dormir: trabalhava-lhe a cabeça, afastando para longe o
sono. Começou a imaginar perigos, rolos, em que o seu homem recebia novas
navalhadas; Firmo figurava em todas as cenas do delírio; em todas elas havia
sangue. Afinal, quando, depois de muito virar de um para outro lado do colchão,
a infeliz ia caindo em modorra, o mais leve rumor lá fora a fazia erguer-se de
pulo e correr à rótula da janela. Mas não era o cavouqueiro, da primeira, nem da
segunda, nem de nenhuma das vezes.
Quando principiou a chover, Piedade ficou ainda mais aflita; na sua
sobreexcitação afigurava-se-lhe agora que o marido estava sobre as águas do
mar, embarcado, entregue unicamente à proteção da Virgem, em meio de um
temporal medonho. Ajoelhou-se defronte do oratório e rezou com a voz
emaranhada por uma agonia sufocadora. A cada trovão redobrava o seu
sobressalto. E ela, de joelhos, os olhos fitos na imagem de Nossa Senhora, sem
consciência do tempo que corria, arfava soluçando. De repente, ergueu-se, muito
admirada de se ver sozinha, como se só naquele instante dera pela falta do
marido a seu lado. Olhou em torno de si, espavorida, com vontade de chorar, de
pedir socorro; as sombras espichadas em volta do candeeiro, tracejando trêmulas
pelas paredes e pelo teto, pareciam querer dizer-lhe alguma coisa misteriosa.
Um par de calças, dependurado à porta do quarto, com um paletó e um chapéu
por cima, representou-lhe de relance o vulto de um enforcado, a mexer com as
pernas. Benzeu-se. Quis saber que horas eram e não pôde; afigurava-se-lhe
terem decorrido já três dias pelo menos durante aquela aflição. Calculou que não
tardaria a amanhecer, se é que ainda amanheceria: se é que aquela noite infernal
não se fosse prolongando infinitamente, sem nunca mais aparecer o sol! Bebeu
um copo d’água, bem cheio, apesar de haver pouco antes tomado outro, e ficou
imóvel, de ouvido atento, na expectativa de escutar as horas de algum relógio da
vizinhança.
A chuva diminuíra e os ventos principiavam a soprar com desespero. Lá de
fora a noite dizia-lhe segredos pelo buraco da fechadura e pelas frinchas do
telhado e das portas; a cada assobio a mísera julgava ver surgir um espectro que
vinha contar-lhe a morte de Jerônimo. O desejo impaciente de saber que horas
eram punha-a doida: foi à janela, abriu-a; uma rajada úmida entrou na sala,
esfuziando, e apagou a luz. Piedade soltou um grito e começou a procurar a
caixa de fósforos, aos esbarrões, sem conseguir reconhecer os objetos que
tateava. Esteve a perder os sentidos; afinal achou os fósforos, acendeu de novo o
candeeiro e fechou a janela. Entrara-lhe um pouco de chuva em casa; sentiu a
roupa molhada no corpo; tomou um novo copo d’água; um calafrio de febre
percorreu-lhe a espinha, e ela atirou-se para a cama, batendo o queixo, e
meteu-se debaixo dos lençóis, a tiritar de febre. Veio de novo a modorra, fechou
os olhos; mas ergueu-se logo, assentando-se no colchão; parecia-lhe ter ouvido
alguém falar lá fora, na rua; o calafrio voltou; ela, trêmula, procurava escutar. Se
se não enganava, distinguira vozes abafadas, conversando, e as vozes eram de
homem; deixou-se ficar à escuta, concheando a mão atrás da orelha; depois
ouviu baterem, não na sua porta, mas lá muito mais para diante, na casa da das
Dores, da Rita, ou da Augusta. "Devia ser o Alexandre que voltava do serviço..."
Quis ir ter com ele e pedir-lhe notícias de Jerôrimo, o calafrio, porém, obrigou-a
a ficar debaixo das cobertas.
Às cinco horas levantou-se de novo com um salto. "Já havia gente lá fora
com certeza!..." Ouvira ranger a primeira porta; abriu a janela, mas ainda estava
tão escuro que se não distinguia patavina. Era uma preguiçosa madrugada de
agosto, nebulosa, úmida; parecia disposta a resistir ao dia. "O senhores! aquela
noite dos diachos não acabaria nunca mais?..." Entretanto, adivinhava-se que ia
amanhecer. Piedade ouviu dentro do pátio, do lado contrário à sua casa, um
zunzum de duas vozes cochichando com interesse. "Virgem do céu! dir-se-ia a
voz do seu homem! e a outra era voz de mulher, credo! Ilusão sua com certeza!
ela essa noite estava para ouvir o que não se dava..." Mas aqueles cochichos
dialogados na escuridão causavam-lhe extremo alvoroço. "Não! Como poderia
ser ele?... Que loucura! se o homem estivesse ali teria sem dúvida procurado a
casa!..." E os cochichos persistiam, enquanto Piedade, toda ouvidos, estalava de
agonia.
— Jeromo! gritou ela.
As vozes calaram-se logo, fazendo o silêncio completo: depois nada mais se
ouviu.
Piedade ficou à janela. As trevas dissolveram-se afinal; uma claridade triste
formou-se no nascente e foi, a pouco e pouco, se derramando pelo espaço. O céu
era uma argamassa cinzenta e gorda. O cortiço acordava com o remancho das
segundas-feiras; ouviam-se os pigarros das ressacas de parati. As casinhas
abriam-se; vultos espreguiçados vinham bocejando fazer a sua lavagem à bica;
as chaminés principiavam a fumegar; recendia o cheiro do café torrado.
Piedade atirou um xale em cima dos ombros e saiu ao pátio; a Machona, que
acabava de aparecer à porta do número 7 com um berro para acordar a família
de uma só vez, gritou-lhe:
— Bons dias, vizinha! Seu marido como vai? melhor?
Piedade soltou um suspiro.
— Ai, não mo pergunte, S’ora Leandra!
— Piorou, filha?
— Não veio esta noite pra casa...
— Olha o demo! Como não veio? Onde ficou ele então?
— Cá está quem não lho sabe responder.
— Ora já se viu?!
— Estou com o miolo que é água de bacalhau! Não preguei olho durante a
noite! Forte desgraça a minha!
— Teria a ele lhe sucedido alguma?...
Piedade pôs-se a soluçar, enxugando as lágrimas no xale de lã; ao passo que
a outra, com a sua voz rouca e forte, que nem o som de uma trompa enferrujada,
passava adiante a nova de que o Jerônimo não se recolhera aquela noite à
estalagem.
— Talvez voltasse pro hospital... obtemperou Augusta, que lavava junto a
uma tina a gaiola do seu papagaio.
— Mas ele ontem veio de muda... contrapôs Leandra.
— E lá não se entra depois das oito horas da noite, acrescentou outra
lavadeira.
E os comentários multiplicavam-se, palpitando de todos os lados, numa boa
disposição para fazer daquilo o escândalo do dia. Piedade respondia friamente às
perguntas curiosas que lhe dirigiam as companheiras; estava triste e sucumbida;
não se lavou, não mudou de roupa, não comeu nada, porque a comida lhe crescia
na boca e não lhe passava da garganta; o que fazia só era chorar e lamentar-se.
— Forte desgraça a minha! repetia a infeliz a cada instante.
— Se vais assim, filha, estás bem arranjada! exclamou-lhe a Machona,
chegando à porta de sua casa a dar dentadas num pão recheado de manteiga.
Que diabo, criatura! O homem não te morreu, pra estares agora ai a carpir desse
modo!
— Sei-o eu lá se me morreu?... disse Piedade entre soluços. Vi tanta coisa
esta noite!...
— Ele te apareceu nos sonhos?... perguntou Leandra com assombro.
— Nos sonhos não, que não dormi, mas vi a modos que fantasmas...
E chorava.
— Ai, credo, filha!
— Estou desgraçada!
— Se te apareceram almas, decerto; mas põe a fé em Deus, mulher! e não te
rales desse modo, que a desgraça pode ser maior! O choro puxa muita coisa!
— Ai, o meu rico homem!
E o mugido lúgubre daquela pobre criatura abandonada antepunha à rude
agitação do cortiço uma nota lamentosa e tristonha de uma vaca chamando ao
longe, perdida ao cair da noite num lagar desconhecido e agreste. Mas o trabalho
aquecia já de uma ponta à outra da estalagem; ria-se, cantava-se, soltava-se a
língua; o formigueiro assanhava-se com as compras para o almoço; os
mercadores entravam e saiam: a máquina de massas principiava a bufar. E
Piedade, assentada à soleira de sua porta, paciente e ululante como um cão que
espera pelo dono, maldizia a hora em que saíra da sua terra, e parecia disposta a
morrer ali mesmo, naquele limiar de granito, onde ela, tantas vezes, com a
cabeça encostada ao ombro do seu homem, suspirava feliz, ouvindo gemer na
guitarra dele os queridos fados de além-mar.
E Jerônimo não aparecia.
Ela ergueu-se finalmente, foi lá fora ao capinzal, pôs-se a andar agitada,
falando sozinha, a gesticular forte. E nos seus movimentos de desespero, quando
levantava para o céu os punhos fechados, dir-se-ia que não era contra o marido
que se revoltava, mas sim contra aquela amaldiçoada luz alucinadora, contra
aquele sol crapuloso, que fazia ferver o sangue aos homens e metia-lhes no
corpo luxúrias de bode. Parecia rebelar-se contra aquela natureza alcoviteira,
que lhe roubara o seu homem para dá-lo a outra, porque a outra era gente do seu
peito e ela não.
E maldizia soluçando a hora em que saíra da sua terra; essa boa terra
cansada, velha como que enferma; essa boa terra tranqüila, sem sobressaltos
nem desvarios de juventude. Sim, lá os campos eram frios e melancólicos, de
um verde alourado e quieto, e não ardentes e esmeraldinos e afogados em tanto
sol e em tanto perfume como o deste inferno, onde em cada folha que se pisa há
debaixo um réptil venenoso, como em cada flor que desabotoa e em cada
moscardo que adeja há um vírus de lascívia. Lá, nos saudosos campos da sua
terra, não se ouvia em noites de lua clara roncar a onça e o maracajá, nem pela
manhã, ao romper do dia, rilhava o bando truculento das queixadas; lá não
varava pelas florestas a anta feia e terrível, quebrando árvores; lá a sucuruju não
chocalhava a sua campainha fúnebre, anunciando a morte, nem a coral esperava
traidora o viajante descuidado para lhe dar o bote certeiro e decisivo; lá o seu
homem não seria anavalhado pelo ciúme de um capoeira; lá Jerônimo seria
ainda o mesmo esposo casto, silencioso e meigo; seria o mesmo lavrador triste e
contemplativo, como o gado que à tarde levanta para o céu de opala o seu olhar
humilde, compungido e bíblico.
Maldita a hora em que ela veio! Maldita! mil vezes maldita!
E tornando à casa, Piedade ainda mais se enraivecia, porque ali defronte, no
número 9, a mulata baiana, a dançadeira de chorado, a cobra assanhada, cantava
alegremente, chegando de vez em quando à janela para vir soprar fora a cinza da
fornalha do seu ferro de engomar, olhando de passagem para a direita e para a
esquerda, a afetar indiferença pelo que não era de sua conta, e desaparecendo
logo, sem interromper a cantiga, muito embebida no seu serviço. Ah! essa não
fez comentários sobre o estranho procedimento de mestre Jerônimo, nem mesmo
quis ouvir noticias dele; pouco arredou o pé de dentro de casa e, nesse pouco
que saiu, foi às pressas e sem dar trela a ninguém.
Nada! que as penas e desgostos não punham a panela no fogo!
Entretanto, ah! ah! ela estava bem preocupada. Apesar do alívio que lhe
trouxera ao espírito a morte do Firmo e a despeito do seu contentamento de
passar por uma vez aos braços do cavouqueiro, um sobressalto vago e opressivo
esmagava-lhe o coração e matava-a de impaciência por atirar-se à procura de
noticias sobre as ocorrências da noite; tanto assim que, às onze horas, mel
percebeu que Piedade, depois de esperar em vão pelo marido, saia aflita em
busca dele, disposta a ir ao hospital, à polícia, ao necrotério, ao diabo, contanto
que não voltasse sem algum esclarecimento, ela atirou logo o trabalho p’ro
canto, enfiou uma saia, cruzou o xale no ombro, e ganhou o mundo, também
disposta a não voltar sem saber tintim por tintim o que havia de novo.
Foi cada uma para seu lado e só voltaram à tarde, quase ao mesmo tempo,
encontrando o cortiço cheio já e assanhado com a noticia da morte do Firmo e
do terrível efeito que esta causara no "Cabeça-de-Gato", onde o crime era
atribuído aos carapicus, contra os quais juravam-se extremas vinganças de
desafronta. Soprava de lá, rosnando, um hálito morno de cólera malsofrida e
sequiosa que crescia com a aproximação da noite e parecia sacudir no ar,
ameaçadoramente, a irrequieta flâmula amarela.
O sol descambava para o ocaso, indefeso, e nu, tingindo o céu de uma
vermelhidão pressaga e sinistra.
Piedade entrou carrancuda na estalagem; não vinha triste, vinha enfurecida;
soubera na rua a respeito do marido mais do que esperava. Soubera em primeiro
lugar que ele estava vivo, perfeitamente vivo, pois fora visto aquele mesmo dia,
mais de uma vez, no Garnisé e na Praia da Saudade, a vagar macambúzio;
soubera, por intermédio de um rondante amigo de Alexandre, que Jerônimo
surgira de manhãzinha do capinzal perto da pedreira de João Romão, o que fazia
crer viesse ele naquele momento de casa, saindo pelos fundos do cortiço;
soubera ainda que o cavouqueiro fora à Ordem buscar a sua caixa de roupa e
que, na véspera, estivera a beber à farta na venda do Pepé, de súcia com o Zé
Carlos e com o Pataca, e que depois seguiram para os lados da praia, todos três
mais ou menos no gole. Sem a menor desconfiança do crime, a desgraçada ficou
convencida de que o marido não se recolhera aquela noite à casa, porque ficara
em grossa pândega com os amigos e que, voltando tarde e bêbedo, dera-lhe para
meter-se com a mulata, que o aceitou logo. "Pudera! Pois se havia muito a
deslambida não queria outra coisa!..." Com esta convicção inchou-lhe de súbito
por dentro um novelo de ciúmes, e ela correu incontinenti para a estalagem,
certa de que iria encontrar o homem e despejaria contra ele aquela tremenda
tempestade de ressentimentos e despeitos acumulados, que ameaçavam
sufocá-la se não rebentassem de vez. Atravessou o cortiço sem dar palavra a
ninguém e foi direito à casa; contava encontrá-la aberta e a sua decepção foi
cruel ao vê-la fechada como a deixara. Pediu a chave à Machona, que, ao
entregá-la, inquiriu sobre Jerônimo e pespegou-lhe ao mesmo tempo a noticia do
assassinato de Firmo.
Com esta nova é que Piedade não contava. Ficou lívida; um pavoroso
pressentimento varou-lhe o espírito como um raio. Afastou-se logo, com medo
de falar, e foi trêmula e ofegante que abriu a porta e meteu-se no número 35.
Atirou-se a uma cadeira. Estava morta de cansaço; não tinha comido nada
esse dia e não sentia fome; a cabeça andava-lhe à roda, as pernas pareciam-lhe
de chumbo.
Seria ele?!... interrogou a si própria.
E os raciocínios começaram a surdir-lhe em massa, ensarilhados,
atropelando-lhe a razão. Não conseguia coordená-los; entre todas uma idéia
insubordinava-se com mais teima, a perturbar as outras, ficando superior, como
uma carta maior que o resto do baralho: "Se ele matou o Firmo, dormiu na
estalagem e não veio ter comigo, é porque então deixou-me de feita pela Rita!"
Tentou fugir a semelhante hipótese; repeliu-a indignada. Não! não era
possível que o Jerônimo, seu marido de tanto tempo, o pai de sua filha, um
homem a quem ela nunca dera razão de queixa e a quem sempre respeitara e
quisera com o mesmo carinho e com a mesma dedicação, a abandonasse de um
momento para outro; e por quem?! por uma não-sei-que-diga! um diabo de uma
mulata assanhada, que tão depressa era de Pedro como de Paulo! uma sirigaita,
que vivia mais para a folia do que para o trabalho! uma peste, que... Não! Qual!
Era lá possível?! Mas então por que ele não viera?... por que não vinha?... por
que não dava noticias suas?... por que fora pela manhã à Ordem buscar a caixa
da roupa?...
O Roberto Papa-Defuntos dissera-lhe que o encontrara às duas da tarde ali
perto, ao dobrar da Rua Bambina, e que até pararam um instante para conversar.
Com mais alguns passos chegado à casa! Seria possível, santos do céu! que o
seu homem estivesse disposto a nunca mais tornar para junto dela?
Nisto entrou a outra, acompanhada por um pequeno descalço. Vinha
satisfeita; estivera com Jerônimo, jantaram juntos, numa casa de pasto; ficara
tudo combinado; arranjara-se o ninho. Não se mudaria logo para não dar que
falar na estalagem, mas levaria alguma roupa e os objetos mais indispensáveis e
que não dessem na vista por ocasião do transporte. Voltaria no dia seguinte ao
cortiço, onde continuaria a trabalhar; à noite iria ter com o novo amante, e, no
fim de uma semana — zás! fazia-se a mudança completa, e adeus coração! —
Por aqui é o caminho! O cavouqueiro, pelo seu lado, mandaria uma carta a João
Romão, despedindo-se do seu serviço, e outra à mulher, dizendo com boas
palavras que, por uma dessas fatalidades de que nenhuma criatura está livre,
deixava de viver em companhia dela, mas que lhe conservaria a mesma estima e
continuaria a pagar o colégio da filha; e, feito isto, pronto! entraria em vida
nova, senhor da sua mulata, livres e sozinhos, independentes, vivendo um para o
outro, numa eterna embriaguez de gozos.
Mas, na ocasião em que a baiana, seguida pelo pequeno, passava defronte
da porta de Piedade, esta deu um salto da cadeira e gritou-lhe:
— Faz favor?
— Que é? resmungou Rita, parando sem voltar senão o rosto, e já a dizer no
seu todo de impaciência que não estava disposta a muita conversa.
— Diga-me uma coisa, inquiriu aquela; você muda-se?
A mulata não contava com semelhante pergunta, assim à queima-roupa;
ficou calada sem achar o que responder.
—Muda-se, não é verdade? insistiu a outra, fazendo-se vermelha.
— E o que tem você com isso? Mude-me ou não, não lhe tenho de dar
satisfações! Meta-se com a sua vida! Ora esta!
— Com a minha vida é que te meteste tu, cigana! exclamou a portuguesa,
sem se conter e avançando para a porta com ímpeto.
— Hein?! Repete, cutruca ordinária! berrou a mulata, dando um passo em
frente.
— Pensas que já não sei de tudo? Maleficiaste-me o homem e agora
carregas-me com ele! Que a má coisa te saiba, cabra do inferno! Mas deixa estar
que hás de amargar o que o diabo não quis! quem to jura sou eu!
— Pula cá pra fora, perua choca, se és capaz!
Em torno de Rita já o povaréu se reunia alvoroçado; as lavadeiras deixaram
logo as tinas e vinham, com os braços nus, cheios de espuma de sabão,
estacionar ali ao pé, formando roda, silenciosas, sem nenhuma delas querer
meter-se no barulho. Os homens riam e atiravam chufas às duas contendoras,
como sucedia sempre quando no cortiço qualquer mulher se disputava com
outra.
— Isca! Isca! gritavam eles.
Ao desafio da mulata, Piedade saltara ao pátio, armada com um dos seus
tamancos. Uma pedrada recebeu-a em caminho, rachando-lhe a pele do queixo,
ao que ela respondeu desfechando contra a adversária uma formidável pancada
na cabeça.
E pegaram-se logo a unhas e dentes.
Por algum tempo lutaram de pé, engalfinhadas, no meio de grande algazarra
dos circunstantes. João Romão acudiu e quis separá-las; todos protestaram. A
família do Miranda assomou à janela, tomando ainda o café de depois do jantar,
indiferente, já habituada àquelas cenas. Dois partidos todavia se formavam em
torno das lutadoras; quase todos os brasileiros eram pela Rita e quase todos os
portugueses pela outra. Discutia-se com febre a superioridade de cada qual
delas; rebentavam gritos de entusiasmo a cada mossa que qualquer das duas
recebia; e estas, sem se desunharem, tinham já arranhões e mordeduras por todo
o busto.
Quando menos se esperava, ouviu-se um baque pesado e viu-se Piedade de
bruços no chão e a Rita por cima, escarranchada sobre as suas largas ancas, a
socar-lhe o cachaço de murros contínuos, desgrenhada, rota, ofegante, os
cabelos caldos sobre a cara, gritando vitoriosa, com a boca correndo sangue:
— Toma pro teu tabaco! Toma, galinha podre! Toma, pra não te meteres
comigo! Toma! Toma, baiacu da praia!
Os portugueses precipitaram-se para tirar Piedade de debaixo da mulata. Os
brasileiros opuseram-se ferozmente.
— Não pode!
— Enche!
— Não deixa!
— Não tira!
— Entra! Entra!
E as palavras "galego" e "cabra" cruzaram-se de todos os pontos, como
bofetadas. Houve um vavau rápido e surdo, e logo em seguida um formidável
rolo, um rolo a valer, não mais de duas mulheres, mas de uns quarenta e tantos
homens de pulso, rebentou como um terremoto. As cercas e os jiraus
desapareceram do chão e estilhaçaram-se no ar, estalando em descarga; ao passo
que numa berraria infernal, num fecha-fecha de formigueiro em guerra, aquela
onda viva ia arrastando o que topava no caminho; barracas e tinas, baldes,
regadores e caixões de planta, tudo rolava entre aquela centena de pernas
confundidas e doidas. Das janelas do Miranda apitava-se com fúria; da rua, em
todo o quarteirão, novos apitos respondiam; dos fundos do cortiço e pela frente
surgia povo e mais povo. O pátio estava quase cheio; ninguém mais se entendia;
todos davam e todos apanhavam; mulheres e crianças berravam. João Romão,
clamando furioso, sentia-se impotente para conter semelhantes demônios. "Fazer
rolo aquela hora, que imprudência!" Não conseguiu fechar as portas da venda,
nem o portão da estalagem; guardou às pressas na barra o que havia em dinheiro
na gaveta, e, armando-se com uma tranca de ferro, pôs-se de sentinela às
prateleiras, disposto a abrir o casco ao primeiro que se animasse a saltar-lhe o
balcão. Bertoleza, lá dentro na cozinha, aprontava uma grande chaleira de água
quente, para defender com ela a propriedade do seu homem. E o rolo a ferver lá
fora, cada vez mais inflamado com um terrível sopro de rivalidade nacional.
Ouviam-se, num clamor de pragas e gemidos, vivas a Portugal e vivas ao Brasil.
De vez em quando, o povaréu, que continuava a crescer, afastava-se em massa,
rugindo de medo, mas tornava logo, como a onda no refluxo dos mares. A
polícia apareceu e não se achou com animo de entrar, antes de vir um reforço de
praças, que um permanente fora buscar a galope.
E o rolo fervia.
Mas, no melhor da lata, ouvia-se na rua um coro de vozes que se
aproximavam das bandas do "Cabeça-de-Gato". Era o canto de guerra dos
capoeiras do outro cortiço, que vinham dar batalha aos carapicus, pra vingar
com sangue a morte de Firmo, seu chefe de malta. | XVI
Zu dieser Stunde wartete Piedade de Jesus noch auf ihren Ehmann.
Sie lauschte ungeduldig an der Tür. Es schlug acht, halb neun, neun, halb zehn. "Was wird wohl, heilige Mutter Gottes, passiert sein? Er war noch nicht ganz gesund, da hatte er sich schon aufgemacht ins Freie. Hatte er nur deswegen so schnell gegessen, um dann länger wegzubleiben? Er, der nie fähig gewesen war, eine solche Dummheit zu begehen!"
"Zehn Uhr! Jesus Christus steh mir bei!"
Sie ging vor die Tür der Mietskaserne und fragt die Bekannte die vorbeikamen, ob sie Jerônimo gesehen hätten. Niemand konnte ihr Auskunft geben. Sie ging raus, rannte zur Straßenecke. Die Schweigen der Müdigkeit gähnte an jenem Rest eines Sonntags. Um halb elf ging sie aufgeregt wieder zurück, mit einem Herz, dass ihr aus dem Hals sprang, die Ohren gespitzt, damit sie beim leisesten Klopfen an der Tür öffnen könnte. Sie legte sich hin, ohne den Rock auszuziehen und ohne die Lampe auszumachen. Das karge Abendessen aus gekochter Milch und gebackenem Käse mit Zucker und Käse blieb unberührt auf dem Tisch.
Sie konnte nicht schlafen: Ihre Gedanken kreisten nur um ein Thema, verhinderten den Schlaf. Sie begann, sich gefährliche Situationen vorzustellen, Auseinandersetzungen, in denen ihr Mann wieder niedergestochen wurde. In all diesen Wahnvorstellungen, spielte Firmo eine Rolle, in allen floss Blut. Als sie schließlich, nachdem sie sich oft von der einen auf die andere Seite der Matraze gewälzt hatte in einen Wachtraum fiel, ließ sie das leiseste Geräusch draußen mit einem Satz aufspringen und an die Lamellen am Fenster springen. Es war aber nicht der Bergmann. Nicht beim ersten, nicht beim zweiten und niemals.
Als es anfing zu regnen, war Piedade noch betrübter. Nervlich angespannt, stellte sie sich jetzt ihren Mann auf dem Wasser des Meeres vor, auf einem Schiff, ganz vom Schutz der heiligen Jungfrau abhängig, inmitten eines schrecklichen Ungewitters. Sie kniete vor dem Hausaltar und betete mit von einer vor Furcht erstickten Stimme. Mit jedem Donnerschlag verdoppelte sich ihre Angst, knieend, die Augen auf die heilige Jungfrau gerichtet, ohne ein Gefühl für die Zeit, die verstrich, keuchte sie schluchzend. Plötzlich richtete sie sich auf, überrascht von der Tatsache, dass sie alleine war, als ob sie erst jetzt das Fehlen ihres Mannes an ihrer Seite bemerkt hätte. Sie schaute um sich, entsetzt, dem Weinen nahe, voller Sehnsucht nach jemandem, den sie um Hilfe bitten könnte. Es schien, als ob die Schatten, die rund um die Lampe flackerten, zitternde Gestalten an die Wände und die Decke warfen, ihr etwas Mysteriöses sagen wollten. Ein paar Hosen, die an der Tür des Zimmers aufgehängt waren, mit einem Mantel und einem Hut darauf, wurde ihr plötzlich zum Umriss eine Gehenkten, der mit den Beinen wackelte. Sie bekreuzigte sich. Sie wollte wissen, wie spät es ist und konnte es nicht. Sie hatte den Eindruck, dass bereits drei Tage seit diesem Schicksalschlag vergangen waren. Sie glaubte, dass es bald wieder dämmern würde, wenn es den jemals wieder eine Dämmerung gäbe. Wenn sich diese Nacht nicht ewig hinziehen würde, ohne dass die Sonne jemals wieder erscheint! Sie trank ein Glas Wasser, gut gefüllt, obwohl sie erst vor kurzem eines getrunken hatte und blieb reglos, lauschte angespannt, in Erwartung irgendwo in der Ferne eine Uhr zu hören, die die Stunde schlägt.
Der Regen wurde schwächer und die Winde fingen an verweifelt zu blasen. Die Nacht draußen teilte ihr durch das Schlüsseloch und durch die Lücken im Dach und der Tür Geheimnisse mit. Bei jedem Pfiff meinte die Unglückliche, dass ein Gespenst käme und ihr den Tod Jerônimos mitteilen würde. Das ungeduldige Verlangen zu wissen, wieviel Uhr es ist, beunruhigte sie tief. Sie ging zum Fenster, öffnete es. Ein feuchter Windstoß drang in das Zimmer, blies das Licht aus. Piedade stieß einen Schrei aus und begann tastend nach der Streichholzschachtel zu suchen, ohne die Objekte, die sie abtastete, zu erkennen. Fast wäre sie ohnmächtig geworden. Schließlich fand sie die Streichhölzer, entzündete die Lampe wieder und schloss das Fenster. Ein bisschen Regen war ins Haus eingedrungen. Sie spürte, dass die Kleidung nass war, nahm ein neues Glas Wasser. Ein Fieberschauer lief über ihren Rücken. Sie warf sich ins Bett, ihr Kinn zitterte. Sie zog die Laken über sich, schlotternd vor Fieber. Wieder verfiel sie in einen Halbschlaf, schloss die Augen, erhob sich dann aber wieder, richtete sich auf der Matraze auf. Es schien ihr, als hätte sie draußen, auf der Straße, jemanden sprechen hören. Wieder setzte der Schüttelfrost ein. Zitternd versuchte sie zu hören. Wenn sie sich nicht irrte, konnte sie flüsternde Stimmen hören die miteinander sprachen und es waren Männerstimmen. Sie verharrte in lauschender Stellung, formte mit den Händen eine Muschel hinter den Ohren. Dann hörte sie das Schlagen von Türen, nicht ihre, sndern viel weiter vorne, bei das Dores, Rita oder Augusta. "Das muss Alexandre sein, der von der Arbeit zurückkommt." Sie wollte zu ihm gehen und ihn um Nachrichten von Alexandre bitten, der Schüttelfrost jedoch, zwang sie unter der Decke zu bleiben.
Um fünf erhob sie sich wieder mit einem Satz. "Jetzt sind sicher schon Leute draußen!" Sie hörte das Krächzen einer Tür, öffnete das Fenster, aber es war noch immer so dunkel, dass man nichts erkennen konnte. Es war ein träger Morgen im August, neblig, feucht. Er schien fähig, dem Tag zu widerstehen. "Herrgott! wir diese verfluchte Nacht denn nie enden?" Unterdessen ahnte man, dass es bald dämmern würde. Piedade hörte im Inneren des Hofe, gegenüber ihres Hauses, ein Summen von Stimmen, die angeregt miteinander flüsterten. "Jungfrau des Himmels! Das könnte die Stimme ihres Mannes sein und die andere ist die Stimme einer Frau, so scheint es! Sicher nur eine Einbildung von ihr! Heute Nacht hörte sie Dinge, die es nicht gibt." Doch dieses geflüsterte Zwiegespräch in der Dunkelheit wühlte sie auf. "Nein! Wie könnte er es sein? Welcher verrückte Gedanke! Wäre es ihr Mann, dann wäre er ohne Zweifel sofort nach Hause gekommen." Und das Geflüstere ging weiter, während Piedade, ganz Ohr, von dem Schmerz fast zerrissen wurde.
"Jeromo!", schrie sie.
Die Stimmen verstummten sofort, es wurde vollkommen still. Danach hörte man nichts mehr.
Piedade blieb am Fenster. Die Dunkelheit löste sich auf. Eine traurige Klarheit formte sich in der Dämemrung und breitete sich dann Stück für Stück im Raum aus. Der Himmell war ein grauer, dicker Mörtel. Die Mietskaserne erwachte mit der Trägheit eines Montags. Man hörte das Gurgeln der Spülungen mit Schnaps. Die Häuschen wurden geöffnet, sich reckende Gestalten kamen gähnend um sich den Mund zu waschen. Die Kamine fingen an zu rauchen, der Geruch von gerösteten Kaffee breitete sich aus.
Piedade zog sich einen Schal um die Schultern und ging auf den Hof. Machona, die gerade an der Nummer 7 auftauchte, wo sie mit einem Schrei ihre Familie aufweckte, rief ihr zu:
"Guten Tag Nachbarin! Wie geht es ihrem Mann? Besser?"
Piedade ließ einen Seufzer vernehmen.
"Ah, fragen Sie mich nicht Frau Leandra!"
"Geht es ihm schlechter, Kind?"
"Er ist heute nicht nach Haus gekommen."
"Teufel auch! Wie, er ist nicht gekommen? Wo war er dann?"
"Das ist es, was niemand Ihnen beantworten kann?"
"Ist er jetzt da?"
"Mein Hirn ist leer! Ich habe die ganze Nacht kein Auge zugemacht! Ich habe ein verdammtes Pech!"
"Ob ihm was zugestoßen ist?"
Piedade fing an zu schluchzen, trochnete sich die Tränen mit dem Wollschaal, während die andere, mit ihrer rauen und starken Stimme einer Trompete die Nachricht, dass Jerônimo diese Nacht nicht nach Hause gekommen war in der Mietskaserne verbreitete.
"Vielleicht ist er ins Hospital zurück gekehrt", wandte Augusta ein, die neben einem Zuber den Käfig ihres Papageien wusch.
"Aber er doch gestern umgezogen", entgegnete Leandra.
"Da kommt man aber nicht nach acht Uhr abends rein", fügte eine andere Wäscherin hinzu.
Die Kommentare nahmen zu, von überall her gab jeder seinen Senf dazu, gewillt das zu Skandal des Tages zu machen. Piedade antwortete kühl auf neugierigen Fragen die die Kolleginnen an sie richteten. Sie war traurig und niedergeschlagen. Sie wusch sich nicht, wechselte nicht ihre Kleider und aß auch nichts, weil das Essen in ihrem Munde anschwoll und nicht durch ihren Schlund ging. Sie weinte nur noch und klagte.
"Ich habe ein verdammtes Pech!", wiederholte sie unaufhörlich.
"So wie du aussiehst, geht es dir wirklich schlecht!", rief Machona, also sie an der Tür ihres Hauses vorbeiging und in ein mit Butter bestrichenes Brot biss.
"Kopf hoch, Kind! Noch ist dein Mann nicht gestorben, es gibt also keinen Grund so zu heulen!"
"Weiß ich ob er gestorben ist?", sagte Piedade unter Schluchzern. Ich habe heute nacht so viel gesehen.
"Er ist dir im Traum erschienen?", fragte Leandra überrascht.
"Im Traum nicht, ich habe ja gar nicht geschlafen, aber ich habe ihn als Gespenst gehsen."
Und sie weinte.
"Das glauch ich Kind!"
"Ich bin unglücklich!"
"Sicher werden dir Seelen erschienen sein. Aber vertau auf Gott und quäl dich nicht so, dann wird alles nur noch schlimmer! Weinen wühlt viele Dinge auf!"
"Mein guter Mann!"
Das düstere Stöhnen jener armen, verlassenen Kreatur gab dem heftigen Gewimmel der Mietskaserne eine klagende und traurige Note, wie von einer Kuh, die aus der Ferne zu hören war, verloren in der Abenddämmerung an einem unbekannten und unwirtlichen Ort. Die Arbeit an den verschiedenen Punkten der Mietskaserne wurde aber schon stärker. Man lachte, sang, spottete übereinander. Der Ameisenhaufen belebte sich mit den Einkäufen für das Mittagessen. Die Händler kamen herein und gingen wieder hinaus. Die Teigmaschinen fingen wieder an zu blasen. Piedade saß auf ihrer Türschwelle, geduldig und heulend wie ein Hund, der auf seinen Herrn wartet. Sie verfluchte die Stunde, als sie ihre Heimat verlassen hatte und wollte auch dort sterben, an jender Schwelle aus Granit, wo sie so oft glücklich seufzte, ihren Kopf angelehnt an die Schulter ihres Mannes, seiner die Fados von jenseits des Meeres weinenden Guitarre.
Und Jerônimo kam nicht.
Schließlich erhob sie sich, ging hinaus auf die Wiese, ging aufgeregt hin- und her, sprach mit sich selbst, heftig gestikulierend. Und man könnte sagen, dass sie nicht gegen den Mann wandte, wenn sie die ihren Gesten der Verzweiflung, also die die geschlossenen Hände zum Himmel erhob, sondern gegen dieses verfluchte die Sinne verwirrende Licht, gegen diese ausschweifende Sonne, das das Blut der Männer zum kochen brachte und in ihren Körper eine Sinnlichkeit von Böcken entstehen ließ. Sie schien gegen verführerische Natur zu rebellieren, die ihr den Mann gestohlen hatte, um ihn einer anderen zu geben, weil die andere ihm gefiel und sie nicht.
Sie verfluchte den Tag, an dem sie ihr Land verlassen hatte, diese schöne müde Land, so alt wie krank. Ja, dort waren die Felder kalt und melancholisch, von hellbrauner Farbe und ruhig, nicht glühend und smaragdfarben und von soviel Sonne und Parfum überwuchert, wie nicht mal in der Hölle, wo unter jedem Blatt, auf das man tritt ein giftiges Reptil ist, wo in jeder Blume, die sich öffnet und in jeder Fliege, die flattert ein geiler Virus ist. Dort, in den melancholischen Feldern ihrer Heimat hörte man nicht in den Nächten mit klarem Mund das knurren der Panther und des Ozelots und morgends, wenn die Sonne aufging, auch nicht das knabbern einer Herde Wildschweine. Dort irrte auch kein hässlicher und schrecklicher Tapir durch die Wälter und knickte Bäume. Die Anaconda zischelte nicht mit ihrer unheilverkündenden, vom Tod kündigenden Glocke, auch keine Kobra, die im Hinterhalt dem unvorstichtigen Reisenden auflauert, um ihm den sicheren und entscheidenden Stich zu geben. Dort, wo ihr Mann nicht durch die Eifersucht eines Capoeira niedergestochen würde. Da wäre Jerônimo noch derselbe keusche und zärtliche Ehemann. Wäre noch der gleiche traurige und nachdenkliche Arbeiter, wie ein Rind, dass am Nachmittag den Blick zum opalfarbenen Himmel hebt, betrübt und biblisch.
Verflucht die Stunde, an der sie gekommen ist! Verflucht und Tausend Mal verflucht!
Als sie nach Hause zurückkehrte, steigerte sich ihr Zorn nochmal, also dort vor der Tür Nummer 9 die Mulattin, die Chorada Tänzerin, die besessene Kobra fröhlich sang, immer wieder am Fenster erscheinend um die Asche aus Kammer ihres Bügeleisens pustete, dabei nach recht und links schauend und Indifferenz gegenüber allem vortäuschend, was sie nichts anging, dann wieder verschwand ohne ihren Gesang zu unterbrechen, ganz in ihre Arbeit vertieft. Ah! Sie machte keine Kommentare über das merkwürdige Verhalten von Meister Jerônimo, wollte nicht mal irgendwelche Neuigkeiten darüber hören. Sie bewegte sich kaum und in den kurzen Momenten, wo sie herauskam, war das nur für eine kurzen Moment, in dem sie auf niemanden achtete.
Die Leiden und der Verdruss bringen den Topf nicht auf's Feuer!
Unterdessen war sie ziemlich beunruhigt. Trotz der Erleichterung, die der Tod von Firmo ihr brachte und trotz des Glückes jetzt endgültig in die Arme des Bergmanns überzugehen, bedrückte eine vage und beengende Angst ihr Herz. Sie verzehrte sich vor Ungeduld vor Verlangen auf der Suche nach Informationen über die Geschehnisse der Nacht. Um elf Uhr, kaum hatte sie gesehen, dass Piedades vergeblich auf ihren Mann wartete und weggegangen war um ihn zu suchen, bereit ins Hospital, zur Polizei, zum Laichenschauhaus, wohin auch immer zu gehen, vorausgesetzt, dass sie nicht zurückkäme, ohne Näheres zu wissen, legte auch sie sofort ihre Arbeit zur Seite, zog einen Rock an, kreuzte den Schal über den Schultern und machte sich auf in die Welt, entschlossen nicht mehr zurückzukehren, bevor sie nicht detailliert wissen würde, was es neues gab.
Jede ging ihres Wege und sie kamen erst abends zurück, fast zur gleichen Zeit und fanden die Mietskaserne in Aufruhr wegen des Todes von Firmo und den schrecklichen Effektes, welcher dessen Tod m "Kopf der Katze" gemacht hatte, wo man das Verbrechen den Silberlingen zurechnete, gegen die man schreckliche Rache geschworen hatte. Von dort blies, fluchend, ein lauer Hauch von aufgestauter, gieriger Wut, der mit dem Herannahen der Nacht anstieg und die Luft zu erschüttern schien, eine drohende und unruhige Flamme.
Die Sonne fiel in die Dämemrung, kraftlos und nackt, färbte den Himmel mit rötlichen und unheilvoller Vorahnung.
Piedade kehrte zornig in die Mietskaserne zurück. Sie war nicht traurig, sie war wütend. Sie hatte auf der Straße mehr von ihrem Mann erfahren, als sie gehofft hatte. Sie hatte vor allem erfahren, dass er noch lebte, sogar sehr lebendig war, weil er an diesem Tag mehr als einmal im Garnisé und am Strand da Saudade gesehen worden war, betrübt umherirrend. Durch einen Freund von Alexandre, der gerade auf Streife war, hatte sie erfahren, dass Jerônimo am frühen Morgen auf der Wiese in der Nähe des Steinbruchs von João Romão aufgetaucht war, was vermuten ließ, dass er in diesem Moment die Mietskaserne durch die Hintertür verlassen hatte. Sie hatte des weiteren erfahren, dass der Bergmann ins Hospital gegangen war, um seinen Kleiderkoffer abzuholen, und dass er am vorabend in der Kneipe do Pepé war und sich, in Gesellschaft von Zé Carlos und Pataca ordentlich gebechert hatte und dass sie dann in Richtung des Strandes gegangen waren, alle drei mehr oder weniger betrunken. Ohne die leiseste Ahnung von dem Verbrechen zu haben, war die Unglückliche überzeugt, dass der Gatte in jener Nacht nicht nach Hause gekommen war, weil er sich mit seinen Freunden herumgetrieben hattte, und dass er, als er spät und betrunken zurück kam, es ihm gefiel, sich mit der Mulattin einzulassen, die sofort einverstanden war. "So war es! Das wollte die Schamlose schon lange!" Nachdem sie zu dieser Überzeugung gelangt war, wuchs in ihrem Innern plötzlich ein ganzes Bündel an Eifersucht und sie rannte sofort zur Mietskaserne, sicher, dass sie dort den Mann antreffen würde und ihm ihre ganze Wut und agestaute Verbitterung, die sie zu ersticken wenn nicht sogar zum explodieren brachte, würde ins Gesicht schreien können. Sie durchquerte die Mietskaserne und ging direkt, ohne ein Wort zu irgendjemandem zu sagen, zu ihrem Haus. Sie rechnete damit, dass die Tür offen stünde und war enttäuscht, als diese so verschlossen war, wie als sie fortging. Sie bat Machona um den Schlüssel, die, als sie ihn ihr gab, sie nach Jerônimo fragte und sie gleichzeitig mit der Nachricht über den Mord an Firmo überrumpelte.
Mit dieser Nachricht hatte Piedade nicht gerechnet. Sie wurde blass. Eine schreckliche Vorahnung durchzuckte ihren Gehirn wie ein Blitz. Sie entfernte sich sofort, hatte Angst zu sprechen, zitternd und keuchend öffnete sie die Tür undd zog sich in die Nummer 35 zurück.
Sie ließ sich auf einen Stuhl fallen. Sie war todmüde. Sie hatte an diesem Tag noch nichts gegessen und hatte keinen Hunger. Ihr schwirrte der Kopf, ihre Beine schienen aus Blei.
"War er es gewesen?!", fragte sie sich.
Die Gedanken fingen an in Massen aus ihr hervorzusprudeln, wild durcheinander, ihren Sinn verwirrend. Sie schaffte es nicht, da Ordnung hineinzubringen. Unter all diesen schob sich eine Idee in den Vordergrund, unterdrückte die anderen, setzte sich auf sie, wie die oberste Karte auf den Rest des Stapels: "Wenn er Firmo getötet hatte, dann hatte er in der Mietskaserne geschlafen und kam nicht zu mir, dann hat er mich tatsächlich wegen Rita verlassen!"
Sie versuchte, diese Gedanken zu unterdrücken. Wies ihn entrüstet ab. Nein, nein, es war nicht möglich, Jerônimo, der schon seit so lange ihr Mann war, der Vater ihrer Tochter, ein Mann, dem sie nie Grund zur Klage gegeben hatte und den sie immer respektiert und geliebt hatte mit derselben Zärtlichkeit, sie von einem Moment auf den anderen wegen einer anderen verließ. Und wegen wem? Für eine Tunichtgut, ein Teufel von einer besessenen Mulattin, die so eilig zu Pedro wie zu Paulo rannte, eine Verführerin, die mehr Spaß am feiern fand als an der Arbeit! Ein Elend, das... Nein! Was! War das möglich?! Aber warum kam er nicht? Warum kam er nicht? Warum schickte er keine Nachricht? Warum ist er am Morgen ins Hospital gegangen um seinen Kleiderkoffer abzuholen?"
Der Leichenbestatter hatte ihr gesagt, dass sie ihn später dort treffen würde, an der "Ecke Rua Bambina. Sie verweilten sogar einen Moment um miteinander zu reden. Noch ein paar Schritte bis nach Hause! Ist es möglich, Herrgott im Himmel, dass der Gatte in der Lage wäre, nie mehr zu ihr zurück zu kommen?
Unterdessen kam die andere, begleidet von einem kleinen, barfüßigen Jungen. Sie war zufrieden. Sie war mit Jerônimo zusammen gewesen, in einer Kantine. Es war alles geregelt. Mit dem Kind war alles geregelt. Sie würde nicht sofort umziehen, damit es kein Gerede in der Mietskaserne gäbe, sie würde einige Kleider und das allernötigste, was keine Aufmerksamkeit beim transport erregt, mitnehmen. Sie würde am nächssten Tag in die Mietskaserne zurückkommen, wo sie weiterhin arbeiten würde und nachts wäre sie bei ihrem neuen Geliebten und nach einer Woche, auf einen Schlag, würde sie ganz umziehen und tschüss mein Herz. Das ist der Weg! Der Bergmann seinerseits würde João Romãoeine eine Karte schicken und kündigen und eine andere an seine Frau, wo er ihr in schönen Worten sagen wird, dass aufgrund der Wege des Schicksals, vor denen niemand gefeit ist, er nicht mehr ihr leben wird, dass er sie aber immer achten wird und das Schulgeld für die Tochter bezahlen wird. Nachdem dies erledigt sein würde, würde ein neues Leben beginnen, als Gatte der Mulattin, frei und alleine, unabhängig, einer für den anderen da sein, in einer ewigen Trunkenheit der Lust.
Als jedoch die Baianerin, gefolgt von dem Kleinen, an der Tür von Piedade vorbei ging, sprang diese vom Stuhl auf und rief ihr zu:
"Bitte?"
"Was ist?", brummte Rita, ohne ihr auch nur das Gesicht zuzuwenden und schon im Begriff ihr ungeduldig zu sagen, dass sie keine Zeit habe für ein Gespräch.
"Sag mir eine Sache", fragte jene, "wirst du umziehen?"
Mit eine solchen Frage hatte die Baianerin, so offen heraus, nicht gerechnet.
"Du ziehst um, stimmt's?", insistierte die andere und wurde rot.
"Und was geht dich das an? Egal ob ich umziehe oder nicht, ich bin dir keine Rechenschaft schuldig! Kümmere dich um deinen Kram! Es wird Zeit!"
"Du bist es, die sich in mein Leben eingemischt hat Zigeunerin!", rief die Portugiesin, ohne sich zu beherrschen und sich schnell auf die Tür zu bewegend.
"Was?! Wiederhol das nochmal, du ordinäre Vogelscheuche!", schrie die Mulattin und machte einen Schritt nach vorne.
"Denkst du ich weiß nicht schon alles? Du hast mir den Mann verdorben und nimmst ihn mir nun weg! Wie dumm du bist, Ziege der Hölle! Lass, aber warte nur, du wirst noch so hässlich, dass der Teufel dich nicht will. Das schwöre ich dir!"
"Mach dich vom Acker, du hässliche Nutte, wenn das möglich ist!"
Um Rita herum versammelte sich schon der aufgewühlte Pöbel. Die Wäscherinnen ließen sofort die Zuber stehen, kamen mit nackten Armen, voll von Seifenschaum, und blieben dort stehen, bildeten einen Kreis, ruhig, ohne dass eine von ihnen sich in den Krach einmischen wollte. Die Männer lachten verspotteten die zwei Streitenden, wie es immer passierte, wenn in der Mietskaserne eine Frau mit einer anderen stritt.
"Beiß zu! Beiß zu!", schrieen sie.
Auf die Drohgebärde der Mulattin hin sprang Piedade auf den Hof, bewaffnet mit einem ihrer Holzschuhe. Auf dem Weg traf sie ein Steinschlag, der ihr die Haut am Kinn aufriss und auf den sie antwortete, indem sie auf die Gegnerin einen heftigen Schlag auf den Kopf niederprasseln ließ.
Dann droschen sie mit Nägeln und Zähnen aufeinander ein.
Eine zeitlang kämpften sie im stehen, sich umklammernd, inmitten des Geschreis der Umherstehenden. João Romão rannte hierbei und wollte sie trennen, wogegen alle protestierten. Die Familie von Miranda erschien am Fenster, tranken dort noch den Kaffee nach dem Essen, gleichgültig, da sie an solche Szenen schon gewohnt waren. Zwei Parteien bildeten sich um die Kämpfenden herum. Fast alle Brasilianer waren auf der Seite von Rita und fast alle Portugiesen auf der Seite der anderen. Man diskutierte eifrig darüber, welche der beiden die Oberhand hatte. Bei jedem Schlag, den irgendeine der beiden empfing, ertönte enthusiastisches Gebrüll. Die beiden hatten schon, ohne sich voneinander zu trennen, Kratzer und Bisse am ganzen Oberkörper.
Als man es am wenigsten erwartet hatte, hörte man einen dumpfen Aufprall und sah Piedade mit dem Gesicht zuerst zu Boden gehen und Rita, mit wirrem Haar, aufgelöst und keuchend, obendrauf, rittlings auf den breiten Hüften sitzend und mit Schlägen auf ihre Brust hämmernd, ihren Sieg verkündend, den Mund voller Blut.
"Kassier deine Strafe! Nimm du vergammeltes Huhn! Nimm, damit du dich nie wieder mit mir anlegst! Nimm! Du aufgeblasener Strandfisch!"
Die Portugiesen rannten herbei um Piedade unter der Mulattin wegzuziehen, wogegen die Brasilianer wild opponierten.
"Das geht nicht!"
"Weitermachen!"
"Hör auf!"
"Nicht unterbrechen!"
"Weiter! Weiter!"
Die Wörter Portugiese und Ziege kreuzten sich von allen Punkten wie Ohrfeigen. Es gab ein kurzes, stummes Hin und Her und dann exlodierte wie Gewitter ein handfester Krach, ein beachtlicher Krach, jetzt nicht mehr nur der zwischen zwei Frauen, sondern von mehr als vierzig hitzigen Menschen. Die Gatter und die Latten verschwanden vom Boden und zersplitterten in der Luft, bersteten als sie niedergingen. Unter einem höllischen Geschrei, im Gewimmel eines Ameisenhaufens im Krieg, riss diese lebende Welle alles nieder, was sich auf ihrem Weg befand. Gerüste und Bottiche, Eimer, Gießkannen, Pflanzenkästenn, alles wirbelte zwischen den Hundert vermischten und schmerzenden Beinen hin und her. Vom Fenster von Miranda ertönten wütende Pfiffe. Von der Straße, aus dem ganzen Viertel, antworteten neue Pfiffe. Aus dem hinteren Bereich der Mietskaserne und von vorne erschien immer mehr Volk. Der Hof war fast voll. Niemand verstand mehr irgendwas. Alle teilten aus und steckten ein. Frauen und Kinder schriien. João Romão, wütend brüllend, sah sich außerstande diese Dämonen zurückzuhalten. "Um diese Uhrzeit so einen Aufruhr zu veranstalten, was für eine Dummheit." Er konnte weder die Tür zur Kneipe schließen, noch das Tor zur Mietskaserne. Er verstaute in aller Eile im Tresor das Geld, das in der Schublade war und stellte sich mit einem Eisenstab bewaffnet neben die Geschirrregale, bereit dem ersten den Schädel einzuschlagen, der es wagen würde ihm auf den Tresen zu springen. Bertoleza stand in der Küche mit einem Kübel heißen Wassers bereit, das Eigentum ihres Mannes zu verteidigen. Das Feuer des Aufruhrs draußen wurde durch die Brise der nationalen Rivalität immer stärker entfacht. Man hörte unter den Flüchen und dem Gebrüll "Hoch lebe Portugal" und "Hoch lebe Brasilien". Von Zeit zu Zeit entfernte sich der Pöbel, der an Masse zunahm, brüllend vor Angst , kam dann aber wie die Flut der Meere zurück. Die Polizei erschien, fand aber nicht den Mut, einzudringen, bevor nicht eine Verstärkung kam, die ein Wachmann eilig herbeigerufen hatte.
Der Aufruhr war wie im Fieberwahn.
Als er aber seinen Höhepunkt erreicht hatte, hörte man auf der Straße einen Chor von Stimmen der Bande von "Kopf der Katze", der sich näherte. Es war der Kriegsgesang der Capoeiras der anderen Mietskaserne, die gekommen waren, um gegen die Silberlinge eine Schlacht zu schlagen und sich für den Tod von Firmo, der Chef der Bande, blutig zu rächen. |
XVII
Mal os carapicus sentiram a aproximação dos rivais, um grito de alarma
ecoou por toda a estalagem e o rolo dissolveu-se de improviso, sem que a
desordem cessasse. Cada qual correu à casa, rapidamente, em busca do ferro, do
pau e de tudo que servisse para resistir e para matar. Um só impulso os impelia a
todos; já não havia ali brasileiros e portugueses, havia um só partido que ia ser
atacado pelo partido contrário; os que se batiam ainda há pouco emprestavam
armas uns aos outros, limpando com as costas das mãos o sangue das feridas.
Agostinho, encostado ao lampião do meio do cortiço, cantava em altos berros
uma coisa que lhe parecia responder à música bárbara que entoavam lá fora os
inimigos; a mãe dera-lhe licença, a pedido dele, para pôr um cinto de Nenen, em
que o pequeno enfiou a faca da cozinha. Um mulatinho franzino, que até ai não
fora notado por ninguém no São Romão, postou-se defronte da entrada, de mãos
limpas, à espera dos invasores; e todos tiveram confiança nele porque o ladrão,
além de tudo, estava rindo.
Os cabeças-de-gato assomaram afinal ao portão. Uns cem homens, em que
se não via a arma que traziam. Porfiro vinha na frente, a dançar, de braços
abertos, bamboleando o corpo e dando rasteiras para que ninguém lhe estorvasse
a entrada. Trazia o chapéu à ré, com um laço de fita amarela flutuando na copa.
— Agüenta! Agüenta! Faz frente! clamavam de dentro os carapicus.
E os outros, cantando o seu hino de guerra, entraram e aproximaram-se
lentamente, a dançar como selvagens.
As navalhas traziam-nas abertas e escondidas na palma da mão.
Os carapicus enchiam a metade do cortiço. Um silêncio arquejado sucedia à
estrepitosa vozeria do rolo que findara. Sentia-se o hausto impaciente da
ferocidade que atirava aqueles dois bandos de capoeiras um contra o outro. E, no
entanto, o sol, único causador de tudo aquilo, desaparecia de todo nos limbos do
horizonte, indiferente, deixando atrás de si as melancolias do crepúsculo, que é a
saudade da terra quando ele se ausenta, levando consigo a alegria da luz e do
calor.
Lá na janela do Barão, o Botelho, entusiasmado como sempre por tudo que
lhe cheirava a guerra, soltava gritos de aplauso e dava brados de comando
militar.
E os cabeças-de-gato aproximavam-se cantando, a dançar, rastejando alguns
de costas para o chão, firmados nos pulsos e nos calcanhares.
Dez carapicus saíram em frente; dez cabeças-de-gato se alinharam defronte
deles.
E a batalha principiou, não mais desordenada e cega, porém com método,
sob o comando de Porfiro que, sempre a cantar ou assoviar, saltava em todas as
direções, sem nunca ser alcançado por ninguém.
Desferiram-se navalhas contra navalhas, jogaram-se as cabeçadas e os
voa-pés. Par a par, todos os capoeiras tinham pela frente um adversário de igual
destreza que respondia a cada investida com um salto de gato ou uma queda
repentina que anulava o golpe. De parte a parte esperavam que o cansaço
desequilibrasse as forças, abrindo furo à vitória; mas um fato veio neutralizar
inda uma vez a campanha: imenso rebentão de fogo esgargalhava-se de uma das
casas do fundo, o número 88. E agora o incêndio era a valer.
Houve nas duas maltas um súbito espasmo de terror. Abaixaram-se os ferros
e calou-se o hino de morte. Um clarão tremendo ensangüentou o ar, que se
fechou logo de fumaça fulva.
A Bruxa conseguira afinal realizar o seu sonho de louca: o cortiço ia arder;
não haveria meio de reprimir aquele cruento devorar de labaredas. Os
cabeças-de-gato, leais nas suas justas de partido, abandonaram o campo, sem
voltar o rosto, desdenhosos de aceitar o auxilio de um sinistro e dispostos até a
socorrer o inimigo, se assim fosse preciso. E nenhum dos carapicus os feriu
pelas costas. A luta ficava para outra ocasião. E a cena transformou-se num
relance; os mesmos que barateavam tão facilmente a vida, apressavam-se agora
a salvar os miseráveis bens que possuíam sobre a terra. Fechou-se um entra-e-sai
de maribondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e
mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de
doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados.
Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças
esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão
saiam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se
espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe?
Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as
chamas.
Os sinos da vizinhança começaram a badalar.
E tudo era um clamor.
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa.
Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha,
reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e
abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria
saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as
feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a
sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.
Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa
incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas.
Os sinos continuavam a badalar aflitos. Surgiam aguadeiros com as suas
pipas em carroça, alvoroçados, fazendo cada qual maior empenho em chegar
antes dos outros e apanhar os dez mil-réis da gratificação. A polícia defendia a
passagem ao povo que queria entrar. A rua lá fora estava já atravancada com o
despojo de quase toda a estalagem. E as labaredas iam galopando desembestadas
para a direita e para a esquerda do número 88. Um papagaio, esquecido à parede
de uma das casinhas e preso à gaiola, gritava furioso, como se pedisse socorro.
Dentro de meia hora o cortiço tinha de ficar em cinzas. Mas um fragor de
repiques de campainhas e estridente silvar de válvulas encheu de súbito todo o
quarteirão, anunciando que chegava o corpo dos bombeiros.
E logo em seguida apontaram carros à desfilada, e um bando de demônios
de blusa clara, armados uns de archotes e outros de escadilhas de ferro,
apoderaram-se do sinistro, dominando-o incontinenti, como uma expedição
mágica, sem uma palavra, sem hesitações e sem atropelos. A um só tempo
viram-se fartas mangas d’água chicoteando o fogo por todos os lados; enquanto,
sem se saber como, homens, mais ágeis que macacos, escalavam os telhados
abrasados por escadas que mal se distinguiam; e outros invadiam o coração
vermelho do incêndio, a dardejar duchas em torno de si, rodando, saltando,
piruetando, até estrangularem as chamas que se atiravam ferozes para cima
deles, como dentro de um inferno; ao passo que outros, cá de fora,
imperturbáveis, com uma limpeza de máquina moderna, fuzilavam de água toda
a estalagem, número por número, resolvidos a não deixar uma só telha enxuta.
O povo aplaudia-os entusiasmado, já esquecido do desastre e só atenção
para aquele duelo contra o incêndio. Quando um bombeiro, de cima do telhado,
conseguiu sufocar uma ninhada de labaredas, que surgia defronte dele, rebentou
cá debaixo uma roda de palmas, e o herói voltou-se para a multidão, sorrindo e
agradecendo.
Algumas mulheres atiravam-lhe beijos, entre brados de ovação. | XVII
Kaum hatten die Silberlinge das nahen der Rivalen wahr genommen, schallte ein Alarm durch die ganze Mietskaserne und der Aufruhr löste sich plötzlich auf, ohne dass das Durcheinander hierdurch beendet gewesen wäre. Jeder rannte nach Hause, schnell, auf der Suche nach einem Eisenstab, einer Holzstange und alles was sonst noch zur Verteidigung und zum töten dienen konnte. Eine einzige Kraft trieb sie alle an. Jetzt gab es keine Brasilianer und Portugiesen mehr, es gab nur noch eine Partei, die von der Gegenpartei angegriffen wurde. Die, die sich bis vor kurzem noch bekämpft hatten, liehen sich jetzt gegenseitig Waffen, während sie mit dem Handrücken das Blut von den Wunden wischten.
Agostinho, gelehnt an die Laterne in der Mitte der Mietskaserne, sang in hohen Schreien irgendwas, was ihm zu der barbarischen Musik die der Feind draußen intonierte passend schien. Die Mutter gab ihm, auf seine Bitte hin, die Erlaubnis,eine Binde von Nenen umzubinden, in die der Kleine ein Küchenmesser steckte. Ein kleiner, zarte Mulatte, den bis jetzt noch niemand in São Romão bemerkt hatte, postierte sich vor dem Eingang, mit sauberen Sänden, in Erwartung der Invasoren. Alle vertrauten ihm, weil der Dieb, egal was passierte, lächelte.
Schließlich erschienen die Köpfe-der-Katze am Tor. Etwa hundert Männer, bei denen man nicht sah, welche Waffen sie bei sich trugen. Porfiro war ihr Anführer, tanzte, mit offenen Armen, mit schaukelndem Körper, wandt sich, damit niemand ihm am Zutritt hindere. Er trug eine Melone mit einem gelben Schleifenband am Becher.
"Nicht zurück weichen! Nicht zurück weichen!", riefen von ihnen die Silberlinge.
Die anderen, ihr Kampflied singend, gingen vorwärts und näherten sich langsam, wie Wilde tanzend.
Die Messer lagen aufgeklappt und versteckt in ihren Handflächen.
Die Silberlinge füllten die Hälfte der Mietskaserne.Eine keuchende Stille folgte auf das lärmende Gebrüll des Aufruhrs, der beendet war. Man fühlte die vor Wildheit ungeduldige Gier, die diese beiden Banden von Capoeiras gegenseitig anzog. Die Sonne jedoch, die einzige Ursache all dessen, verschwand hinter dem Horizont, gleichgültig, ließ hinter sich die Melancholie der Abenddämmerung zurück, die die Sehnsucht der Erde ist, wenn sie nicht da ist, nahm mit sich die Fröhlichkeit des Lichts und der Wärme.
Oben am Fenster des Barons, bejubelte Botelho, wie immer begeistert von allem, was ihm nach Krieg roch, das Geschehen und gab militärische Befehle.
Die Köpfe-der-Katze näherten sich singend und tanzend, einige auf dem Boden kriechend, mit den Handgelenken an den Fersen.
Zehn Silberlinge gingen nach vorne, zehn Köpfe-der-Katze stellten sich vor ihnen auf.
Und der Kampf begann. Aber nicht unkoordiniert und blind, sondern mit Methode, unter dem Kommando von Porfiro, der, immer singend oder pfeifend, in alle Richtungen sprang, ohne jemals von irgendjemandem gefasst zu werden.
Messer zuckten gegen Messer, Schläge mit den Köpfen und Fußtritte wurden ausgetauscht. Mann gegen Mann, jeder capoeira hatte einen Gegner vor sich von gleicher Geschicklichkeit, der auf jeden Angriff mit einem Katzensprung oder einem plötzlichen Wegducken antwortete und den Schlag ins Leere laufen ließ. Auf beiden Seiten wartete man, dass die Erschöpfung die Kräfte unausgeglichen macht und so die Öffnung zum Sieg bereitet. Aber ein Ereignis stoppte endgültig den Marsch. Ein riesiger Feuerherd wuchs in einem der hinteren Häuser, in der Nummer 88. Noch konnte der Brand verhindert werden.
Beide Banden durchdrang plötzlich ein Zucken des Schreckens.Sie ließen die Eisen sinken und die Hymne des Todes verstummte. Ein schreckliches Leuchten färbte die Luft rot, um dann zu einer hellen Rauchwolke zu werden.
Die Hexe hatte schließlich ihren Traum einer Verrückten verwirklicht. Die Mietskaserne brannte. Es gab kein Mittel die grausame Verschlingen der Feuerzungen zu verhindern. Die Köpfe-der-Katzen, sich treu an die Regeln ihrer Bande haltend, verließen ohne den Blick nach hinten zu richten das Feld, lehnten es ab die Hilfe eines Unglücksfalles anzunehmen und waren sogar bereit, dem Feind zur Hilfe zu eilen, wenn dies nötig wäre. Kein Silberling verletzte sie von hinten. Der Kampf war auf einen anderen Zeitpunkt verschoben. Plötzlich hatte sich die Szene gewandelt. Dieselben die so leicht ihr Leben hingaben, beeilten sich jetzt die elenden Besitztümer, die sie auf der Erde besaßen, zu retten. Es entstand ein kommen und gehen von Leuten vor den 100 Häusern, die vom Feuer bedroht waren. Männer und Frauen rannten hierhin und dorhin mit dem Plunder auf der Schulter, in einem entsetzen Aufregung. Der Hof und die Straße füllten sich mit alten Betten und zerschlissenen Matrazen. Niemand konnte sich in diesem Gesumme aus Schreien ohne Zusammenhang, im Heulen der entsetzten Kinder, in den von Schmerz und Verzweiflung hervorgerufenen Schreien noch orientieren. Aus dem Haus den Barons kamen Schreie wie von Sinnen. Man hörte die spitzen Schreie von Zulmira die einen Anfall erlitt. Es setzte die Zufuhr von Wasser ein. Wer hatte es gebracht? Niemand konnte es sagen, aber man sah lauter Eimer, die über den Flammen ausgeschüttet wurden.
Die Glocken der Nachbarschaft fingen an zu läuten.
Es war ein einziger Krach.
Die Hexe erschien am Fenster ihres Hauses, mit einem Mund wie ein glühender Backofen. Sie war schrecklich anzusehen. Noch nie war sie so einer Hexe ähnlich. Ihre helle braune Haut einer alten Mestizin glänzte wie Metal in der Glut. Ihre schwarze Mähne, zerzaust, glatt und üppig wie das wilder Stuten, gaben ihr das fantastische Aussehen einer der Hölle entsprungenen Furie. Sie lachte, trunken vor Zufriedenheit, ohne die Verbrennungen und die Wunden zu spüren, siegreich inmitten dieser Orgie an Feuer, von der ihre extravagante Seele einer Verrückten in letzter Zeit ständig träumte.
Sie war im Begriff ins Freie zu flüchten, als man hörte wie die Dachgebälk des Hauses in Flammen auf einmal einstürzte und die Verrückte unter einem Berg von Glut begrub.
Die Glocken läuteten traurig weiter. Es kamen die Wasserlieferanten mit ihren Tanks, aufgeregt, wobei jeder sich bemühte vor den anderen da zu sein umd die zehntausend Réis Belohnung zu erhalten. Die Polizei untersagte dem Volk den Durchgang zur Mietskaserne. Die Straße da draußen war schon barrikadiert mit der Plünderung fast der ganzen Mietskaserne. Die Feuerzungen galoppierten ungebremst nach rechts und links der Nummer 88. Ein Papagei, der an einer Wand der Häusschen vergessen worden war und im Käfig gefangen war, schrie entsetzt, also ob er nach Hilfe schreien wollte.
Innerhalb einer halben Stunde würde von der Mietskaserne nur noch Asche übrigbleiben. Doch ein Klingeln von Glocken und ein schrilles Pfeifen von Hupen erfüllte plötzlich das ganze Viertel, kündigte an, dass ein Zug der Feuerwehr anrückte.
Und gleich darauf positionierten sie Fahrzeuge in einer Linie und eine Bande Dämonen bekleidet mit einem hellen Hemd, bewaffnet mit Fackeln und anderen Werkzeugen aus Eisen, bemächtigten sich des Un
glücks, beherrschten es unverzüglich, wie eine magische Abordnung, ohne ein Wort, ohne zu zögern und ohne zu stolpern. In Windeseile sah man volle Wasserschläuche das Feuer von allen Seiten eindämmen, während, ohne dass man wüsste wie, Männer, agiler noch als Affen, über Leitern, die man kaum sehen konnte, auf die glühenden Dächer steigen. Andere drangen in das rote Herz des Brandes vor, um sich sprühend, sich drehend, springend, Pirouetten schlagend, bis sie die Flammen, die sich wild wie in der Hölle über sie erhoben, erstickt hatten. Unterdessen ander, von außen, unerschütterlich, mit der Gründlichkeit einer modernen Maschine, die ganze Mietskaserne mit Wasser berieselten, Nummer für Nummer, entschlossen keinen einzigen Ziegel trocken zu lassen.
Das Volk applaudierte mit Enthusiasmus, hatte das Unglück schon vergesen und seine ganze Aufmerksamkeit galt nur noch diesem Kampf gegen das Feuer. Als ein Feuerwhrmann, oben auf dem Dach, ein Nest von Flammen, das vor ihm aufgetaucht war, zu ersticken, erhob sich unten Applaus und der Held wandte sich der Menge zu, lächelnd und sich bedankend.
Einige Frauen warfen ihm, unter brausendem Applaus, Kusshände zu. |
XVIII
Por esse tempo, o amigo de Bertoleza, notando que o velho Libório, depois
de escapar de morrer na confusão do incêndio, fugia agoniado para o seu
esconderijo, seguiu-o com disfarce e observou que o miserável, mal deu luz à
candeia, começou a tirar ofegante alguma coisa do seu colchão imundo.
Eram garrafas. Tirou a primeira, a segunda, meia dúzia delas. Depois puxou
às pressas a coberta do catre e fez uma trouxa. Ia de novo ganhar a saída, mas
soltou um gemido surdo e caiu no chão sem força, arrevessando uma golfada de
sangue e cingindo contra o peito o misterioso embrulho.
João Romão apareceu, e ele, assim que o viu, redobrou de aflição e
torceu-se todo sobre as garrafas, defendendo-as com o corpo inteiro, a olhar
aterrado e de esguelha para o seu interventor, como se dera cara a cara com um
bandido. E, a cada passo que o vendeiro adiantava, o tremor e o sobressalto do
velho recresciam, tirando-lhe da garganta grunhidos roucos de animal batido e
assustado. Duas vezes tentou erguer-se; duas vezes rolou por terra moribundo.
João Romão objurgou-lhe que qualquer demora ali seria morte certa: o incêndio
avançava. Quis ajudá-lo a carregar o fardo. Libório, por única resposta,
arregaçou os beiços, mostrando as gengivas sem dentes e tentando morder a mão
que o vendeiro estendia já sobre as garrafas.
Mas, lá de cima, a ponta de uma língua; de fogo varou o teto e iluminou de
vermelho a miserável pocilga. Libório tentou ainda um esforço supremo, e nada
pôde, começando a tremer da cabeça aos pés, a tremer, a tremer, grudando-se
cada vez mais à sua trouxa, e já estrebuchava, quando o vendeiro lha arrancou
das garras com violência. Também era tempo, porque, depois de insinuar a
língua; o fogo mostrou a boca e escancarou afinal a goela devoradora.
O tratante fugiu de carreira, abraçado à sua presa, enquanto o velho, sem
conseguir pôr-se de pé, rastreava na pista dele, dificultosamente, estrangulado de
desespero senil, já sem fala, rosnando uns vagidos de morte, os olhos turvos,
todo ele roxo, os dedos enriçados como as unhas de abutre ferido.
João Romão atravessou o pátio de carreira e meteu-se na sua toca para
esconder o furto. Ao primeiro exame, de relance, reconheceu logo que era
dinheiro em papel o que havia nas garrafas. Enterrou a trouxa na prateleira de
um armário velho cheio de frascos e voltou lá fora para acompanhar o serviço
dos bombeiros.
À meia-noite estava já completamente extinto o fogo e quatro sentinelas
rondavam a ruína das trinta e tantas casinhas que arderam. O vendeiro só pôde
voltar à trouxa das garrafas às cinco horas da manhã, quando Bertoleza, que
fizera prodígios contra o incêndio, passava pelo sono, encostada na cama, com a
saia ainda encharcada de água, o corpo cheio de pequenas queimaduras.
Verificou que as garrafas eram oito e estavam cheias até à boca de notas de
todos os valores, que ai foram metidas, uma a uma, depois de cuidadosamente
enroladas e dobradas à moda de bilhetes de rifa. Receoso, porém, de que a
crioula não estivesse bem adormecida e desse pela coisa, João Romão resolveu
adiar para mais tarde a contagem do dinheiro e guardou o tesouro noutro lugar
mais seguro.
No dia seguinte a polícia averiguou os destroços do incêndio e mandou
proceder logo ao desentulho, para retirar os cadáveres que houvesse.
Rita desaparecera da estalagem durante a confusão da noite; Piedade caíra
de cama, com um febrão de quarenta graus; a Machona tinha uma orelha
rachada e um pé torcido; a das Dores a cabeça partida; o Bruno levara uma
navalhada na coxa; dois trabalhadores da pedreira estavam gravemente feridos;
um italiano perdera dois dentes da frente, e uma filhinha da Augusta
Carne-Mole morrera esmagada pelo povo. E todos, todos se queixavam de danos
recebidos e revoltaram-se contra os rigores da sorte. O dia passou-se inteiro na
computação dos prejuízos e a dar-se balanço no que se salvara do incêndio.
Sentia-se um fartum aborrecido de estorrilho e cinza molhada. Um duro silêncio
de desconsolo embrutecia aquela pobre gente. Vultos sombrios, de mãos
cruzadas atrás, permaneciam horas esquecidas, a olhar imóveis os esqueletos
carbonizados e ainda úmidos das casinhas queimadas. Os cadáveres da Bruxa e
do Libório foram carregados para o meio do pátio, disformes, horrorosos, e
jaziam entre duas velas acesas, ao relento, à espera do carro da Misericórdia.
Entrava gente da rua para os ver; descobriam-se defronte deles, e alguns
curiosos lançavam piedosamente uma moeda de cobre no prato que, aos pés dos
dois defuntos, recebia a esmola para a mortalha. Em casa de Augusta, sobre uma
mesa coberta por uma cerimoniosa toalha de rendas, estava o cadaverzinho da
filha morta, todo enfeitado de flores, com um Cristo de latão à cabeceira e dois
círios que ardiam tristemente. Alexandre, assentado a um canto da sala, com o
rosto escondido nas mãos, chorava, aguardando o pêsame das visitas; fardara-se,
só para isso, com o seu melhor uniforme, coitado!
O enterro da pequenita foi feito à custa de Léonie, que apareceu às três da
tarde, vestida de cetineta cor de creme, num carrinho dirigido por um cocheiro
de calção de flanela branca e libré agaloada de ouro.
O Miranda apresentou-se na estalagem logo pela manhã, o ar compungido,
porém superior. Deu um ligeiro abraço em João Romão, falou-lhe em voz baixa,
lamentando aquela catástrofe, mas felicitou-o porque tudo estava no seguro.
O vendeiro, com efeito, impressionado com a primeira tentativa de
incêndio, tratara de segurar todas as suas propriedades; e, com tamanha
inspiração o fez que, agora, em vez de lhe trazer o fogo prejuízo, até lhe deixaria
lucros.
— Ah, ah, meu caro! Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a
doente!... segredou o dono do cortiço, a rir. Olhe, aqueles é que com certeza não
gostaram da brincadeira! acrescentou, apontando para o lado em que maior era o
grupo dos infelizes que tomavam conta dos restos de seus tarecos atirados em
montão.
— Ah, mas esses, que diabo! nada têm que perder!... considerou o outro.
E os dois vizinhos foram até o fim do pátio, conversando em voz baixa.
— Vou reedificar tudo isto! declarou João Romão, com um gesto enérgico
que abrangia toda aquela Babilônia desmantelada.
E expôs o seu projeto: tencionava alargar a estalagem, entrando um pouco
pelo capinzal. Levantaria do lado esquerdo, encostado ao muro do Miranda, um
novo correr de casinhas, aproveitando assim parte do pátio, que não precisava
ser tão grande; sobre as outras levantaria um segundo andar, com uma longa
varanda na frente toda gradeada. Negociozinho para ter ali, a dar dinheiro, em
vez de um centena de cômodos, nada menos de quatrocentos a quinhentos, de
doze a vinte e cinco mil-réis cada um!
Ah! ele havia de mostrar como se fazem as coisas bem feitas.
O Miranda escutava-o calado, fitando-o com respeito.
— Você é um homem dos diabos! disse afinal, batendo-lhe no ombro.
E, ao sair de lá, no seu coração vulgar de homem que nunca produziu e
levou a vida, como todo o mercador, a explorar a boa-fé de uns e o trabalho
intelectual de outros, trazia uma grande admiração pelo vizinho. O que ainda lhe
restava da primitiva inveja transformou-se nesse instante num entusiasmo
ilimitado e cego.
— É um filho da mãe! resmungava ele pela rua, em caminho do seu
armazém. É de muita força! Pena é estar metido com a peste daquela crioula!
Nem sei como um homem tão esperto caiu em semelhante asneira!
Só lá pelas dez e tanto da noite foi que João Romão, depois de certificar-se
de que Bertoleza ferrara num sono de pedra, resolveu dar balanço às garrafas de
Libório. O diabo é que ele também quase que não se agüentava nas pernas e
sentia os olhos a fecharem-se-lhe de cansaço. Mas não podia sossegar sem saber
quanto ao certo apanhara do avarento.
Acendeu uma vela, foi buscar a imunda e preciosa trouxa, e carregou com
esta para a casa de pasto ao lado da cozinha.
Depôs tudo sobre uma das mesas, assentou-se, e principiou a tarefa. Tomou
a primeira garrafa, tentou despejá-la, batendo-lhe no fundo; foi-lhe, porém,
necessário extrair as notas, uma por uma, porque estavam muito socadas e
peganhentas de bolor. À proporção que as fisgava, ia logo as desenrolando e
estendendo cuidadosamente em maço, depois de secar-lhes a umidade no calor
das mãos e da vela. E o prazer que ele desfrutava neste serviço punha-lhe em
jogo todos os sentidos e afugentava-lhe o sono e as fadigas. Mas, ao passar à
segunda garrafa, sofreu uma dolorosa decepção: quase todas as cédulas estavam
já prescritas pelo Tesouro; veio-lhe então o receio de que a melhor parte do bolo
se achasse inutilizada: restava-lhe todavia a esperança de que fosse aquela
garrafa a mais antiga de todas e a pior por conseguinte.
E continuou com mais ardor o seu delicioso trabalho.
Tinha já esvaziado seis, quando notou que a vela, consumida até o fim,
bruxuleava a extinguir-se; foi buscar outra nova e viu ao mesmo tempo que
horas eram. "Oh! como a noite correra depressa!..." Três e meia da madrugada.
"Parecia impossível!" "
Ao terminar a contagem, as primeiras carroças passavam lá fora na rua.
— Quinze contos, quatrocentos e tantos mil-réis!... disse João Romão entre
dentes, sem se fartar de olhar para as pilhas de cédulas que tinha defronte dos
olhos.
Mais oito contos e seiscentos eram em notas já prescritas. E o vendeiro, à
vista de tão bela soma, assim tão estupidamente comprometida, sentiu a
indignação de um roubado. Amaldiçoou aquele maldito velho Libório por
tamanho relaxamento; amaldiçoou o governo porque limitava, com intenções
velhacas, o prazo da circulação dos seus títulos; chegou até a sentir remorsos por
não se ter apoderado do tesouro do avarento, logo que este, um dos primeiros
moradores do cortiço, lhe apareceu com o colchão às costas, a pedir chorando
que lhe dessem de esmola um cantinho onde ele se metesse com sua miséria.
João Romão tivera sempre uma vidente cobiça sobre aquele dinheiro
engarrafado; fariscara-o desde que fitou de perto os olhinhos vivos e redondos
do abutre decrépito, e convenceu-se de todo, notando que o miserável dava
pronto sumiço a qualquer moedinha que lhe caia nas garras.
— Seria um ato de justiça! concluiu João Romão; pelo menos seria impedir
que todo este pobre dinheiro apodrecesse tão barbaramente!
Ora adeus! mas sete ricos continhos quase inteiros ficavam-lhe nas unhas.
"E depois, que diabo! os outros assim mesmo haviam de ir com jeito... Hoje
impingiam-se dois mil-réis, amanhã cinco. Não nas compras, mas nos trocos...
Por que não? Alguém reclamaria, mas muitos engoliriam a bucha... Para isso
não faltavam estrangeiros e caipiras!... E demais, não era crime!... Sim! se havia
nisso ladroeira, queixassem-se do governo! o governo é que era o ladrão!"
— Em todo caso, rematou ele, guardando o dinheiro bom e mau e
dispondo-se a descansar; isto já serve para principiar as obras! Deixem estar,
que daqui a dias eu lhes mostrarei para quanto presto! |
XVIII
Unterdessen folgte der Freund von Bertolzea als er sah, dass der alte Libório, der ihm Aufruhr des Brandes fast gestorben wäre, sich zu seinem Schlupfwinkel schleppte, diesem heimlich und beobachtete, wie dieser, kaum dass die Öllampe Licht gab, keuchend irgendwas unter seiner zerschlissenen Matraze hervorholte.
Es waren Flaschen. Es zog die erste hervor, die zweite, ein halbes Dutzend davon. Dann zog er eilige die Bettdecke vom Bett und machte ein Bündel. Er wollte wieder hinausgehen, fiel aber, mit einem Schrei, kraftlos zu Boden, dabei einen Strom Blut vergissend und das Bündel gegen die Brust drückend.
João Romão tauchte auf und sobald er ihn sag, verdoppelte sich seine Angst und er krümmte sich über die Flaschen, verteidigte sie mit dem ganzen Körper, mit entsetztem Blick und den Eindringling scharft beobachtend, also ob es sich um einen Räuber handele.
Mit jedem Schritt, den der Kneipenwirt nach vorne machte, wuchs die Angst und der Verdruss des Alten, entriss ihm aus der Kehle raue Grunzer eines geschlagenen und erschreckten Tieres. Zweimal versuchte er sich aufzurichten. Zweimal fiel er verletzt wieder auf die Erde zurück. João Romão ermahnte ihn, dass jedes weitere Verweilen den sicheren Tod bedeuten würde. Die Flammen kamen immer näher. Er wollte ihm helfen, das Bündel zu tragen. Als einzige Antwort öffnete Libório die Lippen, zeigte sein zahnloses Zahnfleisch und versuchte die Hand des Kneipenwirts zu beißen, die schon nach den Flaschen griff.
Aber dann durchbohrte von oben eine Flamme das Dach und tauchte den elenden Schweinestall in rotes Licht. Libório unternahm einen letzten maximalen Kraftakt und schaffte es nichtt, fing an von Kopf bis Fuß zu zittern, zitterte und zitterte, umklammerte imm mehr sein Bündel, zappelte schon, als der Kneipennwirt es ihm mit Gewalt aus den Krallen riss. Es war auch Zeit, denn nachdem es die Zunge gezeigt hatte, zeigte das Feuer den Mund und sperrte weit den alles verschlingenden Rachen auf.
Der Gauner von einem Geschäftsmann floh hastig, seine Beute umarmend, während der Alte, ohne sich wieder aufrichten zu können, folgte ihm, unter Schwierigkeiten, mit Blicken, gelähmt von alterschwacher Verzweiflung, schon unfähig zu sprechen, eine Gewimmere des Todes krächzend, mit glanzlosen Augen, schon ganz rot, die Kinge gekrümmt wie bei einem verletzten Geier.
João Romão überquerte eilige den Hof und schlüpfte in einen Stall um den Diebstahl zu verstecken. Nach der ersten schnellen Prüfung erkannte er sofort, dass Papiergeld sich in den Flaschen befand. Er begrub das Bündel im Geschirrfach eines alten Schrankes voller Gläser und ging wieder nach draußen, um die Arbeit der Feuerwehrleute zu unterstüzten.
Um Mitternacht war das Feuer schon komplett gelöscht und vier Wächter machten um die etwas dreißig Häuser, die gebrannt hatten. Der Kneipenwirt konnte um fünf Uhr Morgens zu seinem Bündel zurückkommen, als Bertoleza, die im Kampf gegen das Feuer Wunder bewirkt hatte, schlafen ging, im Bett liegend, mit durchnässtem Rock, den Körper übersät mit kleinen Wunden.
Er stellte fest, dass es acht Flaschen gab und diese bis an den Flaschenhals mit Geldscheinen unterschiedlichen Wertes gefüllt waren, die dort hinein gesteckt worden waren, nachdem sie sorgfältig zusammengerollt und wie Losnummern zusammengefaltet worden waren. Da er sich allerdings noch nicht sicher war, dass die Kreolin bereits schlief und von dem Vorgang etwas mitkriegen würde, entschied sich João Romão, den Kontakt mit dem Geld auf später zu verschieben und verstaute den Schatz am sichersten Ort.
Am folgenden Tag untersuchte die Polizei die Zerstörungen des Feuers und veranlasste den Schutt wegzuräumen, um eventuell vorandene Kadaver zu entfernen.
Rita war während der Konfusion der Nacht aus der Mietskaserne verschwunden. Piedade war mit 40 Grad Fieber ins Bett gefallen. Machona hatte ein zerfetztes Ohr und einen verstauchten Fuß. Das Dores den gespaltenen Kopf und Bruno einen Messerstich an der Hüfte. Zwei Arbeiter des Bergbaues waren schwer verletzt. Ein Italiener hatte zwei Zähne an der Stirn verloren und ein Töchterchen von Augusta Carne-Mole war erdrückt von dem Volk verstorben. Alle beklagten die erlittenen Schäden und rebellierten gegen die Schläge des Schicksals. Der Tag verging in der Ermessung des Schadens zu sichern was vor dem Brand gerettet werden konnte. Man roch einen Gestank von feuchter Asche. Ein hartes Schweigen der Verzweiflung machte diese armen Menschen gleichgültig. Dunkle Gestalten, mit den Händen hinter dem Rücken verschränkt, verbrachten Stunde um Stunde damit, mit unbeweglichen Blicken die karbonisierten und noch feuchten Skelette in den verbrannten Häusern zu betrachten. Die Kadaver der Hexe und des Libório wurden in die Mitte des Hofes getragen, entstellt und schrecklich, und lagen da plötzlich zwischen zwei angezündeten Kerzen auf den Laichenwagen wartend. Leute kamen von der Straße herein um sie zu sehen. Nahmen vor ihnen den Hut ab und einige Neugierige warfen fromm ein Kupfergeldstück in die Schüssel, zu Füßen der zwei Verschiedenen, als Almosen für das Laichentuch. Im Haus der Augusta, auf einem Tisch bedeckt mit einem feierlichen Tischtuch, lag der kleine Kadaver der toten Tochter, ganz eingehüllt in Blumen, mit eine Christus aus Blech auf der Kopfseite und zwei großen Kerzen die traurig leuchteten. Alexandre, am Ende des Saales sitzend, mit dem Gesicht in den Händen, weinte und empfing das Beileid der Besucher. Der arme hatte sich nur für diesen Zweck die Uniform angezogen, seine beste Uniform!
Das Begräbnis der Kleinen wurde von Léonie bezahlt, die um drei Uhr nachmittags erschien, in cremefarbene Seide gekleidet, in einer Kutsche gelenkt von einem Kutscher in weißer Flanellhose und golbesticktem Livrée.
Miranda tauchte früh am Morgen in der Mietskaserne auf, sah betrübt, jedoch überlegen aus. Er deutete eine Umarmung João Romão an und sprach mit ihm in tiefer Stimme, bedauerte diese Katastrophe, beglückwünschte ihn nun aber, weil alles sicher war.
In der Tat hatte der Kneipenwirt, beeindruckt von der ersten Wucht des Feuers, versucht alle seine Habseligkeiten in Sicherheit zu bringen. Das hatte er mit soviel Umsicht getan, dass das Feuer ihm jetzt nicht nur zum Schaden gereichte, sondern sogar gewinnbringend war.
"Ah, ah mein Lieber! Vorsicht und Hühnersuppe haben einem Kranken noch nie geschadet!", flüsterte der Besitzer der Mietskaserne und lachte. "Hör, denen hat die Spielerei mit Sicherheit nicht gefallen", fügte er hinzu und zeigte auf die Seite, wo die meisten der Unglücklichen waren und dort nachschauten, was von ihrem zu einem Berg aufgehäuften Plunder noch übrig geblieben war.
"Ach dies, zum Teufel, die haben nichts zu verlieren!", wandte der andere ein.
Die zwei Nachbarn gingen zum Ende des Hofes und flüsterten in tiefer Stimme.
"Ich werde das alles wieder aufbauen!", sagte João Romão mit einer energischen Geste, die dieses ganze zerstörte Babylonien umfasste.
Dann beschrieb er sein Projekt: Er hatte vor, die Mietskaserne zu vergrößern, indem er sie zur Wiese hin ein bisschen erweiterte. Er würde auf der linken Seite, angelehnt an die Mauer von Miranda, einen neuen Flur mit Häuschen errichten, wobei er einen Teil des Hofes nutzen würde, der nicht so groß sein musste. Auf der anderen Seite würde er ein zweites Stockwerk errichten, mit einer langen Veranda mit einem Gitter davor. Ein gutes Geschäft, anstatt Hundert Wohnungen, mindestens vierhundert oder fünfhundert, zu zwölf bis fünfundzwanzig Réis jedes einzelne!
Er musste ihm zeigen, wie man die gut gemachten Sachen macht,
Miranda hörte ihm schweigend zu, mit vor Bewunderung starrem Blick.
"Sie sind ein Teufelskerl!", sagte er schließlich und klopfte ihm auf die Schulter.
Als er dort wegging empfand er in seinem gewöhnlich Herzen eines Mannes der, wie jeder Händler, nie etwas produzierte und der seinen Unterhalt mit der Gutgläubigkeit der einen und der intellektuellen Arbeit der anderen verdiente, eine große Bewunderung für den Nachbarn. Was von seinen ursprünglichen Neidgefühlen noch übrig geblieben war, verwandelte sich in unbegrenzte und blinde Begeisterung.
"Er ist ein Sohn der Heimat!", brummte er auf der Straße auf dem Rückweg zu seinem Lagerhaus. Und von großer Kraft! Es ist schade, dass er mit dieser Kreolin zusammen ist! Ich weiß nicht, wie ein so pfiffiger Mann auf so eine Dummheit hereinfallen kann!
Erst um zehn Uhr abends konnte João Romão, nachdem er überprüft hatte, dass Bertoleza schlief wie ein Stein, einen Blick auf die Flaschen von Libório werfen. Der Teufel konnte sich selbst kaum noch auf den Beinen halten und spürte, wie sich ihm die Augen vor Müdigkeit schlossen. Er war aber voller Ungeduld zu erfahren, was genau der Geizhals gespart hatte.
Er zündete eine Kerze an und kramte das unscheinbare und wertvolle Bündel hervor und trug es in die Speisekammer neben der Küche.
Er stellte alles auf einen Tisch, setzte sich und begann mit der Arbeit. Er nahm die erste Flasche, versuchte sie zu leeren, indem er auf den Boden klopfte, was ihm jedoch nicht gelang, so dass er sie einzeln hervorziehen musste, da sie zusammengedrückt und durch den Schimmel verklebt waren. Sowie er sie herausgefischt hatte, entrollte er sie und fügte sie sorgfältig zu Bündeln zusammen, nachdem er sie in der Hitze der Hände und der Kerze getrocknet hatte. Das Vergnügen, das er dabei empfand, lließ alle seine Sinne erwachen und vertrieb den Schlaf und die Müdigkeit. Als er jedoch die zweite Flasche öffnete, wurde er enttäuscht. Fast alle Scheine waren nicht mehr gültig. Er befürchtete also schon, dass der beste Teil des Kuchens schon ungültig wäre. Es blieb ihm aber noch die Hoffnung, dass diese Flasche die älteste und damit die schlechteste wäre.
Er fuhr also mit seiner köstlichen Arbeit mit noch größerer Begeisterung fort.
Er hatte schon sechs geleert, als er merkte, dass die Kerze schon fast bis zum Ende heruntergebrannt war und kurz vor dem Erlöschen flackerte. Er ging eine andere holen und sah gleichzeitig, wie viel Uhr es war. "Oh! Wie schnell die Nacht doch vergangen ist!" Halb vier Uhr morgens. "Unglaublich!"
Als er fertig mit zählen war, führen schon einige Kutschen draußen auf der Straße.
"Fünfzehntausendvierhundert und ein paar Zerquetschte Réis!", sagte João Romão zwischen den Zähnen, ohne sich an den Stapeln von Scheinen, die er vor sich hatte satt zu sehen.
Dazu kamen achttausendsechshundert Scheine, die nicht mehr gültig waren. Der Kneipenwirt, war so entrüstet, als ob er betrogen worden wäre, als er diese schöne Summe sah, die nun nicht mehr gültig war. Er verfluchte den alten Libório für ene derartige Verschwendung. Er verfluchte die Regierung, die aus niederen Motiven heraus, die Zeit, in seine Scheine zirkulieren konnten, begrenzte. Er hatte sogar Gewissensbisse, weil er sich des Schatzes des Geizhalses nicht bemächtigt hatte, sobald dieser, einer seiner ersten Mieter, mit der Matraze auf dem Rücken zu ihm kam und ihn weinend bat ihm als Almosen eine Ecke zu geben, wo er sich in seinem Elend hinsetzen konnte. João Romão hatte immer schon ein Auge auf dieses Geld in der Flasche geworfen. Er roch es, seit er in die lebendigen und runden Äuglein des gebrechlichen Geiers geschaut hatte und war vollständig überzeugt, als er sah wiie der Elende nach jedem noch so kleinen Geldstück schnappte, das ihm zwischen die Krallen fiel.
"Das wäre ein Akt der Gerechtigkeit gewesen!", schloss João Romão, "zumindest hätte so verhindert werden können, dass dieses ganze schöne Geld so barbarisch verfaulen würde."
Jetzt ist alles zu spät! Aber zumindest blieben im sieben schöne fast vollständige Scheine zwischen den Nägeln.
"Und Teufel nochmal, die anderen werden auch ihren Dienst tun. Heute konnte man zweitausend Réis irgendjemand unterjubeln, morgen fünftausend. Vielleicht nicht biem Einkauf, aber beim Wechselgeld. Warum nicht? Viele werden sich beschweren, aber manchen werden den Betrug schlucken. Es gab ja immer Ausländer und Leute vom Land! Das war im übrigen kein Verbrechen! Wenn da ein Verbrechen ist, dann sollen sie sich bei der Regierung beschweren! Die Regierung ist der Dieb!"
"Schluss endlich", fuhr er fort und schaute das gute und schlechte Geld an, während er sich anschickte schlafen zu gehen, "das reicht schon um mit den Arbeiten zu beginnen! Wartet nur, in ein paar Tagen werde euch zeigen, für was sie gut sind." |
XIX
Daí a dias, com efeito, a estalagem metia-se em obras. À desordem do
desentulho do incêndio sucedia a do trabalho dos pedreiros; martelava-se ali de
pela manhã até à noite, o que aliás não impedia que as lavadeiras continuassem a
bater roupa e as engomadeiras reunissem ao barulho das ferramentas o choroso
falsete das suas eternas cantigas.
Os que ficaram sem casa foram aboletados a trouxe e mouxe por todos os
cantos, à espera dos novos cômodos. Ninguém se mudou para o
"Cabeça-de-Gato".
As obras principiaram pelo lado esquerdo do cortiço, o lado do Miranda; os
antigos moradores tinham preferência e vantagens nos preços. Um dos italianos
feridos morreu na Misericórdia e o outro, também lá, continuava ainda em risco
de vida. Bruno recolhera-se à Ordem de que era irmão, e Leocádia, que não quis
atender àquela carta escrita por Pombinha, resolveu-se a ir visitar o seu homem
no hospital. Que alegrão para o infeliz a volta da mulher, aquela mulher levada
dos diabos, mas de carne dura, a quem ele, apesar de tudo, queria muito. Com a
visita reconciliaram-se, chorando ambos, e Leocádia decidiu tornar para o São
Romão e viver de novo com o marido. Agora fazia-se muito séria e ameaçava
com pancada a quem lhe propunha brejeirices.
Piedade, essa e que se levantou das febres completamente transformada.
Não parecia a mesma depois do abandono de Jerônimo; emagrecera em extremo,
perdera as cores do rosto, ficara feia, triste e resmungona; mas não se queixava,
e ninguém lhe ouvia falar no nome do esposo.
Esses meses, durante as obras, foram uma época especial para a estalagem.
O cortiço não dava idéia do seu antigo caráter, tão acentuado e, no entanto, tão
misto: aquilo agora parecia uma grande oficina improvisada, um arsenal, em
cujo fragor a gente só se entende por sinais. As lavadeiras fugiram para o
capinzal dos fundos, porque o pó da terra e da madeira sujava-lhes a roupa
lavada. Mas, dentro de pouco tempo, estava tudo pronto; e, com imenso pasmo,
viram que a venda, a sebosa bodega, onde João Romão se fez gente, ia também
entrar em obras. O vendeiro resolvera aproveitar dela somente algumas das
paredes, que eram de um metro de largura, talhadas à portuguesa; abriria as
portas em arco, suspenderia o teto e levantaria um sobrado, mais alto que o do
Miranda e, com toda a certeza, mais vistoso. Prédio para meter o do outro no
chinelo; quatro janelas de frente, oito de lado, com um terraço ao fundo. O lugar
em que ele dormia com Bertoleza, a cozinha e a casa de pasto seriam
abobadadas, formando, com a parte de taverna, um grande armazém, em que o
seu comércio iria fortalecer-se e alargar-se.
O Barão e o Botelho apareciam por lá quase todos os dias, ambos muito
interessados pela prosperidade do vizinho; examinavam os materiais escolhidos
para a construção, batiam com a biqueira do chapéu de sol no pinho-de-riga
destinado ao assoalho, e afetando-se bons entendedores, tomavam na palma da
mão e esfarelavam entre os dedos um punhado da terra e da cal com que os
operários faziam barro. Às vezes chegavam a ralhar com os trabalhadores,
quando lhes parecia que não iam bem no serviço! João Romão, agora sempre de
paletó, engravatado, calças brancas, colete e corrente de relógio, já não parava
na venda, e só acompanhava as obras na folga das ocupações da rua. Principiava
a tomar tino no jogo da Bolsa; comia em hotéis caros e bebia cerveja em larga
camaradagem com capitalistas nos cafés do comércio.
E a crioula? Como havia de ser?
Era isto justamente o que, tanto o Barão como o Botelho, morriam por que
lhe dissessem. Sim, porque aquela boa casa que se estava fazendo, e os ricos
móveis encomendados, e mais as pratas e as porcelanas que haviam de vir, não
seriam decerto para os beiços da negra velha! Conservá-la-ia como criada?
Impossível! Todo Botafogo sabia que eles até ai fizeram vida comum!
Todavia, tanto o Miranda, como o outro, não se animavam a abrir o bico a
esse respeito com o vizinho e contentavam-se em boquejar entre si
misteriosamente, palpitando ambos por ver a saída que o vendeiro acharia para
semelhante situação.
Maldita preta dos diabos! Era ela o único defeito, o senão de um homem tão
importante e tão digno.
Agora, não se passava um domingo sem que o amigo de Bertoleza fosse
jantar à casa do Miranda. Iam juntos ao teatro. João Romão dava o braço à
Zulmira, e, procurando galanteá-la e mais ao resto da família, desfazia-se em
obséquios brutais e dispendiosos, com uma franqueza exagerada que não olhava
gastos. Se tinham de tomar alguma coisa, ele fazia vir logo três, quatro garrafas
ao mesmo tempo, pedindo sempre o triplo do necessário e acumulando compras
inúteis de doces, flores e tudo o que aparecia. Nos leilões das festas de arraial
era tão feroz a sua febre de obsequiar a gente do Miranda, que nunca voltava
para casa sem um homem atrás, carregado com os mimos que o vendeiro
arrematava.
E Bertoleza bem que compreendia tudo isso e bem que estranhava a
transformação do amigo. Ele ultimamente mal se chegava para ela e, quando o
fazia, era com tal repugnância, que antes não o fizesse. A desgraçada muita vez
sentia-lhe cheiro de outras mulheres, perfumes de cocotes estrangeiras e chorava
em segredo, sem animo de reclamar os seus direitos. Na sua obscura condição
de animal de trabalho, já não era amor o que a mísera desejava, era somente
confiança no amparo da sua velhice quando de todo lhe faltassem as forças para
ganhar a vida. E contentava-se em suspirar no meio de grandes silêncios durante
o serviço de todo o dia, covarde e resignada, como seus pais que a deixaram
nascer e crescer no cativeiro. Escondia-se de todos, mesmo da gentalha do frege
e da estalagem, envergonhada de si própria, amaldiçoando-se por ser quem era,
triste de sentir-se a mancha negra, a indecorosa nódoa daquela prosperidade
brilhante e clara.
E, no entanto, adorava o amigo, tinha por ele o fanatismo irracional das
caboclas do Amazonas pelo branco a que se escravizam, dessas que morrem de
ciúmes, mas que também são capazes de matar-se para poupar ao seu ídolo a
vergonha do seu amor. O que custava aquele homem consentir que ela, uma vez
por outra, se chegasse para junto dele? Todo o dono, nos momentos de bom
humor, afaga o seu cão... Mas qual! o destino de Bertoleza fazia-se cada vez
mais estrito e mais sombrio; pouco a pouco deixara totalmente de ser a amante
do vendeiro, para ficar sendo só uma sua escrava. Como sempre, era a primeira
a erguer-se e a ultima a deitar-se; de manhã escamando peixe, à noite
vendendo-o à porta, para descansar da trabalheira grossa das horas de sol;
sempre sem domingo nem dia santo, sem tempo para cuidar de si, feia, gasta,
imunda, repugnante, com o coração eternamente emprenhado de desgostos que
nunca vinham à luz. Afinal, convencendo-se de que ela, sem ter ainda morrido,
já não vivia para ninguém, nem tampouco para si, desabou num fundo
entorpecimento apático, estagnado como um charco podre que causa nojo.
Fizera-se áspera, desconfiada, sobrolho carrancudo, uma linha dura de um canto
ao outro da boca. E durante dias inteiros, sem interromper o serviço, que ela
fazia agora automaticamente, por um hábito de muitos anos, gesticulava e mexia
com os lábios, monologando sem pronunciar as palavras. Parecia indiferente a
tudo, a tudo que a cercava.
Não obstante, certo dia em que João Romão conversou muito com Botelho,
as lágrimas saltaram dos olhos da infeliz, e ela teve de abandonar a obrigação,
porque o pranto e os soluços não lhe deixavam fazer nada.
Botelho havia dito ao vendeiro:
— Faça o pedido! É ocasião.
— Hein?
— Pode pedir a mão da pequena. Está tudo pronto!
— O Barão dá-ma?
— Dá.
— Tem certeza disso?
— Ora! se não tivesse não lho diria deste modo!
— Ele prometeu?
— Falei-lhe; fiz-lhe o pedido em seu nome. Disse que estava autorizado por
você. Fiz mal?
— Mal? Fez muito bem. Creio até que não é preciso mais nada!
— Não, se o Miranda não vier logo ao seu encontro é bom você lhe falar,
compreende?
— Ou escrever.
— Também!
— E a menina?
— Respondo por ela. Você não tem continuado a receber as flores?
— Tenho.
— Pois então não deixe pelo seu lado de ir mandando também as suas e faça
o que lhe disse. Atire-se, seu João, atire-se enquanto o angu está quente!
Por outro lado, Jerônimo empregara-se na pedreira de São Diogo, onde
trabalhava dantes, e morava agora com a Rita numa estalagem da Cidade Nova.
Tiveram de fazer muita despesa para se instalarem; foi-lhes preciso comprar
de novo todos os arranjos de casa, porque do São Romão Jerônimo só levou
dinheiro, dinheiro que ele já não sabia poupar. Com o asseio da mulata a sua
casinha ficou, todavia, que era um regalo; tinham cortinado na cama, lençóis de
linho, fronhas de renda, muita roupa branca, para mudar todos os dias, toalhas
de mesa, guardanapos; comiam em pratos de porcelana e usavam sabonetes
finos. Plantaram à porta uma trepadeira que subia para o telhado, abrindo pela
manhã flores escarlates, de que as abelhas gostavam muito; penduraram gaiolas
de passarinho na sala de jantar; sortiram a despensa de tudo que mais gostavam;
compraram galinhas e marrecos e fizeram um banheiro só para eles, porque o da
estalagem repugnou à baiana que, nesse ponto, era muito escrupulosa.
A primeira parte da sua lua-de-mel foi uma cadeia de delicias continuas;
tanto ele como ela, pouco ou nada trabalharam; a vida dos dois resumira-se,
quase que exclusivamente, nos oitos palmos de colchão novo, que nunca
chegava a esfriar de todo. Jamais a existência pareceu tão boa e corredia para o
português; aqueles primeiros dias fugiram-lhe como estrofes seguidas de uma
deliciosa canção de amor, apenas espacejada pelo estribilho dos beijos em dueto;
foi um prazer prolongado e amplo, bebido sem respirar, sem abrir os olhos,
naquele colo carnudo e dourado da mulata, a que o cavouqueiro se abandonara
como um bêbedo que adormece abraçado a um garrafão inesgotável de vinho
gostoso.
Estava completamente mudado. Rita apagara-lhe a última réstia das
recordações da pátria; secou, ao calor dos seus lábios grossos e vermelhos, a
derradeira lágrima de saudade, que o desterrado lançou do coração com o
extremo arpejo que a sua guitarra suspirou!
A guitarra! substituiu-a ela pelo violão baiano, e deu-lhe a ele uma rede, um
cachimbo, e embebedou-lhe os sonhos de amante prostrado com as suas cantigas
do norte, tristes, deleitosas, em que há caboclinhos curupiras, que no sertão vêm
pitar à beira das estradas em noites de lua clara, e querem que todo o viajante
que vai passando lhes ceda fumo e cachaça, sem o que, ai deles! o curupira
transforma-os em bicho-do-mato. E deu-lhe do seu comer da Bahia, temperado
com fogoso azeite-de-dendê, cor de brasa; deu-lhe das suas muquecas
escandescentes, de fazer chorar, habituou-lhe a carne ao cheiro sensual daquele
seu corpo de cobra, lavado três vezes ao dia e três vezes perfumado com ervas
aromáticas.
O português abrasileirou-se para sempre; fez-se preguiçoso, amigo das
extravagâncias e dos abusos, luxurioso e ciumento; fora-se-lhe de vez o espírito
da economia e da ordem; perdeu a esperança de enriquecer, e deu-se todo, todo
inteiro, à felicidade de possuir a mulata e ser possuído só por ela, só ela, e mais
ninguém.
A morte do Firmo não vinha nunca a toldar-lhes o gozo da vida; quer ele,
quer a amiga, achavam a coisa muito natural. "O facínora matara tanta gente;
fizera tanta maldade; devia, pois, acabar como acabou! Nada mais justo! Se não
fosse Jerônimo, seria outro! Ele assim o quis— bem feito!"
Por esse tempo, Piedade de Jesus, sem se conformar com a ausência do
marido, chorava o seu abandono e ia também agora se transformando de dia para
dia, vencida por um desmazelo de chumbo, uma dura desesperança, a que nem
as lágrimas bastavam para adoçar as agruras. A principio, ainda a pobre de
Cristo tentou resistir com coragem àquela viuvez pior que essa outra, em que há,
para elemento de resignação, a certeza de que a pessoa amada nunca mais terá
olhos para cobiçar mulheres, nem boca para pedir amores; mas depois começou
a afundar sem resistência na lama do seu desgosto, covardemente, sem forcas
para iludir-se com uma esperança fátua, abandonando-se ao abandono,
desistindo dos seus princípios, do seu próprio caráter, sem se ter já neste mundo
na conta de alguma coisa e continuando a viver somente porque a vida era
teimosa e não queria deixá-la ir apodrecer lá embaixo, por uma vez. Deu para
desleixar-se no serviço; as suas freguesas de roupa começaram a reclamar;
foi-lhe fugindo o trabalho pouco a pouco; fez-se madraça e moleirona,
precisando já empregar grande esforço para não bulir nas economias que
Jerônimo lhe deixara, porque isso devia ser para a filha, aquela pobrezita
orfanada antes da morte dos pais.
Um dia, Piedade levantou-se queixando-se de dores de cabeça, zoada nos
ouvidos e o estômago embrulhado; aconselharam-lhe que tomasse um trago de
parati. Ela aceitou o conselho e passou melhor. No dia seguinte repetiu a dose;
deu-se bem com a perturbação em que a punha o álcool, esquecia-se um pouco
durante algum tempo das amofinações da sua vida; e, gole a gole, habituara-se a
beber todos os dias o seu meio martelo de aguardente, para enganar os pesares.
Agora, que o marido já não estava ali para impedir que a filha pusesse os
pés no cortiço, e agora que Piedade precisava de consolo, a pequena ia passar os
domingos com ela. Saíra uma criança forte e bonita; puxara do pai o vigor físico
e da mãe a expressão bondosa da fisionomia. Já tinha nove anos.
Eram esses agora os únicos bons momentos da pobre mulher, esses que ela
passava ao lado da filha. Os antigos moradores da estalagem principiavam a
distinguir a menina com a mesma predileção com que amavam Pombinha,
porque em toda aquela gente havia uma necessidade moral de eleger para
mimoso da sua ternura um entezinho delicado e superior, a que eles
privilegiavam respeitosamente, como súditos a um príncipe. Crismaram-na logo
com o cognome de "Senhorinha".
Piedade, apesar do procedimento do marido, ainda no intimo se
impressionava com a idéia de que não devia contrariá-lo nas suas disposições de
pai. "Mas que mal tinha que a pequena fosse ali? Era uma esmola que fazia à
mãe! Lá pelo risco de perder-se... Ora adeus, só se perdia quem mesmo já
nascera para a perdição! A outra não se conservara sã e pura? não achara noivo?
não casara e não vivia dignamente com o seu marido? Então?!" E Senhorinha
continuou a ir à estalagem, a principio nos domingos pela manhã, para voltar à
tarde, depois já de véspera, nos sábados, para só tornar ao colégio na
segunda-feira.
Jerônimo ao saber disto, por intermédio da professora, revoltou-se no
primeiro ímpeto, mas, pensando bem no caso, achou que era justo deixar à
mulher aquele consolo. "Coitada! devia viver bem aborrecida da sorte!" Tinha
ainda por ela um sentimento compassivo, em que a melhor parte nascera com o
remorso. "Era justo, era! que a pequena aos domingos e dias santos lhe fizesse
companhia!" E então, para ver a filha, tinha que ir ao colégio nos dias de
semana. Quase sempre levava-lhe presentes de doce, frutas, e perguntava-lhe se
precisava de roupa ou de calçado. Mas, um belo dia, apresentou-se tão ébrio,
que a diretora lhe negou a entrada. Desde essa ocasião, Jerônimo teve vergonha
de lá voltar, e as suas visitas à filha tornaram-se muito raras.
Tempos depois, Senhorinha entregou à mãe uma conta de seis meses da
pensão do colégio, com uma carta em que a diretora negava-se a conservar a
menina, no caso que não liquidassem prontamente a divida. Piedade levou as
mãos à cabeça: "Pois o homem já nem o ensino da pequena queria dar?! Que lhe
valesse Deus! onde iria ela fazer dinheiro para educar a filha?! "
Foi à procura do marido; já sabia onde ele morava. Jerônimo recusou-se, por
vexame; mandou dizer que não estava em casa. Ela insistiu; declarou que não
arredaria dali sem lhe falar; disse em voz bem alta que não ia lá por ele, mas
pela filha, que estava arriscada a ser expulsa do colégio; ia para saber que
destino lhe havia de dar, porque agora a pequena estava muito taluda para ser
enjeitada na roda!
Jerônimo apareceu afinal, com um ar triste de vicioso envergonhado que
não tem animo de deixar o vicio. A mulher, ao vê-lo, perdeu logo toda a energia
com que chegara e comoveu-se tanto, que as lágrimas lhe saltaram dos olhos às
primeiras palavras que lhe dirigiu. E ele abaixou os seus e fez-se lívido defronte
daquela figura avelhantada, de peles vazias, de cabelos sujos e encanecidos. Não
lhe parecia a mesma! Como estava mudada! E tratou-a com brandura, quase a
pedir-lhe perdão, a voz muito espremida no aperto da garganta.
— Minha pobre velha... balbuciou, pousando-lhe a mão larga na cabeça.
E os dois emudeceram um defronte do outro, arquejantes. Piedade sentiu
ânsias de atirar-se-lhe nos braços, possuída de imprevista ternura com aquele
simples afago do seu homem. Um súbito raio de esperança iluminou-a toda por
dentro, dissolvendo de relance os negrumes acumulados ultimamente no seu
coração. Contava não ouvir ali senão palavras duras e ásperas, ser talvez
repelida grosseiramente, insultada pela outra e coberta de ridículo pelos novos
companheiros do marido; mas, ao encontrá-lo também triste e desgostoso, sua
alma prostrou-se reconhecida; e, assim que Jerônimo, cujas lágrimas corriam já
silenciosamente, deixou que a sua mão fosse descendo da cabeça ao ombro e
depois à cintura da esposa, ela desabou, escondendo o rosto contra o peito dele,
numa explosão de soluços que lhe faziam vibrar o corpo inteiro.
Por algum tempo choraram ambos abraçados.
— Consola-te! que queres tu?... São desgraças!... disse o cavouqueiro afinal,
limpando os olhos. Foi como se eu tivesse te morrido... mas podes ficar certa de
que te estimo e nunca te quis mal!... Volta para casa; eu irei pagar o colégio de
nossa filhinha e hei de olhar por ti. Vai, e pede a Deus Nosso Senhor que me
perdoe os desgostos que te tenho eu dado!
E acompanhou-a até o portão da estalagem.
Ela, sem poder pronunciar palavra, saiu cabisbaixa, a enxugar os olhos no
xale de lã, sacudida ainda de vez em quando por um soluço retardado.
Entretanto, Jerônimo não mandou saldar a conta do colégio, no dia seguinte,
nem no outro, nem durante todo o resto do mês; e ele, coitado! bem que se
mortificou por isso; mas onde ia buscar dinheiro naquela ocasião? o seu trabalho
mal lhe dava agora para viver junto com a mulata; estava já alcançado nos seus
ordenados e devia ao padeiro e ao homem da venda. Rita era desperdiçada e
amiga de gastar à larga; não podia passar sem uns tantos regalos de barriga e
gostava de fazer presentes. Ele, receoso de contrariá-la e quebrar o ovo da sua
paz, até ai tão completo com respeito à baiana, subordinava-se calado e afetando
até satisfação; no intimo, porém, o infeliz sofria deveras. A lembrança constante
da filha e da mulher apoquentava-o com pontas de remorso, que dia a dia
alastravam na sua consciência, à proporção que esta ia acordando daquela
cegueira. O desgraçado sentia e compreendia perfeitamente todo o mal da sua
conduta; mas só a idéia de separar-se da amante punha-lhe logo o sangue doido
e apagava-se-lhe de novo a luz dos raciocínios. "Não! não!! tudo que quisessem,
menos isso!"
E então, para fugir àquela voz irrefutável, que estava sempre a serrazinar
dentro dele, bebia em camaradagem com os companheiros e habituara-se, dentro
em pouco, à embriaguez. Quando Piedade, quinze dias depois da sua primeira
visita, tornou lá, um domingo, acompanhada pela filha, encontrou-o bêbedo,
numa roda de amigos.
Jerônimo recebeu-as com grande escarcéu de alegria. Fê-las entrar. Beijou a
pequena repetidas vezes e suspendeu-a pela cintura, soltando exclamações de
entusiasmo.
Com um milhão de raios! que linda estava a sua morgadinha!
Obrigou-as logo a tomar alguma coisa e foi chamar a mulata; queria que as
duas mulheres fizessem as pazes no mesmo instante. Era questão decidida!
Houve uma cena de constrangimentos, quando a portuguesa se viu defronte
da baiana.
— Vamos! vamos! Abracem-se! Acabem com isso por uma vez! bradava
Jerônimo, a empurrá-las uma contra a outra. Não quero aqui caras fechadas!
As duas trocaram um aperto de mão, sem se fitarem. Piedade estava
escarlate de vergonha.
— Ora muito bem! acrescentou o cavouqueiro. Agora para a coisa ser
completa, hão de jantar conosco!
A portuguesa opôs-se, resmungando desculpas, que o cavouqueiro não
aceitou.
— Não as deixo sair! É boa! Pois hei de deixar ir minha filha sem matar as
saudades?
Piedade assentou-se a um canto, impaciente pela ocasião de entender-se
com o marido sobre o negócio do colégio. Rita, volúvel como toda a mestiça,
não guardava rancores, e, pois, desfez-se em obséquios com a família do amigo.
As outras visitas saíram antes do jantar.
Puseram-se à mesa às quatro horas e principiaram a comer com boa
disposição, carregando no virgem logo desde a sopa. Senhorinha destacava-se
do grupo; na sua timidez de menina de colégio parecia, entre aquela gente, triste
e assustada ao mesmo tempo. O pai acabrunhava-a com as suas solicitudes
brutais e com as suas perguntas sobre os estudos. À exceção dela, todos os
outros estavam, antes da sobremesa, mais ou menos chumbados pelo vinho.
Jerônimo, esse estava de todo. Piedade, instigada por ele, esvaziara freqüentes
vezes o seu copo e, ao fim do jantar, dera para queixar-se amargamente da vida;
foi então que ela, já com azedume na voz, falou na divida do colégio e nas
ameaças da diretora.
— Ora, filha! disse-lhe o cavouqueiro. Agora estás tu também pr’aí com
essa mastigação! Deixa as tristezas pr’outra vez! Não nos amargures o jantar!
— Triste sorte a minha!
— Ai, ai! que temos lamúria!
— Como não me hei de queixar, se tudo me corre mal?!
— Sim! Pois se é para isso que aqui vens, melhor será não tornares cá!...
resmungou Jerônimo, franzindo o sobrolho. Que diabo! com choradeiras nada se
endireita! Tenho eu culpa de que sejas infeliz?... Também o sou e não me queixo
de Deus!
Piedade abriu a soluçar.
— Aí temos! berrou o marido, erguendo-se e dando urna punhada forte
sobre a mesa. E aturem-na! Por mais que um homem se não queira zangar, há de
estourar por força! Ora bolas!
Senhorinha correu para junto do pai, procurando contê-lo.
— Sebo! berrou ele, desviando-a. Sempre a mesma coisa! Pois não estou
disposto a aturar isto! Arre!
— Eu não vim cá por passeio!... prosseguiu Piedade entre lágrimas!. Vim cá
para saber da conta do colégio!...
— Pague-a você, que tem lá o dinheiro que lhe deixei! Eu é que não tenho
nenhum!
— Ah! então com que não pagas?!
— Não! Com um milhão de raios!
— É que és muito pior do que eu supunha!
— Sim, hein?! Pois então deixe-me cá com toda a minha ruindade e
despache o beco! Despache-o, antes que eu faça alguma asneira!
— Minha pobre filha! Quem olhará por ela, Senhor dos Aflitos?!
— A pequena já não precisa de colégio! deixe-a cá comigo, que nada lhe
faltará!
— Separar-me de minha filha? a única pessoa que me resta?!
— Ó mulher! você não está separada dela a semana inteira?... Pois a
pequena, em vez de ficar no colégio, fica aqui, e aos domingos irá vê-la. Ora aí
tem!
— Eu quero antes ficar com minha mãe!... balbuciou a menina,
abraçando-se a Piedade.
— Ah! também tu, ingrata, já me fazes guerra?! Pois vão com todos os
diabos! e não me tornem cá para me ferver o sangue, que já tenho de sobra com
que arreliar-me!
— Vamos daqui! gritou a portuguesa, travando da filha pelo braço. Maldita
a hora em que vim cá!
E as duas, mãe e filha, desapareceram; enquanto Jerônimo, passeando de um
para outro lado, monologava, furioso sob a fermentação do vinho.
Rita não se metera na contenda, nem se mostrara a favor de nenhuma das
partes. "O homem, se quisesse voltar para junto da mulher, que voltasse! Ela não
o prenderia, porque amor não era obrigado!"
Depois de falar só por muito espaço, o cavouqueiro atirou-se a uma cadeira,
despejou sombrio dois dedos de laranjinha num copo e bebeu-os de um trago.
— Arre! Assim também não!
A mulata então aproximou-se dele, por detrás; segurou-lhe a cabeça entre as
mãos e beijou-o na boca, arredando com os lábios a espessura dos bigodes.
Jerônimo voltou-se para a amante, tomou-a pelos quadris e assentou-a em
cheio sobre as suas coxas.
— Não te rales, meu bem! disse ela, afagando-lhe os cabelos. Já passou!
— Tens razão! besta fui eu em deixá-la pôr pé cá dentro de casa!
E abraçaram-se com ímpeto, como se o breve tempo roubado pelas visitas
fosse uma interrupção nos seus amores.
Lá fora, junto ao portão da estalagem, Piedade, com o rosto escondido no
ombro da filha, esperava que as lágrimas cedessem um pouco, para as duas
seguirem o seu destino de enxotadas. |
XIX
Und schon einige Tage später ging man in der Mietskaserne tatsächlich an die Arbeit. Auf die Unordnung die durch Entrümpelung des Feuers verursacht worden war, folgte die Arbeit der Maurer. Man hämmerte von früh bis spät, was die die Wäscherinnen nicht daran hinderte, weiterhin ihre Wäsche zu waschen und die Büglerinnen fügtem dem Lärm der Werkzeuge das melancholische Falsett ihrer
Gesänge hinzu.
Die, die nun obdachlos waren, wurden irgendwie an irgendeiner Ecke untergrebracht in Erwartung einer neuen Wohnung. Niemand zog ihn den "Kopf der Katze".
Die Arbeiten begannen auf der linken Seite der Mietskaserne, auf der Seite von Miranda. Die alten Mieter wurden zuerst und zu besseren Konditionen berücksichtigt. Einer der verletzten Italiener starb im Armenhospital und ein anderer, ebenfalls da, war immer noch zwischen Leben und Tod. Bruno zog sich in den Orden zurück, dessen Bruder er war und Leocádia, die den Brief, den Pombinha geschrieben hatte nicht lesen wollte, entschloss sich ihren Mann im Krankenhaus zu besuchen. Wie freute sich der Unglückliche über die Rückkehr seiner Frau, dieses sture Teufelsweib, die er, trotz allem, sehr liebte. Bei dem Besuch versöhnten sich beide wieder und Leocádia entschloss sich, nach São Romão zurückzukehren und wieder mit dem Mann zusammen zu leben. Jetzt war sie sehr ernst und drohte jedem mit Schlägen, der ihr Avancen machte.
Piedade wiederum erholte sich völlig verwandelt von dem Fieber. Nachdem Jerônimo sie verlassen hatte, magerte sie extrem ab, verlor alle Farbe im Gesicht, wurde hässlich, traurig und brummig, aber beklagte sich nicht und niemand hörte sie den Namen ihres Mannes aussprechen.
Diese Monate, während der Bauarbeiten, waren eine spezielle Epoche für die Mietskaserne. Die Mietskaserne hatte nichts mehr von ihrem alten Charakter, so unterschiedlich und doch so vermischt. Jetzt glich es mehr einem improvisierten Büro, einer Werkstatt, in der sich die Leute nur noch mit Zeichen verständigen konnten. Die Wäscherinnen flüchteten auf die Wiese, weil der Staub des Bodens und des Holzes ihnen die Wäsche verschmutzte. Im Inneren jedoch war nach kurzer Zeit alles fertig. Mit großem Erstaunen sahen sie, dass die Kneipe, die schmutzige Spelunke, wo João Romão Bekanntschaften machte, auch umgebaut wird. Der Kneipenwirt hatte beschlossen, nur einige der Wände, die etwa ein Meter lang und nach portugiesischer Art gemauert waren, stehen zu lassen. Die Tür würde sich ein einem Bogen öffnen, das Dach würde wegkommen, es würde ein zweistöckiges Haus errichtet werden, höher noch, das war klar, als das von Miranda und ansehnlicher. Ein Gebäude, das das des anderen demütigen würde. Vier Fenster vorne, acht auf der Seite, mit einer Terrasse hinten. Der Platz, wo er mit Bertoleza schlief, die Küche und die Kantine würden ein Deckengewölbe erhalten, das, zusammen mit der Kneipe, eine große Halle bilden würden, in dem sein Geschäft florieren und sich vergrößern würde.
Der Baron und Botelho kamen fast täglich vorbei, beide sehr daran interessiert zu sehen, wie der Nachbar prosperierte. Sie untersuchten das Material, das für den Bau ausgesucht wurde. Sie schlugen mit den Spitzen ihrer Sonnenhüte auf das Tannenholz für das Parkett, taten so, als ob sie was davon verstünden und nahmen eine Handvoll Erde und Kalk in die Hand, mit dem die Arbeiter den Mörtel mischten, und ließen es durch die Finger gleiten. Manchmal stritten sie auch mit den Arbeitern, wenn sie der Meinung waren, dass diese nicht gut arbeiten würden! João Romão, der jetzt immer einen Mantel, Krawatte, weiße Hosen, Weste und Taschenuhr trug, arbeitete nicht mehr in der Kneipe schaute nur nach dem Rechten, wenn auf der Straße gerade nicht gearbeitet wurde. Er begann gefallen daran zu finden, an der Börse zu spekulieren. Er aß in teuren Hotels und trank Bier in fester Verbundenheit mit den Kapitalisten in den Kaffees des Geschäftsviertels.
Und die Kreolin? Was würde aus ihr werden?
Das ist es, was sowohl der Baron wie auch Botelho ihn unbedingt fragen wollten. Dieses schöne Haus, das man gerade baute, die teuren Möbel, die schon bestellt waren, und noch mehr die Teller und das Porzellan, das noch kommen würde, wären sicher nicht für die Lippen der alten Farbigen! Würde er sie als Angestellte behalten? Unmöglich! Ganz Botafogo wusste, dass sie zusammen lebten!
Beide jedoch, weder Miranda noch der andere, wagten es diesbezüglich dem Nachbarn gegenüber den Schnabel zu öffnen und beide begnügten sich damit über das Thema in mysteriösem Unterton zu flüstern, brennend vor Neugierde, den Ausgang zu sehen, denn der Kneipenwirt für diese Situation vorgesehen hatte.
Verfluchte Farbige des Teufels! Sie war sein einziger Makel, der Schönheitsfehler eines so wichtigen und würdigen Mannes.
Es verging jetzt kein Sonntag mehr, an dem der Freund von Bertoleza nicht im Haus von Miranda zum Abendessen war. Sie gingen zusammen ins Theater. João Romão reichte Zulmira den Arm, versuchte ihr und dem Rest der Familie den Hof zu machen, war extrem zuvorkommend und freigiebig, mit einer übertriebenen Offenheit, die keinen Aufwand scheute. Wenn sie etwas trinken wollten, ließ er sofort drei bestellen, vier Flaschen gleichzeitig, wo eine gereicht hätte und häufte unnötige Mengen an Süßigkeiten, Blumen und allem was sonst noch da war an. Bei den Verlosungen auf der Kirmes war sein Fieber den Leuten von Miranda einen Gefallen zu tun so groß, dass er nie ohne einen Mann hinter ihm zurückkam, der die Geschenke trug, die der Kneipenwirt erstanden hatte.
Bertoleza sah das alles und wunderte sich über die Wandlung des Freundes. Er kam kaum noch zu ihr und wenn er es tat, dann mit einer solchen Ablehnung, dass er es lieber nicht tat. Die Unglückliche roch oft den Geruch von anderen Frauen, Parfüm von fremden Kokotten und weinte heimlich, ohne es zu wagen auf ihre Rechte zu bestehen. In ihrem Leben als obskures Arbeitstier, war es nicht mehr Liebe, was die Elende sich wünschte. Sie hoffte nur noch auf den Schutz im Alter, wenn ihr die Kräfte fehlen würden, um sich den Unterhalt zu verdienen. Sie begnügte sich damit inmitten des großen Schweigens während der täglichen Arbeit zu schluchzen, feige und resigniert wie ihre Eltern, die sie als Sklavin geboren und großgezogen hatten. Sie versteckte sich vor allen, auch vor einfachen Leuten und von der Mietskaserne, sie schämte sich ihrer, verdammte sich für das, was sie war, traurig sich als schwarzen Fleck, der schmutzige Schandfleck in diesem glänzenden und klaren Wohlstand.
Trotzdem liebte sie den Freund, hatte für ihn ein irrationale Zuneigung wie die Mestizinnen des Amazonas für die Weißen, die sie versklavten, die vor Eifersucht starben, die aber bereit sind sich umzubringen, um ihren Idolen die Schande ihrer Liebe zu ersparen. Was kostete es diesen Mann zu erlauben, dass sie das eine oder andere Mal zu ihm kam? Jeder Hundebsitzer streichelt von Zeit zu Zeit seinen Hund. Jetzt aber war das Leben Bertolezas immer eingeschränkter und düsterer. Allmählich war sie immer weniger die Geliebte des Kneipenwirtes und wurde immer mehr zu seiner Sklavin. Sie war immer die erste, die sich erhob und die letzte, die sich hinlegte. Morgens entschuppte sie die Fische, nachts verkaufte sie an der Tür, um sich von der Arbeit in der Sonne auszuruhen. Immer, ohne Sonntage oder Feiertage, ohne Zeit für sich zu haben, hässlich, verbraucht, schmutzig, ecklig, das Herz immer voller Verdruss, der nie ans Licht kam. Als sie schließlich zu der Überzeugung kam, dass sie, obwohl noch nicht gestorben, schon für niemanden mehr lebte, auch nicht für sich selbst, versank sie in der Stumpfheit der Apathie, ausgetrocknet wie eine verfaulte Pfütze, die Ekel verursacht. Sie wurde abweisend, misstrauisch, mit grimmigem Gesichtsausdruck, eine harte Linie von einem Mundwinkel zum anderen. Ganze Tage lang, ohne die Arbeit zu unterbrechen, die sie weiterhin quasi automatisch, aufgrund einer Angewohnheit vieler Jahre, verrichtete, gestikulierte sie und bewegte dabei die Lippen, Monologe haltend ohne Wörter auszusprechen. Sie schien wie empfindungslos gegen alles, was mit ihr geschah.
Eines Tages jedoch als João Romão lange mit Botelho redete, traten ihr Tränen in die Augen der Unglücklichen und sie musste ihre Arbeit unterbrechen, weil vor lauter Weinen und Schluchzer nichts mehr machen konnte.
Botelho hatte zum Kneipenwirt gesagt.
"Halte um ihre Hand an! Es ist Zeit."
"Warum?"
"Du kannst um die Hand der kleinen anhalten. Es ist alles bereit!"
"Und der Baron wird sie mir geben?"
"Natürlich."
"Bist du da sicher?"
"Klar! Wenn ich es nicht sicher wüsste, würde ich es dir nicht so sagen!"
"Sie hat sie versprochen?"
"Ich habe mit ihm gesprochen. Ich habe in deinem Namen gefragt. Ich habe gesagt, ich sei dazu berechtigt. Hab ich was Falsches gemacht?"
"Schlecht? Das hast du sehr gut gemacht. Ich glaube sogar, dass es jetzt nicht nötig ist noch irgendwas zu machen!"
"Nein, wenn Miranda dir jetzt nicht entgegenkommt, dann wäre es gut, wenn du ihn darauf ansprichst, verstanden?"
"Oder schreiben."
"Auch"
"Und das Mädchen?"
"Für die bürge ich. Bekommst du keine Blumen mehr?"
"Doch"
"Dann vergiss deinerseits nicht, ihr welche zu schicken und tu, was ich dir sages. Beweg dich João, beweg dich, solange der Mehlbrei noch heiß ist!"
Jerônimo andererseits arbeitete jetzt im Steinbruch von São Diogo, wo er vorher gearbeitet hatte und wohnte mit Rita in einer Mietskaserne in Cidade Nova.
Der Umzug hatte viel Geld gekostet. Sie mussten die komplette Einrichtung des Hauses neu kaufen, weil Jerônimo von São Romão nur Geld mitgenommen hatte, Geld, dass er jetzt kaum noch in der Lage war zu sparen. Aufgrund der Sauberkeit der Mulattin wurde es aber ein Häuschen wie ein Geschenk. Das Bett hatte einen Vorhang, Bettlaken aus Leinen, bestickte Kopfkissenüberzüge, viel weiße Wäsche, um sie täglich zu wechseln, Tischdecken, Servietten. Sie aßen aus Porzellantellern und verwendeten feine Seifen. Vor der Tür pflanzten sie eine Kletterpflanze, die bis bis zum Dach emporwuchs und morgens scharlachrote Blüten öffnete. Im Esszimmer hingen Käfige mit kleinen Vögeln. Sie kauften, was ihnen gefiel. Sie kauften Hühner und Enten und bauten ein Bad nur für sich, weil das der Mietskaserne der Baianerin, die diesbezüglich sehr empfindlich zeigte, widerwärtig war.
Der erste Teil ihrer Flitterwochen war eine Feier ununterbrochenen Glücks. Sowohl er wie auch sie arbeiteten wenig oder gar nicht. Das Leben der beiden beschränkte sich fast ausschließlich auf die Größe ihrer neuen Matraze, die nie ganz erkaltete. Noch nie erschien dem Portugiesen das Leben so schön und einfach. Die ersten Tagen glitten dahin wie aufeinanderfolgende Strophen eines schönen Liebesliedes, nur unterbrochen durch den langen Refrain der Küsse im Duett. Es war ein langes Glück und tiefes Glück, getrunken ohne zu atmen, ohne die Augen zu öffnen, am fleischigen und goldenen Hals der Mulattin, welchem der Bergmann sich hingab wie ein Betrunkener, der eine unerschöpfliche Korbflasche köstlichen Weines umfasst, während er schläft.
Er war wie ausgewechselt. Rita löschte den letzten Rest an Erinnerungen an seine Heimat. Die Wärme dieser großen, roten Lippen trocknete die letzte Träne der Sehnsucht, die dem Herzen des Verbannten entströmte wenn er die extremen Melodien seiner Guitarre entlockte.
Die portugiesische Guitarre wurde von ihr gegen die Guitarre von Bahia ausgetauscht,sie gab ihm eine Hängematte, eine Pfeife, impfte ihm die Träume eines Geliebten ein, der auf Knieen mit seinen Gesängen des Nordens, traurig, köstlich, wie der Curupira in den Mythen der Caboclinhos, der nachts in abgelegenen Orten am Rand der Straßen bei Vollmond pfeift und von jedem Vorbeiziehenden verlangt, dass er Tabak und Schnaps gibt und wenn nicht, dann, Erbarmen mit ihnen, sie in unansehliche Gestalten verwandelt. Sie gab ihm ihr Essen von Bahia, zubereitet mit dem feurigen Öl der Ölpalme, mit einer Farbe wie Glut. Sie gab ihm den glühenden Fischeintopf, der einem die Tränen in die Augen treibt, gewöhnte ihn an das Fleisch mit dem sinnlichen Geruch ihres Körpers einer Kobra, der dreimal täglich gewaschen und drei mal täglich mit aromatischen Kräutern parfümiert wurde.
Der Portugiese wurde immer brasilianischer. Er wurde faul, fand gefallen an Extravaganzen und Lastern, wurde ausschweifend und eifersüchtig. Er war nicht mehr sparsam und ordentlich. Er verlor den Glauben, jemals reich zu werden und gab sich ganz, ganz und gar, dem Glück hin die Mulattin zu besitzen und von ihr besessen zu werden, nur von ihr und sonst niemandem.
Der Tod von Firmo stahl ihnen nie die Lebensfreude. Sowohl er, wie auch seine Freundin fanden das sehr normal. "Der Verbrecher hat so viele Leute ermordet, hat so viele Verbrechen begannen, dass er so enden musste! Das war nur gerecht! Wäre es nicht Jerônimo gewesen, dann ein anderer! Er wollte es so, gut gemacht!"
Zu dieser Zeit weinte Piedade de Jesus, ohne sich mit der Abwesenheit ihres Mannes abfinden zu können, über ihre Einsamkeit und veränderte sich von Tag zu Tag, besiegt durch eine bleierne Niedergeschlagenheit, eine vollkommene Hoffnungslosigkeit, deren Bitterkeit nicht einmal Tränen mildern konnten. Anfangs versuchte die Unglückliche Christin noch mutig diesem Dasein als Witwe, schlimmer noch als jenes andere, wo man sich noch trösten kann, weil die Sicherheit besteht, dass die geliebte Person nie mehr Augen für eine Frau haben wird, noch einen Mund, der seiner Liebe Ausdruck verleiht, zu widerstehen. Dann aber begann sie in ohne Widerstand im Sumpf ihres Verdrusses zu versinken, schwach, ohne Kraft, sich an eine vage Hoffnung zu klammern, sich ganz ihrer Verlassenheit überlassend, gab ihre Prinzipien auf, ihren eigenen Charakter, ohne auf dieser Welt noch irgendetwas Bedeutung zuzumessen, lebte sie nur noch, weil das Leben eigensinnig ist und sie ist nicht aufgeben wollte um dort unten endgültig zu verfaulen. Sie wurde nachlässig bei ihrer Arbeit. Ihre Kunden fingen an, sich zu beschweren. Stück für Stück verlor sie ihre Arbeit. Sie wurde träge und faul und musste sich schon anstrengen, um nicht die Ersparnisse die Jerônimo ihr gelassen hatte nicht anzurühren, denn diese waren für die Tochter bestimmt, jenes arme Mädchen, dass schon vor dem Tod der Eltern Waise geworden war.
Eines Tages stand Piedade auf und beklagte sich über Kopfweh, Brummen in den Ohren und Magenverstimmung. Man empfahl ihr, einen Schluck Schnaps zu trinken. Sie akzeptierte und es ging ihr besser. Am nächsten Tag wiederholte sich das. Die Betäubung, die der Alkohol hervorruft tat ihr gut, sie vergas für einige Zeit die Tristesse ihres Alltages. Und Schluck für Schluck gewöhnte sie sich daran jeden Tag ihren halbes Gläschen Schnaps zu trinken, um ihre Leiden zu mindern.
Jetzt, wo der Gatten nicht mehr verhinderte, dass die Tochter die Füße in die Mietskaserne setzt und jetzt, wo Piedade des Trostes bedurfte, verbrachte die Kleine die Sonntage mit ihr. Sie war ein starkes und hübsches Kind geworden. Sie ging, was die physische Stärke anging, nach ihrem Vater und was den gutmütigen Ausdruck in der Physionomie anging, nach ihrer Mutter.
Die Momente, die sie an der Seite ihrer Tochter verbrachte, waren die einzigen guten Momente der armen Frau. Die alten Mieter der Mietskaserne entwickelten dieselbe Vorliebe für das Mädchen, mit der sie schon Pombinha liebten, weil bei all diesen Leuten ein moralischen Bedürfnis bestand, jemanden als Objekt der Zuneigung für ihre Zärtlichkeit zu erwählen, ein zartes und höheres Wesen, das sie respektvoll, wie die Untertanen einen Prinzen, verehren. Bald schon fingen Sie an, sie mit "Hohes Fräulein" anzusprechen.
Piedade fühlte sich, trotz des Vorgehens ihres Ehemannes, immer noch gebunden an dessen Vorstellungen als Vater gebunden. "Doch was ist schlimm daran, wenn die Kleine hier ist? Es war ein Almosen, dass er der Mutter gab. Sie soll da verderbt werden.... Nur derjenige, der schon von Geburt an für die Verderbnis gemacht ist, wird dort verderbt! Hatte sich nicht auch die andere da gesund und rein gehalten? Hatte sie keinen Gatten gefunden? Hatte sie nicht würdevoll geheirate und lebte jetzt in geordneten Verhältnissen? Also?!" So ging denn die "Hohe Frau" weiterhin in die Mietskaserne, sie kam Sonntag morgens und kehrte abends zurück, später dann kam sie schon am Vorabend, am Samstag, um erst Montags in die Schule zurückzukehren.
Jerônimo, der hiervon durch eine Lehrerin unterrichtet worden war, ärgerte sich im ersten Moment darüber, fand aber, nachdem er es sich überlegt hatte, gut, der Frau diesen Trost zu lassen. "Die Arme, sie musste von ihrem Schicksal sehr enttäuscht sein!" Er hatte noch Mitleid für sie, von dem der größere Teil durch Gewissensbisse genährt war. "Das ist gerecht, dass die Kleine an Sonntagen und Feiertagen ihr Gesellschaft leistet!" So musster er, wollte er seine Tochter sehen, an den Arbeitstagen in die Schule gehen. Er brachte ihr immer Geschenke mit, Süßigkeiten, Früchte, und fragte sie, ob sie Kleider oder Schuhe brauchte. Eines Tages jedoch erschien er so betrunken, dass die Direktorin ihm den Zugang verwehrte. Von da an schämte sich Jerônimo und die Besuche seiner Tochter wurden immer seltener.
Nach einiger Zeit überreichte die "hohe Frau" der Mutter eine Rechnung über sechs Monate Unterbringung in der Schule mit einem Brief, in dem die Direktorin sie weigerte, das Mädchen länger zu behalten, wenn die Rechnung nicht binnen kurzen beglichen würde. Piedade fasste sich an den Kopf: "Der Mann will also der Kleinen nicht mal mehr Unterricht geben?! Gott beschütze sie, woher soll sie das Geld nehmen, um die Tochter zu erziehen?!"
Sie ging zu ihrem Mann. Sie wusste, wo er wohnte. Jerônimo ließ sich aus Scham verleugnen und ließ ausrichten, dass er nicht zu Hause sein. Sie blieb beharrlich, sagte dass sie nicht weggehen würde, ohne ihn zu sprechen. Sie sagte laut, dass sie nicht wegen ihr käme, sondern wegen der Tochter, die kurz davor stand, von der Schule verwiesen zu werden. Sie wollte wissen, was er mit ihr vorhabe, denn jetzt ist die Kleine schon zu gebildet, um bei der Bande zu leben!
Schließlich erschien Jerônimo. Sein Anblick hatte etwas Trauriges wie von jemandem, der von einem Laster befallen ist und sich dafür schämte. Als die Frau ihn sah, verlor sie sofort alle die Energie, mit der sie gekommen war und war so gerührt, dass ihr bei den ersten Worten, die er an sie richtete, die Tränen aus den Augen schossen. Und er senkte den Blick und wurde bleiciih in Gegenwart dieser vorzeitig gealterten Figur, mit dieser ausgedörrten Haut, den dreckigen und grauen Haaren. Sie schien nicht mehr dieselbe! Wie hatte sie sich verändert! Er war ihr gegenüber sanftmütig, ganz so, als wolle er um Entschuldigung bitten, mit in der Rachenöffnung gequetschter Stimme.
"Meine arme Alte", stotterte er und legte ihr seine große Hand auf den Kopf.
Die zwei schwiegen, einer vor dem anderen stehend, keuchend. Piedade hatte ein Verlangen, sich in seine Arme zu werfen, plötzlich durch dieses einfache Zeichen der Zuneigung ihres Mannes von Zärtlichkeit übermannt. Ein plötzlicher Strahl der Hoffnung ließ sie innerlich aufleuchten und der ganze in letzter Zeit in ihrem Herzen aufgestaute Verdruss zertstreute sich. Sie hatte damit gerechnet dort nichts las harte und raue Worte zu hören, vielleicht grob zurückgewiesen zu werden. Doch als sie ihn auch traurig und unzufrieden vorfand, verneigte sich ihre dankbare Seele. Und als Jerônimo, dem schon die Tränen über die Wangen flossen, ließ seine Hand vom Kopf auf die Schulter und dann hinab zur Hüfte seiner Frau gleiten und sie ließ sich gehen, vergrub ihr Gesicht an seiner Brust, schluchzte so sehr, dass ihrr ganzer Körper bebte.
Für eine gewisse Zeit weinten beide, sich umarmend.
"Tröste dich, willst du? Das sind Schicksalschläge!", sagte der Bergmann schließlich und trocknete sich die Augen, "es war, also ob ich gestorben wäre, aber du kannst sicher sein, dass ich dich achte und dir nie Böses wollte! Geh nach Hause zurück, ich werde die Schule unseres Töchterchen bezahlen und werde mich um dich kümmern. Geh, und bitte Gott unseren Herrn, dass er mir das Leid, den ich dir gemacht habe, verzeihen möge!"
Dann begleitete er sie bis zum Portal der Mietskaserne.
Sie ging mit gesenktem Kopf, ohne ein Wort sprechen zu können, sich die Augen mit Schal trocknend weg, noch immer geschüttelt von einem verspäteten Schluchzer.
Unterdessen zahlte Jerônimo nicht die Rechnung am nächsten Tag, und auch nicht am übernächsten und auch nicht während des Rests des Monats, auch wenn die Arme deswegen sorgte. Woher hätte er das Geld auch nehmen sollen? Mit seiner Arbeit verdiente er jetzt kaum genug um mit der Mulattin leben zu können. Er hatte schon einen Lohnvorschuss bekommen und schuldete dem Bäcker und dem Mann von der Kneipe Geld. Rita war verschwenderisich und liebte es, viel auszugeben. Sie konnte ohne gutes Essen nicht leben und liebte es, Geschenke zu machen. Er hatte Angst, ihr zu widersprechen und die Grundlage ihres Friedens zu zerstören, der bezüglich der Baianerin bislang so vollkommen war, und ordnete sich deshalb schweigend unter, simulierte sogar Zufriedenheit. Im Innersten jedoch litt er. Die ständige Erinnerung an seine Tochter und seine Frau bedrückte ihn mit Gewissensbissen, die Tag für Tag sein Gewissen belasteten, bis dieses durch jene Blindheit erwachte. Der Unglückliche fühlte und verstand vollkommen, dass das, was er getan hatte Unrecht war, aber die Idee, die Geliebte zu verlassen, ließ ihm das Blut gefrieren und das jeden vernünftigen Gedanken verstummen. "Nein! Nein! Alles was man will, nur nicht das!"
Deshalb, um dieser nicht verstummenden Stimme zu entgehen, die unaufhörlich in seinem Inneren sprach, trank er in Begleitung seiner Kameraden und gewöhnte sich in kurzer Zeit an die Trunkenheit. Als Piedade, fünfzehn Tage nach ihrem ersten Besuch zurückkehrte, an einem Sonntag und in Begleitung der Tochter, fand sie ihn betrunken in einer Runde von Freunden.
Jerônimo empfing sie mit einer lautstarken Begrüßung, ließ sie hereinkommen, küsste die Kleine immer wieder, packte sie an der Hüfte, gab seiner Begeisterung lautstark Ausdruck.
Donnerwetter! Wie schön war sein Töchterchen!
Dann überredete er sie, etwas zu trinken und rief die Mulattin. Er wollte, dass die zwei Frauen sofort Frieden schließen. Das hatte er so entschieden! Es gab eine beklemmende Szene, also die Portugiesin der Baianerin gegenüberstand.
"Komm! Komm! Umarmt euch! Hört endlich auf damit!", schrie Jerônimo und drückte die eine gegen die andere. Ich will hier keine finsteren Gesichter!
Die zwei tauschten einen Händedruck, ohne sich anzuschauen. Piedade war rot vor Scham.
"Jetzt ist alles gut!", fügte der Bergmann hinzu. "Jetztt wo die Sache erledigt ist, könnt ihr mit uns zu Abend essen!"
Die Portugiesin widersetzte sich, brummte eine Entschuldigung, die der Bergmann nicht akzeptierte.
"Ich lasse euch nicht gehen! Das fehlte noch! Soll ich meine Tochter gehen lassen, ohne ihren Hunger zu stillen?"
Piedade setzte sich in eine Ecke, unruhig darauf wartend, endlich mit ihrem Ehemann über die Angelegenheit mit der Schule sprechen zu können. Rita, oberflächlich wie jede Mestizin, war nicht nachtragend und benahm sich der Familie ihres Freundes gegenüber äußerst zuvorkommend. Die anderen Besucher gingen vor dem Essen hinaus.
Die vier setzten sich um vier Uhr an den Tisch und fingen mit guter Stimmung an zu essen, da sie schon seit Mittag nichts mehr gegessen hatten. Die "hohe Frau" unterschied sich von der Gruppe. Schüchtern wie ein Schulmädchen schien sie unter diesen Leuten traurig und verschreckt gleichzeitig. Der Vater verstörte sie mit seiner groben Herzlichkeit und mit seinen Fragen über die Schule. Außer ihr waren vor dem Nachtisch alle mehr oder weniger beschwipst durch den Wein und Jerônimo war betrunken. Piedade, von ihm angestachelt, leerte ihr Glas immer wieder und als sie mit Essen fertig waren, beklagte sie sich bitter über das Leben. In diesem Zustand, sprach sie, mit Bitterkeit in der Stimme, von der Rechnung der Schule und den Drohungen der Direktorin.
"Aber, aber", sagte der Bergmann, "jetzt fängst du wieder mit dieser Geschichte an! Lass endlich die Heulerei! Verdirb uns nicht die Laune beim Essen!"
"Ein trauriges Schicksal haben wir!"
"Was ist das denn für ein Klagelied!"
"Wie soll ich mich nicht beklagen, wenn alles schlecht läuft?!"
"Ok! Wenn du deswegen gekommen bist, dann wäre es besser, du würdest nie mehr hierher kommen!", brummte Jerônimo zog die Augenbrauen zusammen. Zum Teufel! Mit Heulen wird nichts besser! Bin ich schuld daran, dass du unglücklich bist? Ich bin es auch und beklage mich nicht bei Gott!"
Piedade fing an zu schluchzen.
"Da haben wir es", schrie der Ehemann und erhob sich mit einem Fausthieb auf den Tisch, "das ist ja nicht zu aushalten. Je mehr man keinen Streit will, desto mehr platzt man vor Wut! Was ein Irrsinn!"
Die "hohe Frau" rannte zu ihrem Vater und versuchte ihn zu beruhigen.
"Mir reichts", brüllte er und schob sie beseite, "immer das gleiche! Ich kann das nicht mehr ertragen! Das ist zum durch die Decke gehen!"
"Ich bin hier nicht wegen einem Spaziergang hergekommen", fuhr Piedade unter Tränen fort, "ich bin gekommen wegen der Rechnung der Schule!"
"Zahl du sie doch, du hast doch das Geld, das ich dir gelassen habe! Ich bin es, der keines hat!"
"Du zahlst also nicht?!"
"Nein, zum Donnerwetter!"
"Dann bist du schlechter, als ich dachte!"
"Lass mich in meinem Elend in Ruhe und halt die Klappe! Mach sie zu, bevor ich eine Dummheit mache!"
"Meine arme Tochter! Wer wird auf sie aufpassen, Herr der Betrübten?!"
"Die Kleine muss nicht mehr in die Schule! Lass sie bei mir und es wird ihr an nichts fehlen!"
"Mich von meiner Tochter trennen, dem einzigen Menschen, der mir noch verblieben ist?"
"Frau, bist du nicht die ganze Woche von ihr getrennt? Die Kleine bleibt hier anstatt in die Schule zu gehen und an Sonntagen kommt sie zu dir. Dann ist alles wie bisher!"
"Ich will lieber bei meiner Mutter bleiben!", stotterte das Mädchen und umarmte Piedade.
"Ah! Machst du mir jetzt auch schon Ärger?! Dann geht mit allen Teufeln und kommt nicht wieder her um mich zu ärgern, ich habe schon genug, womit ich mich rumärgern muss!"
"Gehen wir!", sagte die Portugiesin und umfasste den Arm ihrer Tochter, "verflucht sei die Stunde, als ich hierher gekommen bin!"
Die Zwei, Mutter und Tochter, verschwanden, während Jerônimo von der einen zur anderen Seite ging, unter dem Einfluss des Weines Monologe haltend.
Rita mischte sich in den Streit nicht ein, nahm weder Partei für die eine noch für die andere Seite. "Wenn der Mann zu seiner Frau zurückkehren will, dann soll er zurückkehren! Sie würde ihn nicht zurückhalten, die Liebe kennt keine Verpflichtungen!"
Nachdem er eine Weile mit sich selbst gesprochen hatte, ließ sich der Bergmann auf einen Stuhl fallen, goß eine ordentliche Menge Limoncino in ein Glas und trank es in einem Schluck.
"Verdammt! So geht's nicht!"
Die Mulattin näherte sich ihm von hinten, nahm seinen Kopf zwischen ihre Hände und küsste ihn auf den Mund, streifte mit ihren Lippen über die Dichte seines Schnurrbartes.
Jerônimo wandte sich ihr zu, packte sie bei den Hüften und setzte sie vollständig auf seine Schenkel.
"Ärgere dich nicht Liebster!", sagte sie während sie ihm über die Haare strich. Es ist vorbei!
"Du hast Recht! Ich war dumm, als ich sie den Fuß in das Haus setzen ließ!"
Und sie umarmten sich innig, als ob die kurze Zeit, die ihnen der Besuch gestohlen hatte, eine Unterbrechung ihre Liebe gewesen wäre.
Draußen, an der Tür der Mietskaserne, wartete Piedade, ihr Gesicht an der Schulter der Tochter begraben, dass die Tränen ein bisschen nachlassen würden, damit die zwei weitergehen könnten auf ihrem Weg der Verbannten. |
XX
Chegaram a casa às nove horas da noite. Piedade levava o coração feito em
lama; não dera palavra por todo o caminho e logo que recolheu a pequena,
encostou-se à cômoda, soluçando.
Estava tudo acabado! Tudo acabado!
Foi à garrafa de aguardente, bebeu uma boa porção; chorou ainda, tornou a
beber, e depois saiu ao pátio, disposta a parasitar a alegria dos que se divertiam
lá fora.
A das Dores tivera jantar de festa; ouviam-se as risadas dela e a voz
avinhada e grossa do seu homem, o tal sujeito do comércio, abafadas de vez em
quando pelos berros da Machona, que ralhava com Agostinho. Em diversos
pontos cantavam e tocavam a viola.
Mas o cortiço já não era o mesmo; estava muito diferente; mal dava idéia do
que fora. O pátio, como João Romão havia prometido, estreitara-se com as
edificações novas; agora parecia uma rua, todo calçado por igual e iluminado
por três lampiões grandes simetricamente dispostos. Fizeram-se seis latrinas,
seis torneiras de água e três banheiros. Desapareceram as pequenas hortas, os
jardins de quatro a oito palmos e os imensos depósitos de garrafas vazias. À
esquerda, até onde acabava o prédio do Miranda, estendia-se um novo correr de
casinhas de porta e janela, e daí por diante, acompanhando todo o lado do fundo
e dobrando depois para a direita até esbarrar no sobrado de João Romão,
erguia-se um segundo andar, fechado em cima do primeiro por uma estreita e
extensa varanda de grades de madeira, para a qual se subia por duas escadas,
uma em cada extremidade. De cento e tantos, a numeração dos cômodos
elevou-se a mais de quatrocentos; e tudo caiadinho e pintado de fresco; paredes
brancas, portas verdes e goteiras encarnadas. Poucos lugares havia desocupados.
Alguns moradores puseram plantas à porta e à janela, em meias tinas serradas ou
em vasos de barro. Albino levou o seu capricho até à cortina de labirinto e chão
forrado de esteira. A casa dele destacava-se das outras; era no andar de baixo, e
cá de fora via-se-lhe o papel vermelho da sala, a mobília muito brunida, jarras de
flores sobre a cômoda, um lavatório com espelho todo cercado de rosas
artificiais, um oratório grande, resplandecente de palmas douradas e prateadas,
toalhas de renda por toda a parte, num luxo de igreja, casquilho e defumado. E
ele, o pálido lavadeiro, sempre com o seu lenço cheiroso à volta do pescocinho,
a sua calça branca de boca larga, o seu cabelo mole caldo por detrás das orelhas
bambas, preocupava-se muito em arrumar tudo isso, eternamente, como se
esperasse a cada instante a visita de um estranho. Os companheiros de estalagem
elogiavam-lhe aquela ordem e aquele asseio; pena era que lhe dessem as
formigas na cama! Em verdade, ninguém sabia por que, mas a cama de Albino
estava sempre coberta de formigas. Ele a destruí-las, e o demônio do bichinho a
multiplicar-se cada vez mais e mais todos os dias. Uma campanha
desesperadora, que o trazia triste, aborrecido da vida. Defronte justamente ficava
a casa do Bruno e da mulher, toda mobiliada de novo, com um grande candeeiro
de querosene em frente à entrada, cujo revérbero parecia olhar desconfiado lá de
dentro para quem passava cá no pátio. Agora, entretanto, o casal vivia em santa
paz. Leocádia estava discreta; sabia-se que ela dava ainda muito que fazer ao
corpo sem o concurso do marido, mas ninguém dizia quando, nem onde. O
Alexandre jurava que, ao entrar ou sair fora de horas, nunca a pilhara no vicio; e
a esposa, a Augusta Carne-Mole, ia mais longe na defesa, porque sempre tivera
pena de Leocádia, pois entendia que aquele assanhamento por homem não era
maldade dela; era praga de algum boca do diabo que a quis e a pobrezinha não
deixou. — Estava-se vendo disso todos os dias!— tanto que ultimamente, depois
que a criatura pediu a um padre um pouco de água benta e benzeu-se com esta
em certos lugares, o fogo desaparecera logo, e ela ai vivia direita e séria que não
dava que falar a ninguém! Augusta ficara com a família numa das casinhas do
segundo andar, à direita; estava grávida outra vez; e à noite via-se o Alexandre,
sempre muito circunspecto, a passear ao comprido da varanda, acalentando uma
criancinha ao colo, enquanto a mulher dentro de casa cuidava de outras. A
filharada crescia-lhes, que metia medo. "Era um no papo outro no saco!"
Moravam agora também desse lado os dois cúmplices de Jerônimo, o Pataca e o
Zé Carlos, ocupando juntos o mesmo cômodo; defronte da porta tinham um
fogãozinho e um fogareiro, em que preparavam eles mesmos a sua comida.
Logo adiante era o quarto de um empregado do correio, pessoa muito calada,
bem vestida e pontual no pagamento; saia todas as manhãs e voltava às dez da
noite invariavelmente; aos domingos só ia à rua para comer, e depois fechava-se
em casa e, houvesse o que houvesse no cortiço, não punha mais o nariz de fora.
E, assim como este, notavam-se por último na estalagem muitos inquilinos
novos, que já não eram gente sem gravata e sem meias. A feroz engrenagem
daquela máquina terrível, que nunca parava, ia já lançando os dentes a uma nova
camada social que, pouco a pouco, se deixaria arrastar inteira lá para dentro.
Começavam a vir estudantes pobres, com os seus chapéus desabados, o paletó
fouveiro, uma pontinha de cigarro a queimar-lhes a penugem do buço, e as
algibeiras muito cheias, mas só de versos e jornais; surgiram contínuos de
repartições públicas, caixeiros de botequim, artistas de teatro, condutores de
bondes, e vendedores de bilhetes de loteria. Do lado esquerdo, toda a parte em
que havia varanda foi monopolizada pelos italianos; habitavam cinco a cinco,
seis a seis no mesmo quarto, e notava-se que nesse ponto a estalagem estava já
muito mais suja que nos outros. Por melhor que João Romão reclamasse,
formava-se ai todos os dias uma esterqueira de cascas de melancia e laranja. Era
uma comuna ruidosa e porca a dos demônios dos mascates! Quase que se não
podia passar lá, tal a acumulação de tabuleiros de louça e objetos de vidro,
caixas de quinquilharia, molhos e molhos de vasilhame de folha-de-flandres,
bonecos e castelos de gesso, realejos, macacos, o diabo! E tudo isso no meio de
um fedor nauseabundo de coisas podres, que empesteava todo o cortiço. A parte
do fundo da varanda era asseada felizmente e destacava-se pela profusão de
pássaros que lá tinham, entre os quais sobressaia uma arara enorme que, de
espaço a espaço, soltava um formidável sibilo estridente e rouco. Por debaixo
ficava a casa da Machona, cuja porta, como a janela, Nenen trazia sempre
enfeitada de tinhorões e begônias. O prédio do Miranda parecia ter recuado
alguns passos, perseguido pelo batalhão das casinhas da esquerda, e agora
olhava a medo, por cima dos telhados, para a casa do vendeiro, que lá defronte
erguia-se altiva, desassombrada, o ar sobranceiro e triunfante. João Romão
conseguira meter o sobrado do vizinho no chinelo; o seu era mais alto e mais
nobre, e então com as cortinas e com a mobília nova impunha respeito. Foi
abaixo aquele grosso e velho muro da frente com o seu largo portão de cocheira,
e a entrada da estalagem era agora dez braças mais para dentro, tendo entre ela e
a rua um pequeno jardim com bancos e um modesto repuxo ao meio, de
cimento, imitando pedra. Fora-se a pitoresca lanterna de vidros vermelhos;
foram-se as iscas de fígado e as sardinhas preparadas ali mesmo à porta da
venda sobre as brasas; e na tabuleta nova, muito maior que a primeira, em vez
de "Estalagem de São Romão" lia-se em letras caprichosas:
"AVENIDA SÃO ROMÃO"
O "Cabeça-de-Gato" estava vencido finalmente, vencido para sempre; nem
já ninguém se animava a comparar as duas estalagens. À medida que a de João
Romão prosperava daquele modo, a outra decaía de todo; raro era o dia em que a
polícia não entrava lá e baldeava tudo aquilo a espadeirada de cego. Uma
desmoralização completa! Muitos cabeças-de-gato viraram casaca, passando-se
para os carapicus, entre os quais um homem podia até arranjar a vida, se
soubesse trabalhar com jeito em tempo de eleições. Exemplos não faltavam!
Depois da partida de Rita, já se não faziam sambas ao relento com o
choradinho da Bahia, e mesmo o cana-verde 35 pouco se dançava e cantava;
agora o forte eram os forrobodós dentro de casa, com três ou quatro músicos,
ceia de café com pão; muita calça branca e muito vestido engomado. — E toca a
enfiar para ai quadrilhas e polcas ate romper a manhã!
Mas naquele domingo o cortiço estava banzeiro; havia apenas uns grupos
magros, que se divertiam com a viola à porta de casa. O melhor, ainda assim, era
o da das Dores. Piedade dirigiu-se logo para lá, sombria e cabisbaixa.
— Com o demo! você anda agora que nem o boi castrado! exclamou-lhe o
Pataca, assentando-se ao lado dela. As tristezas atiram-se para trás das costas,
criatura de Deus! A vida não dá para tanto! O homem deixou-te? Ora sebo!
mete-se com outro e põe o coração à larga!
Ela suspirou em resposta, ainda triste; porém, a garrafa de parati correu a
roda, de mão em mão, e, à segunda volta, Piedade já parecia outra. Começou a
conversar e a tomar interesse no pagode. Daí a pouco era, de todos, a mais
animada, falando pelos cotovelos, criticando e arremedando as figuras ratonas
da estalagem. O Pataca ria-se, a quebrar a espinha, caindo por cima dela e
passando-lhe o braço na cintura.
— Você ainda é mulher pr’um homem fazer uma asneira!
— Olha pra que lhe deu o ébrio! Solta-me a perna, estupor!
O grupo achava graça nos dois e aplaudia-os com gargalhadas. E o parati a
circular sempre de mão em mão. A das Dores não descansava um momento; mal
vinha de encher a garrafa lá dentro de casa, tinha de voltar outra vez para
enchê-la de novo. "Olha que estafa! Vão beber pro diabo!" Afinal apareceu com
o garrafão e pousou-o no meio da roda.
— Querem saber! Empinem por aí mesmo, que já estou com os quartos
doendo de tanto andar de lá pra cá!
Essa noite, a bebedeira de Piedade foi completa. Quando João Romão
entrou, de volta da casa do Miranda, encontrou-a a dançar ao som de palmas,
gritos e risadas, no meio de uma grande troça, a saia levantada, os olhos
requebrados, a pretender arremedar a Rita no seu choradinho da Bahia. Era a
boba da roda. Batiam-lhe palmadas no traseiro e com o pé embaraçavam-lhe as
pernas, para a ver cair e rebolar-se no chão.
O vendeiro, de fraque e chapéu alto, foi direito ao grupo, então muito mais
reforçado de gente, e intimou a todos que se recolhessem. Aquilo já não eram
horas para semelhante algazarra!
— Vamos! Vamos! Cada um para a sua casa!
Piedade foi a única que protestou, reclamando o seu direito de brincar um
pouco com os amigos.
Que diabo! não estava fazendo mal a ninguém!
— Ora vá mas é pra cama cozer a mona! vituperou-lhe João Romão,
repelindo-a. Você, com uma filha quase mulher, não tem vergonha de estar aqui
a servir de palhaço?! Forte bêbada!
Piedade assomou-se com a descompostura, quis despicar-se, chegou a
arregaçar as mangas e sungar a saia; mas o Pataca meteu-se no meio e
conteve-a, pedindo a João Romão que não levasse aquilo em conta, porque era
tudo cachaça.
— Bom, bom, bom! mas aviem-se! Aviem-se!
E não se retirou sem ver a roda dissolvida, e cada qual procurando a casa.
Recolheram-se todos em silêncio; só o Pataca e Piedade deixaram-se ficar
ainda no pátio, a discutir o ato do vendeiro. O Pataca também estava bastante
tocado. Ambos reconheciam que lhes não convinha demorar-se ali, porém
nenhum dos dois se sentia disposto a meter-se no quarto.
— Você tem lá alguma coisa que beber em casa?... perguntou ele afinal.
Ela não sabia ao certo; foi ver. Havia meia garrafa de parati e um resto de
vinho. Mas era preciso não fazer barulho, por’mor da pequena que estava
dormindo.
Entraram em ponta de pés, a falar surdamente. Piedade deu mais luz ao
candeeiro.
— Olha agora! Vamos ficar às escuras! Acabou-se o gás!
O Pataca saiu, para ir a casa buscar uma vela, e de volta trouxe também um
pedaço de queijo e dois peixes fritos, que levou ao nariz da lavadeira, sem dizer
nada. Piedade, aos bordos, desocupou a mesa do engomado e serviu dois pratos.
O outro reclamou vinagre e pimenta e perguntou se havia pão.
—Pão há. O vinho é que é pouco!
— Não faz mal! Vai mesmo com a caninha!
E assentaram-se. O cortiço dormia já e só se ouviam, no silêncio da noite,
cães que ladravam lá fora na rua, tristemente. Piedade começou a queixar-se da
vida; veio-lhe uma crise de lágrimas e soluços. Quando pôde falar contou o que
lhe sucedera essa tarde, narrou os pormenores da sua ida com a filha à procura
do marido, o jantar em comum com a peste da mulata, e afinal a sua humilhação
de vir de lá enxovalhada e corrida.
Pataca revoltou-se, não com o procedimento de Jerônimo, mas com o dela.
Rebaixar-se àquele ponto! com efeito!... Ir procurar o homem lá na casa da
outra!... Oh!
— Ele tratou-me bem, quando lá fui da primeira vez... Hoje é que não sei o
que tinha: só faltou pôr-me na rua aos pontapés!
— Foi bem feito! Ainda acho pouco! Devia ter-lhe metido o pau, para você
não ser tola!
— É mesmo!
— Pois não! O que não falta são homens, filha! O mundo é grande! Para um
pé doente há sempre um chinelo velho!— E ferrou-lhe a mão nas pernas:—
Chega-te para mim, que te esqueceras do outro!
Piedade repeliu-o. Que se deixasse de asneiras!
— Asneiras! É o que se leva desta vida!
A pequena acordara lá no quarto e viera descalça até à porta da sala de
jantar, para espiar o que faziam os dois.
Não deram por ela.
E a conversa prosseguiu, esquentando a medida que a garrafa de parati se
esvaziava. Piedade deu de mão aos seus desgostos, pôs-se a papaguear um
pouco; as lágrimas foram-se-lhe; e ela manducou então com apetite, rindo já das
pilhérias do companheiro, que continuava a apalpar-lhe de vez em quando as
coxas.
Aquelas coisas, assim, sem se esperar, é que tinham graça!... dizia ele,
excitado e vermelho, comendo com a mão, a embeber pedaços de peixe no
molho das pimentas. Bem tolo era quem se matava!
Depois lembrou que não viria fora de propósito uma xicrinha de café.
— Não sei se há, vou ver, respondeu a lavadeira, erguendo-se agarrada à
mesa.
E bordejou até à cozinha, a dar esbarrões pela direita e pela esquerda.
— Tento no leme, que o mar está forte! exclamou Pataca, levantando-se
também, para ir ajudá-la.
Lá perto do fogão agarrou-a de súbito, como um galo abafando uma galinha.
— Larga! repreendeu a mulher, sem forças para se defender.
Ele apanhou-lhe as fraldas.
— Espera! Deixa!
— Não quero!
E ria-se por ver a atitude cômica do Pataca vergado defronte dela.
— Que mal faz?.. Deixa!
— Sai daí, diabo!
E, cambaleando, amparados um no outro, foram ambos ao chão.
— Olha que peste! resmungou a desgraçada, quando o adversário conseguiu
saciar-se nela. Marraios te partam!
E deixou-se ficar por terra. Ele pôs-se de pé e, ao encaminhar-se para a sala
de jantar, sentiu uma ligeira sombra fugir em sua frente. Era a pequena, que fora
espiar à porta da cozinha.
Pataca assustara-se.
— Quem anda aqui a correr como gato?... perguntou voltando a ter com
Piedade, que permanecia no mesmo lugar, agora quase adormecida.
Sacudiu-a.
— Olá! Queres ficar ai, ó criatura! Levanta-te! Anda a ver o café!
E, tentando erguê-la, suspendeu-a por debaixo dos braços. Piedade, mal
mudou a posição da cabeça, vomitou sobre o peito e a barriga uma golfada
fétida.
— Olha o demo! resmungou Pataca. Está que se não pode lamber!
E foi preciso arrastá-la até a cama, que nem uma trouxa de roupa suja. A
infeliz não dava acordo de si.
Senhorinha acudira, perguntando aflita o que tinha a mãe.
— Não é nada, filha! explicou o Pataca. Deixe-a dormir, que isso passa!
Olha! se há limão em casa passa-lhe um pouco atrás da orelha, e veras que
amanhã acorda fina e pronta pra outra!
A menina desatou a soluçar.
E o Pataca retirou-se, a dar encontrões nos trastes, furioso, porque, afinal,
não tomara café.
Sebo! |
XX
Sie kamen um neun Uhr abend an. Piedade hatte ein gebrochenes Herz. Während des ganzen Weges sagte sie kein Wort und nachdem sie die Kleine zu Bett gebracht hatte, lehnte sie sich schluchzend an die Kommode.
Sie war völlig am Ende! Völlig!
Sie nahm die Flasche Schnaps und trank einen Schluck. Sie weinte noch und trank wieder. Dann ging sie auf den Hof, gewillt an der Fröhlichkeit derer, die sich dort vergnügten teilzuhaben.
Das Dores aß zu abend. Man hörte das Lachen von ihr und die trunkene Stimme ihres Mannes, dieses Geschäftsmannes, von Zeit zu Zeit die von den Schreien Machonas, die mit Agostinho schimpfte, übertönt. An verschiedenen Punkten sang man und spielte Guitarre.
Die Mietskaserne war allerdings nicht mehr dieselbe. Sie war jetzt ganz anders und man konnte sich kaum noch eine Vorstellung davon machen, wie es früher war. Der Hof hatte sich, wie João Romão angekündigt hatte, mit den neuen Gebäuden verengt. Jetzt schien er wie eine Straße, überall gleich gepflastert und von drei großen, symetrisch angeordneten Laternen beleuchtet. Es waren sechs Latrinen, sechs Wasserspeicher und drei Bäder eingerichtet worden. Die kleinen Obstgärten, die Ziergärten und die riesigen Lager mit leeren Flaschen waren verschwunden. Links, bis dahin wo das Gebäude von Miranda stand, erstreckte sich ein neuer Flur Häuschen mit Tür und Fenster und von da an weiter, den ganzen hinteren Teil ausfüllend und dann rechts abbiegend bis zum Haus von João Romão, war ein zweites Geschoss, das vom ersten durch eine zwar nicht besonders Breite,dafür aber lange Veranda getrennt war, durch die man über zwei Treppen, eine an jedem Ende, hinaufgehen konnte. Die Anzahl der Häuschen hatte sich von hundert und irgendwas auf mehr als vierhundert vergrößert. Das alles war verputzt und frisch gestrichen. Weiße Wände, grüne Türen und rote Regenrinnen. Nur wenige Plätze waren leer. Einige Mieter hatten Pflanzen in die Türen und die Fenster gestellt, in Wannen oder in Tontöpfen. Albino dehnte seinen Spleen noch auf die Vorhänge seiner Wohnung und den mit einer Bastmatte bedeckten Boden aus. Sein Haus unterschied sich von den anderen. Es befand sich im unteren Stockwerk und schon von außen sah man die rote Tapete des Raumes, das Mobliar glänzte sehr, auf der Komode standen Blumenvasen, ein Waschbecken mit einem Spiegel ganz umfasst von künstlichen Rosen, ein großer Hausaltar, mit goldenen und silbernen Palmen verziert, überall gestickte Handtücher, so reich wie in einer Kirche, Kitsch und Weihrauch. Und er, der blasse Wäscher, immer mit seinem duftenden Tuch um den Hals, seinen weißen Schlagerhosen, seinem weichen Haar, mit Gel hinter den schlaffen Ohren gehalten, gab sich immer viel Mühe das alles herzurichten, als ob er jeden Moment einen Fremden erwarten würde. Die Kameraden der Mietskaserne lobten ihn für diese Ordnung und diese Reinlichkeit. Es war schade, dass er Ameisen im Bett hatte! Tatsächlich wusste niemande warum, aber das Bett von Albino war immer bedeckt mit Ameisen. Er tötete sie, aber der Dämon von einem Wurm vermehrte sich immer mehr und alle Tage. Eine Zug, der einen zur Verzweiflung bringen konnte, ihn traurig machte und ihm das Leben vergälte. Genau gegenüber war das Haus von Bruno und seiner Frau, völlig neu eingerichtet, mit einer großen Kerosinlampe vor der Tür, deren Widerschein misstrauisch nach innen zu schauen schien, um zu sehen wer gerade über den Hof ging. Das Ehepaar lebte jetzt in heiligem Frieden. Sie wusste, dass sie noch viele Aufgaben für den Körper ohne den Beistand des Mannes hatte, aber sie sagte nie wann und wo. Alexandre schwor, dass er auch dann, wenn er zu ungewöhnlichen Zeiten kam oder ging, sie nie bei einer Sünde ertappte. Seine Gattin, Augusta Carne-Moel, war vorsichtiger, weil sie immer Mitleiid mit Leocádia hatte, sie dieses Verlangen nach einem Mann nicht für eine Krankheit von ihr hielt, sondern für den Fluch aus dem Mund eines Teufels, der sie besitzen wollte, was die Arme nicht zuließ. Das sah man jeden Tag, so dass schließlich, nachdem sie einen Padre um ein bisschen Weihwasser gebeten hatte und sich mit diesem an bestimmten Körperstellen gesegnet hatte,das Feuer sofort erlosch und sie offen und ehrenhaft lebte und niemandem Anlass zu Tratsch gab! Augusta blieb mit der Familie in einem der Häuschen im zweiten Stockwerk, rechts. Sie war wieder schwanger. Nachts sah man Alexandre, immer sehr ernst, auf der langen Veranda hin- und hergehen, an seinem Hals eine kleine Kreatur wärmend, während die Frau im Inneren die anderen hütete. Die Anzahl der Töchter wuchs in beängstigender Weise. "Einer ins Töpfchen der andere ins Kröpfchen!"
Auch die zwei Komplizen von Jerônimo, Pataca und Zé Carlos lebten jetzt, im selben Häuschen, auf dieser Seite. Vor ihrer Tür hatten sie einen kleinen Ofen und eine Herdplatte, wo sie selbst ihr Essen zubereiteten. Weiter vorne war das Zimmer eines Angestellten der Post, ein sehr schweigsamer Mensch, gut angezogen, der immer pünktlich bezahlte. Er ging immer morgens weg und kam immer um 10 Uhr abends zurück. Nur Sonntags ging er auf die Straße um zu essen, dann schloss er sich im Haus ein und was immer auch in der Mietskaserne vor sich ging, er streckte nie die Nase heraus.
So wie er gab es viele neue Mieter in der Mietskaserne, die jetzt schon nicht mehr Leute ohne Krawatte und Strümpe waren. Das furchteinflössende Getriebe dieser schrecklichen Maschine, die nie anhielt, zeigte, Stück für Stück, schon einer neuen sozialen Schicht die Zähen, die sich von ihr ins Innere ziehen ließ.
Es kamen immer mehr arme Studenten mit abgewetzten Hüten, abgenutzten Mänteln, ein Zigartettenstummel, der ihnen fast den Schnauzer verbrannte, mit sehr vollen Taschen, aber nur mit Versen aus Zeitungen. Es tauchten Angestellte von öffentlichen Ämtern auf, Bedienste von Schenken, Artisten des Theaters, Kutscher und Lotterieverkäufer. Auf der linken Seite, der ganze Bereich, der ein Veranda hatte, wurde von den Italienern in Beschlag genommen. Sie wohnten zu fünft oder zu sechst im selben Zimmer und man sah, dass an dieser Stelle die Mietskaserne schon sehr viel schmutziger war, als an anderen Orten. Wie sehr sich João Romão auch beschwerte, jeden Tag entstand dort ein Müllhaufen aus Melonen- und Orangenschalen. Es war eine lärmende und schmutzige Gesellschaft von fliegenden Händler aller Art! Man konnte dort kaum noch durchgehen, so groß war die aufgehäufte Menge an Geschirr und Gläsern, Messingkästchen, Schüsseln, Scherben, Blechbüchsen, Puppen und Schlösseren aus Gips, Drehorgeln, Affen und weiß der Teufel was noch alles! Und all das inmitten eines ekelhaften Gestankes von verfaulten Dingen, der in der ganzen Mietskaserne wahrnehmbar war. Der Hintergrund der Veranda war blitzblank und zeichnete sich durch die Menge an Vögeln aus, die dort gehalten wurden, unter welchen ein riesiger Ara hervorstach, der von Zeit zu Zeit eine schrillen und rauen Schrei hervorbrachte. Unterhalb befand sich das Haus von Machona, deren Tür und Fenster von Nenem immer mit Kaladien und Begonien geschmückt wurde. Das Gebäude von Miranda schien, verfolgt von dem Bataillon der Häuser auf der linken Seite, einige Schritte zurückgedrängt worden zu sein und schaute jetzt ängstlich über das Dach des Kneipenwirts hinweg, das sich ihm gegenüber hochnäsig, furchtlos, souverän und triumphierend erhob. João Romão hatte es geschafft, das zweistöckige Haus des Nachbarn in die Knie zu zwingen. Seines war höher und nobler und mit den Vorhängen und dem neuen Mobiliar flößte es Respekt ein. Die große und alte Mauer gegenüber mit ihrem großen Tor für die Kutschen war eingerissen worden und der Eingang in die Mietskaserne war jetzt ein Stück mehr nach innen, wobei zwischen diesem und der Straße ein kleiner Garten mit Bänken und einem bescheidenen Springbrunnen war, aus Zement, der aber Stein imitierte.
Weg war die pitoreske Laterne mit roten Gläsern, weg war die gebratene Leber und die Sardinen, die dort an der Tür über der Glut zubereitet wurden. Auf der neuen Tafel, sehr viel größer als die erste stand anstatt "Mietshaus von São Romão in extravaganten Buchstaben
Boulevard SÃO ROMÃO.
Der "Kopf der Katze" war schließlich endgültig besiegt, für immer besiegt. Es wagte schon keiner mehr, die zwei Mietskasernen miteinander zu vergleichen. In dem Maße, wie die von João Romão prosperierte, verfiel die andere. Es gab nur wenig Tage, an denen die Polizei nicht dort eindrang, blind um sich schlug und sauber machte. Der moralische Verfall war vollkommen. Viele Köpfe-der-Katze wechselten die Tracht und liefen zu den Silberlingen über, unter denen ein Mann sogar, wenn er es in Zeiten von Wahlen richtig anstellte, sogar seinen Lebensunterhalt verdienen konnte. Dafür gab es einige Beispiele.
Nachdem Rita gegangen war, gab es keinen spontanen Samba mit der Choradinho Musik von Bahia mehr und auch die Cana-Verde 35 wurde kaum noch getanzt und gesungen. Jetzt dominierte der Forrobodós innerhalb des Hauses, mit drei oder vier Musikern, Abendessen mit Kaffee und Brot, viel weiße Hosen und viel gebügelte Wäsche, was man anziehen muss, wenn man bis in die Morgenstunden Quartette und Polkas tanzen will.
An diesem Sonntag jedoch war es still in der Mietskaserne. Nur ein paar kleine Gruppen vergnügten sich mit vor der Tür mit der Guitarre. Das Beste, unter diesen Umständen, war die Gruppe vor der Tür von das Dores. Piedade ging also, betrübt und mit gesenktem Kopf, dahin.
"Mein Gott, du läufst ja immer noch rum wie ein kastrierter Ochse!", rief ihr Pataca zu und setzte sich neben sie, "die Missgeschicke lässt man hinter sich, so wahr mir Gott helfe! So schlimm ist das nicht! Der Mann hat dich verlassen? Na, was solls! Such dir einen anderen und mach dein Herz frei!"
Sie seufzte als Antwort auf, immer noch traurig. Die Flasche mit dem Schnaps kreiste jedoch von Hand zu Hand und schon bei zweiten Mal schien Piedade wie ausgewechselt. Sie begann zu reden und teilzunehmen an der Feier und schon nach kurzer Zeit war sie von von allen die lustigste, sprach wie ein Wasserfall, machte sich über andere Gestalten der Mietskaserne lustig und imitierte sie. Pataca bog sich vor lachen, fiel auf sie drauf und schlug den Arm um ihre Hüfte.
"Du bist noch die Frau, für die ein Mann eine Dummheit machen würde!"
" Du bist ja betrunken! Lass mein Bein los, du Vogelscheuche!"
Die Gruppe fand die zwei lustig und applaudierte mit schallendem Gelächter. Und der Schnaps kreiste weiter von Hand zu Hand. Das Dores ruhte nicht einen Moment. Kaum hatte sie die Flasche im Inneren des Hauses gefüllt, musste sie wieder umkehren, um sie von neuem zu füllen. "Das ist ja wie verhext! Ihr trinkt ja wie die Teufel!". Schließlich brachte sie die Korbflasche und stellte sie mitten in die Runde.
"Merkt euch! Besauft euch gleich hier, mir tun schon die Hüften weh von der ganzen hin- und her Lauferei!"
Diese Nacht betrank sich Piedade vollkommen. Als João Romão hereinkam, bei der Rückkehr von Miranda, sah er, wie sie zum Rhythmus der Hände, der Schreie und des Gelächters tanzte, inmitten eine großen Tohuwabohus, den Rock hochgezogen, mit laszivem Blick, gab vor Rita zu imititeren, wenn sie einen Choradinho von Bahia tanzte. Sie war die Idiotin der Runde. Gaben ihr einen Klaps auf den Po und mit den Füßen versuchten sie sie zum stolpern zu bringen, damit sie auf den Boden fiel.
Der Kneipenwirt, im Frack und hohen Hut, ging direkt zu der Gruppe, jetzt schon von robusterer Statur und befahl ihnen, sich zurückzuziehen. Um diese Stunde machte man nicht mehr einen solchen Krach!
"Los! Los! Ab nach Hause!"
Piedade war die einzige, die protestierte, pochte auf ihr Recht, sich ein bisschen mit ihren Freunden zu amüsieren.
Zum Teufel, sie tat niemandem etwas!
"Das Beste ist jetzt ins Bett zu gehen und zu schlafen!", entgegnete ihr João Romão tadelnd, "hast ein Kind, das schon fast eine Frau ist und schämst dich nicht, hier den Clown zu machen?! Total betrunken!"
Piedade reagierte empört auf diese Beleidigung, wollte sich rächen, fing schon an, die Hembsärmel hochzuziehen und den Rock hochzuziehen, aber Pataca stellte sich dazwischen und hielt sie zurück, João Romão bittend, dass er das nicht so ernst nehme, weil es alles nur mit dem Schnaps zusammenhing.
"Gut, gut, aber jetzt abmarsch! Abmarsch!"
Und er ging nicht eher, bevor sich die Runde nicht aufgelöst hatte und jeder auf dem Nachhauseweg war.
Alle zogen sich schweigend zurück. Nur Pataca und Piedade blieben noch im Hof und diskutierten über das Verhalten des Kneipenwirtes. Auch Pataca war ziemlich beschwipst. Beiden war klar, dass es für sie nicht günstig sei, dort zu verbleiben, keiner von beiden jedoch war geneigt, sich auf sein Zimmer zurückzuziehen.
"Hast du etwas zu trinken zu Hause?", fragte er schließlich.
Sie war sich nicht sicher und gng nachschauen. Es war eine halbe Flasche Schnaps da und ein Rest Wein. Man durfte allerdings, aus Rücksicht auf die Kleine, die schlief, keinen Lärm machen.
Sie kamen auf Zehenspitzen herein, sprachen flüsternd. Piedade stellte die Öllampe höher.
"So was! Wir werden im Dunkeln sitzen! Das Gas ist zu Ende!"
Pataca ging hinaus, um eine Kerze zu suchen und auf dem Rückweg brachte er ein Stück Käse und zwei fritierte Fische mit, die er der Wäscherin vor die Nase hielt, ohne etwas zu sagen. Piedade räumte wankend die gebügelte Wäsche vom Tisch stellte zwei Teller hin. Der andere verlangte Essig und Pfeffer und fragte, ob Brot da wäre.
"Brot ist da. Wein nur wenig!"
"Das macht nichts! Das geht auch mit einem Schnäpschen!"
Und sie setzten sich. Die Mietskaserne schlief schon und man hörte nur noch, in der Stille der Nacht, Hunde die draußen auf der Straße traurig bellten. Piedade begann,sich über das Leben zu beklagen. Sie wurde von Schluchzern und einem Weinkrampf erschüttert. Als sie wieder sprechen konnte, erzählte sie, was ihr an diesem Nachmittag zugestoßen war. Sie erzählte alle Details, wie sie mit ihrer Tochter ihren Mann aufsuchte, von ihrem Abendessen mit dieser verfluchten Mulattin und schließlich wie die Erniedrigung als sie gedemütigt weggeschickt wurde.
Pataca war aufgebracht, allerdings nicht wegen des Verhaltens von Jerônimo, sonden wegen ihres Verhaltens.
Sich so zu erniedrigen! Unglaublich! Den Mann im Hause der anderen zu besuchen! Wie kann man nur!
"Als ich zum ersten Mal hinging, hat er mich gut behandelt! Ich weiß nicht, was er heute hatte. Es hätte nur rnoch gefehlt, dass er mich geschlagen hat!"
"Gut gemacht! Ich würde sogar sagen, das war noch zu wenig! Er hätte dir eine Tracht Prügel mit dem Stock verabreichen müssen, weil du so dumm warst!"
"Das hätte noch gefehlt!"
"Ganz und gar nicht! Was nicht fehlt sind Männer, Kind! Die Welt ist groß! Für einen kranken Fuß, gibt es immer einen Schlappen der passt und für jeden Topf gibt es einen Deckel!". Bei diesen Worten vergrub er ihre Hand zwischen seinen Beinen.
Komm mit mir und du wirst den anderen vergessen.
Piedade stieß ihn zurück. Lass die Dummheiten!
"Dummheiten! Das ist das, was das Leben bringt!"
Die Kleine im anderen Zimmer wachte auf und kam barfuß bis zur Tür des Esszimmers, um nachzuschauen, was die zwei machen.
Sie achteten nicht auf sie.
Das Gespräch ging weiter, wurde in dem Maße hitziger, wie sich die Flasche Schnaps leerte. Piedade ließ ihrem Ärger freien Lauf, wiederholte immer wieder dasselbe. Dann versiegten ihre Tränen und sie kaute mit Appetit, lachte schon über Streiche des Kameraden, der ihr weiterhin von Zeit zu Zeit über die Hüften strich.
"Das waren die Sachen, die unverhofft kommen und Spaß machen!", sagte er erregt und rot, während er mit der Hand aß, während er gepfefferte Fischstücke verschlang. Ziemlich dumm war der, der sich zu viele Sorgen machte!
Dann fiel ihm ein, dass eine Tasse Kaffee jetzt ganz gut wäre.
"Ich weiß nicht, ob welcher da ist, ich geh nachschauen", antwortete die Wäscherin und standd, sich an den Tisch klammernd, auf.
Sie wankte in die Küche, wobei sie links und rechts anstieß.
"Ich versuche mein Glück, denn das Meer ist in Bewegung!", rief Pataca und erhob sich ebenfalls um ihr zu helfen.
In der Nähe des Ofens packte er sie sofort, wie ein Hahn, der ein Huhn bedrängt.
Sie wies ihn zurecht.
"Lass das! Hör auf damit!"
"Ich will nicht!"
Sie lachte über die gebückte Haltung von Pataca vor ihr.
"Was ist schlecht daran? Lass!"
"Geh weg da, Teufel!"
Wankend, der eine den anderen umklammernd, gingen sie zu Boden.
"Verflucht noch mal!", brummte die Unglückliche, als es dem Gegner gelungen war, seine Lust an ihr zu befriedigen, "soll dich doch der Teufel holen!"
Und er ließ sich zu Boden fallen. Sie ließ sich zu Boden fallen. Er stand auf und als er ins Esszimmer ging, sah er vor sich einen leichten Schatten entfliehen. Es war die Kleine, die an der Küchentür gelauscht hatte.
Pataca erschrak.
"Wer ist da und rennt wie eine Katze hin und her?", fragte er und wandte sich Piedade zu, die noch immer am selben Platz war, jetzt fast eingeschlafen.
Er schüttelte sie.
"Wach auf! Willst du da liegen bleiben Frau! Steh auf! Schau nach dem Kaffee!"
Er versuchte sie hochzuheben und fasste sie unter den Armen. Piedade bewegte kaum den Kopf und erbrach sich über die Brust und den Bauch eine stinkende Ladung.
"Verflucht!", brummte Pataca, "die verträgt nichts."
Man musste sie bis zum Bett schleppen wie ein Bündel schmutziger Wäsche. Die Unglückliche gab kein Lebenszeichen von sich.
Die "hohe Frau" rannte herbei und fragte traurig, was die Mutter hat.
"Nicht, nichts mein Kind!", erklärte Pataca. Lass sie schlafen, das geht vorüber! Hörmal, wenn du Zitronen hast, dann streich ihr damit hinter den Ohren und du wirst sehen, dass sie morgen wieder wie neu ist!"
Die Kleine fing an zu schluchzen.
Pataca zog sich zurück und ging schlafen, wütend, weil er schließlich keinen Kaffee bekommen hatte.
Verdammt! |
XXI
Ao mesmo tempo, João Romão, em chinelas e camisola, passeava de um
para outro lado no seu quarto novo. Um aposento largo e forrado de azul e
branco com florinhas amarelas fingindo ouro; havia um tapete aos pés da cama,
e sobre a peniqueira um despertador de níquel, e a mobília toda era já de
casados, porque o esperto não estava para comprar móveis duas vezes.
Parecia muito preocupado; pensava em Bertoleza que, a essas horas, dormia
lá embaixo num vão de escada, aos fundos do armazém, perto da comua.
Mas que diabo havia ele de fazer afinal daquela peste?
E coçava a cabeça, impaciente por descobrir um meio de ver-se livre dela.
É que nessa noite o Miranda lhe falara abertamente sobre o que ouvira de
Botelho, e estava tudo decidido: Zulmira aceitava-o para marido e Dona Estela
ia marcar o dia do casamento.
O diabo era a Bertoleza!...
E o vendeiro ia e vinha no quarto, sem achar uma boa solução para o
problema.
Ora, que raio de dificuldade armara ele próprio para se coser!... Como
poderia agora mandá-la passear assim, de um momento para outro, se o demônio
da crioula o acompanhava já havia tanto tempo e toda a gente na estalagem sabia
disso?
E sentia-se revoltado e impotente defronte daquele tranqüilo obstáculo que
lá estava embaixo, a dormir, fazendo-lhe em silêncio um mal horrível,
perturbando-lhe estupidamente o curso da sua felicidade, retardando-lhe, talvez
sem consciência, a chegada desse belo futuro conquistado à força de tamanhas
privações e sacrifícios! Que ferro!
Mas, só com lembrar-se da sua união com aquela brasileirinha fina e
aristocrática, um largo quadro de vitórias rasgava-se defronte da desensofrida
avidez da sua vaidade. Em primeiro lagar fazia-se membro de uma família
tradicionalmente orgulhosa, como era, dito por todos, a de Dona Estela; em
segundo lagar aumentava consideravelmente os seus bens com o dote da noiva,
que era rica e, em terceiro, afinal, caber-lhe-ia mais tarde tudo o que o Miranda
possuía, realizando-se deste modo um velho sonho que o vendeiro afagava desde
o nascimento da sua rivalidade com o vizinho.
E via-se já na brilhante posição que o esperava: uma vez de dentro,
associava-se logo com o sogro e iria pouco a pouco, como quem não quer a
coisa, o empurrando para o lado, até empolgar-lhe o lagar e fazer de si um
verdadeiro chefe da colônia portuguesa no Brasil; depois, quando o barco
estivesse navegando ao largo a todo o pano — tome lá alguns pares de contos de
réis e passe-me para cá o titulo de Visconde!
Sim, sim, Visconde! Por que não? e mais tarde, com certeza, Conde! Eram
favas contadas!
Ah! ele, posto nunca o dissera a ninguém, sustentava de si para si nos
últimos anos o firme propósito de fazer-se um titular mais graduado que o
Miranda. E, só depois de ter o titulo nas unhas, é que iria à Europa, de passeio,
sustentando grandeza, metendo invejas, cercado de adulações, liberal, pródigo,
brasileiro, atordoando o mundo velho com o seu ouro novo americano!
E a Bertoleza? gritava-lhe do interior uma voz impertinente.
— É exato! E a Bertoleza?... repetia o infeliz, sem interromper o seu vaivém
ao comprido da alcova.
Diabo! E não poder arredar logo da vida aquele ponto negro; apagá-lo
rapidamente, como quem tira da pele uma nódoa de lama! Que raiva ter de
reunir aos vôos mais fulgurosos da sua ambição a idéia mesquinha e ridícula
daquela inconfessável concubinagem! E não podia deixar de pensar no demônio
da negra, porque a maldita ali estava perto, a rondá-lo ameaçadora e sombria; ali
estava como o documento vivo das suas misérias, já passadas mas ainda
palpitantes. Bertoleza devia ser esmagada, devia ser suprimida, porque era tudo
que havia de mau na vida dele! Seria um crime conservá-la a seu lado! Ela era o
torpe balcão da primitiva bodega; era o aladroado vintenzinho de manteiga em
papel pardo; era o peixe trazido da praia e vendido à noite ao lado do fogareiro à
porta da taberna; era o frege imundo e a lista cantada das comezainas à
portuguesa; era o sono roncado num colchão fétido, cheio de bichos; ela era a
sua cúmplice e era todo seu mal— devia, pois, extinguir-se! Devia ceder o lagar
à pálida mocinha de mãos delicadas e cabelos perfumados, que era o bem,
porque era o que ria e alegrava, porque era a vida nova, o romance solfejado ao
piano, as flores nas jarras, as sedas e as rendas, o chá servido em porcelanas
caras; era enfim a doce existência dos ricos, dos felizes e dos fortes, dos que
herdaram sem trabalho ou dos que, a puro esforço, conseguiram acumular
dinheiro, rompendo e subindo por entre o rebanho dos escrupulosos ou dos
fracos. E o vendeiro tinha defronte dos olhos o namorado sorriso da filha do
Miranda, sentia ainda a leve pressão do braço melindroso que se apoiara ao seu,
algumas horas antes, em passeio pela praia de Botafogo; respirava ainda os
perfumes da menina, suaves, escolhidos e penetrantes como palavras de amor;
nos seus dedos grossos, curtos, ásperos e vermelhos, conservava a impressão da
tépida carícia daquela mãozinha enluvada que, dentro em pouco, nos prazeres
garantidos do matrimônio, afagar-lhe-ia as carnes e os cabelos.
Mas, e a Bertoleza?...
Sim! era preciso acabar com ela! despachá-la! sumi-la por uma vez!
Deu meia-noite no relógio do armazém. João Romão tomou uma vela e
desceu aos fundos da casa, onde Bertoleza dormia. Aproximou-se dela, pé ante
pé, como um criminoso que leva uma idéia homicida.
A crioula estava imóvel sobre o enxergão, deitada de lado, com a cara
escondida no braço direito, que ela dobrara por debaixo da cabeça. Aparecia-lhe
uma parte do corpo nua.
João Romão contemplou-a por algum tempo, com asco.
E era aquilo, aquela miserável preta que ali dormia indiferentemente, o
grande estorvo da sua ventura!... Parecia impossível!
— E se ela morresse?...
Esta frase, que ele tivera, quando pensou pela primeira vez naquele
obstáculo à sua felicidade, tornava-lhe agora ao espírito, porém já amadurecida e
transformada nesta outra:
— E se eu a matasse?
Mas logo um calafrio de pavor correu-lhe por todos os nervos.
Além disso, como?... Sim, como poderia despachá-la, sem deixar sinais
comprometedores do crime?... Envenenando-a?... Dariam logo pela coisa!...
Matá-la a tiro?... Pior! Levá-la a um passeio fora da cidade, bem longe e, no
melhor da festa, atirá-la ao mar ou por um despenhadeiro, onde a morte fosse
infalível?... Mas como arranjar tudo isso, se eles nunca passeavam juntos?...
Diabo!
E o desgraçado ficou a pensar, abstrato, de castiçal na mão, sem despregar
os olhos de cima de Bertoleza, que continuava imóvel, com o rosto escondido no
braço.
— E se eu a esganasse aqui mesmo?...
E deu, na ponta dos pés, alguns passos para frente, parando logo, sem deixar
nunca de contemplá-la.
Mas a crioula ergueu de improviso a cabeça e fitou-o com os olhos de quem
não estava dormindo.
— Ah! fez ele.
— Que é, seu João?
— Nada. Vim só ver-te... Cheguei ainda não há muito... Como vais tu?
Passou-te a dor do lado?...
Ela meneou os ombros, sem responder ao certo. Houve um silêncio entre os
dois. João Romão não sabia o que dizer e saiu afinal, escoltado pelo
imperturbável olhar da crioula, que o intimava mesmo pelas costas.
— Teria desconfiado? pensou o miserável, subindo de novo para o quarto.
Qual! Desconfiar de quê?...
E meteu-se logo na cama, disposto a não pensar mais nisso e dormir
incontinenti. Mas o seu pensamento continuou rebelde a parafusar sobre o
mesmo assunto.
— É preciso despachá-la! É preciso despachá-la quanto antes, seja lá como
for! Ela, até agora, não deu ainda sinal de si; não abriu o bico a respeito da
questão; mas, Dona Estela está a marcar o dia do casamento; não levará muito
tempo para isso... o Miranda naturalmente comunica a noticia aos amigos... o
fato corre de boca em boca... chega aos ouvidos da crioula e esta, vendo-se
abandonada, estoura! estoura com certeza! E agora o verás! Como deve ser
bonito, hein?... Ir tão bem até aqui e esbarrar na oposição da negra!... E os
comentários depois!... O que não dirão os invejosos lá da praça?... "Ah, ah! ele
tinha em casa uma amiga, uma preta imunda com quem vivia! Que tipo! Sempre
há de mostrar que e gentinha de laia muito baixa!... E aqui a engazopar-nos com
uns ares de capitalista que se trata à vela de libra! Olha o carapicu pra que havia
de dar. Sai sujo!" E, então, a família da menina, com medo de cair também na
boca do mundo, volta atrás e dá o dito por não dito! Bem sei que ela está a par
de tudo; isso, olé, se está! mas finge-se desentendida, porque conta, e com razão,
que eu não serei tão parvo que espere o dia do casamento sem ter dado sumiço à
negra! contam que a coisa correrá sem o menor escândalo! E eu, no entanto, tão
besta que nada fiz! E a peste da crioula está ai senhora do terreiro como dantes,
e não descubro meio de ver-me livre dela!... Ora já se viu como arranjei
semelhante entalação?... Isto contado não se acredita!
E pisava e repisava o caso, sem achar meio de dar-lhe saída!
Diabo!
— Ela há muito que devia estar longe de mim... fiz mal em não cuidar logo
disso antes de mais nada!... Fui um pedaço d’asno! Se eu a tivesse despachado
logo, quando ainda se não falava no meu casamento, ninguém desconfiaria da
história: "Por que diabo iria o pobre homem dar cabo de uma mulher, com quem
vivia na melhor paz e que era até, dentro de casa, o seu braço direito?..." Mas
agora, depois de todas aquelas reformas de vida; depois da separação das camas,
e principalmente depois que corresse a noticia do casamento, não faltaria decerto
quem o acusasse, se a negra aparecesse morta de repente!
Diabo!
Deram quatro horas, e o desgraçado nada de pregar olho; continuava a
matutar sobre o assunto, virando-se de um para outro lado da sua larga e
rangedora cama de casados. Só pelo abrir da aurora, conseguiu passar pelo sono;
mas, logo às sete da manhã, teve de pôr-se a pé: o cortiço estava todo
alvoroçado com um desastre.
A Machona lavava à sua tina, ralhando e discutindo como sempre, quando
dois trabalhadores, acompanhados de um ruidoso grupo de curiosos,
trouxeram-lhe sobre uma tábua o cadáver ensangüentado do filho. Agostinho
havia ido, segundo o costume, brincar à pedreira com outros dois rapazitos da
estalagem; tinham, cabritando pelas arestas do precipício, subido a uma altura
superior a duzentos metros do chão e, de repente, faltara-lhe o equilíbrio e o
infeliz rolou de lá abaixo, partindo os ossos e atassalhando as carnes.
Todo ele, coitadinho, era uma só massa vermelha; as canelas, quebradas no
joelho, dobravam moles para debaixo das coxas; a cabeça, desarticulada, abrira
no casco e despejava o pirão dos miolos; numa das mãos faltavam-lhe todos os
dedos e no quadril esquerdo via-se-lhe sair uma ponta de osso ralado pela pedra.
Foi um alarma no pátio quando ele chegou.
Cruzes! que desgraça!
Albino, que lavava ao lado da Machona, teve uma síncope; Nenen ficou que
nem doida, porque ela queria muito àquele irmão; a das Dores imprecou contra
os trabalhadores, que deixavam um filho alheio matar-se daquele modo em
presença deles; a mãe, essa apenas soltou um bramido de monstro apunhalado
no coração e caiu mesquinha junto do cadáver, a beijá-lo, vagindo como uma
criança. Não parecia a mesma!
As mães dos outros dois rapazitos esperavam imóveis e lívidas pela volta
dos filhos, e, mal estes chegaram à estalagem, cada uma se apoderou logo do seu
e caiu-lhe em cima, a sová-los ambos que metia medo.
— Mira-te naquele espelho, tentação do diabo! exclamava uma delas, com o
pequeno seguro entre as pernas a encher-lhe a bunda de chineladas. Não era
aquele que devia ir, eras tu, peste! aquele, coitado! ao menos ajudava a mãe,
ganhava dois mil-réis por mês regando as plantas do Comendador, e tu,
coisa-ruim, só serves para me dar consumições! Toma! Toma! Toma!
E o chinelo cantava entre o berreiro feroz dos dois rapazes.
João Romão chegou ao terraço de sua casa, ainda em mangas de camisa, e
de lá mesmo tomou conhecimento do que acontecera. Contra todos os seus
hábitos impressionou-se com a morte de Agostinho; lamentou-a no intimo,
tomado de estranhas condolências.
Pobre pequeno! tão novo... tão esperto... e cuja vida não prejudicava a
ninguém, morrer assim, desastradamente!... ao passo que aquele diabo velho da
Bertoleza continuava agarrado à existência, envenenando-lhe a felicidade, sem
se decidir a despachar o beco!
E o demônio da crioula parecia mesmo não estar disposta a ir só com duas
razões; apesar de triste e acabrunhada, mostrava-se forte e rija. Suas pernas
curtas e lustrosas eram duas peças de ferro unidas pela culatra, das quais ela
trazia um par de balas penduradas em saco contra o peito; as róseas lustrosas do
seu cachaço lembravam grossos chouriços de sangue, e na sua carapinha
compacta ainda não havia um fio branco. Aquilo, arre! tinha vida para o resto do
século!
— Mas deixa estar, que eu te despacho bonito e asseado!... disse o vendeiro
de si para si, voltando ao quarto para acabar de vestir-se.
Enfiava o colete quando bateram pancadas familiares na porta do corredor.
—Então?! Ainda se está em val de lençóis?...
Era a voz do Botelho.
O vendeiro foi abrir e fê-lo entrar ali mesmo para a alcova.
— Ponha-se a gosto. Como vai você?
— Assim. Não tenho passado lá essas coisas...
João Romão deu-lhe noticia da morte do Agostinho e declarou que estava
com dor de cabeça. Não sabia que diabo tinha ele aquela noite, que não houve
meio de pegar direito no sono.
— Calor... explicou o outro. E prosseguiu depois de uma pausa, acendendo
um cigarro: pois eu vinha cá falar-lhe... Você não repare, mas...
João Romão supôs que o parasita ia pedir-lhe dinheiro e preparou-se para a
defesa, queixando-se inopinadamente de que os negócios não lhe corriam bem;
mas calou-se, porque o Botelho acrescentou com o olhar fito nas unhas:
— Não devia falar nisto... são coisas suas lá particulares, em que a gente
não se mete, mas...
O taberneiro compreendeu logo onde a visita queria chegar e aproximou-se
dele, dizendo confidencialmente:
— Não! Ao contrário! fale com franqueza... Nada de receios...
— É que... sim, você sabe que eu tenho tratado do seu casamento com a
Zulmirinha... Lá em casa não se fala agora noutra coisa... até a própria Dona
Estela já está muito bem disposta a seu favor... mas...
— Desembuche, homem de Deus!
— É que há um pontinho que é preciso pôr a limpo... Coisa insignificante,
mas...
— Mas, mas! você não desembuchará por uma vez?... Fale, que diabo!
Um caixeiro do armazém apareceu à porta, prevenindo de que o almoço
estava na mesa.
— Vamos comer, disse João Romão. Você já almoçou?
— Ainda não, mas lá em casa contam comigo...
O vendeiro mandou o seu empregado dizer lá defronte à família do Barão
que seu Botelho não ia ao almoço. E, sem tomar o casaco, passou com a visita à
sala de jantar.
O cheiro ativo dos móveis, polidos ainda de fresco, dava ao aposento um
caráter insociável de lagar desabitado e por alagar. Os trastes, tão nus como as
paredes, entristeciam com a sua fria nitidez de coisa nova.
— Mas vamos lá! Que temos então?... inquiriu o dono da casa,
assentando-se à cabeceira da mesa, enquanto o outro, junto dele, tomava lugar à
extremidade de um dos lados.
— É que, respondeu o velho em tom de mistério, você tem cá em sua
companhia uma... uma crioula, que... Eu não creio, note-se, mas...
— Adiante!
— É! Dizem que ela é coisa sua... Lá em casa rosnou!... O Miranda
defende-o, afirma que não... Ah! aquilo é uma grande alma! mas Dona Estela,
você sabe o que são as mulheres!... torce o nariz e... Em uma palavra: receio que
esta história nos traga qualquer embaraço!...
Calou-se, porque acabava de entrar um portuguesinho, trazendo uma
travessa de carne ensopada com batatas.
João Romão não respondeu, mesmo depois que o pequeno saiu; ficou
abstrato, a bater com a faca entre os dentes.
— Por que você a não manda embora?... arriscou o Botelho, despejando
vinho no seu e no copo do companheiro.
Ainda desta vez não obteve logo resposta; mas o outro tomando, afinal, uma
resolução, declarou confidencialmente:
— Vou dizer-lhe toda coisa como ela é... e talvez que você até me possa
auxiliar!...
Olhou para os lados, chegou mais a sua cadeira para junto da de Botelho e
acrescentou em voz baixa:
— Esta mulher meteu-se comigo, quando eu principiava minha vida...
Então, confesso... precisava de alguém nos casos dela, que me ajudasse... e
ajudou-me muito, não nego! Devo-lhe isso! não! ajudar-me ajudou! mas...
— E depois?
— Depois, ela foi ficando para ai; foi ficando... e agora...
— Agora é um trambolho que lhe pode escangalhar a igrejinha! É o que é!
— Sim, que dúvida! pode ser um obstáculo sério ao meu casamento! Mas,
que diabo! eu também, você compreende, não a posso pôr na rua, assim, sem
mais aquelas!... Seria ingratidão, não lhe parece?...
— Ela já sabe em que pé está o negócio?...
— Deve desconfiar de alguma coisa, que não é tola!... Eu, cá por mim, não
lhe toquei em nada...
— E você ainda faz vida com ela?
— Qual! há muito tempo que nem sombras disso...
— Pois, então, meu amigo, é arranjar-lhe uma quitanda em outro bairro;
dar-lhe algum dinheiro e... Boa viagem! O dente que já não presta arranca-se
fora!
João Romão ia responder, mas Bertoleza assomou à entrada da sala. Vinha
tão transformada e tão lívida que só com a sua presença intimidou
profundamente os dois. A indignação tirava-lhe faíscas dos olhos e os lábios
tremiam-lhe de raiva. Logo que falou veio-lhe espuma aos cantos da boca.
— Você está muito enganado, seu João, se cuida que se casa e me atira a
toa! exclamou ela. Sou negra, sim, mas tenho sentimentos! Quem me comeu a
carne tem de roer-me os ossos! Então há de uma criatura ver entrar ano e sair
ano, a puxar pelo corpo todo o santo dia que Deus manda ao mundo, desde pela
manhãzinha até pelas tantas da noite, para ao depois ser jogada no meio da rua,
como galinha podre?! Não! Não há de ser assim, seu João!
— Mas, filha de Deus, quem te disse que eu quero atirar-te à toa?...
perguntou o capitalista.
— Eu escutei o que você conversava, seu João! A mim não me cegam assim
só! Você é fino, mas eu também sou! Você está armando casamento com a
menina de seu Miranda!
— Sim, estou. Um dia havia de cuidar de meu casamento!... Não hei de
ficar solteiro toda a vida, que não nasci para podengo. Mas também não te
sacudo na rua, como disseste; ao contrário agora mesmo tratava aqui com o seu
Botelho de arranjar-te uma quitanda e...
— Não! Com quitanda principiei; não hei de ser quitandeira até morrer!
Preciso de um descanso! Para isso mourejei junto de você enquanto Deus Nosso
Senhor me deu força e saúde!
— Mas afinal que diabo queres tu?!
— Ora essa! Quero ficar a seu lado! Quero desfrutar o que nós dois
ganhamos juntos! quero a minha parte no que fizemos com o nosso trabalho!
quero o meu regalo, como você quer o seu!
— Mas não vês que isso é um disparate?... Tu não te conheces?... Eu te
estimo, filha; mas por ti farei o que for bem entendido e não loucuras! Descansa
que nada te há de faltar!... Tinha graça, com efeito, que ficássemos vivendo
juntos! Não sei como não me propões casamento!
— Ah! agora não me enxergo! agora eu não presto para nada! Porém,
quando você precisou de mim não lhe ficava mal servir-se de meu corpo e
agüentar a sua casa com o meu trabalho! Então a negra servia pra um tudo;
agora não presta pra mais nada, e atira-se com ela no monturo do cisco! Não!
assim também Deus não manda! Pois se aos cães velhos não se enxotam, por
que me hão de pôr fora desta casa, em que meti muito suor do meu rosto?...
Quer casar, espere então que eu feche primeiro os olhos; não seja ingrato!
João Romão perdeu por fim a paciência e retirou-se da sala, atirando à
amante uma palavrada porca.
— Não vale a pena encanzinar-se... segredou-lhe o Botelho,
acompanhando-o até a alcova, onde o vendeiro enterrou com toda a força o
chapéu na cabeça e enfiou o paletó com a mão fechada em murro.
— Arre! Não a posso aturar nem mais um instante! Que vá para o diabo que
a carregue! em casa é que não me fica!
— Calma, homem de Deus! Calma!
— Se não quiser ir por bem, ira por mal! Sou eu quem o diz!
E o vendeiro esfuziou pela escada, levando atrás de si o velhote, que mal
podia acompanhá-lo na carreira. Já na esquina da rua parou e, fitando no outro o
seu olhar flamejante, perguntou-lhe:
— Você viu?!
— É... resmungou o parasita, de cabeça baixa, sem interromper os passos.
E seguiram em silêncio, andando agora mais devagar; ambos preocupados.
No fim de uma boa pausa, Botelho perguntou se Bertoleza era escrava
quando João Romão tomou conta dela.
Esta pergunta trouxe uma inspiração ao vendeiro. Ia pensando em metê-la
como idiota no Hospício de Pedro 11, mas acudia-lhe agora coisa muito melhor:
entregá-la ao seu senhor, restituí-la legalmente à escravidão.
Não seria difícil... considerou ele; era só procurar o dono da escrava,
dizer-lhe onde esta se achava refugiada e aquele ir logo buscá-la com a polícia.
E respondeu ao Botelho:
— Era e é!
— Ah! Ela é escrava? De quem?
— De um tal Freitas de Melo. O primeiro nome não sei. Gente de fora. Em
casa tenho as notas.
— Ora! então a coisa é simples!... Mande-a p’ro dono!
— E se ela não quiser ir?...
— Como não?! A polícia a obrigará! É boa!
— Ela há de querer comprar a liberdade...
— Pois que a compre, se o dono consentir!... Você com isso nada mais tem
que ver! E se ela voltar à sua procura, despache-a logo; se insistir, vá então à
autoridade e queixe-se! Ah, meu caro, estas coisas, para serem bem feiras,
fazem-se assim ou não se fazem! Olhe que aquele modo com que ela lhe falou
há pouco é o bastante para você ver que semelhante estupor não lhe convém
dentro de casa nem mais um instante! Digo-lhe até: já não só pelo fato do
casamento, mas por tudo! Não seja mole!
João Romão escutava, caminhando calado, sem mais vislumbres de
agitação. Tinham chegado à praia.
— Você quer encarregar-se disto? propôs ele ao companheiro, parando
ambos à espera do bonde; se quiser pode tratar, que lhe darei uma gratificação
menos má...
— De quanto?...
— Cem mil-réis!
— Não! dobre!
— Terás os duzentos!
— Está dito! Eu cá, pra tudo que for pôr cobro a relaxamento de negro,
estou sempre pronto!
— Pois então logo mais à tarde lhe darei, ao certo, o nome do dono, o lugar
em que ele residia quando ela veio para mim e o mais que encontrar a respeito.
— E o resto fica a meu cuidado! Pode dá-la por despachada! |
XXI
Zur selben Zeit ging João Romão in Schlappen und im Nachthemd von einer Seite seines neuen Zimmers zur anderen. Es war ein geräumiges Zimmer, tapeziert in blau und weiß mit gelben Blumen, die einen Goldton vortäuschten. Vor dem Bett gab es einen Teppich, auf dem Nachttisch einen Wecker aus Nickel und das ganze Mobiliar war schon für ein Ehepaar, denn der Weitsichtige hatte nicht vor, Möbel zweimal zu kaufen.
Er war sehr besorgt, dachte an Bertoleza, die zu dieser Zeit unten in dem Raum unter der Treppe schlief, im hinteren Bereich in der Nähe der Latrine.
Was sollte er schlussendlich mit diesem Schandfleck machen?
Er schüttelte den Kopf, brannte darauf ein Mittel zu finden, sich von ihr zu befreien.
Diese Nacht hatte Miranda mit offen darüber gesprochen, was er von Botelho gehört hatte und war vollkommen entschlossen. Zulmira akzeptierte ihn als Ehemann und Dona Estela war dabei, den Tag der Hochzeit festzulegen.
Bertoleza wurde zu einem ernsten Problem!
Der Kneipenwirt ging im Zimmer auf und ab, ohne eine gute Lösung für das Problem zu finden.
Was zum Teufel hatte ihn geritten sich so zu binden! Wie könnte er sie jetzt wegschicken, von einem Moment auf den anderen, wenn der Dämon einer Kreolin ihn jetzt schon so lange begleitet hatte und die Leute der Mietskaserne dies wussten?
Er stand vor diesem friedlich schlafenden Hindernis da unten, das im schweigend ein ein schreckliches Leid zufügte, blöde seinen Weg zum Glück störte, vielleicht unbewusst, die Ankunft einer schönen Zukunft, die er sich mit großen Entbehrungen und Opfern erkämpft hatte, verärgert und machtlos! Was für ein Elend!
Wenn er nur an seine Verbindung mit dieser kleinen, feinen und aristokratisichen Brasilianerin dachte, entstand vor seiner unduldsamen Gier und seiner Eitelkeit ein breites Bild an Siegen. Zum einen würde er Mitglied einer traditionell stolzen Familie werden, was die Familie von Dona Estela, wie alle sagten, war. Zweitens würde sein Vermögen mit der Mitgift der Braut, die sehr hoch war, beträchtlich wachsen. Schließlich würde alles, was Miranda besaß später ihm zufallen, wodurch sich ein alter Traum, den der Kneipenwirt schon seit der Geburt seiner Rivalität mit dem Nachbarn pflegte, erfüllen würde.
Er sah sich schon in der herausgehobenen Position, die ihn erwartete. Einmal drin, würde er sich mit dem Schwiegervater verbünden den er innerhalb kürzester Zeit zur Seite schieben würde und seinen Platz besetzen würde, so dass er der wahre Chef einer portugiesischen Kolonie in Brasilien würde. Wenn das Schiff dann mit vollen Segeln segeln würde, würde er ein paar Tausend Réis in die Hand nehmen und Graf werden!
Ja, zuerst Graf! Warum nicht? Später dann, mit Sicherheit, Herzog! Das war bombensicher!
Auch wenn er es noch niemandem erzählt hatte, hielt er innerlich in den letzten Jahren an der Idee fest, einen Titel zu erlangen, der über dem von Miranda steht. Und erst wenn er den Titel sicher hätte, wollte er eine Reise nach Europa machen, mit seiner Größe prahlen, Neid erwecken, die von Schmeicheleien umhüllt waren, liberal, großzügig, brasilianisch, die alte Welt mit seinem Gold der neuen Welt verwirren!
"Und Bertoleza?", schrie aufdringliche Stimme im Inneren.
"Das stimmt! Was ist mit Bertoleza?", wiederholte der Unglückliche ohne seinen Gang durch die Länge des Zimmers zu unterbrechen.
Zum Teufel. Gibt es es keine Möglichkeit diesen schwarzen Fleck aus seinem Leben zu entfernen. Ihn einfach schnell wegwischen, wie man einen Schmutzfleck von der Haut wischt! Was für ein Schwachsinn, dass er seine ambitioniertesten Gedankenflüge mit der niederträchtigen und lächerlichen Idee dieser schändlichen Verbindung verknüpfen musste! Und er konnte nicht aufhören an diesen schwarzen Dämon zu denken, denn die Verfluchte war ganz in der Nähe, umkreiste ihn drohend und düster. Sie war da als lebender Beweis seines Elends, schon vergangen und doch noch spürbar. Bertoleza musst zerdrückt werden, musste ausgelöscht werden, weil sie alles bedeutete, was schlecht war in seinem Leben. Sie an seiner Seite zu halten, wäre ein Verbrechen. Sie war das der rohe Tresen seiner primitiven Kneipe. Der Groschen, der von der Butter in Packpapier abgeknapst worden war. Sie war der Fisch vom Strand, der abends neben dem Ofen an der Tür der Kneipe verkauft worden war. Sie war der Pöbel von einer Kundschaft und die lange Liste gewaltiger Essensmengen zubereitet nach portugiesischer Art. Sie war das Schnarchen im Schlaf auf einer stinkenden Matraze, voller Insekten. Sie war seine Komplizin und sein ganzes Elend: Sie musste folglich ausgelöscht werden! Sie musste Platz machen für das blasse Mädchen mit den zarten Händen und den parfümierten Haaren, die das Gute war, weil sie es war die lachte und fröhlich machte, weil sie das neue Leben war, die Romanze, die auf dem Klavier ertönte, die Blumen im Krug, die Seide und Stickereien, der in teurem Porzellan servierte Tee. Sie war die süße Existenz der Reichen, der Glücklichen und der Starken, die, die ohne Arbeit erbten oder diejenigen, die durch reine Anstrengung, es zu Geld gebracht hatten, sich zwischen der Herde der Skrupulösen oder Schwachen sich Platz gemacht hatten und empor gestiegen waren. Der Kneipenwirt hatte vor seinen Augen das liebliche Lächeln der Tochter des Miranda, fühlte noch den Druck des zierlichen Armes, der sich noch vor wenigen Stunden, während eines Spazierganges am Strand von Botafogo, sich auf seinen stützte. Er roch noch das Parfüm des Mädchens, sanft, exquisit und durchdringend wie Worte der Liebe. In seinen groben, kurzen, rauen und roten Fingern war noch die Empfindung der lauwarmen Berührung jener kleinen Hand in Handschuhen, die schon bald, in der Lust die Ehe zusicherte, sein Fleisch und seine Haare liebkosen würde.
Aber was ist mit Bertoleza?
Ja! Man musste das Problem aus der Welt schaffen! Sie wegschafffen! Dafür sorgen, dass sie endgültig verschwindet!
Die Uhr im lager schlug Mitternacht. João Romão nahm eine Kerze und ging in den hinteren Bereich des Hauses hinab, wo Bertoleza schlief. Er näherte sich ihr, auf Zehenspitzen, wie ein Verbrecher in mörderischer Absicht.
Die Kreolin lag auf ihrer Strohmatraze, liegen in gedrehter Haltung, das Gesicht vergraben im rechten Arm, den sie unter dem Kopf gebogen hatte. Ein Teil ihres Körpers war nackt.
Angewiedert betrachtete sie João Romão eine Weile.
Und diese elende Schwarze, die da seelenruhig schlief, war die große Störung seines Glücks! Das schien unglaublich!
"Und wenn sie sterben würde?"
Dieser Satz, der ihm zum esten Mal in den Sinn gekommen war, als er zum ersten Mal an dieses Hindernis für sein Glück dachte, kam ihm jetzt wieder in den Sinn, jetzt jedoch gereift und verwandelt in diesen anderen:
"Und wenn ich sie umbrächte?"
Doch dann lief ihm ein Schauder des Schreckens durch alle Nerven.
Doch von dieser Möglichkeit abgesehen? Wie konnte er sich ihrer entledigen, ohne kompromitierende Zeichen eines Verbrechens zu hinterlassen? Sollte er sie vergiften? Da würde man sofort Nachforschungen anstellen! Sie erschießen? Noch schlimmer! Mit ihr außerhalb der Stadt spazieren gehen, weit weg und sie im schönsten Augenblick einen Klippe hinunter ins Meer stürzen, so dass der Tod gewiss wäre? Wie aber sollte man das arrangieren, wenn sie nie zusammen spazieren gehen würden?
Teufel!
Der Unglückliche stand in Gedanke versunken vor ihr, den Kerzenständer in der Hand, ohne die Augen von Bertoleza abzuwenden, die unbeweglich weiter schlief, mit dem Gesicht im Arm vergraben.
"Und wenn ich sie gleich hier erdrosseln würde?"
Er machte auf Zehenspitzen einige Schritte nach vorne, blieb dann stehen, ohne sie aus den Augen zu verlieren.
Doch die Kreolin erhob plötzlich den Kopf und starrte ihn mit den Augen von jemandem an, der nicht schlief.
"Ah!", sagte sie.
"Was ist João?"
"Nichts. Ich bin nur gekommen, um dich zu sehen. Ich bin noch nicht lange hier. Wie geht es dir? Ist der Schmerz an der Seite jetzt weg?"
Sie zuckte mit den Schultern, ohne zu antworten. Die zwei schwiegen. João Romão wusste nicht, was er sagen sollte und ging schließlich hinaus, begleitet von dem unerschütterlichen Blick der Kreolin, der ihn noch im Rücken einschüchterte.
"War sie misstrauisch geworden?", fragte sich der Unglückliche und ging wieder auf sein Zimmer. Ach was! Misstrauisch was gegenüber?
Er ging sofort ins Bett, bereit nicht mehr darüber nachzudenken und unverzüglich einzuschlafen. Doch seine Gedanken kreisten weiterhin starr um dasselbe Thema.
"Es ist nötig sie los zu werden! Es ist nötig, sie so früh wie möglich los zu werden, egal wie! Sie hatte von sich aus noch kein Zeichen gegeben, hatte bezüglich dieser Frage noch nicht den Schnabel göffnet. Aber Dona Estela war im Begriff, den Tag für die Heirat festzulegen. Es wird nicht mehr lange dauern. Miranda wird die Nachricht sicher seinen Freunden mitteilen, die Nachricht wird sich dann verbreiten, wird der Kreolin zu Ohren kommen und wenn sie sieht, dass sie verlassen wird, wird sie platzen, wird mit Sicherheit platzen! Dann wird man sehen! Das wird hübsch, was? Alles lief so gut bisher und soll jetzt am Widerstand der Schwarzen scheitern! " Und dann die Kommentare! Was werden die ganzen Neidhammel auf dem Boulevard sagen? Au weia, er hat hat zu Hause eine Freundin, eine unansehliche Schwarze, mit der er lebt! Was für eine Figur! Er muss immer zeigen, dass er zum Pöbel der untersten Schicht gehört! Und uns täuschen wollen mit seinem Gehabe eines Kapitalisten, den man immer zuvorkommend behandelt! Schau dir an, was der Silberfisch wirklich ist. Ein schmutziger Heuchler!" Dann würde die Familie des Mädchens vor Angst auch zum Gespött zu werden eine Kehrtwende machen und was abgemacht war, würde nichts mehr gelten! Ich weiß wohl, dass sie über alles Bescheid weiß, das ist, Gott sei dank, sicher, aber sie tut so, als ob sie von nichts wüsste, weil sie damit rechnet, und das mit gutem Grund, dass ich nicht so dumm sein werde, bis zum Hochzeitstag zu warten um die Schwarze loszuwerden! Sie rechnen damit, dass die Sache ohne den geringsten Skandal geregelt wird! Ich Riendvieh habe jedoch noch nichts unternommen! Diese verdammte Kreolin ist noch immer wie früher Herrin des Reviers und ich finde keinen Weg, sie los zu werden! Hat man schon gesehen, wie ich aus einem ähnlichen Schlamassel wieder rauskomme? Da dem so ist, wird man es nicht glauben!
Er überlegt hin- und her, ohne ein Mittel zu finden, das Problem zu lösen!
Verfluchter Mist!
"Sie hätte schon seit langer Zeit weit weg von mir sein müssen. Ich habe einen Fehler gemacht, als ich mich nicht vor allem anderen darum gekümmert habe! Ich habe mich wie ein Esel benommen! Wenn ich sie schon los geworden wäre, als noch niemand von meiner Hochzeit sprach, hätte niemand etwas besonderes an der Geschichte gefunden. Warum zum Teufel sollte der arme Mann Schluss machen mit einer Frau, mit der er in schönstem Frieden lebte und die innerhalb des Hauses seine rechte Hand war? Jetzt aber, nachdem die Betten getrennt waren und nachdem das Gerücht von der Hochzeit lief, würde sicher jemand kommen und ihn anklagen, wenn sie plötzlich versterben würde!
Verfluchter Mist!
Es schlug vier Uhr und der Unglückliche hatte noch kein Auge zugetan. Er grübelte immer noch über die Angelegenheit nach, drehte sich von der einen auf die andere Seite seines großen und knarrenden Ehebettes. Erst in der Morgendämmerung gelang es ihm einzuschlafen, doch um sieben Uhr morgens, musste er aufstehen, die ganze Mietskaserne war aufgrund eines Unglückes in Aufruhr.
Machona wusch ihren Zuber, frotzelnd und diskutierend wie immer, als zwei Arbeiter, begleitet von einer Gruppe Neugieriger , ihr auf einem Brett den blutüberströmten Leichnam ihrer Tochter brachten. Agostinho war, wie er dies öfters tat, mit den anderen Jungs der Mietskaserne in den Steinbruch spielen gegangen. Sie waren über die Steinplatten des Abhanges gesprungen, mehr als zweihundert Meter über dem Boden als er plötzlich das Gleichgewicht verlos und der Unglückliche nach unten stürzte, wobei er sich die Knochen brach und das Fleisch zerfetzt wurde.
Der ganze arme Kerl war nur noch eine rote Masse. Die Beine hingen, am Knie gebrochen, von der Hüfte abwärts lose herunter. Der Kopf, nur noch lose befestigt, war am Schädel aufgerissen und ließ die Gehirnmasse erkennen. An einer der Hände fehlten alle Finger und an der linken Hüfte sah man die Spitze des vom Stein zertrümmerten Knochens.
Als er ankam ging ein Schrei durch den ganzen Hof.
Gott im Himmel! Welch ein Unglück!
Albino, der neben Machona die Wäsche wusch, bekam einen Herzinfarkt. Der Schmerz Nenens war unermesslich, denn sie liebte diesen Bruder. Das Dores schimpfte auf die Arbeiter, die zugelassen hatten, dass der Sohn eines anderen sich in ihrer Gegenwart auf eine solche Art und Weise umbrachte. Die Mutter fiel, kaum hatte sie einen Schrei wie von einem Tier, das einen Dolch ins Herzen erhielt, ausgestoßen hatte, todunglücklich neben dem Kadaver zu Boden, küsste ihn weinend wie ein Kind. Sie schien nicht mehr dieselbe zu sein.
Die Mütter der zwei anderen Jungs warteten unbeweglich und blass auf deren Rückkehr und kaum waren sie da, fielen sie über sie her und verprügelten sie, dass man Angst bekommen könnte.
"Schau dich in diesem Spiegel an, du Versuchung des Teufels!", rief eine von Ihnen, während sie den Kleinen fest zwischen ihren Beinen hielt um ihm mit den Fusschlappen eine zu verabreichen, "nicht ihm, dem Armen, hätte das passieren sollen, sondern dir. Der hat seiner Mutter geholfen, verdiente zweitausend Réis im Monat mit dem Gießen der Pflanzen des Bezirksvorstehers, während du, Elender mir nur Verdruss machst. Nimm! Nimm! Nimm!"
Der Fusschlappen sang inmitten des Gebrülls der zwei Jungen.
João Romão erreichte den Balkon seine Hauses, noch in Hemdärmeln, und dort erfuhr er, was vorgefallen war. Entgegen aller seiner Gewohnheiten, war er von dem Tod Agostinhos beeindruckt. Von einem merkwürdigen Mitleid erfasst, bedauerte er es im Inneren.
Armer Kleiner. So jung, so weitsichtig, dessen Leben niemanden hätte ahnen lassen, dass er so schrecklich sterben würde. Ganz im Gegensatz dazu klammert sich dieser alte Teufel von Bertoleza immer noch an die Existenz, vergiftet ihm sein Glück, ohne sich dazu zu entschließen den Schnabel zuzumachen.
Es reichten schon zwei Gründe um zu sehen, dass der Dämon einer Kreolin nicht bereit war zu gehen. Obwohl sie traurig und niedergeschlagen war, war sie noch stark und kräftig. Ihre zwei kurzen und glänzenden Beine waren zwei Stück Eisen, fest mit dem Oberkörper verbunden, die mit zwei Kugeln geladen waren, die wie Säcke an ihrer Brust hingen. Die rosa glänzenden Spitzen ihres Brustfleisches erinnerten an zwei Blutwürste und ihr dichter Krauskopf hatte noch kein einziges weißes Haar. Das hatte verdammt noch mal Leben für den ganzen Rest des Jahrhunderts.
"Aber warte nur ab, ich räume dich sauber und gebraten weg!", sagte der Kneipenwirt bei sich und kehrte zurück ins Zimmer um sich vollständig anzuziehen.
Er zog sich gerade die Weste an, als auf eine ihm bekannte Art an der Tür des Flures geklopft wurde.
"Was ist? Noch immer im Schlafanzug?"
Es war die Stimme von Botelho.
Der Kneipenwirt macht ihm auf und hieß ihn in das Schlafzimmer kommen.
"Machen Sie es sich bequem. Wie geht es Ihnen?"
"Geht so. Ich habe noch nicht alles fertig..."
João Romão erzählte ihm von dem Tod von Agostinho und sagte ihm, dass er Kopfweh hätte.Er wusste nicht, was diese Nacht los war und warum er um keinen Preis der Welt einschlafen konnte.
"Die Hitze", sagte der andere und fuhr dann nach einer Weile fort, während er sich eine Zigarette anzündete, "ich muss mit Ihnen reden. Machen Sie sich keine Sorgen, aber..."
João Romão vermutete, dass der Parasit ihn um Geld angehen wollte und bereitete sich auf die Verteidigung vor, beklagte sich, dass die Geschäfte nicht gut liefen, schwieg dann aber, als Botelho auf seine Nägel schaute und hinzufügte:
"Darüber sollte man nicht sprechen, das sind ihre persönlichen Angelegenheiten, in die sich die Leute nicht einmischen, aber..."
Der Kneipenwirt verstand sofort, wohin der Besuch kommen wollte und näherte sich ihm und sagt in vertraulichem Ton.
"Nein! Ganz im Gegenteil! Sprechen Sie frei heraus. Nur keine Angst."
"Nun, sie wissen, dass ich ihre Heirat mit der kleinen Zulmirinha arrangiert habe. Man spricht jetzt von nichts anderem mehr da drüben. Selbst Dona Estela ist jetzt sehr von Ihnen eingenommen, aber..."
"Sagen Sie endlich was los ist um Gottes willen!"
"Es gibt da einen Punkt, der erst geklärt werden muss, eigentlich ziemlich unbedeutend, aber..."
"Weiter, weiter! Werden Sie es wohl endlich rauslassen? Sprechen Sie Herrgott nochmal!"
Ein Bediensteter des Lagers erschien in der Tür und teilte mit, dass das Mittagessen auf dem Tisch stand.
"Gehen wir essen", sagte João Romão, "haben Sie schon gegessen?"
"Noch nicht, aber dadrüben rechnen sie mit mir..."
Der Händler trug seinem Angestellten auf der Familie des Barons im Haus gegenüber mitzuteilen, dass Botelho heute nicht kommen würde und ohne die Jacke anzuziehen ging er mit seinem Besuch ins Esszimmer.
Der Geruch der noch neuen Mögel, noch ganz glatt poliert, gab dem Raum eine wenig gesellige Atmosphäre eines unbewohnten Ortes, der noch besiedelt werden muss. Das Mobiliar, so nackt wie die Wände, stimmten durch ihre kalte Klarheit neuer Dinge traurig.
"Also los! Was gibt es?", fragte der Hausherr, und setzte sich an das Tischende, während der andere, gleichzeitig mit ihm, sich am anderen der zwei Enden nieder ließ.
"Nun", antwortete der Alte in mysteriösem Ton, sie haben in ihrer Gesellschaft eine Kreoling, die... Ich glaube nicht, das möchte ich ihnen sagen, aber..."
"Weiter!"
"Man sagt, dass sie zu Ihnen gehört. Da drüben im Haus geht so ein Gerückt! Miranda verteidigt sie, behauptet, dass das nicht stimme. Der ist großzügig, aber Dona Estela, Sie wissen schon, wie die Frauen sind, rümpft die Nase. In einem Wort: Ich befürchte, dass diese Sache uns in Schwierigkeiten bringt!"
Er schwieg, weil ein kleiner Portugiese hereinkam, der eine Scheibe Fleisch mit Soße und Kartoffeln hereinbrachte.
João Romão antwortete auch nachdem der Kleine wieder hinausgegangen war nicht. Er war geistesabwesend, klopfte sich mit dem Messer zwischen die Zähne.
"Warum schicken Sie sie nicht weg?" wagte Botelho zu fragen und füllte Wein in sein Glas und das des Kameraden.
Auch diesmal bekam er noch keine Antwort. Der andere jedoch fasste schließlich einen Entschluss und bemerkte feierlich.
"Ich werde ihnen sagen, wie sie ist und vielleicht können sie mir sogar helfen!"
Er schaute nach allen Seiten, rückte seinen Stuhl näher an den von Botelho und fuhr mit leiser Stimme fort.
"Ich bin mit dieser Frau zusammen, als ich mein Leben begann und ich gebe zu, dass ich jemanden wie sie brauchte, jemanden der mir hilft. Und sie half mir viel! Ich schulde ihr das alles! Nein! Sie half mir zu helfen, aber..."
"Und dann?"
"Dann ist sie geblieben, ist einfach geblieben...und jetzt..."
"Jetzt ist sie Ballast, die Ihnen das Kirchlein verderben kann! Das ist sie!"
"Ohne Zweifel! Sie kann ein ernsthaftes Hindernis für meine Heirat sein! Aber zum Teufel, Sie verstehen, ich kann sie nicht einfach so auf die Straße setzen, das wäre undankbar, glauben Sie nicht?"
"Weiß sie schon, wie die Dinge stehen?"
"Sie wird etwas ahnen, sie ist nich dumm! Von mir hat sie nichts erfahren."
"Und leben Sie noch mit ihr?"
"Ach was! Das ist schon ewig her, dass es nicht mal einen Schatten davon gibt."
"Dann mein Freund, suche ihr eine Wohnung in einem anderen Viertel, gib ihr ein bisschen Geld und gute Reise! Ein Zahn der nicht mehr funktioniert wird gezogen!"
João Romão wollte antworten, aber Bertoleza erschien am Eingang des Zimmers. Sie war so verändert und so blass, dass ihre Gegenwart allein ausreichte, die zwei vollkommen einzuschüchtern. Die Entrüstung ließ Funken aus ihren Augen sprühen und die Lippen zitterten vor Wut. Als sie sprach, hatte sie Schaum in den Mundwinkeln."
"Da irrst du dich gewaltig João, du bereitest dich auf die Hochzeit vor und wirfst mich hinaus!", rief sie. Ich bin schwarz, ja, aber ich habe Gefühle! Wer mein Fleisch gegessen hat, muss auch meine Knochen nagen! Finde mal jemanden, der jahrein-jahraus kommt und geht, den ganzen heiligen Tag den Gott festlegt den Körper voranschleppt, von morgens bis spät in der Nacht, um dann auf die Straße gesetzt zu werden wie ein verfaultes Huhn? Nein! Das wird so nicht passieren, João!"
"Aber Kind Gottes, wer hat den gesagt, dass ich dich rauswerfe?", fragte der Kapitalist.
"Ich habe gehört, was du gesagt hast João! So einfach führt man mich nicht hinters Lichts! Du bist gewitzt, aber ich bin es auch! Du bereitest die Hochzeit mit dem Mädchen von Miranda vor!"
"Ja, das bin ich. Ich muss mich ja eines Tages um meine Heirat kümmern! Ich kann nicht das ganze Leben ledig bleiben, ich bin nicht dafür gemacht ein ewiger Jagdhund zu sein. Aber ich werfe dich auch nicht auf die Straße, wie du sagst. Ganz im Gegenteil. Ich war gerade dabei mit Botelho einen Kiosk zu organisieren."
Nichts da! Als Besitzerin eines Kiosks hab ich angefangen, da will ich nicht als Besitzerin eines Kiosks sterben! Ich brauche Ruhe! Dafür hab ich mich an ihrer Seite abgeschuftet solange der Herr mir Kraft und Gesundheit gab!"
"Was zum Teufel willst du dann?!"
"Das! Ich will an Ihrer Seite bleiben! Ich will das genießen, was wir zusammen verdient haben! Ich will meinen Anteil von dem, was wir uns gemeinsam erarbeitet haben! Ich will meinen Anteil, sowie du den Deinigen willst!"
"Siehst du nicht, dass das Unsinn ist? Bist du von Sinnen? Ich achte dich Kind, aber ich mache für dich nur, was vernünftig ist und keine Verrücktheiten! Ruh aus, es wird dir an nichts fehlen! Das wäre schon lustig, wenn wir zusammen bleiben! Fehlt nur noch, dass du mir einen Heiratsantrag machst!"
"Ah! Jetzt bin ich also zu nichts mehr gut! Jetzt braucht man mich nicht mehr! Als du mich aber gebraucht hast, war es gut für dich meinen Körper auszubeuten und dein Haus mit meiner Arbeit in Schuss zu halten! Da war die Negerin für alles gut. Jetzt brauchst du sie nicht mehr und du wirfst sie auf den Müllhaufen! Nein! So hat Gott das nicht bestimmt! Alte Hunde jagt man niicht weg, warum soll ich das Haus verlassen, wo ich soviel Schweiß meines Gesichtes hineingesteckt habe? Wenn du heiraten willst, dann warte, bis ich zuerst die Augen geschlossen habe, sei nich undankbar!"
João Romão verlor die Geduld und zog sich aus dem Zimmer zurück, wobei der die Geliebte noch mit einem schmutzigen Fluch bedachte.
"Nur keine Aufregung", flüsterte der Botelho, und begleitete ihn ins Schlafzimmer, wo der Kneipenwirt sich mit aller Kraft den Hut auf den Kopf zog und sich mit geballter Faust den Mantel anzog.
"Verflucht! Ich halte das keinen Moment mehr aus! Soll sich der Teufel um sie kümmer! Auf jeden Fall bleibt sie nicht im Haus!"
"Immer mit der Ruhe, Mann Gottes, immer mit der Ruhe!"
"Wenn sie nicht im Guten gehen will, dann eben im Schlechten! Das sage ich!"
Der Kneipenwirt stampfte die Treppe hinunter und schleppte den Alten, der ihm so eilig kaum folgen konnte, hinter sich her. Schon an der Ecke blieb er stehen, blickte dem anderen in die Augen und fragte ihn:
"Haben Sie das gesehen?!"
"Nun", brummte der Parasit, mit gesenktem Kopf ohne innezuhalten.
Sie gingen weiter, jetzt langsamer, beide besorgt.
Schließlich fragte Botelho, ob Bertoleza eine Sklavin war, als João Romão sie aufnahm.
Diese Frage ließ den Kneipenwirt auf eine Idee kommen. Er wollte sie ursprünglich als geisteskrank in das Hospital Pedro II einweisen lassen, jetzt aber hatte er eine bessere Idee, nämlich sie ihrem Herrn zurückzugeben, sie legal wieder in die Sklaverei zu geben.
Das dürfte nicht schwierig sein, meinte er. Man musste nur den Herrn der Sklavin suchen, ihm sagen, wo sie sei und dieser würde sie dann von der Polizei abholen lassen.
Er sagte zu Botelho:
"Sie war und ist es!"
"Ah! Sie ist eine Sklavin? Von wem?"
"Von eine gewissen Freitas de Melo. Den Vornamen kenne ich nicht. Leute von außerhalb. Zu Hause habe ich Unterlagen."
"Super! Dann ist die Sache ja einfach! Schick sie zu ihrem Herrn!"
"Und wenn sie nicht gehen will?
"Wie das?! Die Polizei wird sie zwingen! Das fehlt noch!"
"Sie wird sich die Freiheit erkaufen wollen...."
"Dann soll sie sie kaufen, wenn der Herr zustimmt! Damit haben Sie nichts mehr zu tun! Und wenn sie Sie wieder aufsucht, werfen Sie sie raus. Wenn sie darauf besteht, gehen sie zu den Behörden und beschweren sich! Mein Lieber, damit solche Sachen gut gemacht sind, macht man das so oder gar nicht! So wie sie mit Ihnen vor kurzem gesprochen hat, reicht damit Sie merken, dass es sich nicht ziemt, dass ein solches Schreckgespenst auch nur einen Moment länger in ihrem Haus ist! Ich würde sagen, dass das nicht nur wegen der Heirat so ist, sondern überhaupt! Lassen Sie sich nicht erweichen!"
João Romão hörte zu, schweigend weiter gehend, war jetzt nicht mehr im mindesten aufgeregt. Sie kamen am Strand an.
"Wollen Sie sich darum kümmer?", schlug er dem Kameraden vor, während sie beide auf die Kutsche warteten. Wenn Sie wollen, können Sie es versuchen, ich werde Ihnen keine schlechte Belohnung zahlen."
"Wie viel?"
"Hunderttausend Réis!"
"Nein! Das Doppelte!
"Sie bekommen die Zweihunderttausend!"
"Abgemacht! Bei allem, was immer dazu dient, der Befreiung des Negers zu beenden, bin ich dabei."
"Dann werde ich Ihnen später wenn sie zu mir kommen, ganz sicher, den Namen des Herrn, den Ort, wo er wohnt und was sonst noch diesbezüglich relevant ist geben."
"Den Reste überlassen Sie dann mir! Sie können Sie schon als rausgeworfen sehen!" |
XXII
Desde esse dia Bertoleza fez-se ainda mais concentrada e resmungona e só
trocava com o amigo um ou outro monossílabo inevitável no serviço da casa.
Entre os dois havia agora desses olhares de desconfiança, que são abismos de
constrangimento entre pessoas que moram juntas. A infeliz vivia num
sobressalto constante; cheia de apreensões, com medo de ser assassinada; só
comia do que ela própria preparava para si e não dormia senão depois de
fechar-se a chave. À noite o mais ligeiro rumor a punha de pé, olhos
arregalados, respiração convulsa, boca aberta e pronta para pedir socorro ao
primeiro assalto.
No entanto, em redor do seu desassossego e do seu mal-estar, tudo ali
prosperava forte em grosso, aos contos de réis, com a mesma febre com que
dantes, em torno da sua atividade de escrava trabalhadeira, os vinténs choviam
dentro da gaveta da venda. Durante o dia paravam agora em frente do armazém
carroças e carroças com fardos e caixas trazidos da alfândega, em que se liam as
iniciais de João Romão; e rodavam-se pipas e mais pipas de vinho e de vinagre,
e grandes partidas de barricas de cerveja e de barris de manteiga e de sacos de
pimenta. E o armazém, com as suas portas escancaradas sobre o público, engolia
tudo de um trago, para depois ir deixando sair de novo, aos poucos, com um
lucro lindíssimo, que no fim do ano causava assombros. João Romão fizera-se o
fornecedor de todas as tabernas e armarinhos de Botafogo; o pequeno comércio
sortia-se lá para vender a retalho. A sua casa tinha agora um pessoal complicado
de primeiros, segundos e terceiros caixeiros, além do guarda-livros, do
comprador, do despachante e do caixa; do seu escritório saiam correspondências
em várias línguas e, por dentro das grades de madeira polida, onde havia um
bufete sempre servido com presunto, queijo e cerveja, faziam-se largos contratos
comerciais, transações em que se arriscavam fortunas; e propunham-se
negociações de empresas e privilégios obtidos do governo; e realizavam-se
vendas e compras de papéis; e concluíam-se empréstimos de juros fortes sobre
hipotecas de grande valor. E ali ia de tudo: o alto e o baixo negociante;
capitalistas adulados e mercadores falidos; corretores de praça, zangões,
cambistas; empregados públicos, que passavam procuração contra o seu
ordenado; empresários de teatro e fundadores de jornais, em aparos de dinheiro;
viúvas, que negociavam o seu montepio; estudantes, que iam receber a sua
mesada; e capatazes de vários grupos de trabalhadores pagos pela casa; e,
destacando-se de todos, pela quantidade, os advogados e a gente miúda do foro,
sempre inquieta, farisqueira, a meter o nariz em tudo, feia, a papelada debaixo
do braço, a barba por fazer, o cigarro babado e apagado a um canto da boca.
E, como a casa comercial de João Romão, prosperava igualmente a sua
avenida. Já lá se não admitia assim qualquer pé-rapado: para entrar era preciso
carta de fiança e uma recomendação especial. Os preços dos cômodos subiam, e
muitos dos antigos hóspedes, italianos principalmente, iam, por economia,
desertando para o "Cabeça-de-Gato" e sendo substituídos por gente mais limpa.
Decrescia também o número das lavadeiras, e a maior parte das casinhas eram
ocupadas agora por pequenas famílias de operários, artistas e praticantes de
secretaria. O cortiço aristocratizava-se. Havia um alfaiate logo à entrada, homem
sério, de suíças que cosia na sua máquina entre oficiais, ajudado pela mulher,
uma lisboeta cor de nabo, gorda, velhusca, com um principio de bigode e
cavanhaque, mas extremamente circunspecta; em seguida um relojoeiro calvo,
de óculos, que parecia mumificado atrás da vidraça em que ele, sem mudar de
posição, trabalhava, da manhã até à tarde; depois um pintor de tetos e tabuletas,
que levou a fantasia artística ao ponto de fazer, a pincel, uma trepadeira em volta
da sua porta, onde se viam pássaros de várias cores e feitios, muito
comprometedores para o crédito profissional do autor; mais adiante instalara-se
um cigarreiro, que ocupava nada menos de três números na estalagem e tinha
quatro filhas e dois filhos a fabricarem cigarros, e mais três operárias que
preparavam palha de milho e picavam e desfiavam tabaco. Florinda, metida
agora com um despachante de estrada de ferro, voltara para o São Romão e
trazia a sua casinha em muito bonito pé de limpeza e arranjo. Estava ainda de
luto pela mãe, a pobre velha Marciana, que ultimamente havia morrido no
hospício dos doidos. Aos domingos o despachante costumava receber alguns
camaradas para jantar, e como a rapariga puxava os feitios da Rita Baiana, as
suas noitadas acabavam sempre em pagode de dança e cantarola, mas tudo de
portas adentro, que ali já se não admitiam sambas e chinfrinadas ao relento. A
Machona quebrara um pouco de gênio depois da morte de Agostinho e era agora
visitada por um grupo de moços do comércio, entre os quais havia um
pretendente à mão de Nenen, que se mirrava já de tanto esperar a seco por
marido. Alexandre fora promovido a sargento e empertigava-se ainda mais
dentro da sua farda nova, de botões que cegavam; a mulher, sempre
indiferentemente fecunda e honesta, parecia criar bolor na sua moleza úmida e
tinha um ar triste de cogumelo; era vista com freqüência a dar de mamar a um
pequerrucho de poucos meses, empinando muito a barriga para a frente, pelo
hábito de andar sempre grávida. A sua comadre Léonie continuava a visitá-la de
vez em quando, aturdindo a atual pacatez daquele cenóbio com as suas roupas
gritadoras. Uma ocasião em que lá fora, um sábado à tarde, produzira grande
alvoroço entre os decanos da estalagem, porque consigo levava Pombinha, que
se atirara ao mundo e vivia agora em companhia dela.
Pobre Pombinha! no fim dos seus primeiros dois anos de casada já não
podia suportar o marido; todavia, a principio, para conservar-se mulher honesta,
tentou perdoar-lhe a falta de espírito, os gostos rasos e a sua risonha e fatigante
palermice de homem sem ideal; ouviu-lhe, resignada, as confidências banais nas
horas intimas do matrimônio; atendeu-o nas suas exigências mesquinhas de
ciumento que chora; tratou-o com toda a solicitude, quando ele esteve a decidir
com uma pneumonite aguda; procurou afinar em tudo com o pobre rapaz; não
lhe falou nunca em coisas que cheirassem a luxo, a arte, a estética, a
originalidade; escondeu a sua mal-educada e natural intuição pelo que é grande,
ou belo, ou arrojado, e fingiu ligar interesse ao que ele fazia, ao que ele dizia, ao
que ele ganhava, ao que ele pensava e ao que ele conseguia com paciência na
sua vida estreita de negociante rotineiro; mas, de repente, zás! faltou-lhe o
equilíbrio e a mísera escorregou, caindo nos braços de um boêmio de talento,
libertino e poeta, jogador e capoeira. O marido não deu logo pela coisa, mas
começou a estranhar a mulher, a desconfiar dela e a espreitá-la, até que um belo
dia, seguindo-a na rua sem ser visto, o desgraçado teve a dura certeza de que era
traído pela esposa, não mais com o poeta libertino, mas com um artista
dramático que muitas vezes lhe arrancara, a ele, sinceras lágrimas de comoção,
declamando no teatro em honra da moral triunfante e estigmatizando o adultério
com a retórica mais veemente e indignada.
Ah! não pôde iludir-se!... e, a despeito do muito que amava à ingrata,
rompeu com ela e entregou-a à mãe, fugindo em seguida para São Paulo. Dona
Isabel, que sabia já, não desta última falcatrua da filha, mas das outras primeiras,
que bem a mortificaram, coitada! desfez-se em lágrimas, aconselhou-a a que se
arrependesse e mudasse de conduta; em seguida escreveu ao genro, intercedendo
por Pombinha, jurando que agora respondia por ela e pedindo-lhe que
esquecesse o passado e voltasse para junto de sua mulher. O rapaz não
respondeu à carta, e, daí a meses, Pombinha desapareceu da casa da mãe. Dona
Isabel quase morre de desgosto. Para onde teria ido a filha?... "Onde está? onde
não está? Procura daqui! procura daí!" Só a descobriu semanas depois; estava
morando num hotel com Léonie. A serpente vencia afinal: Pombinha foi, pelo
seu próprio pé, atraída, meter-se-lhe na boca. A pobre mãe chorou a filha como
morta; mas, visto que os desgostos não lhe tiraram a vida por uma vez e, como a
desgraçada não tinha com que matar a fome, nem forças para trabalhar, aceitou
de cabeça baixa o primeiro dinheiro que Pombinha lhe mandou. E, desde então,
aceitou sempre, constituindo-se a rapariga no seu único amparo da velhice e
sustentando-a com os ganhos da prostituição. Depois, como neste mundo uma
criatura a tudo se acostuma, Dona Isabel mudou-se para a casa da filha. Mas não
aparecia nunca na sala quando havia gente de fora, escondia-se; e, se algum dos
freqüentadores de Pombinha a pilhava de improviso, a infeliz, com vergonha de
si mesma, fingia-se criada ou dama de companhia. O que mais a desgostava, e o
que ela não podia tolerar sem apertos de coração, era ver a pequena
endemoninhar-se com champanha depois do jantar e pôr-se a dizer tolices e a
estender-se ali mesmo no colo dos homens. Chorava sempre que a via entrar
ébria, fora de horas, depois de uma orgia; e, de desgosto em desgosto, foi-se
sentindo enfraquecer e enfermar, até cair de cama e mudar-se para uma casa de
saúde, onde afinal morreu.
Agora, as duas cocotes, amigas inseparáveis, terríveis naquela
inquebrantável solidariedade, que fazia delas uma só cobra de duas cabeças,
dominavam o alto e o baixo Rio de Janeiro. Eram vistas por toda a parte onde
houvesse prazer; a tarde, antes do jantar, atravessavam o Catete em carro
descoberto, com a Juju ao lado; à noite, no teatro, em um camarote de boca
chamavam sobre si os velhos conselheiros desfibrados pela política e ávidos de
sensações extremas, ou arrastavam para os gabinetes particulares dos hotéis os
sensuais e gordos fazendeiros de café, que vinham à corte esbodegar o farto
produto das safras do ano, trabalhadas pelos seus escravos. Por cima delas duas
passara uma geração inteira de devassos. Pombinha, só com três meses de cama
franca, fizera-se tão perita no ofício como a outra; a sua infeliz inteligência,
nascida e criada no modesto lodo da estalagem, medrou logo admiravelmente na
lama forte dos vícios de largo fôlego; fez maravilhas na arte; parecia adivinhar
todos os segredos daquela vida; seus lábios não tocavam em ninguém sem tirar
sangue; sabia beber, gota a gota, pela boca do homem mais avarento, todo o
dinheiro que a vitima pudesse dar de si. Entretanto, lá na Avenida São Romão,
era, como a mestra, cada vez mais adorada pelos seus velhos e fiéis
companheiros de cortiço; quando lá iam, acompanhadas por Juju, a porta da
Augusta ficava, como dantes, cheia de gente, que as abençoava com o seu
estúpido sorriso de pobreza hereditária e humilde. Pombinha abria muito a
bolsa, principalmente com a mulher de Jerônimo, a cuja filha, sua protegida
predileta, votava agora, por sua vez, uma simpatia toda especial, idêntica à que
noutro tempo inspirara ela própria à Léonie. A cadeia continuava e continuaria
interminavelmente; o cortiço estava preparando uma nova prostituta naquela
pobre menina desamparada, que se fazia mulher ao lado de uma infeliz mãe
ébria.
E era, ainda assim, com essas esmolas de Pombinha, que na casa de Piedade
não faltava de todo o pão, porque já ninguém confiava roupa à desgraçada, e
nem ela podia dar conta de qualquer trabalho.
Pobre mulher! chegara ao extremo dos extremos. Coitada! já não causava
dó, causava repugnância e nojo. Apagaram-se-lhe os últimos vestígios do brio;
vivia andrajosa, sem nenhum trato e sempre ébria, dessa embriaguez sombria e
mórbida que se não dissipa nunca. O seu quarto era o mais imundo e o pior de
toda a estalagem; homens malvados abusavam dela, muitos de uma vez,
aproveitando-se da quase completa inconsciência da infeliz. Agora, o menor
trago de aguardente a punha logo pronta; acordava todas as manhãs apatetada,
muito triste, sem animo para viver esse dia, mas era só correr à garrafa e
voltavam-lhe as risadas frouxas, de boca que já se não governa. Um empregado
de João Romão, que ultimamente fazia as vezes dele na estalagem, por três
vezes a enxotou, e ela, de todas, pediu que lhe dessem alguns dias de espera,
para arranjar casa. Afinal, no dia seguinte ao último em que Pombinha apareceu
por lá com Léonie e deixou-lhe algum dinheiro, despejaram-lhe os tarecos na
rua.
E a mísera, sem chorar, foi refugiar-se, junto com a filha, no
"Cabeça-de-Gato" que, à proporção que o São Romão se engrandecia, mais e
mais ia-se rebaixando acanalhado, fazendo-se cada vez mais torpe, mais abjeto,
mais cortiço, vivendo satisfeito do lixo e da salsugem que o outro rejeitava,
como se todo o seu ideal fosse conservar inalterável, para sempre, o verdadeiro
tipo da estalagem fluminense, a legitima, a legendária; aquela em que há um
samba e um rolo por noite; aquela em que se matam homens sem a polícia
descobrir os assassinos; viveiro de larvas sensuais em que irmãos dormem
misturados com as irmãs na mesma lama; paraíso de vermes, brejo de lodo
quente e fumegante, donde brota a vida brutalmente, como de uma podridão. |
XXII
Seit diesem Tag war Bertoleza noch abweisender und unwirscher und tauschte mit dem Freund nur hier und da ein unvermeindliches Wort bezüglich der Arbeit im Haus. Zwischen den beiden gab es jetzt jene Blicke des Misstrauens, die zwischen Personen, die gemeinsam sterben, den ganzen Abgrund an Angst offenbaren. Die Unglückliche lebte in ständiger Anspannung, voller Befürchtungen, voller Angst, ermordet zu werden. Sie aß nur noch das, was sie sich selbst zubereitet hatte und schlief nur noch, wenn sie abgeschlossen hatte. Nachts ließ sie das geringste Geräusch aufschrecken, mit aufgerissenen Augen, keuchend, mit offenem Mund und bereit beim ersten Angriff um Hilfe zu schreien.
Trotzdem prosperierte wie im Fieber inmitten ihrer Unruhe und ihres Unwohlseins ringsumher alles, durch ihre Aktiviäten einer arbeitsamen Sklavin sprudelten wie früher die zwanziger in die Schublade der Kneipe und summierten sich zu Tausendern. Während des Tages hielten jetzt vor dem Lager immer mehr Kutschen mit Ladung und Kisten vom Zollamt, auf denen die Initialien von João Romão aufgedruckt waren. Es wurden immer mehr und mehr Korbflaschen Wein und Essig abgeladen und Fässerladungen an Bier und Butter, Säcke mit Gewürzen. Und das Lager, mit seinen weit aufgesperrten Türen, verschlang alles mit einem Schluck, um es dann Stück für Stück mit einem schönen Gewinn, der am Ende des Jahres für Überraschungen sorgte, wieder rauszulassen. João Romão wurde zum Lieferanten aller Kneipen und Lager in ganz Botafogo. Das kleine Geschäft wurde zum Großhändler. Sein Haus hatte jetzt ein komplexe Personalstruktur aus ersten, zweiten und dritten Angestellten und des weiteren Buchhalter, Einkäufer, Lageristen und Kassenwarte. Von seinem Schreibtisch wurden Briefe in mehreren Sprachen abgeschickt und zwischen den Regalen aus polierten Holz, wo immer ein Buffet mit Schinken, Käse und Bier stand, wurden lange Handelsverträge abgeschlossen, Transaktionen, wo ganze Vermögen auf's Spiel gesetzt wurden. Es wurden die Geschäfte von Unternehmen gefördert und Privilegien von der Regierung erreicht. Wertpapiere wurden an und verkauft. Kredite mit hohen Zinsen wurde vergeben die durch hohe Hypotheken gesichert waren. Alle gingen dahin. Der große und der kleine Händler, gestandene Kapitalisten und bankrotte Geschäftsleute, Börsenmakler, Geschäftemacher, Besitzer von Wechselstuben. Angestellte im öffentlichen Dienst, die einen Vorschuss auf ihr Gehalt wollten, Witwen, die wegen ihrer Witwenrente stritten, Studenten, die ihr monatliches Stipendium bekommen und Poliere unterschiedlicher Typen von Arbeitern, die vom Haus bezahlt wurden. Hervorstachen, durch ihre Menge, die Rechtsanwälte, das niederträchtige Volk der Gerichte, immer unruhig, immer auf der Suche, die ihre Nase in alles steckten, hässlich, ein Haufen Papier unter dem Arm, den Bart ungekämmt, die Zigarre feucht und erloschen in einer Ecke des Mundes.
Mit dem Gedeihen des Unternehmens von João Romão prosperierte auch der Boulevard. Man akzeptierte jetzt dort nicht mehr jeden dahergelaufenen Landstreicher. Um sich dort einzumieten bedurfte es nun eines Bürgen und einer speziellen Empfehlung. Die Preise für die Wohnungen stiegen und viele der alten Mieter, vor allem Italiener, gingen zum "Kopf der Katze" um Geld zu sparen und wurden durch reinlichere Leute ersetzt. Auch die Anzahl der Wäscherinnen nahm ab und in den meisten Häuschen wohnten jetzt die kleinen Familien der Arbeiter, Künstler und die kleinen Angestellten von Behörden. Die Mietskaserne wurde aristokratischer. Es gab gleich hinter dem Eingang einen Schneider, ein ehrenwerter Mann mit Backenbart, der an seiner Nähmaschine zwischen zwei Gesellen, unterstützt von seiner Frau, einer Lissabonerin mit der Farbe einer Rübe, dick, schon älter, mit einem Anflug von Lippenbart und Kinnbart, aber extrem umsichtig, nähte. Dann kam ein glatzköpfiger Uhrmacher mit Brille, der hinter seiner Glasvitrine, wo er von morgens bis mittags ohne sich zu bewegen arbeitete, wie mumifiziert schien. Dann kam ein Decken- und Schildermaler, dessen künstlerischer Elan so weit ging, dass er mit dem Pinzel um seine Tür herum eine Kletterpflanze gemalt hatte, wo man verschiedenen Vögel unterschiedlicher Farben und Gestalten sah, die viel über die professionellen Fähigkeiten des Urhebers aussagten. Weiter vorne hatte sich ein Zigarrenladen eingerichtet, der nicht weniger als drei Nummern der Mietskaserne belegte und vier Töchter und zwei Söhne hatten, die Zigarren herstellten und mehr als drei Arbeiterinnen, die das Deckblatt aus Mais vorbereiteten und den Tabak zuschnitten und trennten. Florinda, die jetzt mit einem Mann zusammenlebte, der bei der Eisenbahngesellschaft als Warenabfertiger arbeitete, war nach São Romão zurückgekommen und hielt ihr Häuschen sehr sauber und gut in Schuss. Sie trauerte noch um die Mutter, die arme, alte Marciana, die kürzlich im Krankenhospiz gestorben war. Sonntags empfing der Warenabfertiger Freunde zum Abendessen und da das Mädchen sich Rita Baiana als Vorbild nahm, endeten die Nächte immer in einer Feier aus Tanz und Gesang, jetzt aber alles hinter geschlossenen Türen, weil man jetzt keine spontanen Sambas und Trubel mehr akzeptierte. Machona hatte nach dem Tod von Agostinho ein bisschen an Schwung verloren und hatte jetzt oft Besuch von einer Gruppe junger Männer, unter denen einer um die Hand von Nenen angehalten hattte, die schon verzweifelt war, weil sie lange vergeblich auf einen Mann wartete. Alexandre war zum Sargent befördert worden und in seiner neuen Uniform, mit Knöpfen, die blendeten, war er noch förmlicher. Die Frau, immer gleichmäßig fruchtbar und ehrbar, schien in ihrer feuchten Weichheit schimmelig zu werden und hatte das traurige Aussehen eines Pilzes. Man sah sie oft einen Säugling von wenigen Monaten säugen, den Bauch, bedingt dadurch, dass sie immer schwanger war, nach vorne gestreckt. Die Taufpatin ihrer Tochter Léonie besuchte sie immer noch hin und wieder, die Ruhe dieser Szenerie durch ihre schrillen Kleider störend. Als sie einmal dahin ging, eines Samstag nachmittags, gab es einen mächtigen Auflauf in der Mietskaserne, weil sie mit Pombinha kam, die sich in die Welt hinaus gewagt hatte und nun mit ihr lebte.
Arme Pombinha! Nachdem sie zwei Jahre verheiratet war, konnte sie ihren Ehemann nicht mehr ertragen. Anfangs versuchte sie noch ihm seinen Mangel an Geist, seinen biederen Geschmack und sein lächelnde und ermüdende Dämlichkeit eines Mannes ohne Ideale zu verzeihen. Sie hörte seine banalen Beichten in den intimen Stunden der Ehe. Sie respektierte seine aus wehleidiger Eifersucht resultierenden niederträchtigen Forderungen. Sie pflegte ihn mit Hingabe, wenn er an einer akuten Lungenentzündung litt. Sie versuchte mit allen Mitteln, sich ihm anzupassen. Sie versuchte nie, mit ihm über Dinge zu sprechen, die nach Luxus rochen, nach Kunst, Ästhetik, nach Originalität. Sie versteckte ihre schlecht entwickelte und natürliche Neigung für das, was groß, schön und kühn ist und täuschte ein Interesse für das, was er tat vor, an dem was er verdiente, an dem was er dachte und an dem was er mit Geduld ein seinem engen Leben als gewöhnlicher Händler erreichte. Aber plötzlich geriet sie aus dem Gleichgewicht und die Unglückliche rutschte aus, fiel in die Arme eine talentierten, freizügigen Bohemien, Dichter, Spieler und Capoeira. Der Gatte merkte das nicht sogleich, aber fing an die Frau zu vermissen, ihr zu misstrauen und ihr nachzuspionieren, bis der Unglückliche schließlich, als er ihr folgte ohne gesehen zu werden, er Sicherheit darüber erlangte, dass er von der Gattin betrogen wurde, jetzt nicht mehr von dem freizügigen Dichter, sondern mit einem Dramatiker, der ihm of Tränen der Rührung entlockt hatte, als er im Theater in Versen die bürgerliche Moral pries und den Ehebruch mit feuernden und entrüsteten Worten verdammte.
Er konnte sich nicht irren! Und so sehr er die Undankbare auch liebte, trennte er sich von ihr, gab sie der Mutter und flüchtete anschließend nach São Paulo. Dona Isabel, die zwar von diesem Streich nichts wusste, aber von anderen vorher, die die Arme quälten, löste sich in Tränen auf. Sie empfahl ihr zu bereuen und ihr Verhalten zu ändern. Sofort schrieb sie dem Schwiegersohn, setzte sich für Pombinha ein, schwörte, dass sie nun für sie bürgen würde und bat ihn die Vergangenheit zu vergessen und zu seiner Frau zurückzukehren. Der Junge antwortete nicht auf den Brief und nach einigen Monaten verschwand Pombinha aus dem Haus der Mutter. Dona Isabel wäre vor Verbitterung fast gestorben. Wo mag die Tochter wohl hingegangen sein? "Wo ist sie? Wo ist sie? Such sie da, such sie dort!" Sie fand sie erst ein paar Wochen später. Sie lebte jetzt mit Léonie in einem Appartement. Die Schlange hatte letztlich gesiegt. Pombinha war auf eigenen Füßen, wie angezogen, in den Mund gezogen worden. Die arme Mutter weinte um die Tochter, als ob sie tot wäre. Da der Schmerz aber ihr nicht das Leben nahm und da die Unglückliche nichts hatte um den Hunger zu stillen und auch keine Kraft um zu arbeiten, akzeptierte sie mit gesenktem Kopf das erste Geld das Pombinha ihr schickte. Und von da an akzeptierte es immer, wodurch das Mädchen ihr einziger Schutz vor dem Alter wurde und sie mit den Erlösen aus der Prostitution ernährte. Später, da ein Mensch sich in dieser Welt an alles gewöhnt, zog Dona Isabel in das Haus der Tochter. Sie erschien aber nie im Zimmer und wenn Leute von außerhalb da waren, versteckte sie sich. Wenn einer der Besucher von Pombinha unerwartet auf sie traf, tat die Unglückliche so, voller Scham, als ob sie das Hausmädchen oder eine Gesellschaftsdame wäre. Was sie am meisten hasste und was sie kaum ertragen konnte ohne dass es ihr das Herz zusammenpresste, war der Anblick der Tochter, die sich nach dem Essen unter dem Einfluss von Champagner wie ein Dämon benahm, Dummheiten sagte und sich gleich dort den Männern an den Hals warf. Sie weinte immer, wenn sie herein trat, zu Unzeiten, nach einer Orgie. Mit zunehmender Verbitterung fühlte sie ihre Kräfte schwinden, bis sie schließlich bettlärig wurde und in ein Pflegeheim eingeliefert wurde, wo sie schließlich starb.
Die zwei Kokotten, unzertrennliche Freundinnnen, schrecklich in dieser unzerstörbaren Solidarität, die aus ihnen eine Kobra mit zwei Köpfen machte, beherrschten jetzt den oberen und unteren Teil von Rio de Janeiro. Man sah sie überall, wo gefeiert wurde. Nachmittags, vor dem Mittagessen, überquerten sie den Catete in offener Kutsche, mit Juju an ihrer Seite. Nachts, im Theater erregten sie in ihren Logen die Aufmerksamkeit der alten Mandatsträger, ausgelaugt durch die Politik und gierig nach extremen Erlebnissen oder sie zogen lüsterne und dicke Kaffeeplantagenbesitzer, die an den Hof gekommen waren um die reiche Ernte, von ihren Sklaven erarbeitet, zu verjuxen, in Hinterzimmer. Unter ihnen zog eine ganze Generation an Verderbten vorüber. Pombinha war schon nach drei Monaten als Prostituierte so erfahren wie die andere. Ihr unglückliche Intelligenz, geboren und kultiviert in dem bescheidenen Sumpf der Mietskaserne, gedieh bald erstaunlich in der Flamme der starken Laster mit langem Atem. Sie erreichte wahre Wunder in der Kunst. Sie schien alle Geheimnisse dieses Lebens zu ahnen. Ihre Lippen berührten niemanden ohne Blut zu ziehen. Sie wusste wie man Schluck für Schluck selbst noch aus dem geizigsten Mann, alles Geld, das das Opfer von sich aus geben konnte, von dessen Mund trank. Unterdessen wurde sie im Boulevard São Romão, wie die Meisterin auch, immer mehr von ihren alten und treuen Kameraden der Mietskaserne bewundert. Wenn sie dort in Begleitung von Juju hingingen, war die Tür von Augusta, wie früher, voller Leute, die sie mit stupiden Lächeln der ererbten und unterwüfigen Armut segneten. Pombinha öffnete weit ihren Geldbeutel, vor allem für die Frau von Jerônimo, für deren Tochter, ihre Protegée, sie jetzt eine spezielle Sympathie entwickelte, identisch wie jene, die zu anderen Zeiten Léonie für sie empfand. Die Kette ging weiter und würde immer weiter gehen. Die Mietskaserne formte in diesem verlassenen Mädchen eine neue Prostituierte, die an der Seite einer betrunkenen Mutter zur Frau wurde.
Dank der Almosen von Pombinha fehlte es im Haus von Piedade nicht an Brot, obwohl nun niemand mehr der Unglücklichen Wäsche anvertraute und sie auch nicht mehr in der Lage war, eine Arbeit durchzuführen.
Arme Frau! Sie war nun vollends erledigt. Die arme erregte nun kein Mitleid mehr, sonder Ablehnung und Ekel. Die letzten Spuren von Kraft erloschen. Sie war zerlumpt, ohne jeden Kontakt und immer betrunken, von jener düsteren und morbiden Trunkenheit, die sich nie auflöst. Ihr Zimmer war das vernachlässigste und das schlechteste der ganzen Mietskaserne. Ruchlose Männer nutzten sie aus, viele nur einmal, nützten die Tatsache aus, dass sie fast bewusstlos war. Ein Schluck Alkohol reichte, um sie gefügig zu machen. Sie erwachte jeden Morgen morgen apathisch, vollständig niedergeschlagen, ohne Mut, diesen Tag zu leben, doch reichte es zur Flasche zu rennen, damit das schwache Gelächter wiederkam, aus einem Mund, den sie nicht mehr kontrollieren konnte. Ein Angestellter von João Romão, der nun sein Stellvertreter in der Mietskaserne war, hatte sie schon dreimal hinausgeworfen und sie hatte jedes Mal gebeten, ihr noch ein paar Tage Zeit zu lassen um die Wohnung aufzuräumen. Schließlich, am Tag nachdem Pombinha mit Léonie einen Besuch abgestattet hatte und ihr etwas Geld dagelassen hatte, warfen sie ihren Plunder auf die Straße.
Die Elende zog, zusammen mit der Tochter, in den "Kopf der Katze", das sich, in dem Maße wie São Romão größer wurde, immer mehr verlotterte, wurde immer stumpfsinniger, verworfener, mehr Mietskaserne, lebte zufrieden vom Müll und vom Eiter, den die andere absonderte, als ob es sein Ideal wäre den wahren Typ der Mietskaserne von Rio de Janeiro, die wahre und legendäre, für immer ungeändert beizubehalten. Jene in der es nachts Samba und Feiern gab. Jene in der sich Menschen umbringen, ohne dass die Polizei jemals die Mörder findet. Ein Lebensraum für lüsterne Larven, wo die Brüder vermischt mit den Schwestern in derselben Flamme schliefen. Ein Paradies für Würmer, ein heißes und dampfendes Sumpfgebiet, wo das Leben so brutal blüht, wie in einem Misthaufen. |
XXIII
À porta de uma confeitaria da Rua do Ouvidor, João Romão, apurado num
fato novo de casimira clara, esperava pela família do Miranda, que nesse dia
andava em compras.
Eram duas horas da tarde e um grande movimento fazia-se ali. O tempo
estava magnífico; sentia-se pouco calor. Gente entrava e saia, a passo frouxo, da
Casa Pascoal. Lá dentro janotas estacionavam de pé, soprando o fumo dos
charutos, à espera que desocupassem uma das mesinhas de mármore preto;
grupos de senhoras, vestidas de seda, faziam lanche com vinho do Porto.
Respirava-se um cheiro agradável de essências e vinagres aromáticos; havia um
rumor quente e garrido, mas bem-educado; namorava-se forte, mas com
disfarce, furtando-se olhares no complicado encontro dos espelhos; homens
bebiam ao balcão e outros conversavam, comendo empadinhas junto às estufas;
algumas pessoas liam já os primeiros jornais da tarde; serventes, muito
atarefados, despachavam compras de doces e biscoitos e faziam, sem descansar,
pacotes de papel de cor, que os compradores levavam pendurados num dedo. Ao
fundo, de um dos lados do salão, aviavam-se grandes encomendas de banquetes
para essa noite, traziam-se lá de dentro, já prontas, torres e castelos de balas e
trouxas d’ovos e imponentes peças de cozinha caprichosamente enfeitadas;
criados desciam das prateleiras as enormes baixelas de metal branco, que os
companheiros iam embalando em caixões com papel fino picado. Os
empregados das secretarias públicas vinham tomar o seu vermute com sifão;
repórteres insinuavam-se por entre os grupos dos jornalistas e dos políticos, com
o chapéu à ré, ávidos de noticias, uma curiosidade indiscreta nos olhos. João
Romão, sem deixar a porta, apoiado no seu guarda-chuva de cabo de marfim,
recebia cumprimentos de quem passava na rua; alguns paravam para lhe falar.
Ele tinha sorrisos e oferecimentos para todos os lados; e consultava o relógio de
vez em quando.
Mas a família do Barão surgiu afinal. Zulmira vinha na frente, com um
vestido cor de palha justo ao corpo, muito elegante no seu tipo de fluminense
pálida e nervosa; logo depois Dona Estela, grave, toda de negro, passo firme e ar
severo de quem se orgulha das suas virtudes e do bom cumprimento dos seus
deveres. O Miranda acompanhava-as de sobrecasaca, fitinha ao peito, o
colarinho até ao queixo, botas de verniz, chapéu alto e bigode cuidadosamente
raspado. Ao darem com João Romão, ele sorriu e Zulmira também; só Dona
Estela conservou inalterável a sua fria máscara de mulher que não dá verdadeira
importância senão a si mesma.
O ex-taverneiro e futuro visconde foi, todavia, ao encontro deles, cheio de
solicitude, descobrindo-se desde logo e convidando-os com empenho a que
tomassem alguma coisa.
Entraram todos na confeitaria e apoderaram-se da primeira mesa que se
esvaziou. Um criado acudiu logo e João Romão, depois de consultar Dona
Estela, pediu sanduíches, doces e moscatel de Setúbal. Mas Zulmira reclamou
sorvete e licor. E só esta falava; os outros estavam ainda à procura de um
assunto para a conversa; afinal o Miranda que, durante esse tempo contemplava
o teto e as paredes, fez algumas considerações sobre as reformas e novos
adornos do salão da confeitaria. Dona Estela dirigiu, de má, a João Romão
várias perguntas sobre a companhia lírica, o que confundiu por tal modo ao
pobre do homem, que o pôs vermelho e o desnorteou de todo. Felizmente, nesse
instante chegava o Botelho e trazia uma noticia: a morte de um sargento no
quartel; questão entre inferior e superior. O sargento, insultado por um oficial do
seu batalhão, levantara a mão contra ele, e o oficial então arrancara da espada e
atravessara-o de lado a lado. Estava direito! Ah! ele era rigoroso em pontos de
disciplina militar! Um sargento levantara a mão para um oficial superior!...
devia ficar estendido ali mesmo, que dúvida!
E faiscavam-lhe os olhos no seu inveterado entusiasmo por tudo que
cheirasse a farda. Vieram logo as anedotas análogas; o Miranda contou um fato
idêntico que se dera vinte anos atrás e Botelho citou uma enfiada deles
interminável.
Quando se levantaram, João Romão deu o braço a Zulmira e o Barão à
mulher, e seguiram todos para o Largo de São Francisco, lentamente, em andar
de passeio, acompanhados pelo parasita. Lá chegados, Miranda queria que o
vizinho aceitasse um lugar no seu carro, mas João Romão tinha ainda que fazer
na cidade e pediu dispensa do obséquio. Botelho também ficou; e, mal a
carruagem partiu, este disse ao ouvido do outro, sem tomar fôlego:
— O homem vai hoje, sabe? Está tudo combinado!
— Ah! vai? perguntou João Romão com interesse, estacando no meio do
largo. Ora graças! Já não é sem tempo!
— Sem tempo! Pois olhe, meu amigo, que tenho suado o topete! Foi uma
campanha!
— Há que tempo já tratamos disto!...
— Mas que quer você, se o homem não aparecia?... Estava fora! Escrevi-lhe
várias vezes, como sabe, e só agora consegui pilhá-lo. Fui também à polícia duas
vezes e já lá voltei hoje; ficou tudo pronto! mas você deve estar em casa para
entregar a crioula quando eles lá se apresentarem...
— Isso é que seria bom se se pudesse dispensar... Desejava não estar
presente...
— Ora essa! Então com quem se entendem eles?... Não! tenha paciência! é
preciso que você lá esteja!
— Você podia fazer as minhas vezes...
— Pior! Assim não arranjamos nada! Qualquer dúvida pode entornar o
caldo! É melhor fazer as coisas bem feitas. Que diabo lhe custa isto?... Os
homenzinhos chegam, reclamam a escrava em nome da lei, e você a entrega —
pronto! Fica livre dela para sempre, e daqui a dias estoura o champanha do
casório! Hein, não lhe parece?
— Mas...
— Ela há de choramingar, fazer lamúrias e coisas, mas você põe-se duro e
deixe-a seguir lá o seu destino!... Bolas! não foi você que a fez negra!...
— Pois vamos lá! creio que são horas.
— Que horas são?
— Três e vinte.
— Vamos indo.
E desceram de novo a Rua do Ouvidor até ao ponto dos bondes de
Gonçalves Dias.
— O de São Clemente não está agora, observou o velho. Vou tomar um
copo d’água enquanto esperamos.
Entraram no botequim do lugar e, para conversar assentados, pediram dois
cálices de conhaque.
— Olhe, acrescentou o Botelho; você nem precisa dizer palavra... faça como
coisa que não tem nada com isso, compreende?
— E se o homem quiser os ordenados de todo o tempo em que ela esteve em
minha companhia?...
— Como, filho, se você não a alugou das mãos de ninguém?!... Você não
sabe lá se a mulher é ou era escrava; tinha-a por livre naturalmente; agora
aparece o dono, reclama-a e você a entrega, porque não quer ficar com o que lhe
não pertence! Ela, sim, pode pedir o seu saldo de contas; mas para isso você lhe
dará qualquer coisa...
— Quanto devo dar-lhe?
— Aí uns quinhentos mil-réis, para fazer a coisa à fidalga.
— Pois dou-lhos.
— E feito isso — acabou-se! O próprio Miranda vai logo, logo, ter com
você! Verá!
Iam falar ainda, mas o bonde de São Clemente acabava de chegar, assaltado
por todos os lados pela gente que o esperava. Os dois só conseguiram lugar
muito separados um do outro, de sorte que não puderam conversar durante a
viagem.
No Largo da Carioca uma vitória passou por eles, a todo o trote. Botelho
vergou-se logo para trás, procurando os olhos do vendeiro, a rir-se com
intenção. Dentro do carro ia Pombinha, coberta de jóias, ao lado de Henrique;
ambos muito alegres, em pândega. O estudante, agora no seu quarto ano de
medicina, vivia à solta com outros da mesma idade e pagava ao Rio de Janeiro o
seu tributo de rapazola rico.
Ao chegarem à casa, João Romão pediu ao cúmplice que entrasse e levou-o
para o seu escritório.
— Descanse um pouco... disse-lhe.
— É, se eu soubesse que eles se não demoravam muito ficava para ajudá-lo.
— Talvez só venham depois do jantar, tornou aquele, assentando-se à
carteira.
Um caixeiro aproximou-se dele respeitosamente e fez-lhe várias perguntas
relativas ao serviço do armazém, ao que João Romão respondia por
monossílabos de capitalista; interrogou-o por sua vez e, como não havia
novidade, tomou Botelho pelo braço e convidou-o a sair.
— Fique para jantar. São quatro e meia, segredou-lhe na escada.
Já não era preciso prevenir lá defronte porque agora o velho parasita comia
muitas vezes em casa do vizinho.
O jantar correu frio e contrafeito; os dois sentiam-se ligeiramente
dominados por um vago sobressalto. João Romão foi pouco além da sopa e quis
logo a sobremesa.
Tomavam café, quando um empregado subiu para dizer que lá embaixo
estava um senhor, acompanhado de duas praças, e que desejava falar ao dono da
casa.
— Vou já, respondeu este. E acrescentou para o Botelho: — São eles!
— Deve ser, confirmou o velho.
E desceram logo.
— Quem me procura?... exclamou João Romão com disfarce, chegando ao
armazém.
Um homem alto, com ar de estróina, adiantou-se e entregou-lhe uma folha
de papel.
João Romão, um pouco trêmulo, abriu-a defronte dos olhos e leu-a
demoradamente. Um silêncio formou-se em torno dele; os caixeiros pararam em
meio do serviço, intimidados por aquela cena em que entrava a polícia.
— Está aqui com efeito... disse afinal o negociante. Pensei que fosse livre...
— É minha escrava, afirmou o outro. Quer entregar-ma?...
— Mas imediatamente.
— Onde está ela?
—Deve estar lá dentro. Tenha a bondade de entrar...
O sujeito fez sina! aos dois urbanos, que o acompanharam logo, e
encaminharam-se todos para o interior da casa. Botelho, à frente deles,
ensinava-lhes o caminho. João Romão ia atrás, pálido, com as mãos cruzadas
nas costas.
Atravessaram o armazém, depois um pequeno corredor que dava para um
pátio calçado, chegaram finalmente à cozinha. Bertoleza, que havia já feito subir
o jantar dos caixeiros, estava de cócoras, no chão, escamando peixe, para a ceia
do seu homem, quando viu parar defronte dela aquele grupo sinistro.
Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e um calafrio
percorreu-lhe o corpo. Num relance de grande perigo compreendeu a situação;
adivinhou tudo com a lucidez de quem se vê perdido para sempre: adivinhou
que tinha sido enganada; que a sua carta de alforria era uma mentira, e que o seu
amante, não tendo coragem para matá-la, restituía-a ao cativeiro.
Seu primeiro impulso foi de fugir. Mal, porém, circunvagou os olhos em
torno de si, procurando escapula, o senhor adiantou-se dela e segurou-lhe o
ombro.
— É esta! disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a desgraçada a
segui-los. — Prendam-na! É escrava minha!
A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos
espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada
para eles, sem pestanejar.
Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres.
Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e,
antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo
rasgara o ventre de lado a lado.
E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa
lameira de sangue.
João Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tapando o rosto
com as mãos.
Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de
abolicionistas que vinha, de casaca! trazer-lhe respeitosamente o diploma de
sócio benemérito.
Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas. | XXIII
An der Tür einer Confiserie in der Rua do Ouvidor wartete João Romão, bekleidet mit einem Anzug aus heller, feiner Wolle, auf die Familie Miranda, die an diesem Tag eine Shopping Tour machen wollte.
Es war zwei Uhr nachmittags und es war sehr belebt da. Das Wetter war herrlich und nicht zu heiß. Aus der Casa Pascoal kamen,gesetzten Schrittes, Leute herein und heraus. Im Inneren standen Gecken, pafften Zigarren, warteten darauf, dass eine der schwarzen Marmortischen frei würde. Gruppen von Frauen, in Seide gekleidet, machten einen Imbiss mit Portwein. In der Luft lag ein angenehmer Duft von Essenzen und Aromen. Die Atmosphäre war warm und fröhlich, stilvoll. Es wurde geflirtet, aber wohlerzogen, man tauschte Blicke aus im komplizierten Aufeinandertreffen der Spiegel. Männer tragen an der Theke und andere redeten, aßen Teigtaschen in der Nähe des Ofens. Manche laßen bereits die ersten Zeitungen des Tages. Die Bediensteten, sehr beschäftigt, machten, ohne Unterlass, Pakete aus rotem Papier mit Süßigkeiten und Keksen, fertig, die die Käufer an einem Finger wegtrugen. Im Hintergrund, auf beiden Seiten des Salons, wurde für eine Gesellschaft für diesen Abend ein Bankett eingerichtet, Türme und Burgen aus Süßigkeiten wurden, schon fertig, herbeigeschleppt, Eierspeisen und beeindruckende, reich verzierte Gerichte. Die Angestellten holten riesige Servierbretter aus weißem Metall von den Regalen, die die Kameraden dann in Kartons ausgeschlagen mit feinem, gestanzten Papier einpackten. Die Angestellten der Behörden kamen um ihren Vermuth mit Kohlensäure zu trinken. Reporter mischten sich in die Gruppe der festangestellten Jornalisten großer Zeitungen und Politiker, den Hut schräg auf dem Kopf, gierig auf neue Nachrichten, mit einer indiskreten Neugierde in den Augen. João Romão, gestützt auf seinen Regenschirm mit einer Spitze aus Elfenbein, wurde, an der Tür verweilend, von auf der Straße Vorbeigehenden begrüßt. Manche hielten an, um ein paar Worte mit ihm zu wechseln. Er hatte für alle ein Lächeln und war nach allen Seiten hin zuvorkommend. Von Zeit zu Zeit schaute er auf die Uhr.
Schließlich erschien die Familie des Barons. Zulmira ging vorne, mit einem strofarbenen, engen Kleid, sehr elegant, ganz der Typ einer blassen und feinnervigen Frau aus Rio de Janeiro. Ihr folgte Dona Estela, ernst, ganz in schwarz gekleidet, mit festem Schritt und dem ernsten Auftreten von jemandem, der stolz ist auf seine Tugend und seine Pflichten gewissenhaft erfüllt. Miranda begleitete sie, bekleidet mit einem Mantel, an der Brust mit einem Band verziert, mit einem Kragen bis zum Kinn, Lackschuhe, hoher Hut und einem sorgfältig rasierten Schnurrbart. Also sie João Romão sahen, lächelte dieser und Zulmira lächelte zurück. Nur Dona Estela behielt ihre unveränderliche, kalte Maske einer Frau, die lediglich sich selbst Beachtung schenkt.
Der Ex-Kneipenwirt und zukünftiger Graf ging ihnen jedoch entgegen, sehr zuvorkommend, nahm den Hut ab und lud sie mit Nachdruck auf ein Glas ein.
Sie gingen in die Confiserie und bemächtigten sich des ersten Tisches, der sich leerte. Ein Kellner kam herbeigelaufen und João Romão, nachdem er Dona Estela nach ihren Wünschen gefragt hatte, bestellte Sandwiches, Süßigkeiten und Süßwein aus Setúbal. Zulmira jedoch wollte Eis und Likör. Nur sie sprach. Die anderen suchten noch nach einem Thema für das Gespräch. Schließlich stellte Miranda, der einige Zeit das Dach und die Wände betrachtet hatte, Betrachtungen an über die Reparaturen und Verzierungen, die im Salon der Confiserie vorgenommen worden waren. Unglücklicherweise richtete Dona Estela mehrere Fragen an João Romão bezüglich des Orchesters, die diesen erröten ließen und ihn völlig verwirrten. Glücklicherweise kam in diesem Moment Botelho und überbrachte eine Nachricht. Ein Sargent war, bei einer Streitigkeit zwischen Vorgesetztem und Untergebenen, in der Kaserne gestorben. Der Sergeant, der von einem Offizier seiner Einheit beleidigt worden war, erhob die Hand gegen diesen, worauf der Offizier das Schwert zog und ihn durchbohrte. Das war richtig! Er war für die rigorose Durchsetzung der militärischen Disziplin! Ein Sergeant der die Hand gegen einen Offizier erhob! Er musste gleich dort niedergestreckt werden! Da gab es keinen Zweifel!
Seine Augen glänzten erfüllt von seinem tief verwurzelten Enthusiasmus für alles, was nach Uniform roch. Dann kamen Anekdoten, die ähnliche Situationen zum Inhalt hatten. Miranda erzählte einen gleichen Fall, der sich zwanzig Jahre zuvor zugetragen hatte und Botelho zitierte eine unendliche Liste solcher Fälle.
Als sie sich erhoben, gab João Romão seinen Arm Zulmira und der Baron der Frau und so gingen sie bis zum Largo de São Francisco hinunter, langsam, spazieren gehend, von dem Parasit begleitet. Als sie dort angekommen waren, wollte Miranda, dass der Nachbar einen Platz in seine Kutsche akzeptiert, was João Romão aber ablehnte, da er in der Stadt noch was zu tun hatte und entschuldigte sich dafür, dass er das Angebot nicht annehmen könne. Auch Botelho blieb und kauf war die Kutsche abgefahren, flüsterte dieser in das Ohr des anderen ohne Luft zu holen:
"Der Mann geht heute dahin, wissen Sie? Alles ist durchgeplant!"
"Er geht?", fragte João Romão mit Interesse und blieb mitten auf dem Platz stehen. Na Gott sei dank! Es wird auch Zeit!"
"Allerhöchste Zeit! Hör mal Freund, ich habe so geschwitzt, dass mein Haar vom Schweiß getränkt war! Das war eine Manöver!"
"Das ist schon eine Weile her, dass wir darüber gesprochen haben!"
"Was sollen Sie, dass ich mache, wenn der Mann nicht auftaucht? Er war verreist! Ich habe ihm mehrmals geschrieben, wie Sie wissen, und erst jetzt habe ich ihn erwischt. Ich war auch schon zweimal bei der Polizei und komme gerade von da. Es wurde alles vorbereitet, aber Sie müssen zu Hause sein, um die Kreolin zu übergeben, wenn sie auftauchen."
"Es wäre besser, wenn man das vermeiden könnte. Ich wollte nicht anwesend sein."
"Das geht nicht! Mit wem sollen sie sich verständigen? Nichts da! Haben Sie Geduld! Es ist notwendig, dass sie da sind!"
"Sie könnten das an meiner statt machen."
"Noch schlimmer! So erreichen wir gar nichts! Jeder Zweifel verkompliziert die Sache! Es ist besser, die Sachen richtig zu machen. Was zum Teufel macht ihnen das aus? Die Männchen kommen, fordern im Namen des Gesetzes die Herausgabe der Sklavin und sie übergeben sie, fertig. Sie sind für immer von ihr befreit und in ein paar Tagen lassen die Sektkorken knallen! Wie finden Sie das?"
"Aber..."
"Sie wird wohl ein bisschen flennen, ein paar Tränchen vergießen und solche Sachen, aber Sie geben nicht nach und lassen sie ihren Weg gehen! Verflixt! Sie haben sie ja nicht schwarz gemacht!"
"Gehen wir, es wird Zeit."
"Wie viel Uhr ist es?"
"Zwanzig nach drei."
"Gehen wir."
Sie gingen wieder die neue Rua do Ouvidor hinab bis zur Haltestelle der Straßenbahn Gonçalves Dias.
"Die nach São Clemente ist noch nicht da", bemerkte der Alte, "ich werde einen Schlug Wasser nehmen solange wir warten."
Sie gingen in die Kneipe und um ruhig sprechen zu können, bestellten sie zwei Gläser Kognak.
"Hören Sie", fuhr Botelho fort, "Sie müssen kein Wort sagen. Tun Sie so, als ob Sie nichts damit zu tun haben, verstehen Sie?"
"Und wenn der Herr den Lohn verlangt für die ganze Zeit, wo sie mit mir zusammen war?"
"Wie soll das gehen, mein Sohn, wenn Sie sie von niemandem entliehen hast?! Sie wußten damals nicht, dass sie eine Sklavin ist. Sie nahmen an, sie sei frei. Jetzt kommte der Herr, will sie wieder haben und Sie übergeben sie, weil Sie nicht etwas haben wollen, was Ihnen nicht gehört! Sie allerdings kann etwas fordern, aber dann geben Sie hier halt etwas."
"Wie viel soll ich ihr geben?"
"So in etwa fünfhundert Tausend Réis, um die Sache nobel zu beenden."
"Dann werde ich sie ihr geben."
"Nachdem das gemacht ist", ist alles erledigt!" Miranda kommt dann selbst sofort und gleich zu ihnen. Sie werden sehen!"
Sie hätten weiter gesprochen, aber die Straßenbahn nach São Clemente kam gerade an und wurde von allen Seiten von den Leuten die da warteten bestürmt. Die zwei konnten nur weit voneinander entfernt zwei Sitzplätze ergattern, so dass sie während der Reise nicht miteinander sprechen konnten.
Auf dem Largo da Carioca fuhr, im Galopp, eine prächtige Kutsche an ihnen vorbei. Botelho drehte sich um, suchte den Blick des Kneipenwirtes und lachte laut. In der Kutsche saß, neben Henrique, Pombinha, behängt mit Edelsteinen, beide fröhlich und in Feierlaune. Der Student wohnte jetzt im vierten Jahr seines Medizinstudiums alleine zusammen mit anderen desselben Alters und zahlte seinen Tribut als Papas Sohn an Rio de Janeiro.
Als sie zu Hause ankammen bat João Romão seinen Komplizen einzutreten und führte ihn in sein Büro.
"Ruh dich aus", sagte er ihm.
"Wenn ich wüsste, dass sie nicht lange auf sich warten lassen, würde ich bleiben, um ihnen zu helfen."
"Vielleicht kommen sie erst nach dem Essen", erwiderte dieser und setzte sich an den Schreibtisch.
Ein Angestellter näherte sich ihnene respektvoll und stellte einige Fragen bzgl. der Arbeit im Lagen, auf die João Romão kurz, wie man das von einem Kapitalisten erwartet, antwortete, stellte ein paar Gegenfragen und da es keine Neuigkeiten gab, nahm er Botelho beim Arm und lud ihn ein, hinauszugehen.
"Bleiben Sie zum Essen. Es ist halb fünf", flüsterte er ihm auf der Treppe zu.
Es war nun nicht mehr nötig, ihm das vorher zu sagen, denn der alte Parasit aß jetzt regelmäßig im Haus den Nachbarn.
Das Abendessen verlief kalt und gezwungen. Die zwei fühlten sich leicht beherrscht von einer vagen Angst. João Romão wollte keine Suppe und ließ sofort den Nachttisch kommen.
Sie tranken Kaffee, als ein Angestellter hereinkam, um zu sagen, dass da unten ein Herr mit zwei Polizisten wartete, der mit dem Hausherr zu sprechen wünsche.
"Ich komme", antwortete dieser und fügte zu Botelho gerichtet hinzu, "sie sind es".
Sie gingen sofort hinunter.
"Wer sucht mich?", rief João Romão und verstellte sich, als er am Lager ankam.
Ein großer Mann, der Aussah,wie ein Hallodri, trat vor und überreichte ihm einen Stapel Papier.
João Romão öffnete sie leicht zitternd vor seinen Augen und las sie sorgfältig durch. Um ihn herum trat Stille ein. Die Angestellten hielten in ihre Arbeit inne, eingeschüchtert durch diese Szene, bei der die Polizei eine Rolle spielte.
"Sie ist tatsächlich hier", sagte schließlich der Händler, "ich dachte sie wäre frei..."
"Das ist meine Sklavin", antwortete der andere, "wollen Sie sie mir übergeben?"
"Aber sofort."
"Wo ist sie?"
"Sie muss da drin sein. Haben Sie die Güte einzutreten."
Die Gestalt gab ein Zeichen und die zwei Polizisten begleiteten ihn sofort. Sie begaben sich ins Innere des Hauses. Botelho, vor Ihnen hergehend, zeigte ihnen den Weg. João Romão ging hinter ihnen her, die Hände auf dem Rücken gekreuzt.
Sie durchquerten das Lager, dann einen kleinen Flur, der auf einen gepflasterten Hof führte und gelangten schließlich zur Küchhe. Bertoleza, die schon das Essen für dieAngestellten hatte hochbringen lassen, saß in der Hocke auf dem Boden und entschuppte die Fische für das Abendessen ihres Mannes, als sie vor sich die sinistre Gruppe stehen sah.
Sie erkannte sofort den Sohn ihres ursprünglichen Herrn und ein Schauder lief über ihren Rücken. Sofort erfasste sie die Situation. Sie ahnte alles mit der Klarheit von jemandem, der sich für immer verloren sieht. Sie erriet, dass sie betrogen worden war, dass der Brief, der ihre Befreiung beglaubigte, eine Lüge war, und dass ihr Liebhaber, da er nicht den Mut hatte, sie umzubringen, sie wieder in die Sklaverei schickte.
Ihr erster Impuls war zu flüchten. Kaum hatte sie jedoch ihre Augen auf der Suche nach einer Fluchtmöglichkeit kreisen lassen, näherte sich ihr Herr ihr und packte sie bei den Schultern.
"Sie ist es!", sagte er zu den Soldaten die mit einer Geste die Unglückliche einschüchterten, damit sie ihnen folge, "packt sie! Sie ist meine Sklavin!"
Die Negerin, umgeben von Schuppen und Fischgedärmen, mit einer Hand platt auf dem Boden und mit der anderen das Küchenmesser halten, schaute sie entsetzt an, ohne zu blinzeln.
Die Polizisten, als sie sahen, dass sie sich nicht bewegte, zückten die Säbel, worauf Bertoleza, sie mit Schwung eines wilden Tapirs erhebend, einen Schritt zurückwich und noch bevor irgendjemand sie erreichen konnte, schnitte sie sich mit einem einzigen heftigen Schnitt den Bauch von einem Ende bis zum anderen auf.
Dann fiel sie nach vorne, fiel tödlich verletzt auf das Gesicht in einem Lache voll Blut.
João Romão flüchtete in die dunkelste Ecke des Lagers, bedeckte sein Gesicht mit den Händen.
In diesem Moment hielt auf der Straße eine Kutsche. Es waren Abgesandte der Gegner der Sklaverei, die, im Frack, gekommen waren, um ihm eine Mitgliederurkunde der wohltätigen Gesellschaft zu überreichen. |