Durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças,
socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela
exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe
crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais
grossas do que serpentes, minavam por toda a parte, ameaçando rebentar o chão
em torno dela, rachando o solo e abalando tudo.
Posto que lá na Rua do Hospício os seus negócios não corressem mal,
custava-lhe a sofrer a escandalosa fortuna do vendeiro “aquele tipo! um
miserável, um sujo, que não pusera nunca um paletó, e que vivia de cama e mesa
com uma negra!” | Per due anni il caseggiato prosperò di giorno in giorno, guadagnando forza, prendendo a pugni la gente. E accanto a lui Miranda era impaurita, inquieta di quella brutale esuberanza di vita, atterrita davanti a quella foresta implacabile che cresceva accanto a casa sua, sotto le finestre, e le cui radici, peggiori e fitte di serpenti, minavano dappertutto. , minacciando di far scoppiare il terreno attorno ad esso, spaccando il terreno e scuotendo tutto. Siccome i suoi affari non andavano male laggiù in Rua do Hospício, ebbe difficoltà a subire la scandalosa fortuna del locandiere “quel ragazzo! un uomo miserabile, sporco, che non aveva mai indossato una giacca e che viveva a letto e in pensione con una donna di colore! |
À noite e aos domingos ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele,
recolhendo-se fatigado do serviço, deixava-se ficar estendido numa preguiçosa,
junto à mesa da sala de jantar, e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que
vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar
à janela sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava
com o seu fartum de bestas no coito.
E depois, fechado no quarto de dormir, indiferente e habituado às torpezas
carnais da mulher, isento já dos primitivos sobressaltos que lhe faziam, a ele,
ferver o sangue e perder a tramontana, era ainda a prosperidade do vizinho o que
lhe obsedava o espírito, enegrecendo-lhe a alma com um feio ressentimento de
despeito. | Di notte e la domenica, la sua amarezza si intensificava ancora di più, quando lui, stanco di ritirarsi dal lavoro, si lasciava distendere su una poltrona pigra, accanto al tavolo della sala da pranzo, e ascoltava, suo malgrado, il maleducato rumore che proveniva dalla locanda nel forte esalare degli animali stanchi. Non poteva avvicinarsi alla finestra senza ricevere sul viso quel soffio caldo e sensuale, che lo faceva ubriacare con la sua sovrabbondanza di bestie in coito. E poi, rinchiuso nella sua camera da letto, indifferente e abituato alla turpitudine carnale della moglie, ormai esente dagli scossoni primitivi che gli facevano ribollire il sangue e fargli perdere le staffe, era ancora la prosperità del vicino a perseguitare il suo spirito, annerendogli l'anima di un brutto risentimento di dispetto. |
Tinha inveja do outro, daquele outro português que fizera fortuna, sem
precisar roer nenhum chifre; daquele outro que, para ser mais rico três vezes do
que ele, não teve de casar com a filha do patrão ou com a bastarda de algum
fazendeiro freguês da casa! | Era invidioso dell'altro, di quell'altro portoghese che aveva fatto fortuna senza dover rosicchiare un corno; quell'altro che per essere tre volte più ricco di lui non doveva sposare la figlia del padrone o il bastardo di qualche contadino che era cliente della casa! |
Mas então, ele Miranda, que se supunha a última expressão da ladinagem e
da esperteza; ele, que, logo depois do seu casamento, respondendo para Portugal
a um ex-colega que o felicitava, dissera que o Brasil era uma cavalgadura
carregada de dinheiro, cujas rédeas um homem fino empolgava facilmente; ele,
que se tinha na conta de invencível matreiro, não passava afinal de um pedaço
de asno comparado com o seu vizinho! Pensara fazer-se senhor do Brasil e
fizera-se escravo de uma brasileira mal-educada e sem escrúpulos de virtude!
Imaginara-se talhado para grandes conquistas, e não passava de uma vitima
ridícula e sofredora!... Sim! no fim de contas qual fora a sua África?... | Ma poi, lui Miranda, che doveva essere la massima espressione di furto e astuzia; lui che, poco dopo il suo matrimonio, rispondendo al Portogallo a un ex collega che si congratulava con lui, aveva detto che il Brasile era un cavallo carico di denaro, di cui un brav'uomo prendeva facilmente le redini; lui, che si riteneva un furbo invincibile, in fondo non era altro che un pezzo di culo in confronto al suo vicino! Aveva pensato di farsi padrone del Brasile e si era fatto schiavo di una brasiliana maleducata e senza scrupoli di virtù! Si era immaginato tagliato per le grandi conquiste, e non era altro che una vittima ridicola e sofferente!... Sì! Dopo tutto, qual era la tua Africa?... |
Enriquecera um pouco, é verdade, mas como? a que preço? hipotecando-se a um
diabo, que lhe trouxera oitenta contos de réis, mas incalculáveis milhões de
desgostos e vergonhas! Arranjara a vida, sim, mas teve de aturar eternamente
uma mulher que ele odiava! E do que afinal lhe aproveitar tudo isso? Qual era
afinal a sua grande existência? Do inferno da casa para o purgatório do trabalho
e vice-versa! Invejável sorte, não havia dúvida!
Na dolorosa incerteza de que Zulmira fosse sua filha, o desgraçado nem
sequer gozava o prazer de ser pai. Se ela, em vez de nascer de Estela, fora uma
enjeitadinha recolhida por ele, é natural que a amasse e então a vida lhe correria
de outro modo; mas naquelas condições, a pobre criança nada mais representava
que o documento vivo do ludibrio materno, e o Miranda estendia até à
inocentezinha d'África o ódio que sustentava contra a esposa.
Uma espiga a tal da sua vida! | Era diventato un po' ricco, è vero, ma come? a che prezzo? ipotecandosi a un diavolo, che gli aveva procurato ottanta contos de réis, ma incalcolabili milioni di dispiaceri e imbarazzi! Aveva organizzato la sua vita, sì, ma doveva sopportare una donna che odiava per sempre! E a cosa serve tutto questo alla fine? Qual è stata, dopotutto, la sua grande esistenza? Dall'inferno di casa al purgatorio di lavoro e ritorno! Fortuna invidiabile, non c'erano dubbi! Nella dolorosa incertezza che Zulmira fosse sua figlia, lo sventurato non godeva neppure del piacere di essere padre. Se lei, invece di nascere da Estela, fosse stata una trovatella accolta da lui, è naturale che lui l'amasse e allora la vita andrebbe diversamente per lui; ma in quelle condizioni la povera bambina non rappresentava altro che il documento vivente dell'inganno della madre, e Miranda estendeva all'innocente fanciulla d'Africa l'odio che nutriva contro la moglie. Una pannocchia della tua vita! |
— Fui uma besta! resumiu ele, em voz alta, apeando-se da cama, onde se
havia recolhido inutilmente.
E pôs-se a passear no quarto sem vontade de dormir, sentindo que a febre
daquela inveja lhe estorricava os miolos.
Feliz e esperto era o João Romão! esse, sim, senhor! Para esse é que havia
de ser a vida!... Filho da mãe, que estava hoje tão livre e desembaraçado como
no dia em que chegou da terra sem um vintém de seu! esse, sim, que era moço e
podia ainda gozar muito, porque quando mesmo viesse a casar e a mulher lhe
saísse uma outra Estela era só mandá-la para o diabo com um pontapé! Podia
fazê-lo! Para esse é que era o Brasil! |
"Ero una bestia!" riprese a voce alta, scendendo dal letto, dove si era ritirato invano. E cominciò a camminare su e giù per la stanza, non volendo dormire, sentendo che la febbre di quell'invidia gli bruciava le cervella. Felice e intelligente era João Romão! questo, sì, signore! Ecco come doveva essere la vita!... Figlio di puttana, che oggi era libero e libero come il giorno in cui tornò a casa dalla terra senza un soldo suo! quello, sì, che era giovane e poteva ancora divertirsi molto, perché quando si è sposato e sua moglie ha preso un'altra Estela, non gli restava che prenderla a calci! Potrei farlo! Ecco a cosa serviva il Brasile! |
— Fui uma besta! repisava ele sem conseguir conformar-se com a felicidade
do vendeiro. Uma grandíssima! No fim de contas que diabo possuo eu?... Uma
casa de negócio, da qual não posso separar-me sem comprometer o que lá está
enterrado! um capital metido numa rede de transações que não se liquidam
nunca, e cada vez mais se complicam e mais me grudam ao estupor desta terra,
onde deixarei a casca! Que tenho de meu, se a alma do meu crédito é o dote, que
me trouxe aquela sem-vergonha e que a ela me prende como a peste da casa
comercial me prende a esta Costa d’África? | "Ero una bestia!" ripeté, non riuscendo a riconciliarsi con la felicità del locandiere. Uno enorme! Dopotutto, cosa diavolo possiedo?... Una casa d'affari, da cui non posso separarmi senza compromettere ciò che è sepolto lì! un capitale incastrato in una rete di transazioni che non si liquidano mai, e che si fanno sempre più complicate e mi attaccano sempre più allo stupore di questa terra, dove lascerò il guscio! Che ho di mio, se l'anima del mio credito è la dote, che mi portò quel farabutto e che mi tiene a lei come mi tiene a questa costa d'Affrica la piaga della casa mercantile? |
Foi da supuração fétida destas idéias que se formou no coração vazio do
Miranda um novo ideal — o título. Faltando-lhe temperamento próprio para os
vícios fortes que enchem a vida de um homem; sem família, a quem amar e sem
imaginação para poder gozar com as prostitutas, o náufrago agarrou-se àquela
tábua, como um agonizante, consciente da morte, que se apega à esperança de
uma vida futura. A vaidade de Estela, que a principio lhe tirava dos lábios
incrédulos sorrisos de mofa, agora lhe comprazia à farta. Procurou capacitar-se
de que ela com efeito herdara sangue nobre, que ele, por sua vez, se não o tinha
herdado, trouxera-o por natureza própria, o que devia valer mais ainda; e desde
então principiou a sonhar com um baronato, fazendo disso o objeto querido da
sua existência, muito satisfeito no intimo por ter afinal descoberto uma coisa em
que podia empregar dinheiro, sem ter, nunca mais, de restituí-lo à mulher, nem
ter de deixá-lo a pessoa alguma. | Fu dalla fetida suppurazione di queste idee che si formò un nuovo ideale nel cuore vuoto di Miranda: il titolo. Manca il temperamento per i forti vizi che riempiono la vita di un uomo; Senza famiglia da amare e senza fantasia per poter prendere in giro le prostitute, il naufrago si è aggrappato a quella tavola, come un moribondo, consapevole della morte, aggrappato alla speranza di una vita futura. La vanità di Estela, che dapprima strappava un sorriso beffardo dalle sue labbra incredule, ora le piaceva al massimo. Cercava di assicurarsi che lei avesse ereditato davvero sangue nobile, che lui, a sua volta, se non l'avesse ereditato, l'avesse portato per natura, che doveva valere ancora di più; e da quel momento iniziò a sognare una baronia, facendone l'oggetto caro della sua esistenza, molto soddisfatto in cuor suo di aver finalmente scoperto qualcosa per cui poter utilizzare il denaro, senza doverlo mai restituire alla moglie, né avere a lasciarlo a chiunque. |
Semelhante preocupação modificou-o em extremo. Deu logo para fingir-se
escravo das conveniências, afetando escrúpulos sociais, empertigando-se quanto
podia e disfarçando a sua inveja pelo vizinho com um desdenhoso ar de
superioridade condescendente. Ao passar-lhe todos os dias pela venda,
cumprimentava-o com proteção, sorrindo sem rir e fechando logo a cara em
seguida, muito sério. | Tale preoccupazione lo ha modificato all'estremo. Ben presto iniziò a fingere di essere schiavo della convenienza, affettando scrupoli sociali, impettito quanto poteva e mascherando la sua invidia per il prossimo con un'aria sdegnosa di condiscendente superiorità. Quando ogni giorno lo passavo davanti alla benda, lo salutavo con protezione, sorridendo senza ridere e chiudendo subito il viso, molto serio. |
Dados os primeiros passos para a compra do titulo abriu a casa e deu festas.
A mulher, posto que lhe apontassem já os cabelos brancos, rejubilou com isso.
Zulmira tinha então doze para treze anos e era o tipo acabado da fluminense;
pálida, magrinha, com pequeninas manchas roxas nas mucosas do nariz, das
pálpebras e dos lábios, faces levemente pintalgadas de sardas. Respirava o tom
úmido das flores noturnas, uma brancura fria de magnólia; cabelos
castanho-claros, mãos quase transparentes, unhas moles e curtas, como as da
mãe, dentes pouco mais claros do que a cútis do rosto, pés pequeninos, quadril
estreito mas os olhos grandes, negros, vivos e maliciosos. | Visti i primi passi verso l'acquisto del titolo, aprì la casa e organizzò feste. La donna, sebbene si vedessero già i capelli bianchi, ne fu felicissima. Zulmira aveva allora dodici o tredici anni ed era il tipo perfetto di donna di Rio de Janeiro; pallido, magro, con minuscole macchie viola sulle mucose del naso, delle palpebre e delle labbra, guance leggermente punteggiate di lentiggini. Respirò il tono umido dei fiori notturni, il fresco candore della magnolia; capelli castano chiaro, mani quasi trasparenti, unghie morbide e corte, come quelle della madre, denti un po' più chiari della pelle del viso, piedini minuscoli, fianchi stretti ma occhi grandi, neri, vivaci e maligni. |
Por essa época, justamente, chegava de Minas, recomendado ao pai dela, o
filho de um fazendeiro importantíssimo que dava belos lucros à casa comercial
de Miranda e que era talvez o melhor freguês que este possuía no interior.
O rapaz chamava-se Henrique, tinha quinze anos e vinha terminar na corte
alguns preparatórios que lhe faltavam para entrar na Academia de Medicina.
Miranda hospedou-o no seu sobrado da Rua do Hospício mas o estudante
queixou-se, no fim de alguns dias, de que ai ficava mal acomodado, e o
negociante, a quem não convinha desagradar-lhe, carregou com ele para a sua
residência particular de Botafogo. | Fu proprio in quel periodo che arrivò da Minas, raccomandato al padre di lei, figlio di un possidente terriero molto importante che forniva lauti guadagni alla casa commerciale di Miranda e che era forse il miglior cliente che avesse nell'interno. Il ragazzo si chiamava Henrique, aveva quindici anni ed era venuto a corte per finire parte del lavoro preparatorio che gli serviva per entrare all'Accademia di Medicina. Miranda lo ha ospitato nella sua casa di Rua do Hospício, ma lo studente si è lamentato, dopo qualche giorno, che lì si trovava a disagio, e l'uomo d'affari, che non voleva dispiacere, lo ha portato a casa con sé. . |
Henrique era bonitinho, cheio de acanhamentos, com umas delicadezas de
menina. Parecia muito cuidadoso dos seus estudos e tão pouco extravagante e
gastador, que não despendia um vintém fora das necessidade de primeira
urgência. De resto, a não ser de manhã para as aulas, que ia sempre com o
Miranda, não arredava pé de casa senão em companhia da família, deste. Dona
Estela, no cabo de pouco tempo, mostrou por ele estima quase maternal e
encarregou-se de tomar conta da sua mesada, mesada posta pelo negociante,
visto que o Henriquinho tinha ordem franca do pai. | Henrique era carino, pieno di timidezza, con la delicatezza di una ragazza. Sembrava molto attento agli studi e così poco stravagante e spendaccione che non spendeva un soldo al di fuori dei bisogni immediati. Del resto, tranne la mattina per le lezioni, che andava sempre con Miranda, non usciva mai di casa se non in compagnia della sua famiglia. Dona Estela, dopo poco tempo, gli mostrò una stima quasi materna e si occupò della sua paghetta, paghetta fissata dal commerciante, poiché Henriquinho aveva ordini diretti dal padre. |
Nunca pedia dinheiro; quando precisava de qualquer coisa, reclamava-a de
Dona Estela, que por sua vez encarregava o marido de comprá-la, sendo o objeto
lançado na conta do fazendeiro com uma comissão de usurário. Sua hospedagem
custava duzentos e cinqüenta mil-réis por mês, do que ele todavia não tinha
conhecimento, nem queria ter. Nada lhe faltava, e os criados da casa o
respeitavam como a um filho do próprio senhor. | Non ha mai chiesto soldi; quando aveva bisogno di qualcosa, lo reclamava da donna Estela, che a sua volta ne incaricava il marito di acquistarlo, accreditando l'oggetto sul conto del proprietario terriero con una provvigione da usuraio. Il suo alloggio costava duecentocinquanta milreis al mese, cosa che ancora non sapeva, né voleva sapere. Non gli mancava nulla, ei servi della casa lo rispettavano come un figlio del signore stesso. |
À noite, às vezes, quando o tempo estava bom, Dona Estela saia com ele, a
filha e um moleque, o Valentim, a darem uma volta ate à praia e, em tendo
convite para qualquer festa em casa das amigas, levava-o em sua companhia.
A criadagem da família, do Miranda compunha-se de Isaura, mulata ainda
moça, moleirona e tola, que gastava todo o vintenzinho que pilhava em comprar
capilé na venda de João Romão; uma negrinha virgem, chamada Leonor, muito
ligeira e viva, lisa e seca como um moleque, conhecendo de orelha, sem lhe
faltar um termo, a vasta tecnologia da obscenidade, e dizendo, sempre que os
caixeiros ou os fregueses da taverna, só para mexer com ela, lhe davam
atracações: “Óia, que eu me queixo ao juiz de orfe!”, e finalmente o tal
Valentim, filho de uma escrava que foi de Dona Estela e a quem esta havia
alforriado. | Di notte, a volte, quando il tempo era bello, Dona Estela usciva con lui, sua figlia e un ragazzo, Valentine, a fare una passeggiata al mare e, se aveva un invito a qualche festa a casa di amici, lei lo porterebbe in tua compagnia. La servitù della famiglia da Miranda era composta da Isaura, una mulatta ancora giovane, pigra e sciocca, che spendeva tutte le sue venti sterline comprando capilé nel negozio di João Romão; una ragazza nera vergine di nome Leonor, leggerissima e vivace, liscia e secca come un maschiaccio, che conosce a orecchio, senza perdersi una parola, la vasta tecnologia dell'oscenità, e dice, ogni volta che le cassiere o i clienti all'osteria, solo per scherzare con lei, le diedero gli ormeggi: “Oia, che mi lamento al giudice di orfe!”, e infine quel Valentino, figlio di una schiava che apparteneva a donna Estela e che lei aveva liberato. |
A mulher do Miranda tinha por este moleque uma afeição sem limites:
dava-lhe toda a liberdade, dinheiro, presentes, levava-o consigo a passeio,
trazia-o bem vestido e muita vez chegou a fazer ciúmes à filha, de tão solicita
que se mostrava com ele. Pois se a caprichosa senhora ralhava com Zulmira por
causa do negrinho! Pois, se quando se queixavam os dois, um contra o outro, ela
nunca dava razão à filha! Pois se o que havia de melhor na casa era para o
Valentim! Pois, se quando foi este atacado de bexigas e o Miranda, apesar das
súplicas e dos protestos da esposa, mandou-o para um hospital, Dona Estela
chorava todos os dias e durante a ausência dele não tocou piano, nem cantou,
nem mostrou os dentes a ninguém? E o pobre Miranda, se não queria sofrer
impertinências da mulher e ouvir sensaborias defronte dos criados, tinha de dar
ao moleque toda a consideração e fazer-lhe humildemente todas as vontades.
Havia ainda, sob as telhas do negociante, um outro hóspede além do
Henrique, o velho Botelho. Este, porém, na qualidade de parasita. | La moglie di Miranda aveva un affetto sconfinato per questo bambino: gli dava tutta la libertà, i soldi, i regali, lo portava a passeggio, lo portava ben vestito e molte volte faceva ingelosire anche sua figlia, era così premurosa che lui si presentava con lui. Ebbene, se la capricciosa signora ha rimproverato Zulmira a causa del ragazzino nero! Perché se, quando i due si lamentavano l'uno contro l'altro, lei non era mai d'accordo con sua figlia! Beh, se la cosa migliore in casa fosse per San Valentino! Ebbene, se quando fu attaccato dal vaiolo e Miranda, nonostante le suppliche e le proteste della moglie, lo mandò in ospedale, Dona Estela piangeva tutti i giorni e durante la sua assenza non suonava il pianoforte, né cantava, né mostrava gli occhi. denti a qualcuno? E il povero Miranda, se non voleva subire le impertinenze della moglie e ascoltare sciocchezze davanti alla servitù, doveva avere tutta la considerazione del ragazzo ed esaudire umilmente ogni suo desiderio. C'era ancora, sotto le piastrelle del mercante, un altro ospite oltre a Henrique, il vecchio Botelho. Questo, invece, come un parassita. |
Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo
branco, curto e duro, como escova, barba e bigode do mesmo teor; muito
macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila e
davam-lhe à cara uma expressão de abutre, perfeitamente de acordo com o seu
nariz adunco e com a sua boca sem lábios: viam-se-lhe ainda todos os dentes,
mas, tão gastos, que pareciam limados até ao meio. Andava sempre de preto,
com um guarda-chuva debaixo do braço e um chapéu de Braga enterrado nas
orelhas. Fora em seu tempo empregado do comércio, depois corretor de
escravos; contava mesmo que estivera mais de uma vez na África negociando
negros por sua conta. Atirou-se muito às especulações; durante a guerra do
Paraguai ainda ganhara forte, chegando a ser bem rico; mas a roda desandou e,
de malogro em malogro, foi-lhe escapando tudo por entre as suas garras de ave
de rapina. E agora, coitado, já velho, comido de desilusões, cheio de
hemorróidas, via-se totalmente sem recursos e vegetava à sombra do Mirada,
com quem por muitos anos trabalhou em rapaz, sob as ordens do mesmo patrão,
e de quem se conservara amigo, a principio por acaso e mais tarde por
necessidade. | Era un povero diavolo vicino ai settant'anni, scostante, capelli bianchi, corti e duri, come una spazzola, barba e baffi dello stesso tenore; molto emaciato, con occhiali rotondi che aumentavano le dimensioni delle sue pupille e davano al suo viso un'espressione da avvoltoio, perfettamente in sintonia con il naso adunco e la bocca senza labbra: si vedevano ancora tutti i denti, ma così consumati che sembravano essere archiviato fino al centro. Vestiva sempre di nero, con un ombrello sotto il braccio e un cappello Braga infilato sulle orecchie. Un tempo era stato impiegato nel commercio, poi commerciante di schiavi; raccontò persino di essere stato in Africa più di una volta, commerciando con i neri per suo conto. Si è gettato molto nella speculazione; durante la guerra in Paraguay guadagnò ancora molto, diventando molto ricco; ma la ruota è andata storta e, di fallimento in fallimento, tutto è scivolato fuori dai suoi artigli di rapace. E ora, pover'uomo, già vecchio, divorato dalle delusioni, pieno di emorroidi, si vedeva completamente senza risorse e vegetava all'ombra di Mirada, con cui aveva lavorato per molti anni da ragazzo, agli ordini dello stesso capo , e del quale era rimasto amico, prima per caso e poi per necessità. |
Devorava-o, noite e dia, uma implacável amargura, uma surda tristeza de
vencido, um desespero impotente, contra tudo e contra todos, por não lhe ter
sido possível empolgar o mundo com as suas mãos hoje inúteis e trêmulas. E,
como o seu atual estado de miséria não lhe permitia abrir contra ninguém o bico,
desabafava vituperando as idéias da época.
Assim, eram às vezes muito quentes as sobremesas do Miranda, quando,
entre outros assuntos palpitantes, vinha à discussão o movimento abolicionista
que principiava a formar-se em torno da lei Rio Branco. Então o Botelho ficava
possesso e vomitava frases terríveis, para a direita e para a esquerda, como quem
dispara tiros sem fazer alvo, e vociferava imprecações, aproveitando aquela
válvula para desafogar o velho ódio acumulado dentro dele.
— Bandidos! berrava apoplético. Cáfila de salteadores! | Giorno e notte lo consumava un'amarezza implacabile, la tristezza sorda di un vinto, una disperazione impotente, contro tutto e tutti, per non aver saputo afferrare il mondo con le sue ormai inutili e tremanti mani. E, siccome il suo attuale stato di miseria non gli permetteva di aprire il becco contro nessuno, si sfogò denigrando le idee del tempo. Così, i dessert di Miranda a volte erano molto caldi, quando, tra le altre questioni urgenti, veniva discusso il movimento abolizionista che stava iniziando a formarsi attorno alla legge Rio Branco. Allora Botelho divenne posseduto e vomitò frasi terribili, a destra ea sinistra, come uno che spara senza fare bersaglio, e ruggì imprecazioni, approfittando di quella valvola per sfogare l'odio antico accumulatosi dentro. “Banditi! urlò apoplettico. Cafila del ladro! |
E o seu rancor irradiava-lhe dos olhos em setas envenenadas, procurando
cravar-se em todas as brancuras e em todas as claridades. A virtude, a beleza, o
talento, a mocidade, a força, a saúde, e principalmente a fortuna, eis o que ele
não perdoava a ninguém, amaldiçoando todo aquele que conseguia o que ele não
obtivera; que gozava o que ele não desfrutara; que sabia o que ele não
aprendera. E, para individualizar o objeto do seu ódio, voltava-se contra o
Brasil, essa terra que, na sua opinião, só tinha uma serventia: enriquecer os
portugueses, e que, no entanto, o deixara, a ele, na penúria. | E il suo risentimento si irradiava dai suoi occhi come frecce avvelenate, cercando di penetrare ogni candore e ogni splendore. Virtù, bellezza, ingegno, giovinezza, forza, salute e soprattutto fortuna, ecco ciò che non perdonava a nessuno, maledicendo chi otteneva ciò che lui non otteneva; che godeva di ciò che non aveva goduto; chi sapeva cosa non aveva imparato. E, per individuare l'oggetto del suo odio, si rivoltò contro il Brasile, quella terra che, secondo lui, aveva un solo uso: arricchire i portoghesi, e che però lo aveva lasciato in miseria. |
Seus dias eram consumidos do seguinte modo: acordava às oito da manhã,
lavava-se mesmo no quarto com uma toalha molhada em espírito de vinho;
depois ia ler os jornais para a sala de jantar, à espera do almoço; almoçava e
sala, tomava o bonde e ia direitinho para uma charutaria da Rua do Ouvidor,
onde costumava ficar assentado até às horas do jantar, entretido a dizer mal das
pessoas que passavam lá fora, defronte dele. Tinha a pretensão de conhecer todo
o Rio de Janeiro e os podres de cada um em particular. Às vezes, poucas, Dona
Estela encarregava-o de fazer pequenas compras de armarinho, o que o Botelho
desempenhava melhor que ninguém? Mas a sua grande paixão, o seu fraco, era a
farda, adorava tudo que dissesse respeito a militarismo, posto que tivera sempre
invencível medo às armas de qualquer espécie, mormente às de fogo. Não podia
ouvir disparar perto de si uma espingarda, entusiasmava-se porém com tudo que
cheirasse a guerra; a presença de um oficial em grande uniforme tirava-lhe
lágrimas de comoção; conhecia na ponta da língua o que se referia à vida de
quartel; distinguia ao primeiro lance de olhos o posto e o corpo a que pertencia
qualquer soldado e, apesar dos seus achaques, era ouvir tocar na rua a corneta ou
o tambor conduzindo o batalhão, ficava logo no ar, e, muita vez, quando dava
por si, fazia parte dos que acompanhavam a tropa. Então, não tornava para casa
enquanto os militares neo se recolhessem. Quase sempre voltava dessa loucura
às seis da tarde, moído a fazer dó, sem poder ter-se nas pernas, estrompado de
marchar horas e horas ao som da música de pancadaria. E o mais interessante é
que ele, ao vir-lhe a reação, revoltava-se furioso contra o maldito comandante
que o obrigava àquela estopada, levando o batalhão por uma infinidade de ruas e
fazendo de propósito o caminho mais longo. | Le sue giornate si consumavano in questo modo: si svegliava alle otto del mattino, si lavava nella sua stanza con un asciugamano imbevuto di spirito di vino; poi andava in sala da pranzo a leggere i giornali, aspettando il pranzo; pranzò e una stanza, prese il tram e andò dritto in una tabaccheria di rua do Ouvidor, dove sedeva fino all'ora di cena, divertito a parlare male della gente che gli passava davanti davanti. Avevo intenzione di conoscere tutta Rio de Janeiro e i punti di forza di ognuna in particolare. A volte, solo pochi, Dona Estela lo incaricava di fare piccoli acquisti di merceria, cosa che Botelho faceva meglio di chiunque altro? Ma la sua grande passione, il suo punto debole, era l'uniforme, amava tutto ciò che aveva a che fare con il militarismo, poiché aveva sempre avuto un'invincibile paura delle armi di qualsiasi tipo, specialmente quelle da fuoco. Non sentiva sparare un colpo di fucile nelle vicinanze, ma era entusiasta di tutto ciò che sapeva di guerra; la presenza di un ufficiale in alta uniforme ha portato lacrime di commozione; sapeva sulla punta della lingua cosa si riferiva alla vita in caserma; poteva distinguere al primo sguardo il posto e il corpo a cui apparteneva qualsiasi soldato e, nonostante i suoi disturbi, quando sentiva suonare la tromba o il tamburo per la strada che guidava il battaglione, era subito nell'aria, e spesso, quando realizzò Sì, faceva parte di quelli che accompagnavano le truppe. Quindi, non è andato a casa mentre il neo militare è andato in pensione. Tornava quasi sempre da quella follia alle sei del pomeriggio, pietosamente schiacciato, incapace di reggersi in piedi, sfinito per aver marciato per ore e ore a suon di musica di strada. E la cosa più interessante è che, vista la reazione, si ribellò furiosamente al comandante maledetto che lo costrinse a quella fermata, facendo percorrere al battaglione un'infinità di strade e prendendo di proposito la via più lunga. |
— Só parece, lamentava-se ele, que a intenção daquele malvado era dar-me
cabo da pele! Ora vejam! Três horas de marche-marche por uma soalheira de
todos os diabos!
Uma das birras mais cômicas do Botelho era o seu ódio pelo Valentim. O
moleque causava-lhe febre com as suas petulâncias de mimalho, e, velhaco,
percebendo quanto elas o irritavam, ainda mais abusava, seguro na proteção de
Dona Estela. O parasita de muito que o teria estrangulado, se não fora a
necessidade de agradar à dona da casa.
Botelho conhecia as faltas de Estela como as palmas da própria mão. O
Miranda mesmo, que o via em conta de amigo fiel, muitas e muitas vezes lhas
confiara em ocasiões desesperadas de desabafo, declarando francamente o
quanto no intimo a desprezava e a razão por que não a punha na rua aos
pontapés. E o Botelho dava-lhe toda a razão; entendia também que os sérios
interesses comerciais estavam acima de tudo. | —Sembra solo, si lamentò, che l'intenzione del malvagio fosse quella di rovinarmi la pelle! Aspetto! Tre ore di marche-marche per tanto sole! Uno dei capricci più comici di Botelho era il suo odio per Valentine. Il moccioso gli dava la febbre con le sue petulanze come le coccole, e, furfante, rendendosi conto di quanto lo irritassero, lo maltrattava ancora di più, sicuro della protezione di donna Estela. Lo stesso parassita lo avrebbe strangolato, se non fosse stato per il bisogno di compiacere la padrona di casa. Botelho conosceva i difetti di Estela come il palmo della sua mano. Lo stesso Miranda, che lo vedeva come un amico fedele, glielo ha confidato tante, tante volte in occasioni disperate per sfogarsi, dichiarando con franchezza quanto in cuor suo la disprezzasse e il motivo per cui non l'ha cacciata per strada. E Botelho gli credeva giusto; capì anche che i seri interessi commerciali venivano prima di tutto. |
— Uma mulher naquelas condições, dizia ele convicto, representa nada
menos que o capital, e um capital em caso nenhum a gente despreza! Agora,
você o que devia era nunca chegar-se para ela...
— Ora! explicava o marido. Eu me sirvo dela como quem se serve de uma
escarradeira!
O parasita, feliz por ver quanto o amigo aviltava a mulher, concordava em
tudo plenamente, dando-lhe um carinhoso abraço de admiração. Mas por outro
lado, quando ouvia Estela falar do marido, com infinito desdém e até com asco,
ainda mais resplandecia de contente.
— Você quer saber? afirmava ela, eu bem percebo quanto aquele traste do
senhor meu marido me detesta, mas isso tanto se me dá como a primeira camisa
que vesti! Desgraçadamente para nós, mulheres de sociedade, não podemos
viver sem esposo, quando somos casadas; de forma que tenho de aturar o que
me caiu em sorte, quer goste dele quer não goste! Juro-lhe, porém, que, se
consinto que o Miranda se chegue às vezes para mim, é porque entendo que
paga mais à pena ceder do que puxar discussão com uma besta daquela ordem!
O Botelho, com a sua encanecida experiência do mundo, nunca transmitia a
nenhum dos dois o que cada qual lhe dizia contra o outro; tanto assim que, certa
ocasião, recolhendo-se à casa incomodado, em hora que não era do seu costume,
ouviu, ao passar pelo quintal, sussurros de vozes abafadas que pareciam vir de
um canto afogado de verdura, onde em geral não ia ninguém.
Encaminhou-se para lá em bicos de pés e, sem ser percebido, descobriu
Estela entalada entre o muro e o Henrique. Deixou-se ficar espiando, sem tugir
nem mugir, e, só quando os dois se separaram, foi que ele se mostrou.
A senhora soltou um pequeno grito, e o rapaz, de vermelho que estava,
fez-se cor de cera; mas o Botelho procurou tranqüilizá-los, dizendo em voz
amiga e misteriosa: | — Una donna in quelle condizioni, disse con convinzione, rappresenta niente di meno che il capitale, e il capitale in nessun caso va disprezzato! Ora, quello che dovresti fare è non avvicinarti mai a lei... — Beh! spiegò suo marito. Lo uso come una sputacchiera! Il parassita, felice di vedere quanto l'amico sminuisse la donna, era completamente d'accordo con tutto, dandole un affettuoso abbraccio di ammirazione. Ma d'altra parte, quando sentì Estela parlare di suo marito, con infinito disprezzo e persino disgusto, si illuminò ancora di più di gioia. - Vuoi sapere? disse, posso capire quanto mi odi quel pezzo di mio marito, ma questo non mi importa come la prima maglietta che indosso! Purtroppo per noi donne della società, non possiamo vivere senza marito quando siamo sposate; quindi devo sopportare ciò che mi è toccato in sorte, che mi piaccia o no! Ti giuro però che se a volte permetto a Miranda di avvicinarsi a me, è perché capisco che conviene di più cedere che litigare con una bestia di quell'ordine! Botelho, con la sua brizzolata esperienza del mondo, non diceva mai a nessuno dei due quello che gli dicevano l'uno contro l'altro; tanto che, una volta, tornando a casa scomodamente, ad un'ora per lui insolita, sentì, mentre attraversava il cortile, dei sussurri di voci ovattate che sembravano provenire da un angolo immerso nel verde , dove di solito non andava nessuno. . Vi si avvicinò in punta di piedi e, senza farsi notare, scoprì Estela incastrata tra il muro e Henrique. Si lasciò guardare, senza sbuffare o muggire, e fu solo quando i due si separarono che si fece vedere. La donna emise un piccolo grido e il ragazzo, rosso com'era, divenne color della cera; ma Botelho cercò di rassicurarli, dicendo con voce amichevole e misteriosa: |
— Isso é uma imprudência o que vocês estão fazendo!... Estas coisas não é
deste modo que se arranjam! Assim como fui eu, podia ser outra pessoa... Pois
numa casa em que há tantos quartos, é lá preciso vir meterem-se neste canto do
quintal?...
— Nós não estávamos fazendo nada! disse Estela, recuperando o
sangue-frio.
— Ah! tornou o velho, aparentando sumo respeito: então desculpe, pensei
que estivessem... E olhe que, se assim fosse, para mim seria o mesmo, porque
acho isso a coisa mais natural do mundo e entendo que desta vida a gente só leva
o que come!... Se vi, creia, foi como se nada visse, porque nada tenho a cheirar
com a vida de cada um!... A senhora está moça, está na força dos anos; seu
marido não a satisfaz, é justo que o substitua por outro! Ah! isto é o mundo, e, se
é torto, não fomos nós que o fizemos torto!... Até certa idade todos temos dentro
um bichinho-carpinteiro, que é preciso matar, antes que ele nos mate! Não lhes
doam as mãos!... apenas acho que, para outra vez, devem ter um pouquinho mais
de cuidado e...
— Está bom! basta! ordenou Estela.
— Perdão! eu, se digo isto, é para deixá-los bem tranqüilos a meu respeito.
Não quero, nem por sombra, que se persuadam de que...
O Henrique atalhou, com a voz ainda comovida:
— Mas, acredite, seu Botelho, que...
O velho interrompeu-o também por sua vez, passando-lhe a mão no ombro e
afastando-o consigo:
— Não tenha receio, que não o comprometerei, menino!
E, como já estivessem distantes de Estela, segredou-lhe em tom protetor:
— Não torne a fazer isto assim, que você se estraga... Olhe como lhe
tremem as pernas! | — Questa è imprudenza ciò che fai!... Queste cose non stanno così! Così come ero io, poteva essere qualcun altro... Perché in una casa dove ci sono tante stanze, devi venire a entrare in quest'angolo di cortile?... —Non stavamo facendo niente ! disse Estela, ritrovando la calma. - OH! disse il vecchio, con aria di grande rispetto: mi dispiace, pensavo fossero... E guarda, se così fosse, per me sarebbe lo stesso, perché credo che sia la cosa più naturale il mondo e capisco che in questa vita ci arriva solo quello che vogliamo chi mangia!... Se l'ho visto, credimi, è stato come se non vedessi niente, perché non ho niente da annusare con la vita di ciascuno!... Sei giovane, sei nella forza degli anni; tuo marito non ti soddisfa, è giusto che tu lo sostituisca con un altro! OH! questo è il mondo, e se è storto, storto non l'abbiamo fatto noi!... Fino a una certa età abbiamo tutti dentro una cimice da falegname, che dobbiamo uccidere prima che ci uccida! Non dar loro le mani!... Penso solo che, per un'altra volta, dovrebbero stare un po' più attenti e... —Va bene! Abbastanza! ordinò Estela. - Perdono! Io, se dico questo, è per farti sentire molto tranquillo su di me. Non voglio, nemmeno un'ombra, essere convinto che... Henrique lo interruppe, la voce ancora commossa: —Ma, mi creda, signor Botelho, che... la sua mano sulla spalla e lo spinse via: —Non aver paura, non ti comprometterò, ragazzo! E, siccome erano già lontani da Estela, le sussurrò con tono protettivo: —Non farlo più così, sarai viziata... Guarda come le tremano le gambe! |
Dona Estela acompanhou-os a distancia, vagarosamente, afetando
preocupação em compor um ramalhete, cujas flores ela ia colhendo com muita
graça, ora toda vergada sobre as plantas rasteiras, ora pondo-se na pontinha dos
pés para alcançar os heliotrópios e os manacás.
Henrique seguiu o Botelho até ao quarto deste, conversando sem mudar de
assunto.
— Você então não fala nisto, hein? Jura? perguntou-lhe.
O velho tinha já declarado, a rir, que os pilhara em flagrante e que ficara
bom tempo à espreita.
— Falar o quê, seu tolo?... Pois então quem pensa você que eu sou?... Só
abrirei o bico se você me der motivo para isso, mas estou convencido que não
dará... Quer saber? eu até simpatizo muito com você, Henrique! Acho que você
é um excelente menino, uma flor! E digo-lhe mais: hei de proteger os seus
negócios com Dona Estela...
Falando assim, tinha-lhe tomado as mãos e afagava-as.
— Olhe, continuou, acariciando-o sempre; não se meta com donzelas,
entende?... São o diabo! Por dá cá aquela palha fica um homem em apuros!
agora quanto às outras, papo com elas! Não mande nenhuma ao vigário, nem lhe
doa a cabeça, porque, no fim de contas, nas circunstâncias de Dona Estela, é até
um grande serviço que você lhe faz! Meu rico amiguinho, quando uma mulher já
passou dos trinta e pilha a jeito um rapazito da sua idade, é como se descobrisse
ouro em pó! sabe-lhe a gaitas! Fique então sabendo de que não é só a ela que
você faz o obséquio, mas também ao marido: quanto mais escovar-lhe você a
mulher, melhor ela ficará de gênio, e por conseguinte melhor será para o pobre
homem, coitado! que tem já bastante com que se aborrecer lá por baixo, com os
seus negócios, e precisa de um pouco de descanso quando volta do serviço e
mete-se em casa! Escove-a, escove-a! que a porá macia que nem veludo! O que
é preciso é muito juizinho, percebe? Não faça outra criançada como a de hoje e
continue para diante, não só com ela, mas com todas as que lhe caírem debaixo
da asa! Vá passando! menos as de casa aberta, que isso é perigoso por causa das
moléstias; nem tampouco donzelas! Não se meta com a Zulmira! E creia que lhe
falo assim, porque sou seu amigo, porque o acho simpático, porque o acho
bonito!
E acarinhou-o tão vivamente dessa vez, que o estudante, fugindo-lhe das
mãos, afastou-se com um gesto de repugnância e desprezo, enquanto o velho lhe
dizia em voz comprimida:
— Olha! Espera! Vem cá! Você é desconfiado! | Dona Estela li seguiva a distanza, lentamente, fingendosi occupata a comporre un bouquet, di cui coglieva i fiori con molta grazia, ora china sulle piante basse, ora in punta di piedi per raggiungere gli eliotropi ei manacá. Henrique seguì Botelho nella sua stanza, parlando senza cambiare argomento. — Quindi non ne parli, eh? Imprecare? chiesto a lui. Il vecchio aveva già dichiarato, ridendo, di averli colti sul fatto e di essere rimasto a lungo in agguato. —Dimmi cosa, sciocco?... Ebbene, chi credi che io sia?... Aprirò bocca solo se me ne darai una ragione, ma sono convinto che non lo farai... Sai cosa? Sono davvero solidale con te, Henrique! Penso che tu sia un ragazzo eccellente, un fiore! E ti dirò di più: proteggerò i tuoi affari con Dona Estela... Detto questo, le aveva preso le mani e le stava accarezzando. — Guarda, continuò, accarezzandolo in continuazione; non scherzare con le fanciulle, hai capito?... Sono il diavolo! Per dare qui quella paglia è un uomo nei guai! ora come per gli altri, chatta con loro! Non mandarne uno al vicario, né fargli venire il mal di testa, perché, in fondo, nelle circostanze di donna Estela, è anche un grande servizio che le fai! Mio piccolo amico ricco, quando una donna ha più di trent'anni e va a prendere un ragazzo della sua età, è come scoprire l'oro nella polvere! sa di armonica! Sappi allora che non è solo a lei che stai facendo il favore, ma anche a suo marito: più strizzi la moglie, migliore sarà il suo carattere, e di conseguenza meglio sarà per il poveretto, poveretto! che ha già abbastanza di cui annoiarsi laggiù, con i suoi affari, e ha bisogno di un po' di riposo quando torna dal lavoro e torna a casa! Spazzolalo, spazzolalo! che la renderà morbida come il velluto! Quello che serve è molto giudizio, vedi? Non fare altri bambini come oggi e vai avanti, non solo con lei, ma con tutti quelli che cadono sotto la sua ala protettrice! Vai oltre! tranne quelli con una casa aperta, che è pericolosa a causa delle malattie; nemmeno le fanciulle! Non scherzare con Zulmira! E credimi, lo dico perché sono tuo amico, perché penso che tu sia carino, perché penso che tu sia bello! E questa volta lo carezzò così intensamente che lo studente, sfuggendo alle sue mani, si allontanò con un gesto di disgusto e di disprezzo, mentre il vecchio gli diceva con voce compressa: — Guarda! Aspettare! Vieni qui! Sei diffidente! |